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27.5.13

Arnaldo Rosário no Sarau da Casa Amarela: como foi?

Arnaldo, poeta, prosador, contador (foto Selma Santos)
   Domingo de sol, abertura do campeonato brasileiro, Neymar foi vendido para o Barça - será a última vez que vestirá a camisa do Santos. Competir com tudo isso é muito difícil, mas o Akira não teve esse temor quando fez a chamada geral para que todos fôssemos para a Casa Amarela nesse dia. Motivos ele tinha de sobra, mas um não deixava dúvidas: o convidado para a festa em homenagem à deusa Poesia era nada mais nada menos que o Arnaldo Bispo do Rosário.
   Advogado por profissão e humanista por vocação, Arnaldo tem tirado poesias e mais poesias de suas gavetas. Sua página no Facebook ilustra este momento único vivido pelo artista em plena gravidez poética: está carregada de pérolas da última estação, a safra prometendo sempre frutos mais vitaminados, aromas mais singelos, perfumes mais inebriantes, sem sofrer com as intempéries do tempo. O tempo - ousamos pensar - está fazendo bem ao poeta, que a cada nova colhida nos apresenta frutos mais belos, suculentos e raros. Pois sua artesania é feita com instrumental adquirido com o mestre Pessoa, com Drummond, João Cabral e Cecília. Penetrando as camadas profundas de sua poesia, percebemos claramente o quanto a leitura de Camões, Poe, Neruda, Brecht ou Baudelaire criou um denso amálgama no organismo receptivo de Arnaldo.
Silvio de Araújo e Arnaldo Bispo, dupla inusitada no palco da CA (foto EF)
   Simpático, o poeta colocou-se à prova no palco. Enquanto lá de dentro vinha o aroma das quitutarias "poeticamente comestíveis" da Celinha, e a Sueli se esmerava nas articulações e logísticas que a festa exigia, e o Akira, bem, o Akira cuidava para que nenhum convidado ficasse sem sua dose generosa de mineirinha, para limpar a garganta e facilitar a aproximação entre os mais tímidos e desconhecidos, aí, justamente aí, somos surpreendidos por um curto-circuito. Um decenário fusível não aguentou a nossa energia vibrante, resolveu pegar fogo também. Breu total. 
   Quem tem amigos e saúde, porém, não precisa de outra coisa. E eis que os desprendidos Tião Baia, Silvio Kono, Zulu de Arrebatá e outros eméritos consultores para assuntos elétricos se propõem a ajudar na solução do problema do blecaute. Mexe daqui e dali, e nada, o problema andava na contramão e não subia no ônibus da solução. Parte da espaço voltou a funcionar, a dos fundos! Na falta de solução para o impasse, Sueli Kimura e Solange Kono correm à padaria mais próxima para comprar velas, o estafe técnico começa a esticar um fio, que vem serpenteando lá do fundo, enquanto o Akira, conscientemente, toma a frente do palco e dá início à concertoria. Estava aberto o primeiro "sarau da vela" na Casa Amarela.
   Arnaldo não se faz de rogado, pega seus poemas e nos brinda com a fina flor de sua produção, coisa que eu só conhecia das redes sociais e que agora estão ali, ao alcance de meus ouvidos e de minhas sensações. e dos 35, 40 que estão ali. Uma simpática trupe, Ana Martins - do PC do B - à frente, traz bolo escondido, para comemorar com Arnaldo, que nessa semana completará outra primavera. Enquanto isso, lá na frente (melhor, no fundo do palco), alguém já ligou um foco de luz no teto. O multitudo Claudemir Santos está resolvendo outra parte da questão, com um providencial jato de luz, também puxado dos fundos da Casa Amarela via metros de fio, e que joga luz de baixo pra cima. No improviso, num clima jazzy autêntico, com a raça e talento que a necessidade nos impõe, eis que a noite fica mais bela pelo fulgor da poesia que emana entre todos os convivas, nos focos que lança clarões nas costas do artista, criando a visão angélica do Arnaldo agora tornado anjo de luz. Poeta e público estão presentes, então, que cumpra-se o prometido: poesia de mancheia para o povo!
Akira, mestre sem cerimônias (foto EF)
   Fim do primeiro tempo e então o técnico Akira substitui Arnaldo para que outros possam brilhar sob (e sobre) os holofotes inusitados do palco da Casa Amarela. Sílvio de Araújo, Zulu de Arrebatá, Fábio "Semente Africana" Lima, Tião Baia, Éder Lima, Lígia Regina, euzinho da silva, Akira, Gilberto Braz, uma pecha de visionários de todo o mundo invade o pequeno palco e destila seus incensos poéticos.
   E quando, perto do fim do jogo, o titular é chamado para fechar a partida, sacramenta a vitória acachapante relembrando o recém partido para as estrelas Paulo Vanzolini. Descobrimos, embasbacados, outra faceta do poeta, ele também canta - e bem - quando embolera um emblemático Volta por Cima, consolidando um placar elástico a seu favor. Depois ainda tivemos direito ao bolo da Ana, com o Sílvio de Araújo puxando o parabéns Pra você, muita conversa amena, abraços... A tarde e noite, definitivamente, valeram a pena, tudo poderia ter dado errado, mas com o esforço hercúleo de muitos, somado à paciência de vários, à compreensão de alguns e ao talento artístico de todos, foi criado, no caos das contradições, mais um episódio do qual sempre lembraremos com terna saudade.
Poemas, causos e contos (foto EF)

