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5.5.15

Um conto (ou um exercício de terror): Fim de semana na praia

http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAYQjB0&url=http%3A%2F%2Fwww.littlepicklepress.com%2Ftag%2Ffeatured-young-writer-of-the-month%2F&ei=JTFJVY_zOdfdsASRoYHACA&bvm=bv.92291466,d.cWc&psig=AFQjCNHmK8phk06OlWMXYhAePAvqrUQ2nQ&ust=1430946410247716

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Fim de semana na praia


Passou, pagou, pegou a chave.
A velhinha tá de dá dó.
Van até o metrô. Metrô até a Sé. Sé até Jabaquara. Van de novo, agora descendo a serra, Anchieta com o trânsito de sempre, carregado. Entrou na cidade, trânsito do mesmo jeito, doido e demorado. Desceu na esquina.
Saiu caminhando pela transversal. Gostava do carinho do vento na cara, vento por aqui mais úmido, mais intenso, mais nervoso. A areia vinha bêbada, em atropelos contra o cabelo, grudando na língua, riscando as fossas do nariz. O sol, encardido e forte, também não dava tréguas. Melhor assim, pensou. O fim de semana promete.
Sacou o molho de chaves do bolso, deu uma conferida no predinho judiado. Abriu o portão, passou pelo primeiro pavimento, quase tudo fechado, caminhou para o elevador. Olhou o relógio, quase cinco da tarde.
O barulho de martelo repicava no ambiente, o hall da entrada estava todo travado por madeiras, montes de areia e pedra e sacos de cimento. Esticou o pescoço, dois pedreiros, acocorados de costas, esticavam a régua, estavam trocando o piso. Deu a volta, a porta estava fechada. Pegou a segunda chave e abriu. Decidiu ir pela escada mesmo.
O quadro enorme estava no chão, junto com o espelho da outra entrada. Ambos cheios de pó. Tá na hora de trocar esses também, pensou. Tantos anos que venho aqui e nunca trocaram esse quadro feio, já todo meio cinza meio marrom. E esse espelho também, com essa moldura feia e velha, tomara que troquem tudo. Até a câmera tinha sido arrancada, ficara enganchada na presilha como se fosse um pescoço quebrado e caído.
Pensava, deveriam trocar tudo, o elevador antiquado q3eu fazia um barulhão dos diabos. E demorava uma década para subir. Deveriam trocar até esse prédio antiquado, parecendo peça de museu. Subia devagar, a pequena mala pesava. Contornou a última curva, abriu a porta e deu de frente o apertamento.
Não tem ninguém nessa porra? Pode não ter ninguém nessa joça mas tenho certeza de que já já aquela síndica chata vai aparecer por aqui. Já já vai chegar com aquele olhão enorme que vê tudo e fazer a ladainha de sempre, não faz isso, não aquilo, não pise ali, não faz barulho, não pode ter mais de seis no apê, não não não. A mulher só sabe falar pela linguagem do não.
O corredor era puro breu, sem movimento, sem janelas. Uma luz perpendicular descia pelas escadas e bateu seca contra o chão vermelho escuro. Procurou o botão de luz mas não encontrou. Dirigiu-se para a porta. Quando a abria, o elevador passou devagar e trôpego, fazendo um escarcéu com seus cabos. Entrou tatenado. Bateu a palma da mão até encontrar a tomada. Um cheiro forte de chulé saiu das entranhas da casa e fugiu para o corredor. Caraio, será que esqueceram um sapato velho aqui? Tonteou, abriu a cortina e a janela da sala, o vitrô da cozinha, escancarou a janela do quarto e olhou a rua. Lá de cima chegava apenas o alarido das ruas abafado pelo dolby da distância. Voltou para a cozinha, de onde podia se enxergar melhor um trecho do mar. De lá ficou um bocadinho de tempo observando uma ponta da baía. Vazia. Uns poucos pescadores, dois ou três barquinhos à solta, um jet-ski acelerado riscando uma barba branca na pele azulada e um veleiro bem longe. Na praia, uns velhos curtiam suas estrias, a flacidez daquela hora morta.
Voltou, o chulé passara quase de todo, deixando apenas uma réstia falha de odor de vinagre. Pensou que pudesse ser um alho ou cebola podre. Olhou nos cantos da pia, dos armários e do fogão. Nada! Depois vou ver na sala e no quarto. Abriu também o banheiro, voltou ao quarto, depositando na passagem a mala sobre o sofá. Tudo estava arrumado, cada coisa em seu lugar.
O celular tocou, oi amor, tudo bem?  Aqui tá. Cheguei! Cheguei agora. Tá tudo arrumadinho já, uma beleza. É, vou só passar uma vassoura, comprar umas cervejas e depois vou dormir! A que horas vocês chegarão? Tá bom! Bem, quando chegar provavelmente vou acordar. Tudo bem. Beijão, tchau! Desligou.
Olhou o chão novamente. Não precisava nem de vassoura. Parecia que tinha sido lustrado ontem. A mulher me falou que faz quase um mês que não aluga e não tem pó. Ou ela tá maluca ou tá mentindo. Pensou em ir buscar a cerveja mas ficou com preguiça. Vou é dormir, antes que o povo todo chegue de uma vez, na madrugada.
Durante o banho, pensou melhor. Se enxugou, saiu, comprou a bebida, voltou, deitou, dormiu.
Duas e vinte e cinco da madrugada e o pessoal chegou.  Mulher trouxe um mundaréu de gente, o filho. A irmã, o cunhado, sobrinhos buliçosos. Trouxe vozerio descontrolado, gritinhos de felicidade das crianças no meio da madrugada, cestas amarrotadas, malas pesadas e bolsas amassadas. E mais colchonetes e edredons. O cunhado perguntou se podia guardar o carro na garagem, ele cedeu a chave e o homem desceu. A duas mulheres se revezavam na arrumação. Era um tal de tirar o colchão do beliche, arrumar os lençóis,  puxar as beiradas e a criançada pulando feliz de uma canto pra outro. Nem parece que tinham dormido a viagem toda.
Ele, ainda sonolento, não sabia como ajudar e foi pra cozinha. A mãe pediu então para o filho para prender a ponta debaixo do colchão. O menino, a contragosto, atende ao pedido e debruça-se para debaixo da cama enorme. Antes de cumprir a tarefa, vira-se para o alto e grita, tem um hômi dormindo aqui debaixo.
Era bem jovem, estava morto.


Escobar Franelas

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