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22.8.15

Cine-debate no CCA Paschoal Bianco: filme "Linha de Passe"

Assista o filme 


Assista o trailer

Convidado pelo meu bróder Roberto Maty, ontem à noite pude discorrer sobre o filme Linha de Passe com pais de crianças e adolescentes atendidos no CCA (Centro de Criança e Adolescente) Padre Paschoal Bianco, na Vila Califórnia, no vértice entre São Paulo, São Caetano e Santo André. O público - majoritariamente de mães - assistiu atento ao filme e depois pudemos trocar impressões e tirar algumas sugestões sobre questões que permeiam nosso tempo, nossa cidade e nossa condição social.
"Linha de Passe" é um filme de 2008, dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas, com roteiro dos mesmos e mais Bráulio Mantovani. O resumo da ópera é sobre uma mãe que luta para criar sozinha quatro filhos meninos, com idades e pais variados. Um quer ser jogador de futebol, outro é motoboy e outro é evangélico fervoroso. O caçula é criança ainda, e quem oferece alguns poucos momentos cômicos do filme. Não bastasse as complexidades do cotidiano, a mulher está grávida novamente, acentuando ainda mais as contradições da vida de todos.
Sandra Corveloni ganhou o prêmio de melhor atriz do Festival de Cannes pela interpretação de Cleuza, a mãe.
Com Vinícius de Oliveira, João Baldasserini, José Geraldo Rodrigues, Kaíque Jesus Santos e Sandra Corveloni.
Brasil, 2008, 98´

14.8.15

Pequenos processos, grandes progressos (ou, aprendendo jornalismo na prática)

Noite de festa eclética na Augusta

cobertura por Coletivo Ounão: texto por Escobar Franelas | Fotos por Fernando Antunes

22:45h de uma noite tranquila e amena. Terça-feira, 22 de março, rua Augusta, Studio SP, centrão de Sampalândia. A banda Do Amor, do Rio de Janeiro, sobe ao palco, abrindo mais uma noite do Cedo e Sentado Fora do Eixo, projeto mantido em parceria com a casa.
Após a canja inicial do dj Barata, que uniu em seu set-list vários elementos musicais, a Do Amor (Gabriel Bubu (guita/voz), Gustavo Benjão (guita/voz), Marcello Calado (batera/voz) e Ricardo Dias Gomes (baixo/voz), atacou com Babydoll de Nylon, música irreverente e que deixa bem clara a proposta musical do quarteto, que é fazer um rock´n´roll brazuca despretensioso, unindo as várias possibilidades e texturas no terreno das músicas populares praticadas nesses Brasis. Egressos de grupos distintos como o Cê (que acompanha Caetano Veloso), Los Hermanos e também Lucas Santana, os músicos se dividem ao microfone, sem perder a consistência e coesão que norteiam suas apresentações.
Pausa para novas intervenções do dj da casa, e aí entrou o power trio Nevilton, do Paraná, com o próprio na guitarra e voz, Lobão no baixo, e Chapolla na bateria, exatamente no primeiro minuto da madrugada. Banda catártica que em alguns momentos lembrou-me os gaúchos Replicantes (anos 80), dominou o palco com seu rock sincero, curto, certeiro e grosso. Com uma presença de palco marcante e visceral, os músicos mantiveram o público em inquietude natural durante sua hora de show.
Nova pausa, idas ao banheiro, bar e xavecos à solta, e então, faltando quinze pras duas, com a quase bem mais lotada, a rapper Flora Matos, de Brasília, tomou o palco para si, acompanhada de das vozes maviosas de Karol Koncá e Karol de Souza e do dj LX.
Sexy e insinuante, moderna e antenada, a menina-moça-mulher, flor em seus 22 anos, com domínio sossegado de sua platéia, com a qual divide suas letras cheias de sutilezas que adoçam seus raps pop-românticos. No fim, ela lançou oficialmente o clipe de “Pretin”, ótima música de sucesso garantido.

7.8.15

Entrevista: NÉLIO GEMUSSE (Literatura) - Moçambique




(Nélio Gemusse, jovem promessa das letras moçambicanas, aporta aqui para falar da beleza da arte conjugada com a vida. Cita fatos, relembra o mano, comenta sobre sua obra e faz planos para o futuro: degustem-no!)

