ESCOBAR FRANELAS – ENTREVISTA 12
ESCOBAR FRANELAS
NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS
ESCOBAR FRANELAS, poeta e videomaker paulistano, 41 anos, casado, 3 filhos e um neto. Escreve desde a adolescência, e publicou seus primeiros escritos ainda na juventude, em jornalzinhos da escola. Estreou na “literatura profissional” em 1989 com dois poemas na Antologia Poética de Pinheiros, em S. Paulo (Scortecci Ed.).
Desde então foram várias participações em concursos literários, antologias e coletâneas.
Em 1998 lançou hardrockcorenroll, SP: Scortecci Ed., livro de poesias com 98 páginas.
A partir de 2006 principiou a escrever contos, poesias, crônicas, resenhas, entrevistas e outros escritos na sua homepage www.recantodasletras.com.br/autores/escobarfranelas e também no seu diário virtual http://escobarfranelas.blogspot.com.
É graduando em História, e membro da União Brasileira dos Escritores.
ENTREVISTA
À esquerda, Beto Rios (músico), Akira Yamasaki (poeta), EF (ao centro). À direita, Raberuan (músico) e Eliel Lima (músico)
SELMO VASCONCELLOS – Quais as suas outras atividades, além de escrever ?
ESCOBAR FRANELAS – Trabalho com produções de vídeo e cinema. Para isso, usam um termo que não acho o mais conveniente, mas, enfim, explica bem o meio em que trabalho: videomaker. A intenção é, a partir de um determinado momento, produzir mais e ser menos ´”operário”, criando alguns trabalhos que tenho em mente, lincando esse mundo audiovisual com minha outra paixão: a literatura. Inclusive estou produzindo solitariamente (já há uns 3 anos) um documentário sobre o poeta potiguar (ainda que nascido em Goiás), Dailor Varela, ícone do Poema-Processo, movimento de vanguarda na poesia e artes plásticas brasileiras nos anos 60.
SELMO VASCONCELLOS – Como surgiu seu interesse literário ?
ESCOBAR FRANELAS – Desde a infância que pratico os meus rabiscos. Escrever e ler sempre foram paixões fortes em minha vida. Na adolescência, primeiro quis ser jogador de futebol, como qualquer garoto brasileiro. Depois quis ser músico de rock. Como nunca tive esses talentos, “me achei” trabalhando no mundo do audiovisual. Ainda assim, sempre soube que era poeta, independente de onde viesse meu ganha-pão ou da qualidade literária desse “poetar”. No entanto, conservei desde cedo essa peculiaridade, a de “ser poeta”, “viver como poeta” e “falar como poeta”, mesmo antes dos livros publicados. Prestava atenção aos gestos, entrevistas, modos de andar e se expressar de vários escritores preferidos: Vinícius, Drummond, Bandeira (principalmente), Salinger, Hemingway, Camus, Clarice, Wolf.
Hoje ainda não perdi este perfil, e me reconheço poeta, mesmo quando não estou escrevendo. Vivo a poesia naturalmente, em minha vida, através de meus filhos, minhas relações com familiares e amigos, meu trabalho, meu exercício de cidadania…
SELMO VASCONCELLOS – Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País ?
ESCOBAR FRANELAS – Tenho um livro de poesia, lançado em 1998 (hardrockcorenroll, SP: Scortecci Ed.), e umas dez participações em coletâneas e antologias.
Atualmente, posso afirmar que tenho dois livros de contos, mais um romance e três de poesia, todos prontos, aguardando alguma editora.
SELMO VASCONCELLOS – Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesia ?
ESCOBAR FRANELAS – Qualquer situação que me provoque leva ao imaginário poético. A partir daí, se esse choque me leva ao êxtase, naturalmente me conduz à poesia física em si.
Ler, ver quadros, esculturas, fotos, me levam ao clímax poético. Ver gente, animais, plantas, flores, obras arquitetônicas, me dão comichões poéticos. O barulho do trânsito às vezes me transplanta para um mundo diferente. Jazz, blues, rock´n´roll, também me levitam. Notícia de jornal, a voz da mulher amada, o olhar de uma criança… Enfim, tudo e todos servem à mesa de minha imantação poética.
SELMO VASCONCELLOS – Quais os escritores que você admira?
