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25.10.08

Como Entender os Filhos - Parte 2

Continuo sem entender os filhos. E sem entender o mundo, e - principalmente - sem saber o que fazer com a minha crise criativa. Criativa?, oras bolas!, vá catar coquinhos, Escobar, pois quem falou que você é criativo?

É isso o que acontecesse quando bate aquele branco em sua mente, e você se pega sem saber o que escrever. Tampouco, como escrever. Estou tão mal na/da ciência labiríntica da digitação, que ouço vozes ao meu redor dizendo com todas as letras que sou melhor jogador de biboquê que poeta. Logo eu, que sempre fui péssimo em jogar peteca,peão, bolinha de gude, pipa, handebol, basquete, vôlei, aquaplay, TGA, Pac-Man, dominó, xadrez, dama, pega-vareta e palitinho. Futebol então... Então me diga, meu caro, por que é que esse diabinho sentou-se aqui em meu ombro e vem me contar asneiras, querendo me assegurar que sou peladeiro, melhor que a caneta e o mouse às mãos? Quem me garante que sou mesmo um atleta em pleno vigor juvenil de seus 40 anos, quando desde os 13 o que melhor pratico são os versinhos que ofertava de montão às namoradas?

Essa não, Mané... tão querendo me enganar, me deixar confuso, achando que o melhor que posso ofertar ao mundo é minha retidão de caráter, minha humildade às vezes indulgente demais, meus assomros de civilidade que beiram a inocência política, e minha atitude servil, a serviço da família, da pátria, do patrão. Mas não, quero voltar a ser punk, grunge, moleque e adolescente de novo. Por que não? Por que aos mais velhos não é dado o direito de errar inclusive no trato com seus filhos que estão querendo imitar? Essa não, Mané, que não vou dar o braço a torcer. Ninguém vai me convencer de quem sou bom de bola, que sou de cama, que sou bom de letra, que sou bonde por onde trafegam sonhos os mais diversos, inéditos e instáveis que se possa imaginar.

Anjo ou diabo que está sentado no meu ombro, por favor, cale-se. Deixe-me ao menos uma vez duvidar ou acreditar por mim mesmo. Essa de você ficar bafejando na minha orelha que esse negócio de escrever é coisa de Drummond, Machado, Graciliano, Clarice e Ubaldo, poxa vida, tá impedindo-me de ser pelo menos um reles escobarzinho, com direito a duas linhas de rodapé de um jornaleco mensal lá na conchichina.

Pare de mentir pra mim, por favor! Pare de me provocar, já que Pelé eu não serei mesmo. Nem pra Tonhão ou Dinei eu tenho jeito. Então, deixe-me a sós com esses brancos de memória, ou esses excessos de idéias. Uma hora vou colocar tudo no liquidificador e quem sabe daí não saia um bolo. Enquanto isso, vou treinando as letras, pois idade pra isso eu ainda tenho.

16.10.08

Como Entender os Filhos

Não sabia o que escrever mas sabia que tinha que escrever. Ficar muitos dias sem aparecer na cara da net pode parecer falta de responsabilidade, talento mal aproveitado, conversa mole de botequim, sei lá!

