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30.7.12

"Bentevi, Itaim" - Antepenúltima edição

Edson, Zulu, Sacha, Ceciro, Duzão, Fábio e Passarinho (foto EF)

Não tem pra ninguém.
O projeto "Bentevi, Itaim", que tem como foco arrecadar fundos para lançamento do livro e cd do Akira Yamasaki ao mesmo tempo que rememora a importância cultural e artística de Raberuan (recentemente partido para as estrelas), torna-se mais vibrante a cada nova edição.
Sábado último, dia 28, o palco da Casa de Farinha, em São Miguel, foi tomado de assalto pela poesia de Gilberto Braz, Santiago Dias e Guiberto Genestra, pela musicalidade solar de Zulu de Arrebatá e pela apoteótica participação da banda Semente Africana, que tem como líder o músico e vocalista Fábio Lima.
Gilberto Braz e eu iniciamos a celebração à deusa Poesia para, a seguir, ceder lugar ao mestre da malemolência, o príncipe-mór dos suingueiros de São Miguel, Zulu de Arrebatá. Com o timbre e a batida que lhe são peculiares, Zulu destilou simpatia, cantou a capella e instaurou o clube do balanço para a plateia. Depois, cedeu lugar para seus convidados, os poetas Guiberto Genestra e Santiago Dias. O primeiro entregou uma bandeja de poesia refinada em poções cristalizadas para os ouvidos, ao passo que o segundo desfilou rosários de poemas, dele e de outros, todos curtidos no fogo brando da paixão severa pela vida e pelas pessoas.
Akira subiu logo após, com a competência de sempre e convocou o Semente Africana para tomar conta do espaço. A partir daí, mermão, não sobrou pó no chão que não fosse arredado pelos pés dos dançantes. A música do grupo (Fábio Lima no vocal, violão e cavaquinho; Valter Pasasrinho, na percussão e vocais; Edson Oliveira no baixo e Duzão na percussão), navega no reggae, dub e outras sonoridades e é carregada de lirismo, melodia e ritmo. Isso dito, explica sua sensualidade sutil, a vontade de dançar sossegado, em paz com o corpo e com a vida. Há que se registrar que ali, àquela hora, ali, todos os deuses da malemolência pareciam ter descido à terra para juntar-se à turba festiva que, quanto mais a banda tocava e cantava, mais dançava, todos num frenesi hipnótico. Para completar o climão criado, no fim convidaram Sacha Arcanjo, Zulu e Ceciro Cordeiro para adentrarem o palco para um ritual pagão de celebração da música e da vida. Foram ovacionados.
O show terminou lá pela meia-noite? E daí, se até agora estou com a música na cabeça e o corpo pedindo mais?
E que venham o  penúltimo encontro (agendado para 11 de agosto, que nos promete Ceciro Cordeiro, Adilson Aragão e Marcel Acauam; e o último, em 18 de agosto: lançamento do livro "Bentevi, Itaim", que trará um cd encartado com poemas do Akira musicados por Sílvio de Araújo. Este gran finale será orquestrado pelo próprio Sílvio, e mais Osnofa, Vinícius Casé e Ravi Landim.

 
Santiago Dias, poeta vibrante (foto EF)

Guiberto Genestra, poeta profundo (foto EF)

Zulu, cortejado por diversos paparazzis (foto EF)

 Akira, mestre de cerimônia, e em poesia elaborada (foto EF)

Semente Africana, tomando de assalto a Casa de Farinha (foto EF)

29.7.12

Cântico zinho...

A ninguém mais darei minha morte.
Esse presente (que é meu, e é futuro, neste instante)
oferto como bênção ao passado.

Recolham cacos do que disse
vasos do que plantei
perfumes que espargi
versos gags mijos vitupérios
(se quiserem)
mas não me culpem
por terem acreditado em mim.

A ninguém mais darei minha vida como presente.

27.7.12

Indicação de leitura: Percurso Pela África e Por Macau (Benilde Justo Caniato)

Reprodução

O livro Percurso Pela África e Por Macau, da profª e pesquisadora Benilde Justo Caniato, é o de nº 18 da coleção “Estudos Literários”, da Ateliê Editorial, e trata das relações entre a língua portuguesa com a áfrica portuguesa e a península de Macau, na costa litorânea chinesa.
Os 11 artigos da obra sintetizam a idéia primordial da autora, cuja pesquisa procura esmiuçar as sutilezas geográficas, históricas e lingüísticas que unem o “continente lusófono” africano e estabelece a partir de então um diálogo com Portugal, o Brasil e o Oriente. Para tanto, ela vai até a gênese daquilo que poderíamos chamar de “literatura africana em língua portuguesa”. Quer dizer, pesquisa escritores que retratem a áfrica portuguesa a partir de suas vivências, experiências, alquimias e esperanças. Usa como aporte autores iconográficos da literatura de seus respectivos países e estuda-os, em suas maneiras de amalgamar os dialetos nativos de cada região com a língua portuguesa.
Essa aculturação, feita de idas e vindas lingüísticas através dos séculos de dominação política por Portugal, e, principalmente, após a conquistada independência de países como Angola, Cabo Verde e Moçambique, é refletida a partir da leitura de escritores como Luandino Vieira, Arnaldo Santos, Manuel Ferreira e Boaventura Cardoso, entre outros. A pesquisadora constata que a partir desses e outros, foi possível criar e definir uma “identidade nacional” lingüística em cada país, mantendo uma ordem e unidade necessários para o processo e conseqüente progresso civilizatório, estabelecendo-se então uma teia de estreitas relações comerciais, políticas, culturais e diplomáticas entre as nações.
Todo esse caminho, contudo, obedece a trâmites muito específicos. Benilde deixa isso bem claro, observando que nem sempre a língua portuguesa oficial é falada no dia-a-dia das populações. Os dialetos, como o crioulo, são usados mais comumente no cotidiano das relações populares. Na maioria das vezes, a língua oficial fica apenas para o jornalismo, os documentos oficiais, e as relações com o poder estatal.
A autora também faz um relevante estudo sobre a morna, expressão musical máxima dos cabo-verdianos(algo próximo do que o samba representa para os brasileiros), e cuja significação de sua aculturação perde-se na memória do tempo.
O último ensaio, “O Espaço Cultural Português em Macau”, à página 111, é uma digressão histórica sobre o estabelecimento português na China, por conta das relações comerciais mantidas desde tempos remotos. Faz um percurso sobre o poliibridismo riquíssimo desenvolvido entre as línguas portuguesa e mandarim, faladas oficialmente, e dessas com o cantonês, que é a fala popular do chinês. Chega à conclusão de que esse fenômeno de apropriação entre duas culturas tão distintas é inédito em todo o mundo, asseverando, todavia, que por erros de estratégia política, o português rapidamente está perdendo força como língua nesse enclave, enfraquecendo a fortaleza dessa transculturação. Soluções pontuais, como criação de um instituto português para disseminação da língua, têm sido tentadas, para preservação da cultura em território chinês.
O livro ressente-se de uma viagem mais completa, que contemplasse também Moçambique, a Ilha da Madeira, Açores, Goa(Índia), e o Brasil(ainda que reconheçamos o artigo “A Presença Africana na Língua Portuguesa do Brasil”, seja um excelente aperitivo introdutório).
Salvo esses pequenos percalços, é louvável e salutar, pela sua abrangência, densidade e ineditismo.