Abaixo, um excerto do poema O Capital, de Arnaldo Rosário


Homero, cadê Ulisses?
Será que dorme nos braços de Penélope
enquanto o povo helênico é aviltado?
Ou o herói Troiano de triunfos colossais,
exterminador de Ciclopes e imune ao feitiço de Circe
jaz no canto da sereia deixando seu povo triste,
transformar-se parte homem, parte porco
pelo bruxo capital?
  
Homero, por onde andam seus heróis?
Será que ralham dos humanos com os deuses do Olimpo
enquanto as riquezas do seu povo são roubadas
por ladrão com várias sombras e semeador do mau?
Ou um embuste com pés de barro saqueará a Grécia
tal qual Páris tomou Helena de Menelau? 

Camões, cadê as armas e os barões?
Onde estão os sábios navegadores de Sagres
e os guerreiros lusitanos que expulsaram os Mouros? Onde estão?
Ora, Camões, quem com o sábio manejar de velas
por mares nunca dantes navegados
domou ventos, tormentas e tempestades a invejar Netuno
agora deixa-se levar a esmo e sem rumo entre recifes de corais?
  
Cervantes, onde está Dom Quixote?

*"Ditosa e bela", frase de Castro Alves no poema “Vozes D’África”. No mais, existem fragmentos de grandes personagens da história. 25/03/13
Fabinho Lima, lirismo com ginga no palco da CA (foto EF)
Zulu de Arrebatá, suingue contido, a capella (foto EF)
Big Charlie, videomaker e poeta, registrando tudo (foto EF)
Iguarias da Célia (foto EF)
Petiscaria para degustações poéticas (foto EF)

Gilberto Braz, botando brasa na fogueira poética da CA (foto EF)
Tião Baia, outro de versos incendiários no palco da CA (foto EF)
 
Arnaldo, lírico, romântico e pós-moderno (foto EF)
Ana Martins: "Parabéns Pra Você" para os aniversariantes, Arnaldo e Sueli Kimura (foto EF)
 
Arnaldo Bispo do Rosário, "entre elas" (foto EF)
Outros pratos, literários e fonográficos, à venda na CA (foto EF)

26.5.13

Um poemeu: Vate

Ex-tudos biológicos (foto EF)
consciência não é com ciência
intuito pode ser gratuito
poemas põem mais dilemas
beleza: certeza ilesa
amora é o sabor do amor
crise quase nunca é crime
açúcar derrete-se cá (lá na boca)
cruzes são postes de luzes
cores são da luz os suores
sal talvez seja pedra de sol
dez eus podem tornar-se seu deus
mesmas já foram mês a mais
sumo é o suco do suco
diabo é isso: dia bobo
florestas são ofertas destas flores
ciúme sempre vira um "se" úmido
piolhos não são para os olhos
céu é tudo aquilo que é seu
pelé é mais que cor de pele
medo rima direitinho com merda
óvulo é mais que um módulo
a mente mente (e muito)
vá por uma forma no vapor
a cor da ação é a do coração
doente pode ser estado do ente
dúvida é um nome filosófico da dívida
transa é mais que dança com trança
divino é estar levitado de vinho
dádiva é presente da vida

crucifícil  é isso mesmo que você
pensa ter entendido

plágil é isso mesmo que você entendeu

poesia pois é

(e finalmente, e porcamente, e ridiculamente,
esper não matô o zóide)

