Ela veio pela rua observando a calçada quase vazia. Chegou em frente à banca. Fechada. Olhou ao redor. Tudo parado. Não acreditando que pudesse estar enganada, volveu o corpo bem devagar, e retomou o caminho de casa. Uma moça vinha vindo.
- Bom dia. Desculpe o meu engano, não tô gagá não, mas hoje é domingo?
- Não, senhora, eu entendo. Hoje não é domingo não. Tá assim tudo fechado por causa da pandemia. Aliás, a senhora deveria estar em casa, protegidinha desse vírus.
- Pan?... Pan... o que é isso?
- Nossa! A senhora não assiste televisão? Não sabe que a cidade está de quarentena?
- Eu "vi" eles falando um negócio na televisão sim, mas é tanta coisa que eles dizem que nem sei no que acredito.
- Então vou tentar explicar pra senhora, rapidinho. Está tendo um surto de uma doença muito grave, que atinge principalmente pessoas mais idosas, como a senhora. Por isso que seria bom ir logo pra casa e ficar lá, quietinha.
- Mas, e como vou fazer pra jogar no bicho?
- Não vai ter jogo do bicho não, senhora!
- Nãããooo?!...
- Não senhora.
- Minha Nossa Senhora. Era só o que me faltava. - E saiu andando sem sequer agradecer a atenção da outra. - Esse governo... esse bem maldito governo. ´magina!, faz bem uns setenta anos que faço minha fezinha e agora, no fim da vida, eles inventam esse negócio de doença só pra acabar com o meu prazer. Eles agora deram um belo de um golpe baixo, viu!
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