*(SP: Ateliê, 2005, 128 p.)

26.7.12

Entrevista: Zé Carlos Batalhafam

Zé Carlos Batalhafam, Poeta (foto arquivo pessoal)

"Dois dedos de prosa"

"Zé Carlos Batalhafam, autor de obras seminais como "Verdades e Mentiras" (poesia) "Trilogia das Palavras" (poesia) e "Vila Nhocuné – Memórias da tapera da finada Ignêz & outras memórias" (história), é um incansável batalhador da palavra enquanto arte e da cultura enquanto expressão cidadã. Lá se vão vinte e poucos anos como um dos articuladores do Primavera nos Dentes, primeiro movimento literário organizado na região de Itaquera e agora responde pela direção e curadoria do Sarau do Nhocuné, onde mensalmente reúne um panteão de poetas (da região e de outras “pasárgadas”), para declamar, trocar idéias e saberes dentro de um bar na Vila Nhocuné.
Há muito que queria trocar uma prosa com ele, saber de sua vida, sua poesia, o que pensa sobre diversos assuntos, coisas assim... e essa oportunidade nunca que surgia. Então apelei para a tecnologia que temos em mãos hoje. Comecei a mandar as perguntas via e-mail e ele respondia quando podia.
São estas respostas que estão aí, comprovando a sapiência e experiência de um batalhador incansável e um homem com uma vertiginosa apropriação da palavra."


1) Quem é Zé Carlos Batalhafam?
A pergunta é interessante, milenar, de difícil resposta e, sempre, reducionista.
Vivo na zona leste de São Paulo; mas, sou natural de Jales, uma cidadezinha agradável do interior paulista. Por vocação, treino e "natureza"; sou um escritor, um poeta. Na verdade, o que sou mesmo, é um aprendiz; um operário da vida e das letras.

2) Como a poesia (ou a literatura) iniciou-se em sua vida?
O mergulho no mundo da literatura foi prosaico; deu-se, ainda na infância; a partir da leitura das HQ's (gibis) e dos livros de Monteiro Lobato. A poesia, também veio na idade escolar; a partir dos poemas de Cecília Meireles e Manuel Bandeira. Só mais tarde, na adolescência, fui descobrindo os clássicos russos: Gorki, Tostoi...; os ingleses: Byron, Shelley e Wordsworth..., e na idade adulta, os lusófonos: Eça de Queiroz, Pessoa, Florbela Espanca, Drummond, Machado de Assis...

3) Quando você começou a praticar seus escritos? Foi - como a maioria de nossos confrades - na adolescência?
Sim, na adolescência. O primeiro conto nasceu da provocação de uma professora de português que pediu à classe para que escrevesse uma redação diferente; que deixasse a mente fluir; saiu um conto futurista. Já o primeiro poemeto, foi escrito para uma platonica namoradinha; somente 30 anos depois, ela soube que foi musa e amada.

4) E quando foi que você enveredou mais profissionalmente pelo caminho das letras?
Em 1987 publiquei meu primeiro livro, o "Verdades & Mentiras". Desempregado e cursando o Técnico de Publicidade, me vi obrigado a sobreviver do livro. Isso durou dois anos. Noite após noite, vendia os livros na porta dos cinemas, dos bares e restaurantes  de São Paulo. Em diversos momentos, me encontrei com Plinio Marcos que, também, vendia seus livros da mesma maneira. Foi uma fase dificil; mas, muito interessante; pois, a cidade e as pessoas eram mais generosas, abertas às experimentações da época.. Hoje, aproveito bem as janelas daquela experiência.

5) Quando o vi pela primeira vez, foi durante o Primavera nos Dentes, em Itaquera, mais ou menos em 1989, 90. O que foi aquilo?
Naquele período, de 89 a 93, fui assessor de Comunicação, Imprensa e Cultura na subprefeitura de Itaquera. Para juntar os grupos e artistas da região, juntamente com os poetas: Erorci Santana, Talmo Pedrosa e Dilson Botto, em 1990, elaboramos e executamos o projeto: "Primavera nos Dentes". O objetivo foi abrir espaço e dar visíbilidade à produção cultural local. Reunimos diversos grupos de dança, de teatro e poetas; publicamos um livro coletânea de poesia, e estabelecemos um circuíto cultural com apresentações de dança, teatro e leitura de poemas nas escolas públicas do território. Foram mais de três meses de agito e milhares de jovens e adolescentes contemplados pelo projeto. Itaquera virou um caldeirão cultural.
A partir do "Primavera nos Dentes", Itaquera ganhou três ótimos espaços para a arte, a cultura e o lazer: a Praça da Cultural no centro de Itaquera, a Praça Brasil (hoje Mãe Menininha do Gantois) e o Parque Raul Seixas e sua Casa da Cultura, no conjunto José Bonifácio (Cohab II). Alem disso, otimizamos outros espaços, como: a Praça Dilva Gomes, na Cohab I. Com o "Primavera nos Dentes", Itaquera passou por uma efervescência cultural fantástica. Deixou raízes.

