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29.11.14

Hoje: Pré-estreia de "Doc. Cine Campinho - da terra à tela"






Tudo começou em conversas informais com o Pedrinho, quando trabalhávamos juntos no Programa Jovens Urbanos como educadores. Ele, sabendo que trazia na bagagem alguma experiência audiovisual, repetiu várias vezes: "Escobar, você precisa contar a história do Cine Campinho!"

Eu já sabia um pouco desse enredo, tinha lido e visto reportagens falando do projeto que ele, o Renildo, o Ivan, a Mariquinha e outros tinha começado por volta de 2007, lá no Jd. Bandeirantes, pras bandas do Lajeado, em Guaianases. E o que eu não sabia, ele foi descrevendo, das primeiras sessões de cine-debate na associação da vila, do desejo de transformação social do lugar, da limpeza do campinho para a prática do futebolzinho que tanto amamos, da ampliação do campinho para a projeção de filmes e da transformação do campinho em espaço de convivência.

Eu tinha finalizado um curso de produção de vídeo e chamei um bróder que estudara comigo e já tinha feito uns trampos em parceria, o Maty. De cara, rolou ema empatia geral e a conversa fluiu. O Maty trouxe o Jonas, outro parceiro dos tempos de curso. O Pedrinho nos apresentou a um monte de gente legal, conhecemos a Grazi, a Deh, o Lico, a Edih, o Ivan, a Mariana, o Ângelo. Criamos o coletivo Lentes Periféricas, escrevemos o projeto, nos candidatamos ao edital VAI-2014 (Prefeitura de SP) e fomos aprovados. 

Pronto! 

Nesse ínterim, já tínhamos reescrito o roteiro do filme trocentas vezes. Com a grana na mão, não tínhamos o que esperar, era iniciar o trabalho. O povo do Cine Campinho já vivia na brodagem total com a gente, trocando energias e sabedorias. O povo do Rua de Fazer, idem. Com tanta gente esperta e devotada ao bem social, não tinha como dar errado. Deu tudo certo! Está dando tudo certo!

Foram seis meses de entrevistas com pensadores, fazedores, gente que produziu o Cine Campinho nesses anos todos, gente que assistiu filmes durante todo esse tempo, gente que se apropriou da ideia e de público tornou-se parceiro, como o André (que depois virou ator, quem diria?!). Aliás, o André, virou ator/um m onte de coisa, porque em algum momento alguém teve a ideia de fazermos microoficinas de audiovisual com o pessoal da comunidade. Outra mão batida no truco da vida, pois uma molecada curiosa e inteligente chegou, e produziu uns curtas bem bacanudos, com um pouco de orientação nossa que - admito a verdade - mais aprendemos que ensinamos pra eles.

Hoje, 29 de novembro, celebramos o filme pronto. A pré-estreia do "Doc. Cine Campinho - da terra à tela" é um acontecimento sui generis. Trabalhar com um grupo pequeno, com pouca grana, produzir um filme que não seja chapa-branca sobre um projeto no qual acreditamos, e imaginar como será o pessoal se vendo na tela durante a projeção, é algo que me deixa curiosíssimo.

Bora lá invadir as quebradas de Guaianases pra se confratenizar com o povo do Jd. Bandeirantes? 

1º dia de filmagem

Maty, Angelo e Jonas

Grazy, Deh, Maty, Lico, mariana e Jonas (em pé) Angelo e Escobar (sentados)

Maty

Jonas passando dias de fotografia para molecada

Jonas passando dias de fotografia para molecada. Maty no para-sol.

Grazy, Jonas e Maty

Oficina: construção coletiva imediata

Oficina: troca de energias e sabedorias
Fotos: Arquivo Lentes Periféricas

20.11.14

Ninguém Lê - "Arrabalde" (Berimba de Jesus)




   Ninguém Lê é catarse mas também é provocação. O projeto de Victor Rodrigues e Ni Brisant, que oferece visibilidade, leitura e contexto a textos de autores fora da mass media, que antes rolava no Espaço Hussardos, agora rola do outro da Praça da República, na Galeria Olido. E a reestreia não poderia ter sido melhor. O convidado de novembro era Berimba de Jesus, e a obra a ser degustada é Arrabalde.
   Chego primeiro que todos à Galeria, pego ainda o espaço sendo preparado, arrumação das cadeiras, essas coisas... retiro um exemplar da obra com Victor (esqueci de dizer, a obra a ser discutida na roda é cedida gratuitamente pela organização - como ainda não tinha retirado o meu exemplar, peço e vou dar uma passada de olhos nas páginas lá na rua, enquanto tomo um café num muquifo qualquer das redondezas). 
   O livro é pequeno, quase tímido, um cupcake de palavras. Os textos, no entanto, são caudalosos, pesados, densos, descem com dificuldade goela abaixo. Texto de gente graúda, cheio de vitamina, proteína, carboidrato. Textos que engordam a cabeça da gente. Enquanto inspiro cada linha dos contos curtos, sorvendo o moca requentado, vou me deliciando com a possibilidade de trocar ideias com o autor sobre vários contos que acho legais de se discutir. Meia hora depois, saio do boteco, volto pra Olido, outros já chegaram, procuro uma cadeira, sento, logo o evento começa.
   Como já é praxe, fazemos uma leitura coletiva, cada um lê um texto. Serve pra alimentar-se da obra antes do início das discussões e também pra ir percebendo as texturas, entranhamentos, ritmos, figurações e estranhamentos que a leitura silenciosa pode ter passado batido. Fazer leitura grupal é também um exercício de ir se acostumando com a voz do outro, os tiques, a fluidez, um belo exercício para os ouvidos.
   Depois dessa introdução, o Victor faz as considerações iniciais, justifica a ausência de Ni e o público começa a interagir com o autor: surgem análises originais, curiosidades sagazes, questionamentos profundos: "a gente leu de uma assentada", "os textos são curtos mas têm muito peso", "trazem um certo desconforto", "lembram um pouco esses programas sensacionalistas da tv", "não são de final feliz"... E o autor: "Acho que ele (o livro) tem mais de Eli Correia ("Que Saudade de Você!"), que de "Cidade Alerta", "o título Arrabalde veio de ´Clara dos Anjos´, do Lima Barreto", "a literatura periférica tá tomando um corpo que tá ficando muito bonito. Literatura Marginal é outra coisa". 
    A conversa segue serena. Berimba é todo flower-power, nas palavras e nos gestos. Os textos densos de "Arrabalde" podem confundir o incauto que for lê-lo pela primeira vez. O certo, talvez, seria dizer que suas atitudes estão mais próximas de sua poesia que de sua prosa. Em dado momento, vem uma confissão, "prefiro ler mais Sacolinha". E, mais ainda, inquirido sobre quem gostaria que lesse "Arrabalde", o autor não titubeia, "queria que João Antônio e Plínio Marcos lessem". 
   Berimba de Jesus reforça, neste encontro, a imagem que já construíra dele, um artista de sensibilidade nata que, como Pound preconizou, é "antena da raça". Como não pensar assim de alguém que afirma  "acho que eles (João Antonio e Plínio Marcos) poderiam ter escrito escrito este ´Arrabalde´", ou então "se não fosse poeta seria operário"? Bingo! 




