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12.12.07

SAMPA – UMA BIOGRAFIA ITINERANTE

Mostra Internacional de Cinema, Free Jazz Festival, Philips Monsters of Rock, MUBE, Carlton Dance Festival, MIS, Salão do Automóvel, Virada Cultural, Itaú Cultural, Bienal Internacional, MASP, Centro Cultural Banco do Brasil, Parque Ibirapuera, Parque da Aclimação, Zé do Caixão, Arnaldo Antunes, Rita Lee, Lira Paulistana, Aeroanta, Centro Cultural São Paulo, Pinacoteca, Galeria Olido, Centro Cultural São Paulo, Cidade Universitária.
Cidade Tiradentes, Diadema, Capão Redondo, Itaim Paulista, Marcola, Favela do Gato, Favela do Canão, Cracolândia, Largo 13, Guaianases, Grajaú, Praça da Sé, PCC, Maníaco do Parque, Largo da Batata, Largo da Concórdia, 3ª Divisão.
Não esqueça nada disso. Esqueça tudo isso.
Esquecer ou lembrar são os dois verbos possíveis e impassíveis diante dessa moeda capital, a memória. E a dita é quem possibilita as diversas mariposas em torno dessa luz, a diversidade. E o diverso, o diferente, é quem equaliza o som da vida. É ele quem condimenta o mundo.
Agora pense em São Paulo – a capital – ou Sampa, ou Paulicéia Desvairada, ou a Terra da Garoa – não importa a alcunha – sendo isso. É preciso entendê-la assim, metrópole do "país do futuro", porém cosmopolita e provinciana. Comece pelos caldeirões multiétnicos que vão do bairro do Bom Retiro(mundo multifacetadamente árabe e judaico), ao bairro da Liberdade(nipônico), do Bixiga com sua italianidade heterodoxa, à noturna e sorridente Vila Madalena.
Dê uma passada na mítica rua Santa Ifigênia, templo aberto de culto ao mundo eletro-eletrônico, dos Play-Stations "destravados", dos DVDs chineses, dos brinquedos paraguaios, dos softwares "piratas". Dali, passe pelo viaduto homônimo e entre na rua Florêncio de Abreu, paraíso das ferramentas e maquinarias. Mais um salto abaixo e então estamos 25 de Março, talvez a rua mais famosa de toda a América Latina no quesito comércio popular. É lá que você encontra tudo o que imaginar para armarinhos, tecidos, brinquedos e quinquilharias eletro-eletrônicas, além de outros apetrechos, trecos e bugigangas. Agora tome o metrô para o Jabaquara, desça na estação Paraíso e comece a debutar na av. Paulista via Bernardino de Campos. Lá, entre gravatas e cofres, também encontraremos a onipresente parafernália dos eletro-eletrônicos(computadores, MP3, I-PODs, aparelhos de som, games, CDs, DVDs, palm-tops e monitores). Saiu de lá, desça pela av. Rebouças ou rua Cardeal Arcoverde sentido Praça do Pôr-do-Sol, em Pinheiros. O nome explica tudo. É impossível sair de lá sem se apaixonar, nem que seja pela própria respiração. No retorno, passando pela rua 13 de Maio, no coração do Bixiga, experimente não ficar mais gordo numa daquelas cantinas de sotaque paulistanado, evidenciado por outros dois ícones da cultura pop dessas bandas: Demônios da Garoa e Adoniran Barbosa. Antes, uma licencinha para voltar a Pinheiros: é melhor nem tentar entender porque a rua Teodoro Sampaio é um mito dos instrumentos musicais, entre tantas outras que a Paulicéia abriga.
Quer mais? Desça pela av. Rangel Pestana a partir do marco zero da Praça da Sé e chegue ao éden do vestuário popular, o bairro do Brás. Quer roupa sofisticada? Então tome Oscar Freire. As roupas são filhas das mesmas oficinas, a diferença está no preço da etiqueta. Quer agora uma explicação não teórica para a um tipo inespecífico de democracia? Galeria do Rock! Ali, na rua 24 de Maio, no centro velho: sub-solo e térreo são para os "manos e minas" da cultura hip-hop, o 1º e 2º andar para os cultores do rock(e todas as suas tendências e variações). Acima, a indústria do silk-screen. Tudo em um único prédio.
Uma outra divagação teórica: por que é que algumas linhas de trem da CPTM tem ar-condicionado melhor que o Metrô ISO 9000? Mas o que se ganha em ar fresco perde-se em atrasos, mendicância e na informalidade comercial e de pedintes. Parece-me essa a verdadeira vocação da malha ferroviária, numa metáfora infeliz sobre o Brasil. Aproveitando a deixa, uma curiosidade: por que a estação Domingos de Moraes, na zona oeste, tem uma das melhores exposições abertas de arte urbana e não é citada em nenhum catálogo? E o ingresso custa a pataca de R$ 2,30, o preço do embarque. Um preço caro para andar em trem sujo e mal- conservado, mas bem barato para curtir arte moderna, urgente e urbana, com artistas criativos que não fazem parte dos circuitos do mainstream.
Sampa também tem três enormes, floridos, arborizados, maravilhosos e fedidos rios: Tietê, Pinheiros e Tamanduateí.
A Terra da Garoa tem TODAS as estações do ano num único dia. E(coincidência?), duas bicas d´água nas duas Cohab 2: em Itaquera, na av. Nagib Farah Maluf, em frente à estação José Bonifácio. No lado oposto da cidade, em Carapicuíba, na av. Amazonas, em frente à lanchonete Seringueira. Sábado e domingo em ambas são dias sagrados pra quem quer manter a caranga limpinha sem gastar bulhufas.
E tem também o Sarau da Cooperifa, lá nos confins da zona sul, dirigido pelo incansável Sérgio Vaz(http://colecionadordepedras.blogspot.com). Espaço democrático para o dramático exercício da abstração: ler poesia feita por quem está à margem. E de lá manda sua mensagem.
E tem muito, muito mais por aí.
Por ora, fiquemos com esse pequeno aperitivo introdutório.

* Texto publicado originalmente no jornal O Grito(Monteiro Lobato, SP), Nº 2, Novembro de 2006, com pequenas alterações.

Um comentário:

Alessandra Espínola disse...

Puxa, melhor que guia 4 rodas! E como abriu o apetite, ia engordar na cantina imaginando Adoniran cantando todo relax numa daquelas mesa com amigos, e que absurdo o preço da passagem do trem sujo. Na rua das roupas caras ia passar só pra ver, será são muito boas, além da marca "boa" da etiqueta? Ousaria passar em copa do mundo na rua dos italianos, fazer amizade com eles e sentar pra assistir ao jogo Br X Itália (rs), será eles me dariam uma camisa tricolor pra vestir ou me jogaria a bandeira nas costas. Ê povo bunito, O Brasil é sinônimo de hibridismo. Depois tem mais ? Tem? queria saber da Lapa, ouço falar do Tendal da Lapa, é isso? Depois conta mais, conta? Um beijo!