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23.5.18

Um textículo: "carta sobre a poesia"


por favor
digam a ela que não dá
que tentei sempre 
que tateei 
e procurei até entre os vãos
mas que não encontrei

expliquem a ela, por exemplo
que ontem foi uma noite atípica
com dores e insônias em
vários lugares ao mesmo tempo
por isso não deu

e que hoje também
foi um dia de lutas vãs
desde que rompeu a manhã
mas toda guerra é suja
injusta e inconsequente

e ela
e eu
e nós, reunidos nesse campo minado
só sabemos a linguagem da lama
do sol inclemente 
do frio causticante
e essa claustrofobia do tempo
que arranha e rói a ponta de nossos dedos

nesses tempos sem deus
quem matam em nome de deus
lembrem ela - é meu último apelo -
que só a ele servirei
(se é que sirvo para alguma coisa,
se é que sirvo alguma coisa,
se é que me sirvo - alguma coisa) 


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