Participar como convidado da Banca de Poesia foi uma das grandes experiências que tive na vida. O encontro, promovido pelo Movimento Aliança da Praça (MAP), no dia 30 de julho, na banca de jornal da família de um dos organizadores (Rafael Carnevalli), foi de uma beleza tão indescritível que o relato aqui não vai sequer triscar no que foi a energia do momento.
Eu já tinha sido convidado numa outra oportunidade, quando dividiria o espaço com meu bróder Akira Yamasaki. Mas aconteceram problemas no trabalho e tive que declinar do convite aos 45 do segundo tempo. Mesmo com essa mancada das bravas, o Rafa me bancou e chamou de novo. Dessa vez, fui! Aliás, iria mesmo que acontecesse um dilúvio.
Cheguei lá em clima de intimidade, um pouco nervoso - confesso - ele montando os "bagulho", eu tentando disfarçar o medo de enfrentar a juventude. Parece quase uma idiotice repetir esse mantra, mas o friozinho na barriga quase vira resfriado na virilha em certos momentos... como naquela noite!
Pra aliviar a tensão fui pra padaria prum café, encontrei com Akira dando uma forrada no estômago, na saída da padoca a Rosinha nos encontrou e ficamos papeando. O sr. Carnevalli chega na humildade geral, sempre com a voz branda, quas epedindo desculpas por entrar na conversa, cumprimenta o Akira (ainda não tinham se visto), trocam elogios mútuos e... bora começar? Bora lá!
O mote do encontro era um novo lançamento de meu romance de 2011, Antes de Evanescer, na banca. O mestre de cerimônia inicia lendo a 4ª capa do livro, depois dá o apito inicial para o sarau, chama o povo para o microfone aberto, convoca eu para contar umas groselhas e abobrinhas sobre o livro, apresenta uma pequena cantata literária com o Lobinho e a Tayla, a partir de poemas meus dispersos pelo universo internético; depois a molecada vem de novo, exclama, declama, reclama, inspira, transpira, fala, dá o recado.
Tudo lindo demais...
Pra tentar estragar o clima de extasia, a cada cinco minutos uma viatura vem devagar, para, presta atenção, pousa seus olhos nervosos naqueles jovens que ousam declamar poesia e arranhar falas teatrais, reinterpretar músicas, abrir os braços para os abraços sinceros, sorrir, quando poderia estar fazendo arruaça, fumando, bebendo, roubando, pedindo... mas não! Desconfio que pesam mil argumentos em suas cabeças atônitas para abordar poetas soltos praticando o escambo da arte pela arte sob a lua brilhante. Em determinado momento surgem algumas motos, estou declamando, colam bem de ladinho, quase param, fazem barulho com seus escapamentos engasgados mas... volto a repetir, "o que pode o aparato policial contra a arte"? ainda não está na Constituição que falar poemas em público seja passível de prisão, apreensão e multa!
Feitas as contas, só comemorações. A Banca de Poesia, que acontece mensalmente ali, em frente à biblioteca Raimundo de Menezes, na av. Nordestina, altura do nº 780, cumpre o papel quixotesco de ser a semeadura de alimentos para o qual há estômagos não preparados. Em tempos de transgênicos, a pureza e a leveza podem maltratar espíritos secos e duros.
Seja como for, gratidão, todos/todas!
Texto: Escobar Franelas
Fotos: arquivo Banca de Poesia
Capa do livro: arquivo EF
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