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29.4.22

Um textículo: "monotododia"

 

todo dia refazer o poema como quem aprendeu 

a andar de bicicleta na infância 

mas esqueceu, tem que cair de novo, de novo 

de novo 

nova mente


todo dia reescrever o poema

inédito

repetidamente inédito

até que, incrédulo, torne-se mais, quase uma monotonia

reza mantra ave-maria

todo dia restaurar este poema

como quem carpe raios de sol

esculpidos em sulcos de suor

alimentando a folha seca a terra seca

seca, sem húmus e sem humor


todo dia esquecer

para poder reaprender


28.4.22

Um textículo: "sobre tudo, você!"

 

te amo de um amor que não tem nome

ainda

te amo de um amor que tem nome

com sobrenome você

te amo de um amor que tem nome

e sobrenome: você

te amo de um amor de nome

sobretudo você

26.4.22

Um textículo: "os netos"

 

alguém um dia 

há de tentar explicar

- e não vai conseguir – 

o que são os netos


pois sendo fios de poesia

tecidos sobre tecidos

resultam outra pele

além do amor além 

do além


netos são filhos

dos sonhos dos filhos

indisfarçáveis tesouros 

de nossa maturidade

puxando, empurrando

para o fim, reinício de tudo 


do livro hipjazzcoolbopfunksambabensoulblue, editora Lavra, 1ª edição 2022, SP.

24.4.22

haiquase 137

 te amo de um amor ainda sem nome

de sobrenome extensão de seu

esse amor desse nome sobretudo você

23.4.22

"lobos não adormecem", de Escobar Franelas, recitado por Adolfo Moura


 lobos não adormecem, poema do livro hipjazzcoolbopfunksambabensoulblue, de Escobar Franelas, interpretado por Adolfo Moura


antes vinham à noite
no meio da madrugada
amanhecendo

agora não se importam mais
fazem tudo às claras
sob a luz das balas, das bolas, 
das bostas dos bois, da bíblia
sob a luz do dia

agora rasgam leis, nos agridem
com seus crucifixos, 
com os prefixos de suas insígnias
e sufixos no substantivo barbárie
tomam os nosso quintais
as nossas ruas - não nos deixam passar
enquanto ao meio-dia
consumimos prato-feito
temperado com imagens da última chacina
à meia-noite

18.4.22

"lobos não adormecem", poema de Escobar Franelas recitado por Milton Luna

 

lobos não adormecem, poema do livro hipjazzcoolbopfunksambabensoulblue, de Escobar Franelas, interpretado por Milton Luna

antes vinham à noite
no meio da madrugada
amanhecendo

agora não se importam mais
fazem tudo às claras
sob a luz das balas, das bolas, 
das bostas dos bois, da bíblia
sob a luz do dia

agora rasgam leis, nos agridem
com seus crucifixos, 
com os prefixos de suas insígnias
e sufixos no substantivo barbárie
tomam os nosso quintais
as nossas ruas - não nos deixam passar
enquanto ao meio-dia
consumimos prato-feito
temperado com imagens da última chacina
à meia-noite

16.4.22

"lobos não adormecem", poema de Escobar Franelas declamado pro Raquel Ordones


 lobos não adormecem, poema de Escobar Franelas, no livro hipjazzcoolbopfunksambabensoulblue, recitado pro Raquel Ordones


antes vinham à noite
no meio da madrugada
amanhecendo

agora não se importam mais
fazem tudo às claras
sob a luz das balas, das bolas, 
das bostas dos bois, da bíblia
sob a luz do dia

agora rasgam leis, nos agridem
com seus crucifixos, 
com os prefixos de suas insígnias
e sufixos no substantivo barbárie
tomam os nosso quintais
as nossas ruas - não nos deixam passar
enquanto ao meio-dia
consumimos prato-feito
temperado com imagens da última chacina
à meia-noite

15.4.22

hipjazzcoolbopfunksambabensoulblue no sarau Periferas


 

Neste domingo tem nova tarde de autógrafos de hipjazzcoolbopfunksambabensoulblue, dessa vez no sarau Periferas, no Itaim Paulista.

O agito geral fica por conta do lendário Punky e tem muita gente bacanuda convidada. Só chegar. 

Live de lançamento do livro "hipjazzcoolbopfunksambabensoulblue", de Escobar Franelas (Ed. Lavra)


 #escobarfranelas #lancamentodelivro #hipjazzcoolbopfunksambabensoulblue

#livro #live

7.4.22

manifesto antropomágico

 

"Abaporu em versão fotográfica", Alexandre Mury, RJ, 2010

* Breve reflexão baseada no Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade (1928) e Manifesto Antropofágico da Periferia, de Sérgio Vaz (2007), sobre a condição da arte como manifestação de uma magia que a todo momento reconstrói simbologias em nossas vidas


A poesia, cuja raiz da palavra remete ao instante criador, sendo, portanto, a expressão mais primária do elã artístico, é a entidade fundadora das asas que a vida requer para a imaginação.

