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31.1.19

Tudo que a gente gosta é nosso

Foto: autoria reconhecida





Um textículo: "emudecimento"


os helicópteros desfilam no céu
aqui embaixo tudo é rotina: a feira
o pagamento no débito, o sol quente
a fila no caixa do supermercado
e o medo: sobretudo o medo
medo de quê? talvez de não se sentir
à vontade em não ter medo

paro no parapeito, olho pro céu
carregado de nuvens cinzas de verão
de pipas coloridas desfilando no vento
de helicópteros e seus roncos potentes
e fuzis que me miram friamente

olho pra esse céu e pergunto num sussurro
o que é isso, meu deus?
por que não consigo sequer escrever um poema?

e o céu, esse paraíso impassível
fecha-se e chora
essa água que não lava a alma
essa  lava que lava meu rosto
inundando meu choro

a cara marruda do céu
escancara
a milícia que não deixa
essa meditação chegar às nuvens
- tapetes da casa de deus



30.1.19

Um textículo: passarasas"


nos vãos entre terra e céu
entre montanha e mar
sei que voo
sei que volto
à sala de estar

gaiolas abertas podem ser
ninhos sem fechaduras

27.1.19

Um textículo: "chalezinho vermelho"

Fonte: Pinterest

Chalezinho vermelho era uma construção antiga que ficava numa rua sem saída nos confins de Itaguases. Lá, a velhinha vivia só. Vezoutra recebia a visita da netinha, que lhe trazia notícias da rua e alguma coisa pra ela comer, mandada pela filha, que trabalhava longe e vinha pra casa para dormir. As três mulheres viviam só. Com as chuvas de verão, as bocas de lobo carregadas de sujeira não suportaram, vomitaram toda a excrescência depositada nas artérias debaixo da pele dura do asfalto. As águas diluviaram e pela primeira vez subiram acima do combinado, alcançaram a cama da vovozinha e fizeram dela uma jangada. Mãe e filha, quando enfim conseguiram aproximar-se para socorrê-la, a encontraram surfando, a quilha do estrado batendo na janela. Quando os bombeiros chegaram, já tinha mudando de categoria, agora praticava vela com um varal, mesmo quase cega, semi-paralítica e um pouco surda. 
Segundo as últimas notícias, os militares suspenderam as buscas por causa do mau tempo. Amanhã cedo continuaremos à procura das duas, informou o comandante Lobão, responsável pelas buscas. 

26.1.19

Um textículo: "ad nauseam"


no fim da tarde o comerciante
recolhe o lixo acumulado.
depois de arrumá-lo junto ao portão
ele olha de lado sem desconfiar
de nada, estica os braços e passa
a mão sobre a dor imaginária
junto à lombar
franze a testa, não sabe se pela dor ou
de desgosto
quantos lixos acumulou e
nunca jogou fora? quais?
quantos presentes vendeu? quantos deu?
quais recebeu?

ao cair da tarde, o homem
sob a luz laranja, pálida e encardida
se desfaz de bens que alguém
revolverá daqui a pouco
ambos sem desconfiar que eu os furto
roubo suas agruras, valores
para esse poema cabisbaixo
(poemanenhum poemanada antipoema nãopoema)
poema desconfiado de que
somos luxo: todo luxo é descartável

alguns - bem poucos! -, recicláveis

25.1.19

Um textículo: "notícia que não altera a noite"


o carro, cansado do motorista
alcoolizado (sétima vez essa semana)
desfez-se dos freios
beijou e abraçou a árvore

morreram os três

24.1.19

Um textículo: " disciplina da gangorra"


estou desistindo da poesia
maldição que me acorda 
às três da madrugada 
sanguessugando as células intangíveis da alma

estou desistindo da poesia 
pois estamos em descompasso
ela vem sempre cedo demais
para minha compreensão atrasada

para a poesia, há de se ter 
essa disciplina da gangorra
para a montanha, o vale
e ao planalto, a planície
para a cobra, o rato
e aos bens, os males
aos cabelos, a calvície
ao cimento, o mato
e a cada pessoa que morra
o amor nos recrie e nos envolva 

estou desistindo da poesia
antes que a poesia desista de mim

22.1.19

Um textículo: "três atos"


a manhã abre a cortina

a tarde quente parece uma sinfônica em silêncio
no intervalo entre dois atos

as nuvens precipitarão dos olhos
durante o crepúsculo

21.1.19

Um textículo: "amor"


que seja envolvente
ardente, diligente, gradiente
radiante
silente, contundente, incoerente
mas que seja 
antes de tudo, ente
(par da gente)

