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4.3.13

Resenha: Nunca Fui Santo – O Livro Oficial do Marcos



Nunca Fui Santo – O Livro Oficial do Marcos (Depoimento a Mauro Beting)
    
   Foi assim: meu amigo Del, corintiano, passou uma msg acho que via Facebook, “Escobar, vc já leu o livro do Marcos, o Nunca Fui Santo?”. Demorei um pouco para entender sobre o que ele estava falando. Respondi que não. Na semana seguinte, numa manhã em que iríamos levar nossos alunos para um dia de recreação em Salesópolis, SP, ele tirou o livro de sua bolsa e foi falando, “cara, você precisa ler isso, meu. Eu já era fã do Marcos, e depois de ler esse livro, fiquei mais ainda”.

Capa do  livro sobre São Marcos
   Levei o livro comigo e já na pousada li a Apresentação feita pelo Mauro Beting, que também é coautor, incumbido de transformar em literatura o depoimento do arqueiro. Naquela mesma noite, enveredei pelo texto fluido e contagiante. Dois dias depois já tinha terminado a leitura. Pelo celular, avisei o Del que iria lhe devolver o livro. Mas eis que a musa, flamenguista, tomou-me das mãos, “também quero ler, você sabe que gosto do Marcos!” Depois foi meu filho, santista, que enveredou pelas histórias do Santo e, agora, por último, o caçula também se dispôs a saber um pouco mais do goleiro titular da seleção campeã do mundo em 2002. Até agora não consegui devolver livro para o dono.

   Todos sabem que sou palestrino, uma ilha no meio de tantos distintivos. Mas o Marcos é uma das unanimidades entre o meu pessoal. E, nesse caso, contrario Nelson Rodrigues, nem toda unanimidade é burra.

   Agora, deixando de lado todo esse confessionário, vamos à obra. Narrado em 1ª pessoa, o texto é despretensioso, cronológico e carregado nos fatos pitorescos, o que facilita a leitura, principalmente aqueles que não estão acostumados. O bom humor impera e contagia, somos levados pelas palavras do ídolo palmeirense à infância, às primeiras experiências futebolísticas, ao mundo particular e rico, porém modesto e humilde, por onde transita o eterno dono da camisa 12 alviverde. Como é comum em depoimentos que buscam a atingir a camada mediana do público e carregado no verniz subjetivo, Marcos se contradiz. Mas essas antíteses são típicas de quem tem respostas (quase sempre) definitivas – e que é incessantemente cobrado por elas. Ao mesmo tempo, isso o humaniza ainda mais, colocando-o à vontade com sua memória e suas interpretações. Paradoxalmente, sendo humanizado – justificado por sua memória – Marcos sacraliza ainda mais suas palavras. 

   O depoimento, colhido e revisado, nunca perde o viço, uma aura mítica que circunda seus gestos e palavras, potencializando o bom moço, bom filho, bom pai e bom marido. Marcos já cometeu gafes grosseiras (apoiar Maluf nas eleições de 2002 talvez tenha sido seu maior “frango”), mas - eis aí outro paradoxo - isso mais o aproxima de nós, mortais, com direito a erros de orientação e percurso. Erros, aliás, sacralizados também com sábias palavras, quando questionou a infalibilidade de todo protetor de metas, asseverando há não muito tempo atrás, "todo goleiro tem direito a tomar gol de pênalti". Ora ora ora, justo você São Marcos, que ganhou esses contornos áureos justamente pela precisão com que salvou o arco do Palmeiras em não poucas ocasiões. Professoral ou filosófico, esse tom de dignidade com que defende seus amigos de profissão, somado ao restante de suas ações, mais Santo o torna. Amém!


Nunca Fui Santo – O Livro Oficial do Marcos (Depoimento a Mauro Beting)

SP: Universo dos Livros, 2012, 1ª edição.

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