1) Quem é Nelio Gemusse?
Bom, Nélio Gemusse é um escritor e poeta moçambicano, nascido na cidade de Maputo aos 04 de Fevereiro de 1993.
Vindo de uma família humilde, apaixonou-se pelas letras muito cedo, influenciado por grandes escritores como: Pablo Neruda, Agostinho Neto, Calane da Silva, Paulo Coelho, entre outros, começou a escrever poesias.
Pela dificuldade que enfrentou em termos financeiros, somente em 2015 lançou a sua obra de estreia, intitulada “Valério", que para muitos foi um espanto, já que se trata de um conto, pois as pessoas apenas conheciam o seu lado poético. Para além da sua obra, participa de duas colectâneas, nomeadamente: “Antologia de poesia contemporânea V.6“, com “Poema de Saudade" e da “Antologia de Poesia em Homenagem à Manoel de Oliveira”, com o poema “Manoel de Oliveira".

2) Conte um pouco de sua infância:
A minha infância foi muito simples e boa.
Sendo filho de um funcionário público, vivi em duas cidades (Maputo e Quelimane), devido às transferências do meu pai, e isso fez com que eu conhecesse e fizesse boas e novas amizades e entrasse em contacto com novas culturas.
Isto é que marcou mais a minha infância, não me esquecendo daquelas brincadeiras do bairro, com aqueles brinquedos inventados por nós, pois não tínhamos condições para comprar brinquedos novos ou nas caixas como os outros meninos da cidade.
A perda do meu irmão mais novo, foi uma ferida adquirida na infância que não se cicatriza até hoje, apesar da idade que tinha, aquele acontecimento mexeu muito comigo.

3) Quando foi que você começou a sentir os primeiros sobejos da arte em sua vida?
Tudo começou quando li um livro por completo pela primeira vez (“Sagrada Esperança”, de Agostinho Neto), para além dos textos que vinham nos nossos livros de português do ensino primário.
As telenovelas brasileiras, os filmes, etc, influenciaram de uma certa forma para o meu gosto pela arte, devido aos papeis dos personagens, as estórias, as surpresas, por ai em diante.
Mas de uma forma resumida, o amor, a paixão pelas artes se manifestou ainda cedo em mim. Tanto que hoje em dia, não vivo sem assistir um bom filme, sem ir ao teatro de vez em quando, de ler um bom livro e de escutar uma boa música.

4) E a vontade de escrever mais seriamente?
Naquela de contar histórias, muitas das vezes improvisadas para amigos da zona e colegas da escola, algum tempo depois, eles próprios aconselharam-me a escrever a sério e mostrar para o mundo, pois eu tinha talento para tal (segundo eles).
E dai comecei, em 2012.

5) Conte pra nós um pouco como é sua vida, o que faz, no que trabalha, se estuda, os divertimentos, a cena cultural em Moçambique (lembre-se que estou entrevistando você a partir do Brasil e tenho minhas curiosidades):
Bom, eu levo uma vida muito simples, curso ciências policiais pela ACIPOL (Academia de Ciências Policiais). A residir em Maputo, sempre que posso desloco-me à cidade de Quelimane onde sou patrono de um projecto (Allien Eventos), que promove lanches para os meninos de rua, pelo menos uma ou duas vezes por ano.
Como qualquer jovem da minha idade, também tenho os meus momentos de lazer, que no fundo, também envolvem a cultura, música, filmes, teatro (principalmente).
A cena cultural em Moçambique está no seu mais alto nível, talentos não faltam nessas terras de Machel, mas acredito que estaríamos melhores ainda, se tivéssemos mais apoio por parte do governo.
Mas enquanto não há esse apoio, nós os artistas fazemos a nossa parte (e fazemos bem).

6) Fale sobre Valério:
De uma forma resumida:
“Valério" conta a história de um menino de rua e usuário de drogas, que no desenrolar do conto conhece alguém, que sou eu (conto a história na primeira pessoa), e graças a Deus ganha uma oportunidade de mudar de vida, e por acaso muda. Contudo, passou por altos e baixos, superando vários obstáculos.
E para a surpresa de todos, no final de tudo, quando tudo parecia estar bem, cometeu o maior erro da sua vida, que foi… (Só lendo) hehehe.
Por que Valério?
Porque foi uma forma de homenagear o meu irmão mais novo, que infelizmente já não se encontra no mundo dos vivos, não só, quando procurei a origem do nome descobri que Valério significa "robusto", "cheio de vigor", "cheio de saúde" e e até "valente". Vem da palavra latina “valere”, que significa "ter saúde". E isso se enquadrava perfeitamente no personagem, e dai ficou.

7) E agora, está preparando algo novo para seus leitores?
Sim.
Já agora estou a negociar com algumas editoras, pretendo lançar ainda este ano uma obra poética, intitulada "Poemas Genuínos", que conta com o prefácio do grande escritor Helder Diniz e com a capa do grande artísta plástico Jõao Timane.

