para
tudo que você está fazendo e vem
agora
não é tempo de colecionar pedras insignificantes
ou consultar dicionários empoeirados
nem oráculos ou elfos
agora é hora de ir às pedras com outras finalidades
pegar poemas de revolta
os poemas-manifesto, os poemas feitos de sangue
da fome, seiva e suor
e socar e sovar sovar e socar
até não ser mais que um poema pronto
puro e a ponto de ser reescrito comido bebido
agora é um tempo dos que não têm mais tempo
a esperar
agora não é mais a hora de erguer monumentos
à fome
é hora de combater a fome, comer a fome
lamber lágrimas com a língua
com lenços com o dorso das mãos,
com o resto de pano de bandeiras encardidas
para tudo o que você está fazendo
e vem
agora é o dia do pós-mártir
aquele que ora de olhos abertos
medita sob o mantra das rajadas
das metralhadoras de seus inimigos
dorme com seus olhos abertos
a boca fechada
os ouvidos atentos
agora aqui hoje
não é dia de exercitar sua revolução burguesa
compor hinos em louvor ao herói vencido
rabiscar poema de contemplar a ação
e levar amantes a motéis
não é a hora de escrever epitáfios
não é momento de muros de lamentações
ou murros
(o corpo a ser oferecido hoje
é o de sobrevivente)
7.10.22
Um textículo: "agora agora agora"
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