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23.12.14

Ninguém Lê - "o incrível acordo entre o silêncio & o alter ego" (Caco Pontes)


O Ninguém Lê, projeto de fôlego apresentado por Victor Rodrigues e Ni Brisant, teve sua última edição de 2014 realizada em 08 de dezembro. Agora na Galeria Olido, depois de ter percorrido outros espaços no centro da Sampalândia, o NL traz todo mês um livro convidado, que é "virado ao avesso" pela plateia leitora. Ao autor cabe ouvir as interpretações, tirar dúvidas, desmistificar e ver seus textos na mesa do legista, escarafunchada pelos leitores.
O convidado desta vez era o livro "o incrível acordo entre o silêncio & o alter ego", de Caco Pontes. No evento, iniciado sob a batuta de Victor, o autor - que é um dos pilares do coletivo Poesia Maloqueirista - pode saber a quantas anda a leitura de sua poesia solar e urbana. O apresentador abriu a sessão e a roda toda participou da leitura dos textos de Caco.
Após a leitura, as digressões vieram naturalmente. Apontamentos como o de Victor, "a gente passou a escrever melhor que aprendemos a ler melhor", serviram para nortear a discussão. O viés introdutório, porém, logo é dedicado ao polêmico texto inicial do livro, "Em forma de Caco Pontes", escrito por Antônio Vicente Seraphim Pietroforte, professor de Semiótica e Linguística da USP. Caco enfatiza que "se fosse reeditar este livro, tiraria o prefácio, pois o contexto hoje é outro". Alguém do público quebra o gelo, lembrando que não é citada a autoria de quem fez as ilustrações do livro. Caco desculpa-se pelo erro gráfico e cita a ilustradora Emília Santos como autora dos traços perspicazes que permeiam a obra.
A conversa volta para o assunto "prefácio". O autor continua as explicações: "este prefácio é uma pedra no sapato. Foi muito questionado na época em que o livro foi lançado, 2008". Ni cutuca: "a polêmica fez bem para o livro?" Caco disfarça e despista: "legitima a obra ser respaldado por um doutor da USP". A plateia não deixa o tema morrer: "por que você escolheu ele para escrever o prefácio?" Caco explica: "vendi um um libreto para o Vicente na Praça Benedito Calixto". ele gostou e elogiou, depois me convidou para participar de algumas antologias. Como ele foi me dando aberturas, neste primeiro livro oficial quis trazer todo o amadurecimento que tinha naquele momento".
Victor, libertando Caco do redoma prefaciana, recorta e recorda: "dos livros que estava comprando, este foi o que mais gostei na época".  A conversa envereda por um novo caminho, onde agora cabem considerações sobre a artesania poética. Caco Pontes pisa fundo no acelerador. "A poesia é subjetiva, sinestésica, sensorial", afirma e depois aprofunda: "É uma antena em que vem um raio e... então vem o trabalho braçal, lapidar, como diria o Ademir Assunção".  Provocado, acaba confessando "tenho uma certa influência de uma arte esquizofrênica, do delírio, do transtorno mental, tipo Tom  Zé ou Arnaldo Antunes. Comecei a escrever pois estava lendo poemas do Jim Morrison, que estava entre o xamã e o surto provocado pelas drogas".

Do livro

Com poemas curtos, urdidos no contexto pós-geração mimeógrafo, o poeta tem uma oficina de tramas por onde confecciona algumas pérolas, como esta
Enquanto todos
tentam pegar o rei

eu
só quero
comer a rainha
("Xadrez ou confissão de um peão"), 
que ele tece com destreza.
Ter acesso à poesia maior de Caco Pontes via "o incrível acordo entre o silêncio & o alter ego" foi o mérito deste último Ninguém Lê do ano.
O Ninguém Lê cumpre, assim, seu destino inexorável, sempre lembrado por Ni Brisant e Victor Rodrigues nas rodas de conversa: "ouvir o autor ainda vivo!". 

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