6) "[...] não há rima, amigo, amiga /  só há o perigo, que não rima com a vida. / Uma rima que não atina com nada. [...]" (Religare, in Trilogia das Palavras). Sua poesia nos explicita uma "solidão" diante da vida. Estamos condenados a viver só, na arte? Ou estamos condenados a sermos sós, enquanto artistas?
O Religare é um poema social, político; mas, é interessante a leitura que você faz. De fato, penso que a solidão seja um estado (e condição) importante para a criação; mas, não usaria o termo "condenados"; pois, não penso que ela (a solidão) seja ruim. Além do quê, a arte, por mais coletiva que seja, sua elaboração se dá, sempre, no plano individual. Claro que os fatores coletivos influenciam a criação; mas ela é sempre individual e, quando compartilhada, é recriada, reproduzida. Na arte; na criação, a solidão é nosso "fado", e nesse sentido, até em função do "ego", sim, estamos "condenados".

7) Zé Carlos Batalhafam, o que você está tramando no momento?
Com outros "comparsas", entre os quais incluo-o, estou desenvolvendo ações culturais (Sarau do Nhocuné) para acúmulo de forças e, a partir de outubro próximo, pretendo "atacar" o governo federal, e outras instâncias governamentais, para forçá-los a implantar um "Pólo de Cultura" na região de vila Nhocuné. Penso que esse seja um dos papeis dos produtores culturais: lutar na "trincheira" da cultura; forçar o provimento de espaços culturais na cidade.

8) Batalha, você é um otimista, realista, reformista ou idealista?
Reparou como essa pergunta nos remete à primeira?!. Penso que, nada e ninguém, seja apenas isso ou aquilo. A depender do momento, da conjuntura, da situação, agimos e reagimos, sempre de forma diferente. Sou um poeta; faz um tempão que rompi com alguns dogmas e não penso, exclusivamente, de forma linear; mas, no geral, me considero um otimista.  Você já ouviu Maria Bethânia?! : "Eu sou a chuva que lança a areia do Saara sobre os automóveis de Roma...Eu sou a sereia que dança, destemida Iara..."

9) Mas, afinal, o que é a poesia? Ou, melhor ainda, o que é arte?
A definição do que seja "poesia" e "arte", passa sempre pelos valores relativos. Muitos já tentaram definir o que seja poesia, e é variado o entendimento. No geral, poesia é definida como: a forma pela qual a linguagem humana é utilizada para transmitir ou expressar a beleza (e aqui vale lembrar que, o que é belo para uns, pode não ser para outros). Porém, todo texto que toque a sensibilidade, que emocione, seguramente, é poético, possui poesia; sobretudo, quando sua linguagem é alegórica, sugira imagens, e fuja do lugar comum. A "arte", também depende dos valores relativos para ser conceituada. E dentre esses valores, o elemento estético, é o que melhor a define. Cada época, e cada comunidade cultural, tem seus valores.

As obras de ZC Batalhafam, expostas durante a Feira Alternativa de Arte (FALAR), em Santos, em maio último (foto EF)



NEGRITUDE
Depois da mãe África
Teu berço é Palmares
Tua dança
Tua ginga
Teus deuses natura.
E antes de tudo,
Teu berço é cultura
Tua graça
Tua raça
Africandura.

(in, Palavras Cruzadas, folheto, impresso. SP: maio de 92, ano 1, nº 4)

FACE A FACE
Escrever
é como fazer espelhos;
deixar refletir
o rosto de quem lê.

(in, Trilogia das palavras. SP: RG, 2007)

O poeta, em 1996 (foto arquivo pessoal)

Mais infos sobre ele:
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=74021
http://textolivre.com.br/component/comprofiler/userprofile/Batalhafam
http://saraudonhocune.blogspot.com.br/

25.7.12

20 viagens acachapantes (e mais...)

1. Ir a Itu, SP, pela Estrada dos Romeiros, a partir de Santana do Parnaíba. É uma estradinha rural, cheia de curvas difíceis, própria para jiperios e motos off-road. Mas a sensação de andar bem próximo do mato, num asfalto que é tudo, menos reto, é de uma paz extremamente bucólica. Se estiver sem pressa, ouvindo Sarah Vaughan, Milton Nascimento ou John Coltrane, então...

2. O sítio musical tramavirtualpontocompontobêérre. Para quem cultua independência com qualidade, é lá que se encontra o QI (Quem Interessa) no mundo musical tupiniquim de hoje. Dado interessante é que é quase totalmente dominado pela turma do roquenrol. Seria legal o pessoal de outras plagas e tribos ir lá pra tergiversar e dialogar.

3. Grande Sertão: Veredas (livro de João Guimarães Rosa). A complexidade sonora, os achados filosófico-musicais (nem tanto musicais e nem tanto filosóficos), e a dicotomia erudição/sertão, formam, nessa singela história de amor, a amplitude de um autor singular, tratando do mais universal dos assuntos.

4. Futebol (quadro de Cândido Portinari). Quando quase adolescente, vi este quadro reproduzido numa página de uma revista. A forte presença do vermelho, as cabeças unidisformemente redondas, e a imagem de uma prática tão lúdica (o esporte na infância) num cemitério, foi um arrebatamento que levou-me, ainda moleque, a acreditar que a beleza pode ser triste.

