primeiro
disse que eu nada entendia de mulheres
depois
reclamou que eu não manjava nadica de cromaterapia
por último
falou que eu nada sabia da receita de tapioca
perguntei
e você, só compreende isso?
e nos calamos
primeiro
disse que eu nada entendia de mulheres
depois
reclamou que eu não manjava nadica de cromaterapia
por último
falou que eu nada sabia da receita de tapioca
perguntei
e você, só compreende isso?
e nos calamos
![]() |
Av. 23 de Maio, SP (foto: EF, outubro/22) |
a rua permanece lá fora.
acabou: entrada do terminal que
por muitos caminhos, leva a um lugar.
era lá que queria chegar.
agora não mais rodas
só as da mala, pequenas, sendo puxadas.
agora só passos, passadas em direção de.
quase labirinto: ruelas, alamedas, vielas
paredes frias, escadas requentadas com o tira e põe dos pés.
um sorriso, um aceno, o frio na barriga.
um abraço sem jeito sob as vistas da multidão
que nem olhava. um abraço. perdido?
não, era para ser assim.
o táxi: novamente a rua: suja, mal cuidada, arborizada
lisa, reta, limpa.
postes, placas, casas, prédios, tudo espalhado.
hotel sem vaga, um hospital na largura da avenida
na padaria a vidraça verde do edifício em frente chama a atenção.
ruas íngremes e estreitas comportam os ônibus sanfonados
enguias movida a fósseis,
carros à frente, atrás, estacionados, parados, apressados.
o coração? disparado.
o fim de outra rua onde tantas outras desembocam.
um guichê, um elevador, uma porta a ser aberta.
outra rua se inicia: a que dá para o céu
as mãos dando voltas nas costas
peito no seio
nariz no pescoço
cabelos nos olhos
as mãos penduradas no pescoço
joelho contra joelho
coxa contra coxa
sexo contra sexo
pés sobre pés
véspera do beijo
o céu da sua boca tem estrelas
que não consigo contar
o sol da sua boca tem um céu
da série haicaos
me perco em você
na floresta de seus cabelos
no alucinógeno do seu sorriso
na droga da sua voz
capoto nas suas curvas
e me embriago nas poções de veneno
que seu corpo destila
não estou viciado: apenas apaixonado.
Foto: Cesar Greco (Palmeiras) |
Foto: Michael Ochs (Getty Images) |
a vantagem de viver neste século
presente
é que a cada dia nascem zeuses
frutos de tempos improváveis
de guerras, ataques e achaques
mas também filhos da
diversidade de aromas e sabores
nos recônditos dessa peleja
lá nas províncias mais distantes
e mesmo na metrópole
e até mesmo dentro de casa
o cotidiano pode nos ofertar
uma cena de amor, por exemplo:
em bethel, o negríndio jimi endrick
espírito xamã, estende o tempo e transforma
a vibração de seis cordas
numa eterna idade sem fim.
num estádio, lá pros lados da zona oeste
lugar que já foi parque antárctica
hoje é allianz park
(amanhã, sabe-se lá)
o negríndio jimi endrick, bailarino
barroco, lírico e moderno -
desfila com sua esfera (terrestre? solar? celeste?)
debaixo do braço, debaixo dos pés
cumprindo seu destino de poeta
destino de pássaro
de sangue: xamã
poetas são poetas. e só!
tem aquele das pernas tortas, aquele calado
e o que cai
importa que toda poesia seja eterna
num espasmo de pupilas dilatadas
boca seca, veias abertas
coração esfuziante
na hora estridente do solo de guitarra
na hora do gol
#endrick #jimi hendrix #palmeiras #poesiabrasileira #gol