8) Como você sente hoje o mundo das criações artísticas em Moçambique? Pode considerar que há uma arte genuína ou a influência de outros países é mais determinante? Por favor, comente sobre isso:
O mundo das criações artísticas em Moçambique está e sempre esteve bem, apesar das dificuldades que os artístas enfrentam cá. 
Quanto às criações artísticas, nós, os artístas contemporâneos é que sofremos um pouco das influências dos outros países, por causa dos intercâmbios, da mídia, etc. Mas sem perder a originalidade e o foco, que é de transmitir a nossa cultura para os outros cantos deste mundo.

9) Tem alguma pergunta que não fiz mas que você gostaria que eu tivesse feito e não fiz? Se tiver, faça você mesmo e a responda, por favor.
Acredito que não, através das tuas perguntas acabei abordando um pouco de tudo,
O essencial ficou.



Texto: Escobar Franelas
Fotos: página de Nélio Gemusse no Facebook

Participação na Banca de Poesia - São Miguel Paulista




Participar como convidado da Banca de Poesia foi uma das grandes experiências que tive na vida. O encontro, promovido pelo Movimento Aliança da Praça (MAP), no dia 30 de julho, na banca de jornal da família de um dos organizadores (Rafael Carnevalli), foi de uma beleza tão indescritível que o relato aqui não vai sequer triscar no que foi a energia do momento.
Eu já tinha sido convidado numa outra oportunidade, quando dividiria o espaço com meu bróder Akira Yamasaki. Mas aconteceram problemas no trabalho e tive que declinar do convite aos 45 do segundo tempo. Mesmo com essa mancada das bravas, o Rafa me bancou e chamou de novo. Dessa vez, fui! Aliás, iria mesmo que acontecesse um dilúvio.
Cheguei lá em clima de intimidade, um pouco nervoso - confesso - ele montando os "bagulho", eu tentando disfarçar o medo de enfrentar a juventude. Parece quase uma idiotice repetir esse mantra, mas o friozinho na barriga quase vira resfriado na virilha em certos momentos... como naquela noite! 
Pra aliviar a tensão fui pra padaria prum café, encontrei com Akira dando uma forrada no estômago, na saída da padoca a Rosinha nos encontrou e ficamos  papeando. O sr. Carnevalli chega na humildade geral, sempre com a voz branda, quas epedindo desculpas por entrar na conversa, cumprimenta o Akira (ainda não tinham se visto), trocam elogios mútuos e... bora começar? Bora lá!
O mote do encontro era um novo lançamento de meu romance de 2011, Antes de Evanescer, na banca. O mestre de cerimônia inicia lendo a 4ª capa do livro, depois dá o apito inicial para o sarau, chama o povo para o microfone aberto, convoca eu para contar umas groselhas e abobrinhas sobre o livro, apresenta uma pequena cantata literária com o Lobinho e a Tayla, a partir de poemas meus dispersos pelo universo internético; depois a molecada vem de novo, exclama, declama, reclama, inspira, transpira, fala, dá o recado.
Tudo lindo demais...
Pra tentar estragar o clima de extasia, a cada cinco minutos uma viatura vem devagar, para, presta atenção, pousa seus olhos nervosos naqueles jovens que ousam declamar poesia e arranhar falas teatrais, reinterpretar músicas, abrir os braços para os abraços sinceros, sorrir, quando poderia estar fazendo arruaça, fumando, bebendo, roubando, pedindo... mas não!  Desconfio que pesam mil argumentos em suas cabeças atônitas para abordar poetas soltos praticando o escambo da arte pela arte sob a lua brilhante. Em determinado momento surgem algumas motos, estou declamando, colam bem de ladinho, quase param, fazem barulho com seus escapamentos engasgados mas... volto a repetir, "o que pode o aparato policial contra a arte"? ainda não está na Constituição que falar poemas em público seja passível de prisão, apreensão e multa!
Feitas as contas, só comemorações. A Banca de Poesia, que acontece mensalmente ali, em frente à biblioteca Raimundo de Menezes, na av. Nordestina, altura do nº 780, cumpre o papel quixotesco de ser a semeadura de alimentos para o qual há estômagos não preparados. Em tempos de transgênicos, a pureza e a leveza podem maltratar espíritos secos e duros.
Seja como for, gratidão, todos/todas!

Texto: Escobar Franelas
Fotos: arquivo Banca de Poesia
Capa do livro: arquivo EF