5. Avenida Paulista (São Paulo, SP). Costumo dizer que quem precisa tomar uma aula sobre tolerância ("Como Conviver Com as Diversidades"), precisa ficar uma meia-horinha sentado na escadaria do prédio da Gazeta. É uma viagem vertigionosa para os olhos e a mente modernos.

6. O programa Ensaio, da TV Cultura. Verdadeira odisséia pelo universo sonoro riquíssimo e vário, dos vários brasis que vivem no Brasil.

7. Frank & Ernest, de Bob Thaves. Esssa tirinha cômica, há anos publicada na Caderno 2 do Estadão, é uma viagem de lupa no mundo anárquico das contradições existenciais do viver contemporâneo.

8. RD350. A Yamaha sempre foi famosa por produzir motos popularmente frágeis. Mas no fim do século passado, deixou dois ícones para a juventude brazuca. A DT-180, que foi a primeira moto trail produzida em série por aqui, isso nos anos 80. E a RD-350, standart dos mauricinhos porralôcas e endinheirados. Uma pena, pois a moto realmente era muito boa, estradeira, de dirigibilidade confortável e juvenil. Mas ficou associada às diversas mortes urbanas por conta da química inexata entre álcool e adolescência malsã.

9. Maconha. Antes de tudo, uma verdade: a maria-joana não dá tanto "barato" assim e nem chega a ser uma viagem.A boca fica seca, os sentidos do corpo anestesiados, e a tal "larica" (fome descomunal) faz canja de hospital parecer feijoada. Agora, contudo, lembro que "dar uns dois" empinando pipa numa pedreira hoje abandonada, perto da minha casa na adolescência, foi uma das viagens mais instrospectivas que já fiz. Hoje, contudo, acho o odor insuportável e quero distância da fumaça.

10. Dançar tango.

11. O dia 31 de dezembro.

12. Os olhos de Bruna Lombardi.

13. Todo o universo de Willian Shakespeare.

14. Pasárgada ("Vou-me embora para...").

15. O nascimento de um filho.

16. O Pantanal (acho que deve ser todo e qualquer pantanal, com "pê" minúsculo mesmo, mas como só conheço o do Mato-Grosso, Brasil, fica sendo esse).

17. Ouvir "Divina Comédia Humana", do Belchior, a qualquer hora e em qualquer tempo.

18. Montanhas-russas. Alguém aí conhece viagem ("viagem" mesmo!) mais curta?

19. Low-riders: cultura chicana, nascida, amamentada e crescida nos subúrbios de Los Angeles - e daí para o mundo - traveste-se para a posteridade no culto às roupas largas, largadas e coloridas; carrões (principalmente Impalas) das décadas 50 e 60 do século passado, reformados e transformados; bicicletas (as "low-bikes") igualmente modificadas e muito, muito hip-hop de qualidade nos ouvidos.É de uma viajeira que não se explica se não se olhar de perto.

20. Maverick V-8. (continua...)

23.7.12

Um poemeu: "Fetiche de Borracheiro"

Emilly, boneca, jambo, 18 anos, corpo de 16, motel/hotel, completa,


Náshara, coroa enxuta, ruiva, maliciosa, procura gatinhos selvagens e viris,


Aleiny, loira, exuberante, at. domicílio, tx 30, deixo 2x, c/ local,


Fabão, negro sexy, sarado, at. mulheres & casais, A/P,


Lilika, 26, travesti, branquinha, com flat, completa, “venha sentir ‘aquele’ tchan”, “sem medo de ser feliz”, local/domicílio,


Escobar, contador de histórias, inexperiente, independente, procura,

19.7.12

Depoimento - GILBERTO BRAZ (Poeta)

O poeta em ação: lirismo equilibrado (foto EF)

(A emoção de participar do Projeto Bem-Te-Vi)
GB – é uma emoção dupla, primeiro porque a gente tá aqui relembrando sempre, nessas oportunidades, a memória, o trabalho e a obra do Raberuan que, como todos sabem, era um artista magnífico, autor de uma obra fantástica e criador de personagens que eu, inclusive, incorporei em alguns shows dele, como o Cego Waldemar.
Outro motivo de satisfação é que o projeto visas reunir condições para a gente lançar o cd e o livro de poemas do Akira, que é o cara que promove todo tipo de atividade cultural, que incentiva todo mundo e que merece todo o esforço que a gente possa fazer. E também é dono de uma obra poética fantástica.
É maravilhoso estar aqui.

(Como você vê a cena cultural em S. Miguel hoje)
GB – Eu acho que a gente tem que analisar a cena artística, o movimento cultural, sob dois aspectos. O primeiro é daquela turma de produtores culturais, compositores, artistas plásticos, atores, atrizes, enfim, estudiosos da arte que estiveram envolvidos durante o Movimento Popular de Arte e que não abandonaram as suas atividades. Sob esse ponto de vista, a gente tem o Projeto Bem-Te-Vi assim como outros, sempre capitaneados pelo Akira, procurando recolocar cada categoria – vamos dizer assim- na cena artística do bairro e até da cidade.
E nós tos que analisar sob o ponto de vista das novas safras, pois a gente sabe que coisas acontecem em vários pontos, em vários lugares e que felizmente as novas gerações estão aí.
Caio Vandré, que hoje está tocando aqui, é um exemplo disso. As novas gerações estão surgindo, ocupando seu espaço.