ESCOBAR FRANELAS – Alguns são permanentes em minha bibliofilia, como Bandeira, Clarice, Machado, Guimarães, Mia Couto, Camus, Dostoievski e Borges. Mas não posso deixar de citar alguns nomes que são certeiros e geralmente ficam fora das listas iconográfica, mas são muito relevantes para a literatura, como o poeta Aricy Curvello (Brasil), o ficcionista Uilcon Pereira (Brasil), Fernando Namora (Portugal), Pepetela (Angola), Casares (Argentina) e José Martí (Cuba).
Outra coisa é que ando dedicando um pouco mais de meu tempo para os clássicos (Proust, Dante, Joyce, Victor Hugo, José de Alencar), e também para o ensaísmo.
SELMO VASCONCELLOS – Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas ?
ESCOBAR FRANELAS – Quando comecei a rascunhar meus primeiros escritos “oficiais”, por volta dos 14 anos, eram sentimentalismos pífios colocados na pele do papel, dedicados geralmente a alguma menina do qual estava enamorado, ou ao meu clube preferido. Hoje reconheço que eram risíveis, mas é preciso passar por essa “escola”. Então, falo sempre que, como exercício, devemos escrever de tudo e também ler de tudo. Só assim vamos depurando o nosso estilo e nossos gostos.
Aliás, toquei numa questão nevrálgica. Conheço alguns gatunos que se dão ao luxo de escrever poesia sem ler poesia, o que me parece desproposital. Se não houver uma troca dialógica, como alguém pode se pretender “poeta”? Se não consegue sequer estabelecer um contato com outros que escrevem, como ter certeza de que aquilo que você escreve é significativo ou tem algum alcance?
Poemas inéditos de Escobar Franelas
alguma arte pra contender o contemporâneo
enólogo cego
abruptamente
rompe abismos
inaugura casa
de degustação
de marchands
infanticídio
aquele que não tiver fumado
- ainda -
aspira à primeira pedra?
- ainda -
aspira à primeira pedra?
peregrinação
O mesmo drama.
A mesma brahma.
A mesma bruma.
Aliás, a mesma embromação.
Tudo bem, vamos lá. Jacó e Isaque, co-irmãos, enfim desdebruçaram-se diante do tanque de areia. Havia muito a fazer.
Depois de uma longa jornada, com fome, cofiando suas barbas sujas,
barbas feias e ralas, chegaram ao destino. Tomaram conta da casa almejada.
Pintaram o sete. Aboletaram-se na cumeeira. Voavam em felicidades.
De longe, quem os vê, imagina passarinhos.
Outro tanto de gente, a meio caminho, pensa enxergar anjos suspensos.
Algumas pessoas plasmam, choram e oram.
Tem criança que acredita em mágico.
Mulheres ciumeiam.
Tarólogos lêem ao futuro.
Um grupo, o mais cético, cobra ingressos do espetáculo. Há muito a fazer.
Organizar filas, por exemplo.
A mesma brahma.
A mesma bruma.
Aliás, a mesma embromação.
Tudo bem, vamos lá. Jacó e Isaque, co-irmãos, enfim desdebruçaram-se diante do tanque de areia. Havia muito a fazer.
Depois de uma longa jornada, com fome, cofiando suas barbas sujas,
barbas feias e ralas, chegaram ao destino. Tomaram conta da casa almejada.
Pintaram o sete. Aboletaram-se na cumeeira. Voavam em felicidades.
De longe, quem os vê, imagina passarinhos.
Outro tanto de gente, a meio caminho, pensa enxergar anjos suspensos.
Algumas pessoas plasmam, choram e oram.
Tem criança que acredita em mágico.
Mulheres ciumeiam.
Tarólogos lêem ao futuro.
Um grupo, o mais cético, cobra ingressos do espetáculo. Há muito a fazer.
Organizar filas, por exemplo.
aquário
no quadrado do quarto
inteiro
inteiro
nada contra
as correntezas
as correntezas
nirvana
a magia da liberdade
por estar lá
nalgum lugar
e nenhuma asa, nenhum passo
saber alcançar
por estar lá
nalgum lugar
e nenhuma asa, nenhum passo
saber alcançar
* entrevista feita por Selmo Vasconcellos e postada originalmente em 10 de junho de 2010 no blogue http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/escobar-franelas-entrevista/
Um comentário:
Não há como teus escritos não nos alcançar...
Tanto na prosa quanto na poesia, você domina o meio.
(Abriu com esmero e fechou com chave de ouro)
Postar um comentário