O homem vociferava a todos com voz rígida, mas pausada e clara:
- Eu inventei Nietzsche, eu fiz o Super-Homem, eu criei Jesus Cristo.
E olhava a platéia com as vistas atentas. Encarou-me. O sol regurgitava seu calor no público inquieto e risonho. Dirigiu-se para mim. Senti o rosto formigar:
- E você aí, o que é que inventou?
Menti:
- Inventei o Escobar Franelas.
Olhou-me primeiro estupefato, a seguir conciliador. Dirigiu-se à praça:
- Esse aqui, ó - e apontou-me com o dedo - é o inventor da mentira. Deus, na Sua infinita misericórdia, criou a mim; Miguel de Cervantes deu asas à fantasia; Karl Marx pensou a luta de classes. E esse anônimo ali, ó - e olhou-me novamente, com cara de piedade - esse zé-ninguém, aquele ali, ó; é o pai da pior mentira.
Deu três passos em minha direção. A platéia entre jocosa e curiosa o acompanhava. O sol seco refletia em seu rosto suado e sereno. Firmou o olhar contra o meu e asseverou:
- Meu querido amigo, quem criou o Escobar Franelas fui eu.
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