30.7.14
28.7.14
Entrevista para o SP Cultura (Rede Globo)
Por conta do Blablablá, uma roda de debates que acontece mensalmente na Casa Amarela, em São Miguel, gravamos neste último sábado alguns depoimentos para o quadro SP Cultura, dirigido pelo Alessandro Buzo para o programa SPTV , da Rede Globo. Buzo, com sua equipe (Nogueira na câmera e Chantilly no áudio), fizeram entrevistas com alguns dos gestores da Casa (eu, Akira Yamasaki e Sueli Kimura), além de outros parceiros e também alguns convidados presentes.
A Casa Amarela é um espaço voltado para a prática artística, também atuando com ênfase em aspectos ligados à educação e à sustentabilidade. O local já foi residência técnica dos grupos de teatro Alucinógeno Dramático e Diotespíssio, local de gravação de diversos filmes curtametragens, sede do Programa Jovens Urbanos (uma parceria entre as instituições IPEDESH, CENPEC e Itaú Social) e do Programa Marginal (entrevistas para web). Atualmente exibe a exposição em madeira do escultor Euflávio Madeirart., além de apresentar mensalmente o sarau da Casa (dirigido por Akira Yamasaki) e o Blablablá (facilitado por mim).
O Blablablá prevê discutir em seus encontros tudo o que se refere à produção e expressão cultural fora dos grandes centros. Sempre com convidados que apresentem em seus currículos trabalhos relevantes sobre o tema abordado, no último dia 26, tinha como convidados, além do próprio Buzo, também o escritor Sacolinha (Suzano, SP), e a pesquisadora Érica Peçanha. O tema era "Literatura marginal: o que é?" e também teve a participação especial da poeta pernambucana Socorro Nunes.
O SP Cultura é um quadro fixo de todos os sábados do jornal diário SPTV, apresentado por Alessandro Buzo, na Rede Globo. Seu foco é a produção cultural no universo das periferias, destacando sempre ações e personagens que transformam o ambiente em que vivem através da arte, do esporte e da educação.
Endereço: http://casamarela-e-cultural.blogspot.com.br/
Endereço: http://casamarela-e-cultural.blogspot.com.br/
Texto de Escobar Franelas
Fotos de Andréia Gonçalves Garcia
Arte do flyer por Manogon
13.7.14
Ninguém Lê – Um projeto feito por quem escreve... e quem lê
Ninguém Lê – Um projeto feito por quem escreve... e quem lê
Chego ao Hussardos, ali na Praça da República, faltando 15 pras sete da
noite. Reconheço alguns, cumprimento o Victor “Praga de Poeta” Rodrigues, rapidamente
faço novas amizades. Não passa cinco minutinhos e encontro Ni Brisant, sempre
brisando na sua fala manêra, no sorriso fácil, nas intervenções sempre
inteligentes e bem sacadas. Vai começar o Ninguém Lê, um projeto que pretende
dar voz e leitores para os escritores ditos marginais, afastados das luzes
midiáticas. Mantido pelo VAI (Prefeitura de São Paulo), o Ninguém Lê prevê a escolha
de alguma obra de determinado autor. Os organizadores distribuem o livro para o
público, que se compromete a ler e participar do evento na data previamente
agendada.
Fui pela primeira vez a este encontro depois que o Victor me convidou, durante o sarau na livraria Suburbano Convicto e entregou-me um exemplar de
Punga, de Elizandra Souza e Akins Kintê.
Sete e pouco, fazemos a roda que a cada cinco minutos tem que ser
ampliada, mais e mais gente chegando, as idéias rolam, evoluem, impulsionam.
Victor e Ni propõem que o pessoal da roda vá lendo os poemas de Punga, dos dois
convidados, para a conversa do Ninguém Lê. O mote é trocar idéias com os
autores, saber de influências, histórias de vida, métodos de escritas,
militância e outros papos interessantes sobre a obra em discussão. A leitura dos poemas de poetas tão complementares revela uma
certa sincronicidade de temas e abordagens. Quando surge a oportunidade, leio
MenstruAção, poema de Elizandra que gera um certo desconforto na exposição.
Quase no fim da conversa, a poeta acaba discorrendo sobre essa questão, o desconforto de
provocar o público quando ele está mais vulnerável, muitas das vezes querendo
apenas fruir o auspício poético.
