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24.11.16

Entrevista - ÁLVARO POSSELT (Literatura) - PR

Arquivo do autor

A arte, na maioria das vezes, oferece o inusitado, inclusive fora do seu escopo natural, a fruição inteligente. Em certas situações, o encantamento vem do seu confronto com a falibilidade com a vida. Como exemplo, recordo aqui o escultor Euflávio Góis (São Miguel Paulista, SP), que afirma nunca ter sido tocado pela brisa benfazeja da criação artística, até que, aposentado e com a vida sem querelas existenciais, de repente foi abalada e ganhou contornos surpreendentes quando ele começou a esculpir em madeira. Nascia ali um artista - que agora inclusive aventura-se na poesia também - cuja lógica do mundo felizmente foi desrespeitada a bel-prazer, dele, nosso, de todos.
Penso nisso enquanto releio a entrevista que fiz com o poeta paranaense Álvaro Posselt. Conheci seus haicais trafegando em algum momento pela internet. De cara, fui sacolejado pela epifania ligeira que seus versos curtos e certeiros me provocavam. A mim só não, a toda uma galeria de confrades que passaram a orbitar em torno de seus escritos, como vespas em volta da lâmpada. Parece até ser um argumento clichê, mas quem se propor a lê-lo, verá que o autor é, sim, merecedor dos louros que vem colhido pelo caminho.
Ofereço este diálogo que tivemos durante uns 25, 30 dias, através de e-mail. Desfrutem-no!



1) Acho que podemos começar esse diálogo com você falando de infância e juventude, sua formação etc. 
A pergunta pelo meu caminho literário: Comecei a rabiscar meus primeiros versos com uns 15 anos. Coisas de menino tímido, apaixonado e inquieto. Na mesma época fui tomando gosto pela leitura com incentivo de um amigo, o Gilmar. No começo, não gostava, era vidrado em vinil. Com o tempo, já estava lendo um livro no almoço no
trabalho e outro à noite em casa. A escrita ganhou uma tonalidade mais incisiva quando comecei a frequentar a Oficina de poesia permanente, da Biblioteca Pública do Paraná, em 2003, onde conheci o haicai. No ano seguinte comecei a fazer Letras. Foi quando estudei o haicai, objeto do meu TCC. Meu primeiro livro saiu em 2012. Acabo de lançar meu quinto, todos de haicai.

2) Você tem autores ou atoras que possa citar como referências?
É difícil citar nomes, mas aqui vão alguns: Quintana, Leminski, Manoel de Barros, Bandeira, Drummond, Neruda, Bashô, Issa. Na prosa, Italo Calvino, Hermann Hesse, Luís Fernando Veríssimo, Cortázar, Borges.

3) Por favor, enumere os seus livros já lançados, em que anos e respectivas editoras. 
Tão breve quanto o agora (2012), Um lugar chamado instante (2013), Entre arranhões e lambidas - haicais & gatos (2014), Kaki (2015), todos esses publicados pela Editora Blanche; Na sopa do sapo (2016), pela Editora Insight.
Todos os livros são de haicai.

4) Como você vê o mercado editorial brasileiro hoje para quem escreve uma poesia tão peculiar, como o haicai?
O mercado anda muito tendencioso, infelizmente. Participo de feiras de livro e a febre são os youtubers, pokemons e minecraft.
Não há como disputar obviamente, mas mesmo assim acho que o haicai leva uma certa vantagem no campo da poesia por ser breve. Nas redes sociais vai muito bem. Em tempos de pressa, urgência, imediatismo, o haicai consegue se integrar.
Por outro lado, o poema japonês é riquíssimo para se explorar em sala de aula, não só na leitura mas também na produção.
Faço oficinas e vejo o resultado. Acredito muito na força do haicai dentro do mercado editorial.


5) Como fica a arte no mundo hoje, com a radicalidade dos discursos e a urgência tratada como prioridade?
Por conta desta urgência, desta pressa, nos tornamos muito vazios e superficiais. A radicalidade também surgiu como uma febre, um olho por olho... Como figura a arte neste cenário? Infelizmente não aparece nem como coadjuvante.
Em termos práticos, vividos no dia a dia, sinto que a literatura se tornou uma prateleira de youtubers e outros temas imediatistas. A literatura clássica está condenada!
O ponto a favor é que o haicai é um tipo de poema que se encaixa muito bem nas redes sociais. O seu aqui e agora consegue se infiltrar bem nestes tempos de urgência, pois é um texto curto, objetivo.
De qualquer forma, o saldo ainda é negativo em meio às banalidades virtuais!
A arte está deixando de ser uma essência e se transformando em ausência, reflexo da falta de prioridade do ser coletivo em contraposição ao ser individual.

6) “A literatura clássica está condenada!” E o que está sendo produzido hoje que poderá ser chamado de “clássico” no futuro?

A literatura de hoje ainda é uma incógnita.
Difícil definir! Por um lado é banhada por um oceano passageiro, criado pela mídia. Por outro lado, por poucos e bons autores, alguns se destacando, outros já com nome, como Tezza, Hatoum, Mia Couto.
Prevejo com certo pessimismo o panorama da literatura do futuro.

7) Você tem algo previsto para lançar brevemente? Como está a sua "agenda" literária?
Meu próximo projeto é um livro infantojuvenil. Desta vez não é haicai.
É prosa. Inscrevi-o na lei de incentivo. Neste mês sai o resultado.
Para este mês será lançado um pacote com minhas poesias através do Sesc Paço da Liberdade. O projeto se chama Pacote de poesia.
Também serão lançados meus poemas em copinhos de café, parceria com uma cafeteria aqui de Curitiba. Minha agenda está mais tranquila agora, não fixa. Visitarei escolas e farei oficinas de haicai, também participarei de algumas feiras e outros eventos.

8) Tem alguma pergunta que gostaria que eu tivesse formulado e não o fiz? Se tiver, faça-a você e a responda, por favor. Agradeço.

Meu caro, acho que as suas perguntas já fazem um ótimo panorama.
Agradeço imensamente e peço desculpa pela demora. Abração.
Alvaro


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