21.5.13

Movimento Popular de Arte na Virada Cultural - como foi?

Zulu de Arrebatá dando a largada (foto Marta Lima)
Domingo, 19 de maio, 13:05. Entro no metrô, estação Brás. Penso em desabafar com o João, “estamos atrasando”. Mas fico quieto, “pra que afobar o menino?” Nervoso, opto por descer no Anhangabaú, quando o certo seria descer na estação República, bem mais próxima da Galeria Olido. Subimos as escadas rolantes e pegamos o caminho via Cel. Xavier de Toledo.  Sempre agitada, com um cotidiano de táxis e ônibus, hoje não, hoje está tranqüila, vazia. De todos os lados espocam sons vindos dos baixos do Viaduto do Chá, da Ladeira da Memória, da Barão de Itapetininga, a Virada ta acontecendo, meu! Pena que estou com pressa. São Paulo, a minha Sampalândia, está vivendo seu dia de ludicidade e eu nem posso degustar direito. Contorno o Municipal, entro pela 24 de Maio, comento “pô, filho, a Galeria do Rock tá fechada!” E ele, meio decepcionado, “É!” Às 13:21 entro esbaforido na Olido. Cheguei a tempo. Tento encontrar o Éder, a Lígia e o Akira para desculpar-me pelo atraso, mas não os encontro. Fico sabendo, que eles já passaram o som, e separaram um microfone pra mim, testado e pronto. Família sincronizada pelo relógio da poesia.
Menos de quinze minutos depois Zulu de Arrebatá e sua trupe iniciavam a contribuição que o MPA (Movimento Popular de Arte), dos distantes rincões São Miguel Paulista – no extremo leste – veio dar para a Virada Cultural 2013.
(corte)
Às 19:33, saio do imponente prédio acompanhado da musa e do Nicanor, velho amigo que reencontro depois de 12, 13 anos. Alguns parceiros e amigos estão à porta, preparando-se para ir bebericar alguma coisa. Todos na certeza do dever cumprido. E do gozo vivido.
Desde longínquos 15, 20 dias atrás, quando o Akira me surpreendeu ao telefone numa manhã de pouco sol, convidando-me para dividir o palco com ele em algumas declamações no palco reservado para as apresentações musicais do povo de São Miguel e região, lá se foram encontros, seleção de poemas, ensaios e outros “pormaiores”, que tornaram os meus dias mais corridos, minha vida mais colorida. E dolorida. Tudo bem, a dor da arte não dói na carne nem na alma, ela traceja uma linha sombreada sobre nossos espírito e nos oferta o lirismo para suportarmos o tranco das dúvidas, rancores e maus amores.
Akira Yamasaki, sessentão incansável, cofundador do Movimento lá pelos idos de 78, 79, foi convocado pelo Zulu de Arrebatá – outro pioneiro da arte organizada em São Miguel – para tomar conta de um dos microfones do palco da Galeria Olido, um dos vários disponibilizados para as apresentações da Virada. Foi daí que o japa socializou, chamou vários outros poetas para dividir com ele a responsabilidade de interferir nos shows de Zulu, Ceciro Cordeiro, Sacha Arcanjo, Gildo Passos e Edvaldo Santana. Eu entre os tais.
(corte)
O público ainda está chegando, mas a opção é pelo cumprimento dos horários (aliás, um dos elogios mais comentados aos eventos em geral da Virada. Nisso, creio que quase todos acertamos). Apertamos o on dos aparelhos e a banda de Zulu (Armando Leite, guitarra; Eder Luis, bateria; Helder Jonnas, contrabaixo; Fabricio, teclado), ataca sem violência os nossos ouvidos. No balanço de sua poesia antenada, gingada e atemporal, iniciamos a participação do MPA na Virada 2013.
Zulu e banda: suingue de São Miguel para São Paulo (foto João Ramos Lima)
 Com um show sem erros, Zulu segura a onda, faz a cama de gato enquanto a platéia vai aos poucos tomando conta do espaço. Convida o parceiro de longa data, Jocélio Amaro, para adjetivar ainda mais as energias sonoras, e tome-lhe mais clímax. Então Cláudio Gomes, Akira Yamasaki, Lígia Regina, Éder Lima e eu subimos ao palco pela primeira vez para lançarmos nossos dardos poéticos.