(O que você tem feito, por onde tem andado, falando sobre sua poesia...)
GB – Meu trabalho, ele tem – digamos assim – ele tenta reunir as influências do contexto histórico que eu já vivi, que nasci e cresci e me formei. Então, existe um traço forte de nordestinidade em meu trabalho, não só pela minha família mas também pelo próprio bairro de S. Miguel Paulista, que tem um traço cultural forte de presença nordestina. Também tem outras nacionalidades e outras regionalidades, outros povos vivendo em s. Miguel, por exemplo, a comunidade árabe tem uma presença forte no bairro.
Então, dentro desse olhar cosmopolita ainda que genérico, a nossa obra acaba refletindo tudo isso.
Tenho procurado fazer um trabalho que, se não buscar, resgatar nenhum sentido, tenta incorporar influências que sempre ocorreram e procuram um caminho próprio, uma identidade própria, humildemente. Ninguém inventa nenhum estilo ou moda. Em literatura não inventam nada. Elas são frutos de um contexto histórico. Só depois de décadas é que vão analisar e dizer “isso aqui foi um movimento literário ou uma escola literária”.
Até porque nós somos influenciados e também influenciadores.

(Como você vê a produção literária hoje, no Brasil, no mundo, em São Miguel)
GB – A gente tem alguns valores, alguns poetas, alguns bons artistas, alguns bons arquitetos da palavra. Evidentemente, como em todo segmento artístico, existe também uma quantidade razoável de artistas e escritores que – digamos assim – estão dentro de um padrão que vem sendo desenvolvido já há algumas décadas.
Na verdade, quanto a estilo literário, a gente não conseguiu nada. Ainda estamos muito perto dos modernos e dos concretos, de João Cabral de Melo Neto, e de algum grupo de autores que ainda não foi substituído.
Os valores para substitui-los existem, mas eles passam e a nossa sociedade precisa produzir, dar espaço para estes valores. Infelizmente, estamos em um momento em que o caleidoscópio da mídia está tragando tudo para o buraco negro do lugar-comum, da frivolidade, das nulidades.
Então, é uma batalha em que ainda vai haver vencedores. Pra saber onde estão esses nomes a gente tem que pesquisar muito, procurar muito na marginalidade, nos circuitos alternativos. Porque nos circuitos “oficiais” não há muito espaço, não existem muitos nomes. É mais barato continuar produzindo os nomes já consagrados que produzir o novo.

(Como você vê a transversalidade de mídias)
GB – Em primeiro lugar, é muito rico, são muitas as possibilidades. Hoje você pode veicular um poema na internet com uma série de recursos multimídia, produzir seu poema com ferramentas e tecnologias acessíveis.
Mas ao mesmo tempo, todo esse caldeirão de coisas favorece a banalidade, a mesmice, muita gente fazendo a mesma coisa.
Pra criatividade sempre vai haver espaço. Agora, você tem que ir com lupa porque não é em todo lugar que você encontra grandes trabalhos, porque eles realmente estão por aí e não há muitos canais. Apesar da existência de diversas ferramentas multimídia, da convergência, ainda estamos dominados por uma mídia velha. O modelo antigo é que dita tudo, para onde vão as modas.

 EF e Gilberto Braz, trocando ideias na Casa de Farinha, S. Miguel (foto de Francisco Xavier)
 
Faz tempo

Faz tempo que eu penso em não publicar um livro.
Porque o que me motiva a escrever é o ato em si,
A busca pela Palavra precisa e vaga
Clara e reta, turva ou curva, tímida e ousada,
Rude às vezes, singela noutras situações.
O que me motiva é achar o tom, a sonoridade delas
E combinar sons e tema e brincar de compor com o poema.
Os fonemas são meus irmãos, cada sílaba que eu bebo
Cada palavra que trago não as trago por acaso:
Elas me escolheram, me acolheram em seu canto generoso
Dessa generosidade que só se encontra mesmo em Deus
E que me faz pensar que eu que as escolho,
Eu é que as acolho, na tola e doce presunção
De que o poema é meu.


diet-Éticas: etilicas sem dialéticas

O medo não mata barata
e o pavor dela era vapor
na nau catarineta e na internete.

Condenados eu e ele
passamos de reis a réus
pela simples troca de um i por um u
de um eu por um ai

Ela subiu na cadeira e gritou
"Abaixo o Mensalão e Viva a Revolução!"

Nos tribunais de Vossa Excelência
histeria ou história é coisa
que se dá pela absoluta troca de um e por um ó.

(Gilberto Braz)

Autorretrato de autoria desconhecida

File Life 2012, Galeria de arte do SESI, SP (Av. Paulista, 1313)

16.7.12

Análise fílmica das obras de Eduardo Coutinho: "Jogo de Cena" e "Cabra Marcado Para Morrer"

Aspectos reais e ficcionais de Eduardo Coutinho: um análise de "Jogo de Cena" e "Cabra Marcado Para Morrer"

Uma intrincada artesania fílmica faz de Eduardo Coutinho um documentarista sui-generis na cinematografia brasileira e do mundo. Pois se há algo que atesta uma unidade narrativa em Cabra Marcado Para Morrer (1985) e em Jogo de Cena (2007), dois dos filmes do autor que serão analisados nessas linhas, é essa conflitante e tortuosa linha em que ele se esgueira, o artesanato inspirado, a elaboração profícua e a proposta de andar sempre no limite entre as múltiplas linguagens que o cinema permite.
Em Cabra Marcado Para Morrer (1985), Eduardo Coutinho opta por quebrar todas as convenções das escolas cinematográficas. Usando de vários artifícios inovadores em sua composição fílmica, estabelece alguns paradoxos renovadores, como:
a) auto-participação na trama: a voz do diretor, em off,  ora “explica”, ora “apresenta” o filme;
b) a metalinguagem (filme falando do próprio filme) é uma profunda panorâmica sobre o work in progress totalizante da obra, que dá idéias claras sobre o modus operandi do realizador. Essa idéia depois seria retomada e aplicada à exaustão por diversos outros criadores; (Exemplo 60´15´´)
c) uso de forma criativa de trechos do filme anterior na composição da trama, “disfarçando”, assim, possíveis dificuldades e imperfeições técnicas;
d) a presença da câmera é subjetiva, ao mesmo tempo que objetiva. As pessoas interagem com ela, olham constantemente para ela, se incomodam com ela, ficam curiosas em relação a ela; (Exemplo: 24´)
e) uso de imagens da gravação inseridas no meio do discurso, provavelmente para “tapar buracos”, de imagens deterioradas ou trechos de áudio sem imagens. (Exemplo: 35´50´´)
f) uso de narrações não convencionais que possibilitam novas formas; (Exemplo 53´40´´)