O fato é que estava procurando um fato novo. Dizem que todo cronista passa por essa dor-de-barriga quase sempre, a falta de assunto. Diria, aliás, o contrário: excesso de assunto. Pois está aí a crise mundial do dinheiro atrapalhando os planos de Lula de nadar no mar negro e sem ondas do pré-sal; tem o caso sem fim do Iraque, um novo Vietnã inventado pelo bush (perdoem-me, mas perdi o respeito por ele de tal forma, que escrever o nome dele com maiúscula é dar um deferimento que aquele cidadão (cidadão?!) não merece). Temos litros e litros de bate-papo sobre essa guerra chinfrinzinha entre o Kassab e a Marta. Tomaria umas boas biritas sinucando e filosofando sobre como seria o governo Gabeira no Rio. Seria, pois ele prefeito da Cidade Maravilhosa e Obama no comando do estados do norte da América, só vou acreditar a posteriori. Por enquanto.... Aliás, essa seria uma outra crônica interessante: digredir sobre essa (boa)novidade, o Obama; afinal, a utopia não pode acabar, certo? Principalmente, em se tratando de política quentinha vinda dos States.
E a seleçoca do Dunga, hein? Excelente para condimentar um papinho regado a cerveja, uísque ou conhaque, num final de tarde de sexta, ouvindo batuque nas mesas e vendo desfile de beldades num barzinho qualquer da Vila Madalena, do Bixiga, do Tatuapé, em qualquer lugar.
Uma outra crônica, falar desse demente que faz dois dias mantém uma ex-namorada presa no apartamento em Santo André. Qual é o nome do moleque? O da menina é Eloá, gravei bem; lembra a senhora Jânio Quadros. Será que foi o pai da garota que deu esse nome a ela? Culto à vassourinha janista? Se for, azar duplo dessa menina; ter uma pai retrô e um fã doido total.
Fiquei vendo uma foto dela hoje no jornal, o flagrante de um grito à janela na tarde de ontem, e me peguei refletindo sobre a idiotice da posse. Ainda tem gente que acredita que a conquista do amor pode ser pela força. Que força, cacete? Amor é uma conquista de todo dia. Ou ele acredita que depois de apontar uma arma pra ela, o caso ficaria resolvido e ela se descobriria apaixonada novamente, e viveriam juntos até o "final feliz"? Ao contrário do que nos faz crer o pensamento coletivo popular, são os homens que têm uma certa facilidade em acreditar em historinhas da carochinha, comp príncipes, dragões, carrruagens e princesas. Na maioria das vezes, porém, agem como sapos.

Voltando à estaca zero, estava sofismando sobre o que escrever. como escrever. Se escrever. Tranquei-me por algum tempo ouvindo Beatles ("Abbey Road"), e depois Mahler (1ª e 4ª Sinfornias"). Na meditação, acabei por desistir e fui fuçar os rascunhos pra ver se tinha algo que fosse o start de um texto. Definitivamente, hoje não.

Resolvi então escrever sobre meus filhos. Tenho dois de um casamento estável, e o maior, aos 13 anos, está ganhando abraçando uma "independência" que não sabe se existe, nem onde está, tampouco como usar. Mas agora vejo que já é tarde, e isso vai ter que virar outro texto.

E o que vocês estão lendo fica sendo o rascunho sobre a impotência do homem diante da falta de inspiração. Transpiração ajuda, mas, sozinha, soçobra.
(Só para informação, eu não bebo nada alcoólico, tá? As citações etílicas são só pra estilizar o texto)

Dubiedades

Estamos cercados pelo dúbio: claro/escuro, sol/lua, mãe/pai, marta/kassab, osama/bush, amada/amante. Essa certeza, tão reta quanto pontaria de de um ianomâmi em caça na floresta, fez-me pensar um pouco sobre a atividade humana. Vem daí o primeiro paradoxo: o que é humano?

O homo sapiens, ascendente do virtualman (não esqueçamos, por favor, que desconhecemos o que nos espera no futuro, mas, além dessa certeza, também podemos asseverar que o futuro é um cheque ainda sem fundos, (as)sustado pela liquidez do presente, e com assinatura indecifrável), desde sempre serviu-nos de culto para cultuarmos um passado balizador e simbólico.

Tínhamos a pedra, mas não a roda. Hoje temos o domínio do ciberespaço, mas não temos o domínio do espaço. Sequer sabemos o que há ness espaço. Tínhamos o grito como expressão, hoje falamos seis idiomas, entendemos o alfabeto dos surdos-mudos, praticamos esperanto e outros quetais. Orientávamos pelo sol (e sua sombra sobre a copa da árvore), e hoje temos moderníssimos gps.

De onde provém a questão da dubiedade, então? Simples, das dúvidas que suscitam ao longo do pensar o homem. Se Deus tem o diabo como inimigo, se Deus tem o homem como seu complemento, se Deus tem anjos como exército, então, pra que serve o pensamento humano? Precisamos de fato "pensar"? Pra quê? Nossa extasia não seria simplesmente comer, defecar, gozar e frutificar?

Desconfio muito desse "humano" que foi certificado a nós. Isso tem servido para práticas de sentido único (aí está outro sentido da dubiedade), dominação, politicagens (no seu sentido mais perverso), e divisões. a prática da vida tem me ensinado muito, inclusive a beleza da doação. Mas ela só faz sentido quando contextualizada no sentido do capitalismo ("doação" seria uma espiritualização - ou a parte frágil - do ato de lucrar), e da prática existencial como um todo (disse o apóstolo Paulo na carta ao aos corinti(an)os que "permaneçam pois a fé, a esperança e a caridade, e desses o maior ato é o de caridade").

