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28.7.18

Um texticulozinho: "foi ele quem começou"


Dois quase-ex-amigos se encontram num velório:
- Você veio, seu petista!
- Meus sentimentos, seu nazista - respondi.

22.7.18

Um textículo: "a calma tempestade"


preciso de você
de ficar em silêncio com você
ouvir o frufru da cortina 
o vento na cortina 
ouvir a canção de sua respiração
sentir o calor de seu corpo
sentir o calor do meu corpo no seu corpo
curtir a paisagem do teto com você
curtindo nuvens imaginárias 
curtindo a rosa imaginária na nuvem imaginária

19.7.18

Um textículo: "parto"


em algum lugar 
aqui
poemas poetam-se

alguns em silêncio
outros, com estardalhaço

em algum tempo 
agora
projetos de poema

alguns vindo
outros, indo
outroutros, estanques

todo poema contém poetas
poetas não contêm o poema


18.7.18

Um textículo: "falácias do amor"


- adoro esse tempo dedicado a mim...
- mas são apenas 25 horas por dia, 
se bem que ainda tem aquelas
em que durmo
(mas sempre sonho contigo, tá?)
- nossa! desse jeito gosto de você um oceano.
- e eu uma galáxia.

9.7.18

Um textículo: "prosopopeia"


a minha alma entra na sua

no trânsito entre as almas 
inexiste a contramão
ciúme ou possessão

há entre elas uma transparência
a incorporação de ritmos, de imagens
signos e miragens que trafegam 
sem colidir

a minha alma entra na sua
sem sair daqui
de qualquer lugar
a sua alma entra na minha
mesmo sem ser
sendo
somos

5.7.18

Um textículo: "solstício de um verão eterno"


a poesia acorda, levanta, vai para a sala  

encontra o homem que a nota

mas faz que não

e apressado, sai pra trabalhar.

a poesia não se abala
roda a casa, vai pra rua,
acompanha seu homem
cumprimenta outras pessoas
pinta pneus de vermelho
e as vozes de música
e o sangue transparente

cata pedras na rua
e faz colar de pétalas
tranca a sisudez na gaiola
leva a zebra pra passear

a luz da poesia ofusca o maucaratismo da inveja
e faz a sombra sambar
as cores de seu leque são sinfonia
abanando bach e beethoven
no arco-íris sem fim

o circunspecto crente que afirma
que só a poesia salva
goza o gosto da prosa
com sancho, macbeth ou borges
com cecília, virginia, macabéa
com ou sem rosa

já o cético em dúvida
mesmo com a prova dos nove
irá ao inferno de dante
para depois ascender
ao céu de tantos tons
dos diamantes dos beatles

alguns versos descansam
nos vãos do esquecimento
contudo, contra tudo
a poesia nunca dorme
mesmo entre mortos