(Durante todo o ano de 2011 fiz, com o pessoal do Coletivo Ounão, a cobertura colaborativa para o Circuito Fora do Eixo no Studio SP. foi uma experiência visceral e de muita troca de energia e aprendizado in loco. Esta noite retratada abaixo, por exemplo, foi adrenalina a mil, catarse total)
Como foi: C&S Fora do Eixo 26/4 com Maglore e O Melda
texto por Escobar Franelas | Coletivo Ounãofotos por Adriano Singolani



Noite quente de terça-feira
Chego às 10 da noite no Studio SP, na
rua Augusta, centrão da Sampalândia. Noite fria lá fora, aqui dentro o
clima esquentando. O espaço do Studio é muito bom, dividido numa área
retangular com o palco central, perfeitamente integrado ao meio. No
todo, há três bares dispostos providencialmente, um logo à entrada, à
direita do palco. Outro à esquerda, bem ao fundo. Sobre a cabeça deste
último estende-se uma escada que leva ao pavimento superior, onde mais
um bar nos aguarda.
Em frente ao palco fica a cabine do vj
da casa, responsável pela distribuição das imagens nos dois telões, um
logo à entrada e outro no mezanino acima. No caminho entre o palco e o
backstage e os banheiros fica a mesa de som, e do outro lado, a meio
caminho de uma das portas de saída, está a cabine do dj e a banquinha do
Fora do Eixo, sempre repleta de discos, livros, camisetas e outros souvenirs da tribo do Circuito Fora do Eixo.

Enquanto a galera flerta à vontade, com seus copos e garrafas à mão, observo a profusão psicodélica nos telões enquanto das pick-ups
escapa um som convidativo para a pista. Poucos se aventuram no início,
um pouco pela influência do frio lá de fora, e muito pela falta de
álcool suficiente nas veias. A pista, porém, está a postos. Entre gorós,
biritas, cervas e muita azaração, a galera vai chegando.
Luzes rútilas, caixas de som
efervescendo, as veias da noite antes fria agora já pulsam quentes, a
simpática banquinha do FdE toda sortida, colorida, cheia de vida,
conteúdo e independência, os minutos avançam para uma madrugada que
promete ser memorável.

Camila Cortielha, hostess da
casa, sobe e anuncia primeira atração, O Melda. “Banda de um homem só”,
ou monobanda – como se autoidentifica – O Melda é Claudão Pilha,
ex-baterista da anárquica banda Os Meldas, que incendiava Belo Horizonte
nos anos 80 e 90. Depois tocou no Estrume´n´tal.

Dotado, porém, de curiosidade, sarcasmo e virulência suficientes, O Melda tornou-se um performer noisy
solo. Com todas as bases pré-gravadas, ele, guitarra na mão, macacão de
bombeiro (ou borracheiro, tanto faz), e seu indefectível capacete
percussivo, tornou repentinamente a noite mais alegre e quente, botando o
público para cantar e dançar sob o efeito de sua letras hilárias. Com
um som punk gutural gestado no melhor estilo do it yourself, desfilou em seu show um rosário de músicas exarcebadas, engraçadas e escrachadas, no maior vigor juvenil.

Após o set d´O Melda, a bela Camila voltou ao palco, agora travestida de Mi Simpatia, heterônimo com que assina suas incursões pelas pick-ups, despejando nas caixas tecnos viajandões, alguns trazidos da década de 1980 até os dias atuais. A noite ainda mais quente…

Por fim, o Maglore (Teago Oliveira, voz e
guitarras; Léo Brandão, teclado e guitarras; Nery Leal, baixo; e Igor
Andrade, bateria), fez a ponte aérea entre a nova cena roqueira baiana e
a vigorosa poesia brasileira presente na música popular. Baianidade à
mostra, o Maglore (corruptela linguística de “My Glory”), exibiu suas
sutis viagens sinestésicas que associam diversas informações sonoras,
que passam por Mutantes/Caetano Velos (“Baby”), como ficou provado na
belíssima interpretação do grupo.


O show começou mais emepebístico mas foi
crescendo em pulsão e atitude, até um final apoteótico que juntou no
mesmo caldeirão tanto Raul Seixas e Belchior, quando uma nervosa massa
sonora metaleira O público, ávido, queria mais, mas aí já era hora da
intevenção da simpaticíssima (ok, não vou me furtar a manter esse
pleonasmo sincero), Mi Simpatia para acalmar o que já estava fervendo,
fechando positivamente mais uma noite de ouro do Projeto Cedo e Sentado,
parceria do Studio SP com a Casa Fora do Eixo.
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