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28.12.11

Entrevista - Máh Luporini (poeta e editora)

Máh Luporini é uma poeta em ascensão. Digo ascensão remetendo os leitores deste texto às ideias primárias desta palavra: ascensão que se refira ao crescimento (a poeta "em processo" e "em progresso", constantes), e à subida (a poeta inquieta que transita, flana, inquire e provoca vertigens - pelos altos voos). Pois a filha do Dailor Varela, também ele poeta de signos cortantes, não para um minuto sequer. Nascida em São José dos Campos, morando na "aldeia" de Monteiro Lobato - esse jardim edênico incrustado no Vale do Paraíba - Máh, mal estreou nas letras com Ausências (2010), e dá reparos finais no próximo, Memórias de Lugar Nenhum, a sair em breve.
Também editora (com seu pai), do tabloide O Grito, um farol de alta voltagem na acanhada vida cultural do Vale, a poeta concedeu-me esse "dedo de prosa", em sua última passagem por Sampalândia, semanas atrás.

A poeta e o poeta José Geraldo Neres: líquidos diversos e muitas, muitas ideias

Escobar Franelas - Fale do seu percurso...

Máh Luporini - Comecei a me interessar pela carreira literária no final de 2005, quando descobri o maravilhoso vício da poesia. É um negócio que me fez acreditar um pouco na realidade do mundo. Costumo falar que a poesia me lançou num “buraco de Alice”. Daí surgiu meu primeiro livro, Ausências, de 2010. Foi um lançamento meio apressado, confuso, no Festival da Mantiqueira. Também participei da última Bienal do Livro em São Paulo.
Hoje me defino como pessoa inquietante na poesia. Comecei com Fernando Pessoa, depois Leminski, e então Roberto Piva, Ana Cristina César. Com isso fui descobrindo que poesia não é essa coisa certinha, é uma coisa provocativa. Sou fascinada por isso. 
Não consigo me imaginar fazendo outra coisa na vida.
Sou apaixonada por livros, por sebos, vivo disso, dou livros de presente...

EF - Você está chegando com um novo trabalho, quais as experimentações e perspectivas que você traz com isso... Aonde você acha que ele pode ter amadurecido?

Máh Luporini - A diferença entre o Ausências e o segundo livro, Memórias de Lugar Nenhum, é a abordagem sendo mais pessoal, essa a visão que tenho. Mas a diferença mesmo é o amadurecimento, pois o Ausências tinha uma poesia mais reflexiva, enquanto o Memórias eu dividi em três partes, com um olhar mais provocativo, com uma coisa mais ousada, que estou abordando. E estou muito mais autocrítica. 
Lancei o Ausências com muita rapidez, entre fins de 2009 e maio de 2010. Coisa que não fiz com Memória, que foi um trabalho muito mais intenso, com muita pesquisa, leitura. Estou trabalhando nele há mais de um ano.
Desacreditei muito no trabalho de editoras, pois o Ausências não me agradou nesse sentido e agora, com o novo, estou em processo ainda... Estou muito crítica com ele, ainda. É um filho que está demorando pra nascer.

EF - Isso é reflexo de novos autores que você anda lendo?

Máh Luporini - Sim, com certeza. Cada vez que pego um novo autor – atualmente estou relendo As Flores do Mal, do Baudelaire – eu olho e penso, “que porcaria estou fazendo com o Memórias?”

EF - Além de poeta, você é editora do jornal O Grito. Queria que você fizesse um paralelo entre sua arte poética e este trabalho de confeccionar um jornal:

Máh Luporini - Em relação ao O Grito, que surgiu de uma ideia junto com o meu pai para criar um veículo para novos autores e outras expressões, como arte e cultura, dança, teatro, literatura... um lugar onde os poetas pudessem divulgar seus trabalhos, ter um espaço pra eles. A gente está nessa guerrilha faz 5 anos, completados em outubro último. Mantemos O Grito na cara de pau, porque ter um jornal cultural não é fácil. A gente tinha patrocínio mas saíram fora, pois, segundo eles, “cultura não vende”, “cultura não ganha voto”.
O Grito hoje é uma rede amigos, que mantêm o jornal em pé, que são pessoas sonhadoras, que levam a cultura adiante. Essa coisa de encontro literário, de perspectiva, é uma coisa que... Bem, tenho um puta de um poeta em casa, que não é só meu pai, mas é meu amigo, um amante. (risos) E esse encontro acontece na minha própria casa, é uma troca de experiências. O Dailor está finalizando o 16º. livro dele, “P.U.L.SOS”, e damos palpite um no do outro, não existe esse papo de que ele é meu pai, eu sou sua filha. Os encontros são isso, diferente de lá fora.
Sou de São José dos Campos, moro em Monteiro Lobato, e a maioria dos poetas de São José vivem se reunindo em torno deles mesmos, pra fazer declamação um para o outro. Não tem ninguém ousado, que saia do Vale do Paraíba, e fale “vou divulgar meu trabalho em São Paulo, Rio, Paraná, daí por diante”. A maioria dos poetas é medrosa em relação a isso.
Fala muita ousadia nesse meio.
 Máh durante sarau na Casa das Rosas, em set/2011 


Texto e fotos Escobar Franelas 

4 comentários:

Teresa Bendini disse...

Bravo!!!!!

Teresa Bendini disse...

Bravo!!!!

josé geraldo neres disse...

que bom que esse movimento resiste, e vai circulando por outros ares.

parabéns pela procura e pelo trabalho em divulgar nossa cultura.

gostei de me encontrar neste entrevista.

axé!

Cíntia Santomario disse...

Legal este jornal: O Grito. Gaostaria de ter mais informações, do tipo como publicar nele.... Grata!