Após a leitura dos poemas, surgem as provocações. Questionado sobre a
forma como divulga seus trabalhos, Akins respondeu que anda sempre com uma
sacola com alguns trabalhos. E mais, que leva seus trabalhos nos ensaios das escolas de
samba e nos campos de várzea, entre outros lugares. Daniel Marques,
um dos organizadores do sarau “O Que Dizem os Umbigos?”, no ItaimPaulista,
relata a sensação de que os poemas de ambos apontam sofrimentos mas sobretudo a
beleza de quem ama e pergunta se eles têm consciência dessa escrita, ao que
Elizandra responde que visualiza uma mudança consciente mas, paradoxalmente,
não consegue dimensionar essa mudança. Victor lembra que o texto de Akins
“ginga” naturalmente e ele confirma, sorridente, afirmando que “quando a ´chapa tava quente´,
o que me salvou foi a arte, a música”.
Surgem novas dúvidas, sobre como é o processo criativo de cada um. Ambos
exemplificam as formas que utilizam para chegar aos resultados finais de seus
versos. Akins solta mais uma pérola, “sábado eu estava no Conjunto Inácio
Monteiro (zona leste), ouvindo um funk, e fiquei prestando atenção às palavras,
aos versos”, para falar de onde vem a inspiração, a troca de energia, a descoberta do insight que permitirá a explosão de um novo poema, ou uma nova música. Mais
adiante, o poeta de “Divinéia”, falando da atualidade de Punga, mesmo após sete
anos da primeira edição, citando que “a poesia é atual pois as coisas
permanecem”. Elizandra, por sua vez, explicou sucintamente que gosta muito de ler dicionários. Nesse ínterim, Ni aponta que Punga tem discussões que apontam
para a realidade que os poetas vivem ainda hoje. Ambos concordam.
E as interpretações se sucedendo. Todo o público, vibrante e
participativo, aprofunda temas, suscita assuntos, pergunta sobre
influências e outros etecéteras. Querem discutir as relações de gênero
dentro do movimento hip-hop, os movimentos sociais a partir de junho de 2013, as
relações entre as diversas expressões da arte e até o que significa Punga. Elizandra
Souza explica que a palavra, cuja origem está no dialeto banto, significa um
convite para “entrar na roda”, para dançar. Akins Kintê conclui rindo que punga
também significa furto e que gosta muito dessa palavra. Depois presta contas,
afirmando que foi Allan da Rosa, mentor do livro, quem deu este título à obra.
Às nove e meia, Ni Brisant anuncia o fim do evento, o Hussardos bateu seu
horário, precisa ser fechado. Akins sugere que se alguém tem alguma dúvida, que
mande para ele por meios virtuais, que ele responderá. Por fim lê “Divinéia” e
Elizandra, “Antítese”.
Segundo os organizadores, o próximo encontro acontecerá no início de
agosto e que a convidada será a poeta Sinhá, e o livro a ser lido e discutido é
“devolva meu lado de dentro”.
Quem quiser acompanhar as atividades do Ninguém Lê, as informações
atualizadas estão na página https://www.facebook.com/ninguemle
do Facebook.
texto e fotos Escobar Franelas
9.7.14
Resenha - livro "O Diário de Anne Frank"
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A capa desta edição lida e comentada d´O Diário de Anne Frank |
![]() |
Reprodução de páginas originais do diário de Anne Frank |
O Diário de Anne Frank
Difícil, difícil mesmo chegar ao fim deste livro e não se sentir
despregado chão, como se estivesse suspenso numa nuvem escura e densa. O Diário
de Anne Frank, muitos já o sabem, é um livro que foi escrito pela jovem judia enquanto
esteve escondida com sua família, num canto da Holanda, fugindo da perseguição
nazista. Escrita assim, até com certa frieza distante, esta resenha não dá
conta do enorme arcabouço de sensações e sentimentos que são fornecidos a cada
linha, durante a leitura.
Com uma sinceridade surpreendente, a adolescente traz para as linhas
escritas a sofreguidão do Anexo (local onde sua família e mais algumas pessoas ficaram
reclusas por mais de dois anos) e a construção de uma maturidade construída à
força, diante da intransigência dos fatos. Anne é, antes de tudo, uma garota
normal e, naturalmente, vaidosa, teimosa e inconstante. Inteligente, sua sinceridade às vezes é
cortante. E a violência de algumas de suas palavras – nem sempre necessária – desconcerta.
