Pouco tempo depois, na cidade de Az, uma senhora começou a ter convulsões. Pouca gente teria se importado se sua irmã, que morava longe, não tivesse falado à boca pequena que Nevinha (era esse o nome da doente), nunca tinha tido doença alguma.
Só então os vizinhos se deram conta de que realmente nunca tinham visto aquela mulher prestativa e calada, sempre disposta a ajudar as pessoas menos afortunadas, nunca se queixara de uma dor de dente sequer. Dona Fortunata, a vizinha à esquerda, foi mais longe e lembrou que "Neve acho que nunca nem foi a um dentista, nem a um posto de saúde". Sua fala parecia ser um misto de surpresa e desalento.
Seu Ugo, o vizinho do outro lado, bonachão como sempre, foi ainda mais longe e citou com uma pontinha de desapontamento que nunca vira ela ir nem na farmácia. Ninguém talvez tenha notado, mas uma ou duas pessoas fizeram o sinal da cruz disfarçadamente.
Az é uma cidade encravada entre montanhas num pequeno vale cuja importância está em servir de rota para caminhões e ônibus que vão de Itaguases a Vale Forte e San Escobar.
Az não tem fronteira. Nem propriedades. Nem autoridades. Nevinha foi a única doença do lugar.
Morrer em Az exige muito da imaginação falível das pessoas. A cidade do eterno retorno é mordaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário