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13.5.24

Diario de bordo 7

 Hoje aniversário de meu neto caçula, e um bolinho a contento entre família. Sou grato pela sua existência, e pelo cansaço que ele me causa.

A partir de um texto do Chico Barney no Universia (UOL), em que ele listou 5 músicas preferidas do RC que ele gosta, resolvi brincar (adoro listas) e elencar as minhas 5 músicas preferidas na voz da Elis: Fascinação, Me Deixas Louca, Águas de Março, Se Eu Quiser Falar com Deus e Como Nossos Pais (em que não sei se prefiro esta ou a gravação com o Belchior). 


9.5.24

Diário de bordo 6

 Hoje cedo passei na rua em que morava o Fernando, um colega de escola que morreu nas férias de 80 e 81 em alguma praia do Ceará. Na verdade, nada (ou pouco) me lembro de quem era o Fernando. As imagens se perpetuaram em minha memória porque ele se parecia com o Marquinhos, e que morava por aqueles lados também. Então, quando  no primeiro dia de aula ficamos sabendo que o Fernando morreu, houve uma pequena comoção e eu me cobrava do porquê não lembrava direito quem era ele, que estudava em outra sala e acho até que em outra série. Mas quando vi o Marquinhos circulando entre nós, lembrei da associação física e a partir daí o Fernando eternizou-se em mim replicado na imagem do amigo em comum. 

Me lembrar do Fernando me fez rememorar também outros amigos da infância e juventude que se foram: o Vitorino e o Zé Luís, ambos afogados em algum lugar de Santos e que coincidentemente moravam na mesma rua de Itaguases. Teve também o Fábio, que por um curto período na quarta série, foi meu melhor amigo. Quando ele se associou aos meus "inimigos" e passou a me chamar pelo apelido que eu execrava, Gordinho, me afastei dele e firmei laços com o Sidnei,o único grandão da turma que me respeitava. O Sidnei, cumpre dizer, também faleceu, muitos anos depois, vitimado pela AIDS. 

E, por último, falar do Sidnei me fez lembrar que uma vez ele comprou a minha defesa contra o Jesus, um alemãozinho sardento e violento, que tocava o terror desde os primeiros anos escolares e quando estávamos na 5ª A, quis me pegar na saída da escola por causa de uma dividida no futebol. O Sid segurou a minha bronca pois sabia que eu apanharia feio, então fez a minha defesa na lábia e nas frases lacradoras. Como não foi o suficiente, ele, que comprou a minha briga, não teve muitas opções a não ser se (e me) defender com unhas e dentes. Quando, ao final da rinha, vi a maçã do seu rosto aberta e sangrando, entendi um pouco o que era era essa selvageria da beleza em torno da defesa da honra de uma amizade juvenil. E dói lembrar disso tudo agora e saber que nunca o agradeci pela coragem daquele certo dia da nossa adolescência. 

Faço isso agora.  

2: Parece sintomático que de todos os citados nessa cronicazica, Jesus é o único que pode estar vivo, em algum lugar. Espero que sim, e que tenha se acalmado.

7.5.24

Diário de bordo 5

Sensação desconfortável com tudo que está acontecendo no Rio Grande do Sul, ainda mais em ler matéria da Falha de SP de hoje dando conta que no ano passado o excmo. sr. Eduardo Leite não utilizou nenhum centavo da verba destinada a obras para prevenção de chuvas e outros desastres naturais. A cada mais e mais a certeza de que as tragédias naturais são um projeto, como antecipou com clareza e exatidão o Darcy Ribeiro. Sensação mais desconfortável ainda ver o país "se unir" em torno dessa causa quando não houve a mesma união quando as chuvas assolaram em anos e meses recentes a região serrana do Rio de Janeiro e também a Bahia e o Acre. A boa vontade é seletiva. 

Aí sou sequestrado pela vontade de escrever um poemeto e saiu isso:

Vontade de evoluir num passe de mágica, como um pokémon. 