fotos: arquivo Ninguém Lê
texto: Escobar Franelas

1.11.14

Não vai ter água

 http://www.jornalcana.com.br/
http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2014/10/seca-em-represa-do-cantareira-revela-cemiterio-de-carros-no-interior-de-sp.html

Sinto muito começar essa crônica assim, não é pessimismo, tampouco otimismo: é fato!
Não vai ter água em Sampaulo. Nem agora, nem no próximo verão. Melhor, vai ter: quando evacuarem a área, quando a maioria debandar e o pouco que sobrou puder ser melhor dividido.
Outra noticinha: não tenho nenhuma formação técnica ou acadêmica que referende o que vou dizer. Se quiser, pode desdizer à vontade. Daqui a algum tempo, conversaremos, e nessas trocas retóricas descobriremos quem pode estar com a  razão (se razão há aqui, nessa parolagem meio escatológica, mesmo sem querer).
Agora, voltando ao tema, não vai ter água porque, antes de tudo, nas aulas de Ciências de minha adolescência, os professores cansaram de cantar a bola, "na natureza, nada se cria, tudo se transforma". Pois bem, se tudo se transforma, a água de São Paulo vive, esconde-se, está em algum lugar. Que lugar? Penso eu que debaixo dos pés, "na terra".
Melhor explicar direitinho: a água que tanto ansiamos está embaixo do "bilhares" de quilômetros da manta asfáltica que cobre o solo. Ou, quando aparece em sua forma líquida, nos rios, riachos, lagos, essa água está coberta pelo lodo morto, grudenta e nojenta.
Tem mais: nas mesmas aulas de Ciências, lembro que aprendi muito sobre o processo natural de distribuição da chuva. Ou seja, a água caía no solo, infiltrava-se, ia para o lençol freático, depois evaporava, formava as nuvens que depois condensavam-se e caíam novamente pela lei da gravidade. Agora pergunto: se a (pouca) água que cai escorre pelas sarjetas, entra nas gretas urbanas (as famintas bocas de lobo) e aprisionam-se sob os céus de asfalto e concreto que as cobrem, como vai subir aos céus? Assim como o lixo que a impede de ascender aos voos gasosos, que a tornariam poética e concretamente, em nuvem que depois desabaria em forma de chuva, como vai molhar a terra novamente?
Que as reticências que coloco aqui - espero - sejam rapidamente apagadas pela argumentação coesa e coerente de quem sabe das coisas. O zé-mané, leigo que sou, quer apenas chamar todo mundo par ao debate. O que não dá é para viver condenado ao Saara quando estamos localizados - outro dado das aulas de Ciências - bem em cima do Aquífero Guarani, a maior reserva de água doce do planeta.
Parece, aliás, que surgiram algumas saídas no horizonte seco: explorar o lençol freático com o mesmo ímpeto com que exploramos o solo atrás de petróleo. A notícia parece sensata e lógica. Dói mesmo é pensar que o futuro virá com outra nota promissória a vencer. A questão, aqui, parece outra: quem pagará a conta?

Mais informações: 
http://www.jornalcana.com.br/mudanca-climatica-e-crescimento-populacional-podem-agravar-crise-hidrica-diz-pesquisador/

http://www.infomoney.com.br/mercados/acoes-e-indices/noticia/3668470/para-maior-bolsa-mundo-seca-preocupa-mais-que-politica

http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,seca-em-sp-deve-continuar-em-2015-diz-cientista,1584016

Escobar Franelas

Textículo: "Dalmo, de Davi"

Talvez seja só uma história natural, mas quase pode ter virado conto de fadas.
Ele nasceu, o pai o queria Talmo (em homenagem ao avô) mas o rapazola do cartório confundiu, digitou, registrou errado.
Cresceu, sofreu, saiu de casa, foi pra cidade grande, afastou-se da família, ascendeu.
Conheceu Davi: nesse, as benesses do mundo. Com ele repartiu mesa, cama, casa, a maçã. Depois, muito depois, veio a tempestade.
As águas passaram.
Então veio Sebastião, vivem juntos, desde então. Adotaram Salomão.
Parecem felizes, desde sempre.
Mas ontem pela manhã, entre uma e outra estação, dentro do metrô bem cheio, Israel piscou um olho...

 da série ´curto conto´