Sem arte, a vida não é possível. Sem poesia, a arte não é possível. 

Desde as suas primeiras manifestações, aquele a quem chamamos ser humano, se diferencia dos outros seres viventes pela prática da arte. 

Não é o domínio tecnológico que nos torna melhor. Os dentes de um cão, as unhas de um gato, a paciência da águia e a sagacidade da cobra, provam que todas as armas inventadas pelas pessoas ao longo dos séculos, são apenas artefatos. Sem a pólvora ou a faca, perdemos quase todas as lutas.

O que nos leva para um patamar diferenciado é a capacidade de abstrair. Mas quem garante que o silêncio de uma onça ou a algazarra de uma arara não seja também um abstração? 

Desconfio que é preciso que entremos mais no reino das digressões. 

Pode ser que além da abstração, outro elemento preponderante nessa construção do humano seja a imaginação, campo fértil para o florescimento da arte. Todavia, a própria imaginação nos desafia a pensar que uma borboleta pode se emocionar ao contemplar um espécie humana, trajando roupas coloridas, andando, falando ao celular, com uma bolsa no ombro, num campo repleto de edifícios diversos, carros céleres e semáforos tricolores.

Qual seria então o vértice que asseguraria a certeza da separação entre aquela mulher ali, ó… e aquela andorinha, na gestação de uma poesia? 

Antes de tudo, a linguagem. É ela que carrega consigo toda a compreensão daquilo que notamos como vida. Desde o nascimento, a linguagem é o meio de transmissão e a própria mensagem. E ela é tão determinante quanto o ar que se respira, para que os vivos se comuniquem e comuniquem que são vivos, que estão vivos.   

Entretanto, não sabemos dizer quando, mas em algum momento esta mesma linguagem aquilo que chamamos de sublimação, onde o branco misturado ao preto não gera só o cinza, mas também o vermelho, o amarelo, o verde, o azul… E a soma das vogais “a” e “o” não se tornam apenas um mero “ao”, mas pode ser tornar, por exemplo, um “ão”, que juntadas naquilo que chamamos rima, colocam em evidência palavras que parecem antagônicas - mesmo que no fundo não sejam - como “razão” e “coração”.

Taí essa fusão mágica que ressignifica a vida, aquele exato instante em que, tal qual uma transubstanciação química - e juntando o mestre dos magos, Drummond - o sangue e o leite misturados resultam numa terceira cor, a que chamamos aurora. 

É isso que entendemos e no fundo é isso que esperamos da arte: que ela nos defenda nos infortúnios da própria condição e vulnerabilidade de ser um ser vivente, que nos questione, que nos afirme. Que esta arte não seja passiva, mas que diante dos respiro que nos cerca, seja sempre o transporte para o impossível. Que seja, enfim, divina a ponto de ressuscitar almas mortas e  sepultar corpos putrefatos, mesmo que supostamente vivos.  

E, por último, que ela nunca se baste, nem em nós nem em si mesma. E não se suportando, se faça presença mesmo na ausência, retroalimentando sentidos contrários.

Não são as figuras de linguagem que determinam o que é Poesia. É a Poesia que a todo momento exige a criação de novas figuras de linguagem, num jogo de gato e rato, pois, tal como o Mistério, ela está sempre inacabada. 

Essa a alquimia da Poesia. Essa a sua magia. Por mais que se explique, segue inexplicável.

6.4.22

sereiar



cheia de si, a lua se viu no mar, estranho espelho que estilhaçava e rejuntava seu rosto de luz. embriagada, mergulhou seu olhar dentro das águas, voltou sem se molhar. brincou a madrugada toda, até o dia clarear.

sobre vivências

 

dedos bobos

tontos

quantos? quais?

tateando a pele

ao som de uma sinfonia descompassada


arrepio de vento frio de desertos quentes


depois daquelas montanhas haverá

algum oásis?

naquele desfiladeiro

ao menos um coqueiro?

5.4.22

poeminha triste

 

róliúde (de novo!) deu ruim:

depois de brandon lee

o falso festim contra

                                     cena com alec baldwin

um roteiro pra steve mcqueen

haiquase 135


 

poesia é matéria que morre todo dia

só quem parte, fica

húmus que se eterniza

2.4.22

haiquase 133

 

você me desconcentra

me desconcerta

e me reconserta


single-lar 3

 

moro dentro dessa cabeça

sem pensão sem pagar aluguel

moro nesse coração sem taxa

nem documentos de posse

moro nessa casa de vento sem teto

piso ou pensamento

habito esse cisco de sol

sem orgulho ou lamento

se sou orgulhoso se sou feliz com isso

não tempo pra pensar

ocupado em remover toda porta, janela 

cerca ou cadeado que há