Foto de Luka Magalhães |
A poesia tem um notável poder de persuasão cuja carga simbólica está além da compreensão do senso comum, ainda que por vezes tenha que passar por ele. Os diversos elementos constitutivos de um poema (poder imagético, musicalidade e ourivesaria, entre outros possíveis), devem, a rigor, “explodir”, sublimar, espantar, em algum ou vários momentos do episódio poético, seja através da leitura, da audição ou da exibição.
Faço esta consideração ao iniciar o relato sobre Entrelaçamentos, segundo livro de poesia de Inês Santos. A obra poética desta paulistana que estreou tarde (Inês só vingou literariamente após a aposentadoria como educadora), contém a síntese desta proposta que ensejo aqui. Se para alguns, a poesia pode ser um dédalo labiríntico, Inês trata de economizar em recursos e facilitar o acesso e entendimento. Não que isso torne seu texto simplório. Pelo contrário. Ao optar pela clareza, concisão e objetividade, seus versos fluem, simpáticos e inteligíveis, para degustação tanto de teóricos quanto de um público leigo, mas sensível.
Um breve passeio pela obra e encontramos na quarta capa uma nota cristalina da também poeta Adriana Aneli em sua simpática apresentação: “A poesia. O olhar generoso sobre coisas pequenas-imensas. O inconformismo com aquilo que ainda se pode mudar. Ao deixar a palavra brincar no papel branco, a poeta nos convida a explorar o mundo com curiosidade infantil.” Pronto! Aí está o endosso do que falei antes. E se há necessidade da prova cabal, vamos a ela, leiamos a fartura de Entrelaçamentos:
Na geografia
Do tempo
O espaço
É movimento, em TOPOLOGIA (p. 111)
No entanto, a poeta não foge à luta e seu labor também é uma leitura atenta do mundo e tempo presentes:
Numa mina
De ouro
Derretem-se
Vidas, em SERRA PELADA (p. 81)
A este olhar dedicado ao humano, soma-se outro, delicado, em diálogo contido com o lirismo:
Amar é para
Qualquer momento
Sigo só e adiante
Se já encontrei ouro
Espero diamante., em TUDO TEM SEU TEMPO (p. 131)
Este é o segundo livro de Inês, obra que amplia as variáveis discursivas e estéticas, já previstas e insinuadas em Mergulhos, o livro anterior. É possível observar, desde a composição gráfica da capa e em toda a diagramação, que a poeta procura sempre o campo aberto, o espaço em branco, o respiro, o equilíbrio sonoro, textual e visual. Entrelaçamentos é para ser lido, sorvido, degustado, como um vinho de boa safra. Em cálice elaborado por ourives.
Serviço
Livro: Entrelaçamentos
Autora: Inês Santos
1ª edição da autora, SP, 2018
Contato: https://www.facebook.com/ignes.sollua
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