Em Jogo de Cena, de 2007, Eduardo Coutinho também parte da mesmo lógica do filme anterior, ou seja, propõe que algumas pessoas contem histórias de suas vidas. Contudo, algumas dessas histórias serão reinterpretadas por atrizes diversas (Andréa Beltrão, Marília Pêra e Fernanda Torres). A representação de novo faz presente, para ressignificar o que pode ser verdade, mentira ou representação.
 Em Cabra(...), Coutinho construía, como um jazzista inspirado, usando os elementos que se dispunham ao longo do tempo para que compusesse sua história. No enredo de Jogo(...) isso não acontece, pois percebe-se uma possível pré-disposição do diretor para que esse efeito seja alcançado. Não há mais o improviso jazzístico, mas a busca por uma densidade que, se não é programada, pelo menos é prevista.
Com isso, algumas questões surgem e merecem ser explicitadas:
a) percebe-se em diversos momentos a intensificação da carga dramática, quando as narradoras são filmadas em close-ups, justamente quando fazem relatos mais emotivos. Em momentos emocionalmente “menos fortes”, a opção do diretor é por planos médios e americanos;
b) todos os depoimentos são dados por mulheres/atrizes. Homens são mais relutantes em participar desses “jogos de cena”, a ponto de não se inscreveram para o filme?
c) novamente, como em Cabra Marcado Para Morrer, o diretor não se “esconde”, antes, também protagoniza no filme;
d) a contribuição de Eduardo Coutinho está também em desfazer métodos e mitos quando, por exemplo, a atriz Marília Pêra mostra um invólucro de cristal japonês, que, se necessário, iria utilizá-lo para “chorar” em cena. Tal cena poderia ser suprimida na edição final do filme, mas, sagazmente, o autor deixa-a justamente para problematizar a questão em aberto: devemos “representar” a vida real? Ou devemos “vivê-la”?
Diferentes entre si, com fluxos narrativos muito particulares e uma intricada laboração artesanal, os dois filmes em questão cotejam com especifidades muito abrangentes da autoria de um filme. Pois, sendo eles criações muito plurais, ainda assim podem ser observados sob a agudeza de um criador, de (e para) onde convergem todas as energias criadoras das obras.

Fontes:
Cabra Marcado Para Morrer, Brasil, 1985, colorido/preto e branco, 119 min. http://www.youtube.com/watch?v=VJ0rKjLlR0c <AcesSO Em 18/04/2012>
Jogo de Cena, Brasil, 2007, colorido, 100 min., distribuição Videofilmes, RJ
http://www.imdb.com/name/nm0184202/ < AcesSO Em 23/04/2012>

15.7.12

Projeto "Bem-Te-Vi, Itaim" (5a. edição)

Akira Yamasaki dando início a mais uma concertoria na Casa de Farinha (foto EF)

Quem foi não se arrependeu. Pelo contrário: a 5a. edição do "Bem-Te-Vi, Itaim", definitivamente, foi/está sendo um sucesso. Projeto que não para de crescer, reunindo sempre um time  de masters pra bater um bolão na Casa de Farinha, em São Miguel, ciceroneado pelo incansável Akira Yamasaki, reuniu ontem Gilberto Braz, Caio Vandré & Sheilinha Procópio e Ronaldo Ferro & Overdrive. Contou ainda com a presença marcante da historiadora Cida Santos, biógrafa "oficial" da zona leste.
Akira, como é praxe, deu o pontapé inicial, lendo uma pungente peça literária que evocava a lembrança do saudoso Raberuan, partido daqui, mas mote inspirador e norteador do projeto. Após isso, chamou ao palco o poeta Gilberto Braz.
Proprietário de uma poesia única, de ferro laborado no fogo da inspiração e sob o martelo do esmero, Gilberto dispensou o palco, em sua primeira participação, levando seus versos inusitados às mesas próximas. A confraria, famélica pelo díptico arte & cultura, bebeu, comeu, sorveu e ainda lambeu os dedos com a poesia refinada do poeta.
  
Gilberto Braz declamando seus diamantes (foto EF)
 

A seguir,  a dupla Caio Vandré e Sheilinha Procópio subiu ao palco. Antenada e inspirada, levaram todos ao delírio com a ternura de uma música que respira nuances diversas, todas elas ricas em textura, ritmo e melodia. Caio (filho do músico e cantor Luiz Casé) e Sheila (dona de uma aveludada voz de outono), destilaram seu ópio sonoro sobre uma plateia energizada com o lirismo que emanava das caixas de som.
Caio & Sheila: valeu a longa espera para ver um show deles (foto EF)
 
A noite, porém, prometia ainda mais. Todos anteviam que o show de Ronaldo Ferro e sua banda Overdrive seria um espetáculo catártico. Mas o que não prevemos é que estaríamos diante de uma experiência sensorial incomum. Quando alguns ajustes técnicos pareciam estar "demorando demais", pressentimos que essa espera configurava um caldo sonoro pronto pra explodir na panela da casa. E que depois seria impossível de ser mensurado. Fato: quando os primeiros solos de guitarra tomaram o recinto de assalto, fomos arrebatados para um lugar "próximo de Deus, e do diabo", como, aliás, advogou sabiamente o Akira no final. Ronaldo e sua trupe promoveram uma festa de celebração da vida e da arte atravésda música.
Êxtase, aqui, fica sendo a palavra que descreve o que aconteceu ontem na Casa de Farinha. Pra ser sincero, todavia, ela diz muito pouco da experiência que vivemos. 
 Ronaldo Ferro e sua Overdrive: overdose de ótima música (foto EF)