Vontade de entender o que é "evoluir".

(uma certa má) vontade de entender o que é "vontade".

Vontade de entender o que é "entender".


(Excmo. é termo que pego emprestado com o Felipe Neto)

6.5.24

Diário de bordo 4

 Hoje pela manhã cometi um pecado vertical quando fui buscar meu neto pra levá-lo à escola. O sol nascendo a leste estava tão bonito que ousei filmá-lo, mesmo dirigindo. Disso resultou três decepções: 1) o meu arrependimento pelo gesto tresloucado e inconsequente; 2) vendo depois as imagens percebi que a beleza real nãos e registra, no máximo guardamos uma imagem pálida que pode ser qualquer coisas, menos a beleza do momento que só a memória guarda com qualidade superior, e; 3) meu neto não  tinha aula, o que só descobri depois que que chegamos à creche. 


NOTA: A boa notícia é que hoje inicio um curso sobre a história do cinema LGBT na Ação Educativa. Apreensivo pela primeira aula, daqui 95 minutos. 



2.5.24

Diário de bordo 3

 Dia auspicioso:

1) Reunião da sala de roteiro da qual faço parte bem produtiva hoje.

2) Um senhora aula de roteiro muito proveitosa com Luísa Parnes.

3) Convite do SESC para um evento literári no mês que vem. 

4) Vitória do Palmeiras.


Nota dissonante (pois toda luz tem sua contrapartida, a sombra):

1) Ontem fui assistir um filme no CineSesc (La Chimera) e levei um livro de bolso (Arte e Anarquia, uma coletânea de textos sobre a relação de alguns artistas visuais com a militância anarquista), pra ir lendo no metrô na ida e na volta. Perdi. Que a pessoa que o encontrou possa fazer uma boa leitura.

Um poema: "Bioespectrografia"

 meu pai pegava a cadeira e

ia pra baixo da mangueira

levava uma das tesouras de costura

da minha mãe, botava o calcanhar

na quina do assento

e começava a cortar as unhas

pacientemente.

nessas horas, contava muitas histórias.


quando a situação melhorou um pouco

ele comprou um cortador

e tudo passou a ser mais rápido.

e ele contava histórias mais curtas.


depois ele juntava tudo: a lâmina,

o pincel, a cuia de alumínio,

o caixilho, o "pescoço", o espelho

laranja; ia para o tanque

e se enlameava de sangue.

não falava nada nessas horas.


quando cresci, por algum motivo

e por alguns anos,

tive vergonha de me barbear

na frente de meu pai

e só cuidei das unhas do pé do meu avô

quando ele não mais se curvava (só ao tempo)


hoje apalpo, afago e aparo minhas memórias

e o cuidado bruto de tudo

vira um lirismo nem alegre nem feio

meio bonito meio triste

1.5.24

Diário de bordo 2

 Como era previsível, não tá dando certo esse negócio de escrever um "diário". Se continuar nessa perspectiva, vai ser um "semanário". 

Seja como for, as novidades não são "novidades", mas a repetição exaustiva da rotina: trabalhar, escrever (que também é uma forma eufemística de trabalhar), viver em família, viver socialmente, comer, beber e tocar a vida pra frente. Estou lendo Malês, livro que ganhei do meu irmão e cujo autor não me lembro agora, mas tenho quase certeza que é Gilvan Pereira (vou tentar sempre seguir à risca a proposta de escrita por impulso, e sem consultar o são google). Ou seja, sem revisão também, para não trair o esforço de escrever "de prima" e com alguma sustança. 

Semana de boa curtição audiovisual. Reassisti ao sempre necessário Bastardo Inglórios, do Tarantino. E ontem vi Chaer - Pirata Contemporâneo, um documentário em longa metragem do Rodrigo Campos, um cineasta de Mogi das Cruzes que estimo muito.