Ceciro Cordeiro, a voz tronitoante, divinamente acompanhado por uma moçada esperta e talentosa (Caio Vandré no baixo, Guimas Bass na bateria, Teté no teclado, Ravi Landim no violão, Sheylinha Procópio nos vocais), também marcou presença. Aliás, falar de presença de palco quando se trata de Ceciro é puro pleonasmo. Suas caras&bocas enquanto entoa canções recheadas, renovadas e aceleradas, recheiam nossos sentidos todos. Pra completar, além deste escriba e de Akira e Éder, chamou Tiago Araújo, outro showman da buliçosa São Miguel, e que se professa em tantas artes e com tanta desenvoltura em todas, que chego a pensar se não serão dois ou mais tiagos que habitarão aquele corpo espigado e barbado. 
Ceciro Cordeiro, guarnecido por Caio Vandré, solta o gogó na Virada (foto Lígia Regina)
O terceiro convidado musical da tarde, Sacha Arcanjo, dispensaria apresentações, pois corremos sempre o risco de nos tornamos enfadonhos e hiperbólicos na rasgação de seda. Insisto em dizer, porém, que esse cabrón de voz aveludada, mix de Dorival Caimmy com Djavan, e mais um dedinho de Cartola, e outra pitadinha de Chico Buarque, mesmo rouco, mesmo afônico, mesmo assim, na raça e no talento, somou/multiplicou em líricas uma tarde que se fazia como num jardim do éden atemporal. Não queríamos que o tempo passasse, ali, àquela hora.
Com uma banda inusitada (não falei que o tal Tiago é multi? Olha ele aí de novo, agora no baixo acompanhando Sachão, junto com Marrom, Paulo e João Jr.), e sua poesia recortada com esquadro e compasso, soltou o fio de voz, contagiou, declamou, atendeu pedidos da platéia, fez o que quis com os sentidos da gente. E nós – Akira, eu, Jocélio, Claudinho, Éder – de novo, convocados, fomos todos lá, no mesmo caldeirão!
Sacha voa, guardado por Paulo, Tiago, Marrom e João Jr. (foto João Ramos Lima)
Gildo, a quarta atração, é outra coisa, vetor oposto (quase um complemento) da calmaria sachiana. Com uma banda enxuta (seu filho, Gilvan Passos, na bateria, um guitarman - Sandro Tobias - onde falar de competência é pouco e um baixo - Carlos Marques - sincopado e seguro), apresentou-nos a old school do bom e maduro (velho não!) rock´n´roll. Deixou-nos extasiados, extasiados, siderados, com sua porrada musical, forte e impactante.
Pra atenuar as forças roqueiras adrenalínicas que reinavam absolutas, nesse momento, lá fomos nós baixar a poeira. Lígia (ave canora), Éder (músico de competência inquestionável), Akira (aqui, elogio é redundância), e eu relembramos a poesia sempre necessária de Severino do Ramo (nosso poeta maior que agora voa em outros planos). Cláudio Gomes já tinha rendido essas loas ao mestre Severino, no set anterior, com muito mais competência que esse escrevinhador.
Gildo, guardado às costas pelo herdeiro musical, Gilvan Passos (foto Lígia Regina)
Por fim, a noite já debruçava sobre os matizes da tarde quando, atacando de Quem é Que Não Quer Ser Feliz, Edvaldo Santana e banda (Luiz Waack, guitarra e vocais; Ricardo Garcia, percussão; Reinaldo Chulapa, baixo e vocais; e Leandro Pacagnella, bateria), trazendo a tiracolo o violão e a voz inconfundíveis, fechou a noite da participação do Movimento Popular de Arte na Virada Cultural de forma inspirada, competente e avassaladora. Antes, Gilberto Braz, Claudinho Gomes, Akira e este aqui, ó, fizemos as honras da casa, estendemos um tapete poético para Edvaldo entrar e imperar. 
Edvaldo Santana, imperador (foto Lígia Regina)
Em retribuição, no fim de um espetáculo para se guardar na memória do lado esquerdo do peito, o cara que começou tudo lá em S. Miguel – via grupos Caaxió e o Matéria Prima, ainda na década de 1970 – chamou todo mundo pro palco (destaque para o sax de Éder Lima), para encerrar com a singela canção Luana de Maio. A apoteose caminhava para a sexta hora.
Dali, para o bar. Pois o domingo foi fatura lírica e líquida, musical e certa.
Edvaldo ao fim do show (foto Lígia Regina)
Lígia, Éder, Akira e eu (foto Marta Lima)
Sacha, puro brilho natural (foto Escobar Franelas)
Sandro Tobias, escudeiro fiel de Gildo (foto João Ramos Lima)
Público presente no espetáculo (foto Lígia Regina)