Antes do fim, porém, um aparte: O "Bem-Te-Vi, Itaim" ultrapassou o próprio voo. Suas asas alcançaram outros ares. Já é discutido, lembrado, questionado, imitado, irritado, criticado, repensado, profissionalizado, divulgado, ganhou vida própria, enfim. Tanto que a escritora Cida Santos deixou-se seduzir e levantou âncora de sua Laranjal Paulista (quase 3 horas de viagem até a Sampalândia), apenas para celebrar conosco essa vivência. Num gesto típico dessa troca de hospitalidade e generosidade, ela e Akira não deixaram passar incólume tal momento. Convidada pelo anfitrião a subir ao palco para um fio de conversa com a plateia, proporcionou-nos poucas mas sábias palavras sobre essa sinergia que nos une, os militantes culturais da zona leste. Ganhamos todos: Akira, Cida, a Casa de Farinha, a plateia, ganhamos nós!
Cida Santos dando um entusiasmado alô para todos (foto EF)

13.7.12

Um poemeu: "Pobres Poderes"

então um certo discípulo
disse diante do cego:
- levanta-te e anda.
e o cego falou:


(poema de "hardrockcorenroll". SP: 1998, 1ª ed, p. 29)

8.7.12

Entrevista: Gildo Passos

Gildo Passos está bem. Depois de passar por poucas e boas com alguns problemas de saúde, um dos grandes trovadores de São Miguel e região, pode enfim retomar a carreira. Através do projeto "Memória Musical", comandado pelo incansável e inquebrantável Akira Yamasaki, acabou de tirar do forno o disco "Ouvindo o Coração", um autêntico mela-cueca roqueiro. Nesse cd, Gildão reelabora a canção como se fazia nos primórdios do rock enquanto gênero e atitude, dá a ela a graça do flerte sem perder o lirismo e a contundência. Indica caminhos, enfim, numa hora em que poucos atalhos parecem seguros nesse oba-oba funkeiro que estamos vendo e ouvindo.
Ele trocou um dedo de prosa comigo, no dia em que fazia o primeiro show com o novo trabalho pronto. Show este que teve a especialíssima participação de outro ícone da musicalidade brasileira, o também sã-miguelino Edvaldo Santana.
O depoimento taí: curtam!
Gildão Passos, momentos antes do show na Casa de Farinha, 16 de junho (foto EF)


(falando com/das emoções de participar do “Projeto Bem-Te-Vi, Itaim”...)
Gildo Passos – A gente teve a oportunidade de participar desse projeto que acho super-importante, que é resgatar a cultura daqui de São Miguel e da região, do Itaim, da zona leste em geral. E a gente tá resgatando alguns artistas que na realidade não têm uma condição de lançar um material de qualidade, qualidade essa que o projeto beneficia.
Então dá uma transparência para o artista e dá uma visibilidade maior, porque é um trabalho bem feito, bem gravado, com todo o cuidado. Os artistas que participam, como o Capa, o Will, são pessoas que estão aí desde a época do Movimento Popular de Arte, vêm caminhando, né?
Então, você vê que já tinha de anos, e se torna uma corrente que nunca deixou de ser, mas aflora de novo e isso é que é importante, porque qualidade é importante. Mas existe o material humano, que é a arte.

(o tempo passando...)
GP – Veja só qual é a transa. A gente tocou e teve os filhos. A nova geração que veio, no meu caso meu filho ta tocando comigo. E tem o Théo tocando, e o filho também vai estar tocando com ele. Essa geração que veio é que ta perpetuando o trabalho desses caras. Pois eles tocam Raberuan nos bares, Sacha, Silvio Araújo, e tocam Gildo Passos também. A gente tem esse grande lance de ter essa garotada que cresceu junto com a gente, os filhos do Luiz (Casé), do Raberuan, e outros que perpetuaram nosso trabalho. E que fazem trabalhos novos e tocam com a gente.

(sobre a energia da molecada nos mais velhos...)
GP – Essa mistureba toda, essa injeção de ânimo, a gente se propõe a fazer uma nova roupagem nas canções. Você mesmo tem umas gravações mais antigas minhas, que hoje você vê com outra pegada, mas não perdeu aquele sabor gostoso de canção. Simplesmente para agregar essa moçada mais nova, fazer eles curtir mesmo. E, lógico, estar trocando figurinha.

(sobre o novo cd “Ouvindo o Coração”...)
GP – Tenho 5 cd independentes mas esse é o primeiro que estou lançando oficialmente, com mais retorno. Pois são dois cd num só, mais três canções novas. Peguei o que já tinha lançado, que não estavam com uma qualidade legal, transformei, demos uma nova roupagem nas canções, para que a gente pudesse mesmo resgatar  aquele trabalho que não tinha ficado a contento. Agora a gente ta resgatando isso, e ainda tem a galerinha que está começando seus trabalhos.

(citando os cd anteriores...)
GP – O primeiro cd que a gente lançou foi dos Tripulantes Por Acaso, que é uma banda independente, muito boa. Foi da mesma época que o MPA lançou seu disco, mais ou menos em 85. a gente estava com essa banda, e fizemos a abertura para alguns artistas, como Belchior, Tom Zé, Walter Franco, mas depois eu montei um trabalho solo e fiz o cd “Meu”, e fiquei um ano e meio apresentando ele. Como estava com essas músicas, então fiz o cd “Amor e Consciência” e fiquei com esses 2 cd, que era o que eu tinha apurado nesses 20, 25 anos de carreira na noite.
Ai, mais pra frente, a gente lançou um cd country, “Caravana Country”, que também foi um negócio legal que a gente fez.
Teve situações em que eu trabalhei nos cd de outros, no cd do Sacha que cantamos uma música, no cd do MPA, que agora transformamos num cd. É uma carreira de 33 anos que tem muita coisa.
Pena que nem tudo a gente conseguiu registrar, como o “Migalhas na Mesa”. Foi a primeira banda que tive, mas não consegui fazer nenhum registro fonográfico dela.

