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29.8.13

Bons tempos, aqueles - II (The Salad Maker / O Jardim das Horas / Saulo Duarte e a Unidade)

(Durante todo o ano de 2011 fiz, com o pessoal do Coletivo Ounão, a cobertura colaborativa para o Circuito Fora do Eixo no Studio SP. foi uma experiência visceral e de muita troca de energia e aprendizado in loco. Esta noite retratada abaixo, por exemplo, foi adrenalina a mil, catarse total)

 

texto por Coletivo Ounão/Escobar Franelas
fotos por Adriano Singolani

Projeto Cedo e Sentado celebra 10º encontro

Parceria do Studio SP (rua Augusta, 519, centro, SP) e Circuito Fora do Eixo, o Projeto Cedo e Sentado comemorou nesta última terça, dia 3 de maio, o seu décimo encontro. Os convidados para a celebração foram as bandas The Salad Maker, de São Paulo; O Jardim das Horas, do Ceará, e Saulo Duarte e a Unidade, do Pará. Completaram o time dos festejos os dj Diosanto e Fiodiback, os vj do Clube de Cinema Fora do Eixo com suas projeções personalíssimas nos dois telões da casa, e a sempre abastecida banquinha homônima, com seus artesanatos, cd, dvd, livros, flyers e zines, para a degustação informativa do público em geral. Ah, sim – claro! – e o festivo público prata da casa.
Eles foram chegando e se achando, recepcionados pela cortesia sonora das pick-ups, até que o The Salad Maker subiu ao palco, tornando-o uma ensolarada Califórnia dos anos 60 e 70. Pois o quarteto paulista, formado em Londres em 2008, agora de volta para essas terras, pratica um rock direto, bonito de se ver e gostoso de se ouvir, com uma formação clássica: Renato Vanzella, vocal e guitarra; Thiago Romano, baixo e backing vocals; Denis, guitarra e backing vocals; e Ricardo Pardof, bateria. As roupas, barba e cabelos ajudam a completar esse look retrô, ainda que seja um híbrido de todas essas referências: Califórnia, Londres, São Paulo, e também o rock dos anos 80 e 90.
Certa vez o poeta e jornalista potiguar Dailor Varela disse que “o rock é a cultura mais resistente do mundo contemporâneo”. O The Salad Maker, com sua leitura peculiar dessa miscelânea de influências, está aí para provar que o poeta ícone do Poema-Processo estava certo. O rock é muito mais que um estilo musical, seu legado para o mundo é uma profunda aculturação observada em gestos, palavras, manifestações, independentemente da geografia. E que se traduzem em zilhões de corações pulsantes sobre a sua imantação sinestésica.
Depois do break para as necessárias idas ao bar ou banheiro, era hora de balançar os esqueletos de novo ao som contagiante dos dj da casa. E então O Jardim das Horas toma o palco. Outonal, como o tempo que agora faz nesses trópicos, o grupo exibe mais que um jardim, mas um quintal inteiro de sofisticadas texturas sonoras, amparadas por uma poesia sóbria, de singelas influências modernistas/concretistas. A insinuante vocalista Laya Lopes, de voz aguda e rascante, acompanhada pelos ótimos Carlos Eduardo Gadelha, na guitarra e programação; Raphael Haluli, no baixo e vocais; e Beto Gibbs, na bateria, vale-se de um rico arsenal de gestualizações, numa performance que irradia equilíbrio, carisma e sensualidade no palco. A releitura sintetizadora de “Construção”, de Chico Buarque, e o convite para que Daniel Groove e Saulo Duarte dividissem o palco com ela, numa sessão reggae malemolente e recheada de jamaicanidade, emprestou ao show da banda uma ar de peculiaridade ímpar. Jah deve ter gostado. O público, mais ainda.
A pausa providencial foi só um intermezzo para a chegada do catártico Saulo Duarte e a Unidade (Klaus Sena, no baixo; João Leão, teclados; Bruno Souto, percussão; e – de novo – Beto Gibbs, bateria), além do próprio, na voz e guitarra.
Autor de uma profusão de hits candidatos à dominação de rádio AM, e uma musicalidade que equilibra-se elegante e confortavelmente entre o risível e o popular, Saulo e a Unidade é entretenimento garantido, com uma instrumentação “pegajosa”, letras humoradas, empatia de sobra e todos os elementos necessários para a sedução e catarse da platéia. Prova dos nove foi ver toda a galera dançando alegremente, inclusive quando novamente chamou ao palco Daniel Groove, agora acompanhado de Diogo Soares, para nova intervenção vocalística.
Toda noite Cedo e Sentado tem algum tipo de predominância. A desta terça, além das participações bisadas de Saulo Duarte, do baterista Beto Gibbs e do entertainer Daniel Groove, reservou outro elemento: a empatia dos vocalistas. Não que isso seja fato raro. O palco do Studio SP tem sido um oásis de grandes bandas, notáveis compositores, excelentes músicos e ótimos vocalistas. O que diferenciou-o dessa vez, porém, foi o fato de que três expressões tão diferenciadas, de repertórios, performances e timbres muito distintos, ainda assim eram também primores de simpatia e carisma.
Convenhamos, isso é quase um epifania. Sorte de quem estava lá.

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