“Mundo, mundo vasto mundo
Se eu não fosse uma mulher
Seria uma abelha.
Mundo, mundo vasto mundo
Uma abelha sem zangão.” (“Poema das sete ferroadas”, p. 53)
O livro de estreia da poeta paulistana (ela prefere que a chame de poetisa, mas tenho um apreço especial por termos que na língua brasileira são comuns a todos os gêneros) Débora Garcia, é, antes de tudo, uma sagração da vida que lhe pulsa: “sigo rascunhando e divulgando fragmentos de mim.” (“Sina”, p. 39).
Atriz, cantora, escritora e assistente social, Débora Garcia debuta nesta obra já exibindo os dotes de sua inspirada colcha de líricas: “Sou negra / E a esperança em mim reluz como estrelas no breu / Como a lua e o sol imperam no céu.” (“Sou negra”, p. 94). Com mão segura, ela desdobra as folhas de nossa história, nos leva à ancestralidade comum, nosso porto seguro: “Nunca estive na África / Mas África sempre esteve em mim.” ( “Genealogia”, p. 85). E tira o essencial da pasárgada bandeiriana para sentenciar, com nova roupagem, que “Lá o leite não tem água oxigenada / Nem data de validade adulterada / Tudo é muito saboroso, direto da natureza / que nos presenteia, com fartura e beleza.”
Assim, mesclando leituras profundas que também fez de Carolina Maria de Jesus, de Graciliano e Drummond, entre outras, encontrando nessas referências um ponto de inflexão com suas heranças africanas e flertando profusamente com orixás que lhe substanciam a vida, Débora Garcia resume a sua condição de artista consciente e cidadã, da história que lhe perpassa a pele, olhos e ouvidos e com a profundidade extática cuja força expressiva nos ajuda a compreender que “me faz regar com luta e esperança o imenso jardim dos ideais" (“O movimento”, p. 18).
Serviço
Livro: “Coroações - Aurora de poemas”
Autora: Débora Garcia
Ano: 2014 (1ª edição)
Edição da autora
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