Será que eu poderia ser mais inumano mas ainda amando meus filhos, minha mulher, meus amigos, as árvores, as águas e os animais?

Quero fazer uma última colocação: acho que o maior duplo de mim, sou eu mesmo. Tenho sido meu inimigo declarado em circunstâncias diversas. Quando aprender a me domar melhor, acho que serei um novo homem, mais amoroso, moderno e prático. Menos patético.

2.10.08

O Cão Quer Morrer

Hoje, como ontem, como sempre, tomei café na rua. Uma mania antiga que tenho, a de tomar muito café, em qualquer lugar, a qualquer hora, sem respeitar muito os critérios de asseio exigidos pelo meu estômago. É uma coisa meio autômata e anômala. Quer dizer, verdade seja dita - e tem que ser "bendita"! - às vezes, como hoje, bebo café em casa, mas esse foi curto, rápido, com um dessabor de requentado. Então... tome-lhe café da padaria, de barraquinha, ou de "donas Marias" diversas em esquinas ou filas diversas. Rerrequentados ou - pior ainda! - mornos.
Pois bem, eu e o Dailor Varela, poetaço, ele um dos genitores do poema-processo na década de 1960 em terras potiguares; o dito está passsando uns dias em meu casebre, aqui na província de Sampalândia; eu e ele fomos ontem visitar o Sacha Arcanjo, cantador dos bons, músico e poeta mineiramente baiano, estabelecido nas terras de São Miguel Paulista, aqui, bem "pertinho" (de novo mineiramente falando) de casa , na zona leste paulistana. Então, como eu tava dizendo, fomos visitar o Sacha. O Dailor dirige um jornal no Vale do Paraíba, SP, "O Grito", e queria uma entrevista com esse baiano incandescente e bem-humorado, letrista que honra a língua pôrtugo-brasileira, com seus achados poéticos ricos e sutis.
Conversa vai conversa vem, a entrevista rolou, eu aproveitei e filmei, e daí fomos tomar um cafezinho lá na esquina da av. Nordestina, numa padariazinha dessas comuns em vilas e bairros. Estava chovendo pacas. Tomamos uns vanilas e voltamos em papo animado. Mas eis que quando saía porta afora, tropecei num autêntico viralata. Branco amarronzado, cara pidona e triste mas esperto o suficiente para roubar o lanche de algum incauto distraído, ele olhou-me inquiridor, como a exigir desculpas, que, obviamente, pedi no olhar. Depois de atravessar a avenida, olhei para trás e os olhos dele me seguiam entre grossas gotas de chuva.
Esqueci o caso logo em seguida quando voltamos pra casa . Hoje cedo acordamos, eu e o Dailor, enganamos o estômago e fomos nos compor com um cafezinho básico no terminal Itaquera. Àquela hora, já umas nove e pouco, não tinha mais aquele frenesi de horas antes, quando sequer conseguimos andar no meio da multidão compacta, acelerada para pegar metrô, trem, lotação ou ônibus, e sumir na massa férrea em direção ao trabalho.
Descemos da van, achamos uma lanchonete não muito aprazível mas com poucos fregueses, e pedimos dois cafés. As balconistas conversavam animadamente sobre algum show no próximo final de semana e tive que repetir o pedido mais de uma vez. O café veio intragável. Biquei e despejei o resto no tambor que tinha ao lado. Não sei para que servia, mas eu queria evitar qualquer tipo de argumento por não ter tomado aquele líquido. Espero sinceramente que alguém tenha me feito o favor de reclamar daquele visgo preto de 70 centavos. Eu, agora, só queria ir embora logo. Iríamos encontrar o jornalista e escritor José Nêumanne em seu escritório, lá na sede da editora "A Girafa". O Dailor queria aproveitar a estadia na Pauliceia e matar a saudade do amigo com quem morou junto nos anos 70 e aproveitar e fazer uma entrevista para seu tabloide.
Não sei para que servia aquele enorme balde de plástico ali ao lado da barraquinha, mas foi lá que lancei o "pretóleo" que, respingando no plástico, acabou por cair no chão, onde foi sorvido rapidamente por um viralata. Branco e amarronzado. Esse filadaputa de cão quer morrer, pensei de relance. Mas o que ficou vivo em minha memória foi o célere salto que deu, para agarrar o copinho antes que caísse no chão. Equilibrista da sobrevivência, ele.