Nascida em 1929 na Alemanha, sua família muda-se para a Holanda em 1933
quando a ascensão do nazismo no seu país de origem implica no início da
perseguição desses aos judeus. Quando a guerra começa de vez e a Alemanha
invade a Holanda, aos judeus resta esconder-se, no aguardo de que a Inglaterra
envie suas tropas para desobstruir o país. Em 1942, nada há para se fazer senão
aguardar. Seu pai, Otto, ajudado por amigos não judeus, decide radicalizar
quando a situação fica insustentável. Todos se escondem num cubículo dentro do
escritório onde funciona a empresa no qual Otto trabalha.
É ali, escondida no sótão que Anne escreve seu diário, ao qual dá o nome
de Kitty. Em suas linhas, a adolescente em formação fala do dia a dia, da difícil
convivência com cada um dos moradores do lugar, da incompreensão de sua mãe, das
paixões juvenis antes e durante o cativeiro, da admiração pelo pai. Anne não
foge de qualquer assunto que ganhe relevância em sua mente inquieta. Discorre
com naturalidade incomum para uma garota de sua idade, tecendo comentários
ácidos sobre família, política, sexo, sentimentos, planos para o futuro, sem
deixar de pautar também as mínimas coisas que aconteciam ao seu redor. Todo assunto se torna importante para ser
comentado com Kitty.
Após denúncia, Anne Frank, seus familiares e outros “moradores” do anexo,
foi presa na manhã do dia 4 de agosto de 1944. Morreu no campo de concentração
em Bergen-Belsen aos 15 anos, em data incerta, provavelmente no início de 1945,
vitimada pela tifo que dizimou milhares de pessoas nos campos de concentração.
A causa para esse genocídio foram várias mas principalmente as péssimas
condições de higiene desses locais.
Parece provável que a vida seja mais novelesca que a própria arte (esta,
um engenho humano) mas compreensivelmente, a (re)leitura de O Diário de Anne
Frank fornece alguns indícios interessantes. O último texto de Anne, escrito em
1º de agosto de 1944, tem um aprofundamento melancólico não observado em suas
outras páginas, ainda que o diário viesse num “crescendo” niilista, diluído em
elucubrações introspectivas de muita força e poder. Chama a atenção que
justamente os “sobreviventes” do genocídio – seu pai, as jovens funcionárias do
armazém, Bep e Miep, além dos gerentes Kluger e Kleiman, tenham sido os
“poupados” das críticas atrozes que ela teceu nas suas linhas ácidas durante o
tempo de cativeiro. É como se o tempo tivesse feito justiça às elucubrações
juvenis e poupado os “bonzinhos” de sua epopéia.
Escobar Franelas
O Diário de Anne Frank
Edição definitiva por Otto H. Frank e Mirjam Pressler
Tradução Alves Calado
Ilustração de capa Pedro Meyer Barreto
Design de capa Fabíola Gerbase e Pedro Meyer Barreto
RJ: BestBolso, 2013
8.7.14
Resenha - livro "Sujeito Sem Verbo" (Fernando Rocha)
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Reprodução da capa do livro Sujeito Sem Verbo, de Fernando Rocha |
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Fernando Rocha no Sarau da Casa Amarela, São Miguel Paulista (foto: Xavier) |
Sujeito Sem
Verbo – Fernando Rocha
Introspecção.
É sobre esse signo que os seres animados nascidos da canetadas e tecladas de
Fernando Rocha surgem e se dão à vida. Animados é quase irônico, reconheço.
Vivos pela pulsão de vida que corre em suas veias, são inanimados no sentido
existencial do termo. Assim, ora em primeira pessoa, ora em segunda; às vezes
sob a ótica masculina, em outras sob o ângulo feminino; os personagens de seus
contos são figuras quase apagadas, pálidas, sem força ou expressão, deambulando
por aí, cumprindo a sina dos dias, aguardando o ponto final. Da vida. Ou do enredo.