(falando sobre o próximo trabalho...)
GP – No término desse show, teremos o Théo com o filho, que é a banda que vai correr mesmo com a gente. Vamos mostrar 3 músicas deste trabalho que a gente ta terminando de gravar. Na verdade, era para ter terminado este trabalho, mas como o pessoal veio com o projeto “Ouvindo o Coração”, eu dei uma brecada, pois os meninos estavam enrolados lá, os músicos, e a gente retornou ao trabalho, depois de terminar esse disco.
Vamos da ruma palhinha com 3 músicas aqui, numa homenagem que vou fazer ao Raberuan, cantar uma música chamada “Paladino das Estradas”, para fechar o show com a formação que vai ser aquela que vai seguir comigo agora. Com a garotada, o meu filho, o filho do Théo e ele, e o Sílvio Araújo, que é meu grande parceiro de anos e anos.
Eu montei dupla, Gildo Passos e Sílvio Araújo, Gildo Passos e a Banda Renascença e montei também Gildo Passos e Miguel Arcanjo por uns bons tempos. Inclusive vou tocar músicas dele aqui também, hoje.
Tive parceria com Roberto Claudino, grande poeta pernambucano. A música que encerra este cd, “Guerra de Interesses”, é minha e do Roberto Claudino. Então, vamos ter uma mistureba com os caras que estiveram ao longo de minha carreira, sempre ao meu lado, que são bons compositores.

Gilvan, nos passos do pai (foto EF)

Participação especialíssima de Edvaldo Santana (foto EF)

7.7.12

Francisco Xavier: um poeta brasileiro

Depressão II
No íntimo vale
Vaga mente
Sem sentidos.
Escalada
No cume dos lábios teus,
Lambuzo-me.
Pequeno gomo de céu.

Fazenda Ciências
Ver de sonho.
Meu canto
Orvalha.

6.7.12

Um poemeu: "Porto"

Campos Elíseos, SP, 2012 (foto de xing-ling)
 
confusa essa luz pra dois
ter sol ter lua
se minha ser só sua
esse abraço apertado
ser meu ser só seu
ter o meu abismo no céu
esse braço de lago
canto e tez de sereia
meia voz a lavrar
águas pro regaço do mar
 
 Campos Elíseos, SP, 2012 (foto de xing-ling)

5.7.12

Claudio Gomes: um poeta brasileiro


manhã

feriado
mei'silêncio inSampa
pardais picnicam

duas

Afinadas: 
duas gotas de orvalho dançam: 
o mesmo raio em Sol.
 
 

4.7.12

Um poemeu: "Gestação e celebração"

quando o amor nasceu
fez vários aniversários
ofereceu sua mão
deu-me dúvidas, divertimentos
e certezas de presente

hoje faz vários natais
e tantos carnavais
que apossou-se de mim
ontem

2.7.12

Meus 102 alicerces

1. NÉLIDA PIÑON & CLARICE LISPECTOR
2. PINK FLOYD & REM
3. JUNG & UILCON PEREIRA
4. JORGE LUÍS BORGES & JAMES JOYCE
5. THEODOR ADORNO & GUIMARÃES ROSA
6. BELCHIOR & TETÊ ESPÍNDOLA
7. WILL EISNER & RICHARD WAGNER
8. SILVIANO SANTIAGO & THE SMITHS
9. CARLOS VERGARA & "O PEQUENO PRÌNCIPE"
10. GASTON BACHELARD & TOM ZÉ
11. TOM JOBIM & TOMZINE
12. WERNER HERZOG & EDITH PIAF
13. MANUEL BANDEIRA & BENEDITO CALIXTO
14. CARLA BLEY & ARICY CURVELLO
15. MARTIN HEIDEGGER & BUDISMO
15. DR. SÓCRATES & SÓCRATES
16. ELLA FITZGERALD & PATTI SMITH
17. ANGELI & ALBERT CAMUS
18. PAULO LEMINSKI & EMANOEL ARAÚJO
19. GLAUBER ROCHA & ALEJO CARPENTIER
20. JEAN-LUC GODARD & HAROLDO DE CAMPOS
21. SEBASTIÃO SALGADO & AC/DC
22. VILLA-LOBOS & MÁRIO QUINTANA
23. BEETHOVEN & VERA FISCHER
24. ROBERTO FREIRE & CLAUDE LÉVI-SATRAUSS
25. DOSTOIEVSKI & MAURÍCIO DE SOUSA
26. SURF & SKATE
27. VIAGENS & JOGAR XADREZ
28. UMBANDA & ARRIGO BARNABÉ
29. HOMERO & ITAMAR ASSUMPÇÃO
30. MANO BROWN & WILHEM REICH
31. PIER PAOLO PASOLINI & CHICO BUARQUE
32. PE. ANTÔNIO VIEIRA & THOREAU
33. MARK TWAIN & ROBERTO CARLOS
34. T. TZARA & JULIO VERNE
35. CÂNDIDO PORTINARI & MARTINHO DA VILA
36. BICICLETAS & DESENHO ANIMADO
37. SHAKESPEARE & CANTARES DE SALOMÃO
38. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE & HERMETO PASCHOAL
39. OSCAR PETERSON & VINICIUS DE MORAES
40. BJORK & BLITZ
41. "SÍTIO DO PICAPAU AMARELO" & NIETZSCHE
42. JOÃO UBALDO RIBEIRO & FRIDA KHALO
43. ADRIANA CALCANHOTO & ERNEST HEMINGWAY
44. GRAMSCI & ELIS REGINA
45. ROMÁRIO & MARADONA
46. FERNANDO NAMORA & TRIO PARADA DURA
47. FUTEBOL & CAMINHADAS
48. "1001 NOITES" & ZIRALDO
49. ROB SCHOLTE & NÉLSON RODRIGUES
50. ? & !
51. OS FILHOS & A MUSA

(última atualização em 2006)