19.5.13

Sarau do Nhocuné comemora lançamento da 1ª coletânea

Primeira reunião em livro de poetas do Sarau do Nhocuné (foto EF)
    Quinze meses após o primeiro encontro, em fevereiro de 2012, chego nessa noite de sábado ao bar Boa Boca com uma emoção diferente. O Sarau do Nhocuné, organizado por Zé Carlos Batalhafam, e que acontece uma vez por mês no local, lança sua primeira coletânea de poesias, com 12 dos poetas que frequentam o sarau. Estou entre os contemplados, estou atrasado, estou emocionado. Com passos vacilantes, desço do carro e caminho para a porta do bar. Observo: está cheio! Melhor assim, o olhar severo do Batalhafam não vai me enxergar no meio da turba, vou entrar e me misturar entre os presentes. Quero mais é curtir os poemas.
Batalhafam, talento com palavras, com a voz, com a organização (foto EF)
   Poeta, prosador, historiador  e agitador cultural, Batalhafam, que é autor de livros muito significativos como Trilogia das Palavras (poesia) e Vila Nhocuné - Memórias da Tapera da Finada Ignêz (história), entre outros, retomou com o Sarau do Nhocuné uma militância iniciada há mais de vinte anos, quando, junto com outros ativistas de Itaquera e região, criou o evento Primavera nos Dentes, que foi a primeira luta organizada no bairro em prol de uma união entre os escritores e outros artistas para que os eentos deixassemos gabinetes oficiais e fossem resgatar a essência da arte popular, a rua, o povo, a emergência do cotidiano. O Primavera findou pouco tempo depois, mas suas raízes vingaram e deixaram frutos (eu, de certa maneira, sou fruto dessa luta e dessas conquistas).
O livro, que tem o sugestivo nome de Poesia Convergente - 1ª Coletânea dos Poetas do Sarau do Nhocuné, tem fontes brancas sobre fundo preto brilhante, confeccionado pela editora Costelas Felinas, de Santos, SP. Básico, certeiro, tem suas 66 folhas feitas de papel reciclado. Simbolicamente, representa uma autoafirmação, condição poética premente: a militância em favor da vida, das pessoas e do planeta. Na obra há poemas de Ana Athanázio de Oliveira, Delmo Biuford de Souza, Eduardo Luiz Silveira, Elaine Maria de Souza, Enio Roberto Silva, Jacinto Donizeti dos Santos, Joana D´arc de Oliveira, Lou de Souza, Paulo Gonçalves Ferreira, Valdo Odi, Batalhafam e meus. A festa contou com 9 dos poetas selecionados e foi abrilhantada pela presença de outros convidados e visitantes que leram, declamaram, cantaram e aplaudiram os presentes. Um dos destaques foi a dupla formada pelos jovens André e Jonatan. O primeiro é filho da poeta Lou de Souza e protagonizou sua primeira apresentação em público num dos saraus de meses atrás. Dessa vez, trouxe o parceiro boliviano Jonatan e juntos cantaram três músicas do repertório deles. Para surpresa dos convidados, a última música eles cantaram em castelhano.
Regada a cerveja, porções elaboradas pelo Fernando (proprietário do Boa Boca) e sua equipe, vinhos e outras iguarias, a festa foi completa, concorrendo em igualdade de condições com a Virada Cultural, que acontecia concomitantemente.
Mais uma dupla inspirada: André e Jonatan