O autor é conhecedor
das elucubrações de seus personagens. Sabemos disso. Das linhas quase
simétricas de seus 50 contos brotam personalidades que parecem dialogar com Fernando
Rocha, cujo sorriso tímido por trás dos óculos – onde também se escondem dois
olhos vivazes – dão a certeza de um profundo diálogo entre criatura e criador. O
autor nos dá pistas a todo tempo de que conhece profundamente as idéias e os
mundos de cada dos seus protagonistas. É assim que em “Beleza” temos um texto
cuja fartura está na economia das palavras. Com pouco, muito pouco, o autor nos
diz muito, demais, além da conta. O conto principia e três minutos depois, em
seu final (sim, os textos de Fernando são curtíssimos), temos a ironia, a
crítica à hipocrisia social via elipse sintática e recortes certeiros do
marceneiro que sabe o que fazer com a madeira crua. E nua. “Como não havia mais
nenhum outro candidato, conseguiu, era a mais nova arrumadeira de defuntos da
região”.
É assim também
com “O Canto da Sereia” e “O Pequeno Poderoso”, entre outros, onde um riso
incisivo, “em passant”, aponta um artista incomum, que “cons-destrói” a lógica
encadeada que é sumariamente desordenada pelo ineditismo criador do autor.
Outros
exemplos de boa prosa de Fernando Rocha podem ser citados aos montes, aqui. Fico
com mais um trecho, seqüestrado do conto “Antes do Pó”, cuja beleza reside na
construção poética carregada de imagens e sugestões: “Uma das mais belas
imagens que vi nesta vida: o mar quase escondendo o sol refletido naqueles
olhos”. E outro, “A Estrada”, pela absoluta singularidade e precisão na descrição:
“A longa estrada pareceu exigir mais do que sua habilidade como motorista podia
oferecer”.
Quando elejo
este autor como mote para este estudo, é pela certeza de que Fernando Rocha,
assim como diversos outros autores à margem da grande via midiática, sendo ele
substancialmente periférico, independente, negro e avesso à exposição desnecessária,
há de ser trazido à luz, não pelos raios destes escritos que ora rascunho, mas
porque outros ainda farão a mesma declaração. E seu “Sujeito Sem Verbo”, uma
caixa de pequenas pérolas adornadas pela capa enigmática, há de conquistar
muitos, milhares, milhões, de leitores por lugares e tempos por aí afora.
Escobar Franelas
RJ: Confraria
do Vento, 2013, 1ª edição.
6.7.14
"Sobrenome Liberdade" - isso sim é pós-nome de sarau
Guardem esses nomes: Ni Brisant, Mano Ril, Luz Ribeiro e Eduardo Dias. São eles o quarteto fantástico que na primeira quinta-feira de cada mês quebram todas as barreiras no Grajaú e realizam o Sarau Sobrenome Liberdade. O sarau que tem o nome mais emblemático entre todos os que rolam na periferia vibrante da Sampalândia - agora posso dizer - é impactante. Impactante e fodástico. Fodástico e inspirado. Inspirado e transpirado.
Foram mais de três horas para cruzar a cidade em horário de pico, errar o caminho, reafirmar a certeza de que placas indicativas de trânsito são um luxo inexistente na periferia da zona sul, tanto quanto na leste e que o GPS na ponta dos dedos de algumas pessoas indicam o contrário (mas que em outras têm um acerto preciso e milimétrico), para, enfim, chegar ao Relicário Bar e viver uma noite indescritível em louvor à deusa Poesia.
Luz, Mano, Eduardo e Ni fazem um sarau intertextual, multiexpressivo e poliinspirado. Arte farta e po- derosa: o bar recebe bem, com serviço cortês, cerveja no ponto e porções com preço justo. E, mais importante, o palco recebe protagonistas de todos os matizes artísticos, muita vibração, irmandade leve e solta, público sorridente, amabilidade no atacado. Como não se sentir bem num lugar assim?
Pude falar um pouco do livro que levei, "Itaquera - Uma Breve introdução", mas principalmente, ouvi, vi , curti e fruí intensamente a Arte rica e profunda de todos os que ocuparam o local sagrado do culto poético.
E quando fui embora - antes do fim, tinha que cruzar Sampa em direção à leste novamente - levei comigo essa saudade, esse saber e esse sabor que, hoje, domingo, três dias depois, ainda perdura. Saudade de todos os meus novos irmãos...
"Bebês Agnósticos" (poemeu)
- Você crê em longe após o perto?
- E você, acredita
em vida após o parto?
(IN, haicaos, no prelo)
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