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16.10.08

Dubiedades

Estamos cercados pelo dúbio: claro/escuro, sol/lua, mãe/pai, marta/kassab, osama/bush, amada/amante. Essa certeza, tão reta quanto pontaria de de um ianomâmi em caça na floresta, fez-me pensar um pouco sobre a atividade humana. Vem daí o primeiro paradoxo: o que é humano?

O homo sapiens, ascendente do virtualman (não esqueçamos, por favor, que desconhecemos o que nos espera no futuro, mas, além dessa certeza, também podemos asseverar que o futuro é um cheque ainda sem fundos, (as)sustado pela liquidez do presente, e com assinatura indecifrável), desde sempre serviu-nos de culto para cultuarmos um passado balizador e simbólico.

Tínhamos a pedra, mas não a roda. Hoje temos o domínio do ciberespaço, mas não temos o domínio do espaço. Sequer sabemos o que há ness espaço. Tínhamos o grito como expressão, hoje falamos seis idiomas, entendemos o alfabeto dos surdos-mudos, praticamos esperanto e outros quetais. Orientávamos pelo sol (e sua sombra sobre a copa da árvore), e hoje temos moderníssimos gps.

De onde provém a questão da dubiedade, então? Simples, das dúvidas que suscitam ao longo do pensar o homem. Se Deus tem o diabo como inimigo, se Deus tem o homem como seu complemento, se Deus tem anjos como exército, então, pra que serve o pensamento humano? Precisamos de fato "pensar"? Pra quê? Nossa extasia não seria simplesmente comer, defecar, gozar e frutificar?

Desconfio muito desse "humano" que foi certificado a nós. Isso tem servido para práticas de sentido único (aí está outro sentido da dubiedade), dominação, politicagens (no seu sentido mais perverso), e divisões. a prática da vida tem me ensinado muito, inclusive a beleza da doação. Mas ela só faz sentido quando contextualizada no sentido do capitalismo ("doação" seria uma espiritualização - ou a parte frágil - do ato de lucrar), e da prática existencial como um todo (disse o apóstolo Paulo na carta ao aos corinti(an)os que "permaneçam pois a fé, a esperança e a caridade, e desses o maior ato é o de caridade").

Será que eu poderia ser mais inumano mas ainda amando meus filhos, minha mulher, meus amigos, as árvores, as águas e os animais?

Quero fazer uma última colocação: acho que o maior duplo de mim, sou eu mesmo. Tenho sido meu inimigo declarado em circunstâncias diversas. Quando aprender a me domar melhor, acho que serei um novo homem, mais amoroso, moderno e prático. Menos patético.

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