Akira Yamasaki - mentor e mestre de cerimônia do Sarau da Casa Amarela |
A produção literária passa por mudanças profundas. Novas tecnologias, a busca pela renovação da linguagem, o boom dos saraus, a horizontalidade nas relações sociais, tudo isso fez com que nos últimos 15 anos surgisse um fenômno inédito: os marginais, movimento independente surgido nas periferias, provocando o deslocamento dos holofotes do mundo editorial do centro para as bordas.
Pouco ou nada devendo à geração mimeógrafo – que na década de 1970 eclodiu como os primeiros“marginais” na literatura brasileira – a nova turma não discute isso. Estão todos ocupados em reescrever a própria história, criar novas formas de atuação política e social, empreender percursos artísticos e culturais e retroalimentar a autoestima dos excluídos, lição aprendida e apreendida com o movimento hip-hop, seu antecessor mais direto. Os extremos geográficos de São Paulo sempre tiveram sua ebulição artística.
O diferencial é que hoje os coletivos assumem cada vez mais a responsabilidade de visibilizar a própria produção. Prova dessa mudança foi a aprovação em 21 de junho de 2016 do Projeto de Lei 624/2015, de Fomento Cultural das Periferias, pela Câmara Municipal de São Paulo (cujo primeiro edital foi lançado esta semana, após sanção do prefeito Fernando Haddad).
A força simbólica desta lei vem do fato dela ter sido escrita com várias mãos por grupos organizados, mesmo alguns que sequer estão formalmente constituídos, mas são representativos em suas expressões. Desde as primeiras movimentações na zona sul – com Ferréz e Sérgio Vaz (que acaba de lançar Flores de Alvenaria, seu 8º livro) – tanto a Sampalândia quanto a Grande São Paulo apontaram trajetórias: surgiram nomes como Sacolinha, Rodrigo Ciríaco, Akira Yamasaki (desde a década de 70 na militância), Érica Peçanha, Ni Brisant, Elizandra Souza e Alessandro Buzo. E coletivos como Cooperifa (zona sul), Sarau da Brasa (zona norte), Casa Amarela (zona leste), Associação Literatura no Brasil (Suzano) e Perifatividade (Heliópolis), são alguns, entre centenas de espaços (há ainda aqueles sem endereço fixo, como o Movimento Aliança da Praça, em S. Miguel, o Sarau da Galeria, em Suzano e os Poetas Ambulantes), que têm levado a literatura a dialogar com outras artes e a sustentabilidade, a cidadania e a articulação em redes.
O panteão – todos enfatizam – é bem maior e inclusivo, podendo representar em qualquer antologia que retrate o momento literário deste período.
texto e fotos de Escobar Franelas
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