Batalhafam, cuidador de versos diversos

Jacinto: poeta, educador, formador

De repente, uma ideia e uma união incomum: ensaio de última hora

Uma espiadinha no que andaram escrevendo

Família unida em torno da poesia

Bar Boa Boca bêbado de versos

Saber e lirismo transmitidos através das gerações

Poesia para finos paladares sensoriais

Fotos Escobar Franelas

18.5.13

Estar Bem na Casa Amarela - Workshops para novos conceitos de vida


Fátima Rufino e Andréa Ferraz iniciando as atividades de Estar Bem
  Hoje, em A Casa Amarela - Espaço Cultural, fomos arrebatados, levados de volta à Grécia antiga. Com aromas, indução olfativa, projeções e muita música dedicada ao universo da mitologia helena e outras culturas (especialmente as orientais), o espaço brindou-nos com três oficinas focadas no resgate do universo feminino, através de experimentações derivadas dessa e de outras culturas. 
  A primeira experiência lúdica foi introduzida pela naturóloga André Ferraz Campos. Ela trouxe para o grupo danças circulares orientais, visando aquecer o público presente, além de uma pequena iniciação ao ritual do Pa Tuan Chin, com os dois movimentos iniciais, bem simples de se executar mas com ótimas respostas para o corpo.
  Depois do esquenta, foi a vez da psicóloga Maria de Fátima Rufino apresetnar-nos a Oficina das Deusas, na qual ela nos leva a vivenciar aspectos lúdicos e corporais. Assim, fomos introduzidos no contexto histórico, filosófico e conceitual da mitologia grega, com identificação de alguns arquétipos em nossos tempos, através do estudos de cinco deusas: Hera, Perséfone, Afrodite, Deméter e Athena. Muitas dúvidas foram esclarecidas pelas educadoras, luzes foram lançadas sobre temas masi obscuros, temas-tabus foram questionados e desmitificados.
  Após as duas vivências, em que nos proporcionamos atividades intelectuais sutilmente equilibradas com outras voltadas para a expressão corporal, fomos recuperados pelas massagens precisas de André Yamasaki e Andréa. Juntos, finalizaram as atividades do dia gerando em cada um preciosos 15 minutos de intenso prazer, proporcionados pelas sessões de massoterapia.
  Sueli Kimura, organizadora do evento, questionda pelo público, afirmou que na próxima semana já será divulgada o próximo encontro, quando serão aprofundados os conceitos e as vivênvias experimentadas hoje.
  É esperar para ver. E sentir.
O piso, preparado para receber o Estar Bem na CA

Dança circular

Atividade lúdica

Ciranda

Expressão corporal

Massagem conduzida por Andréa

Massagem conduzida por André

Zzzzzzzzzzzzz

Momento meditativo
  Fotos de Célia Yamasaki e Escobar Franelas

13.5.13

Projeto Ronaldo Ferro - Encontro de poesia e música

Akira sob o manto de Ronaldo Ferro (foto: arquivo Akira Yamasaki/Sueli Kimura)
  Na última hora sofremos a baixa do Vinícius Casé. Tudo bem, o Projeto Ronaldo Ferro acontece com sol, chuva, frio, neblina, temporal, tsunami e até com baixa umidade do ar. Na sexta última, dia 10, não foi diferente. A Casa de Farinha, em São Miguel, recebeu um público heterogêneo que veio reencontrar - e prestigiar - esse que é considerado por muito como o grande mentor de uma excelente safra de músicos na região de São Miguel Paulista: o cantor e compositor Beto Rio.
 Cheguei meio cedo, tipo duas horas antes, e encontrei o pessoal passando o som. Estavam lá o Akira Yamasaki, Sueli, o Silvinho Kono, Beto, Xavier, a Sandra dos Anjos... Fomos ajeitando as coisas, esticando cabos, as pessoas chegando, muita ideia, brindes, abraços.
Plateia selecionadíssima pra ver Beto Rio (foto Xavier)
  O Akira é, sem sombra de dúvidas, um mestre de cerimônias digno de ser chamado para apresentar o Oscar. Tem o domínio da palavra, a expressão certeira, a entonação exata, devidamente equilibrada entre a emoção e a informação precisa. E pra completar, exceto quando me chama ao microfone, sempre acerta em suas parcerias. Nessa sexta, a convidada para iniciar as loas à deusa Poesia junto com ele é Lígia Regina. Poeta e cantora, inflamada e afinada, Lígia não poderia ser melhor companhia para a iniciação de uma noite que prometia (e cumpriu) ser emocionante. Ela e Akira leem quatro poemas (dois de cada), e a seguir chamam ao palco o Betinho Rio. Retornando aos palcos "oficialmente" depois de uma longa hibernação, Betinho não se faz de rogado, chega e toma conta de um espaço que conhece e domina como poucos. Primeiro acompanhado do filho, Guilherme Maurelli, à guitarra. Depois, em voo solo. Somos atingidos naquela nossa parte mais vulnerável, a poesia ao pé do ouvido.
A sobriedade ao violão somada à poesia desconcertante que canta com naturalidade impressionante, tudo corrobora para tornar o momento único e inesquecível. Entramos em êxtase.
Beto Rio, mentor de muitos (foto Xavier)
 Depois, eu e Lígia somos convidados a colorir com alguns versos uma noite que se tornava cada vez mais deleitosa. Em seguida vem Marcos Rio, irmão de Beto que, convidado a abrilhantar ainda mais a noite, emociona-se de tal maneira que os dedos custam a puxar os acordes certos no violão. A energia cristaliza-se, toma conta de forma total, a plateia delira.
 Então Akira, Beto e Silvio Kono descem do Olimpo para tornar a festa mais festiva, a cor mais colorida, a música mais musical. Celebram uma arte em processo, sempre, costumeiramente, cotidianamente, tradicionalmente, aqui entre nós, terráqueos.
 A seguir, a essas cores tão vibrantes quanto sutis, se somam as luzes de Ronaldo Ferro, o anfitrião de dedos mágicos, que nos brinda com a melhor oferta: sua música. As mãos céleres de Ronaldo têm tamanha destreza na condução das cordas que penso ser ele um semideus, um xamã, um possuído. Ouvir a música dele leva-nos a um estado catártico, um nirvana intraduzível, com o dom de acordar o sol, bordar o arco-íris e arrefecer as mazelas dos cinzas circunstanciais. 
 Mas a gente ainda tinha mais: Xavier, o tímido mais simpático que conheço, vem com seu contrabaixo, mostrando que além da poesia cristalina e das fotos antenadas, dos dedos mágicos que cuidam de vidas, ali ainda tem mais ás pra tirar da manga. E tome-lhe música de qualidade!
 Betinho Rio é um figura singular, mentor de muitos músicos cacifados que circulam por São Miguel. Na sexta, o palco da Casa de Farinha propiciou-nos essa visão do paraíso: vê-lo sóbrio, denso, rico, concentrado, inflamado, endeusado, tocando a todos com sua música peculiar, cheia de versos recortados com régua e compasso, seja com o indefectível violão, ou o cavaquinho ou a percussão.
Xavier, gentleman e artista (foto EF)
Marcos Rio, emocionado (Foto Xavier)
Público ávido por Beto Rio (foto: arquivo Akira Yamasaki/Sueli Kimura)
Ronaldo Ferro, inspirado (foto Xavier)
Guilherme e Beto, filho e pai (foto: arquivo Akira Yamasaki/Sueli Kimura)

Xavier, Ferro, Beto e Silvio (foto: arquivo Akira Yamasaki/Sueli Kimura)