20.1.19

Um textículo: "as ruas de viaver"

foto André Vidotto, 2018

fico um tempo indefinido olhando a rua
seu tráfego de espantos
de acertar remetente ou perder destinatários

vivo absorto no mundo da musa que passa por mim
em declives insinuantes e curvas incertas
retas congruentes ou paralelas
e janelas amplas para contemplação de abismos laterais

via de não andar à ré
a linha do asfalto não permite saber nada do ponto final

por mais que tenha andado
sigo parado em crua solidão

uivo para o silêncio noturno das luas paradisíacas
e sombras fantasmagóricas

quantos defuntos enterrarei?
qual o local do próximo tropeço?
quando derraparei - e talvez até me equilibre - 
sem ofegar?

fixo esse tempo infinito na alma nua
e a visão privilegiada amplia a vertigem 
de ver além do olho
para depois desatar as amarras 
e permitir que a via vá, suavemente
dobrar outras ex-quinas

voar
no próximo passo

19.1.19

Um textículo: "Peri feria"


- Fá, vê lá na geladeira o que que tem pra comê!
- Fá, vê lá no seu Sampaio se ele não faz uma linguiça fiado pra temperar melhor esse almoço.
- Fá, vê lá se no tanque não tem um toquinho de sabão pra eu poder ao menos lavar o sovaco de um jeito decente. 
- Fá, vê lá o que tá acontecendo porque tem tanta viatura na frente da casa da dona Lindaura.
- Fá, vê lá o caminhão que tombou pra ver se não tem nada que dá pra catar pra gente. 
- Fá, vê lá como pastor da igreja se não tem uma cesta básica pra arranjar pra gente.
- Fá, vê lá que desculpa você vai dar pro seu Ananias sobre o aluguel, hein?! Tem que ser uma nova mas na medida da do mês passado, pra não parecer mentira.
- Fá, vê lá que tem uns homens aí na frente e acho que são da empresa de corte de energia.
- Fá, vê lá se a dona Augusta não vende uma vela ou um pacote fiado. Explica que cortaram a luz e a gente só vai ter grana na semana que vem.
- Fá, vê lá com a Adélia se ela pode ir lá amanhã lá naquela clínica que ela indicou pra gente ver logo aquele negócio da menina...
- Fá, vê lá que tem Testemunha de Jeová lá no portão!
- Fá, vê lá qual dos mercado tá com mais promoção hoje.
- Fá, vê lá o que você vai falar, oh!
- Fá, vê lá que que tá acontecendo pra essa gritaria toda.
- Fá, vê lá em quem você vai votar esse ano, hein!... 
- Fá, vê lá o resultado do jogo do bicho.
- Fá, vê lá o que você vai fazer com essa faca!
- Fá, vê lá o que cê tá pensando...

foto Elisȃngela Leite, 2015

15.1.19

um textículo: "chuva"


parece ser isso:
um baile de águas.
as gotas, sortidas
parecem raios de sol 
- milhares deles - que
abraçam a pele sofisticadamente 
(os dedos agudos, depois
a massagem deslizante).

eu, convidado a dançar 
trôpego, duro, sólido
besta que só, só corri
me abriguei sob um 
teto duro e sólido
e não dancei - medo de tropeçar
na abóbada da vergonha
sob a luz do arco-íris

13.1.19

um textículo: "dádiva"


Dentro do quarto, a cobra repousava. Ela, escovou os dentes, os cabelos, hidratou a pele, perfumou-se, rezou de joelhos, mordeu a maçã, desarrumou o lençol.
Adormeceu sob o efeito do veneno.

11.1.19

Um textículo: "embate"


algumas dores doem mais sérias
sisudas, sinceras em sua missão

outros sorrisos riem, de alma pra fora

algumas palavras falam, quando calam

nesse embate
o que me envenena me nutre?
quem me chora rio afora?
ou me ri, rio adentro?

algumas palavras calam, quando falam

e gente simples, como eu, fica nesse dessaber

9.1.19

Entrevista - Rogério Brito Correia (Literatura): Guarulhos, SP

Rogério, pelos olhos da fotógrafa e poeta Rosinha Morais 

UM OPERÁRIO DAS LETRAS

Rogério Brito Correia, operário, apaixonado por futebol, décimo segundo filho de um total de 14, nascido no interior da Bahia, e morando atualmente em Guarulhos, poderia ter percorrido os diversos caminhos previsíveis para quem vem “de lá” do nordeste. Um dia, porém, “a poesia o escolheu”, como ele mesmo nos diz. Através dos versos de cordel e dos minguados livros didáticos da infância e adolescência, ele foi levado às asas da literatura, vôo que nunca mais o deixou. Desde então, tal como Quixote, vem combatendo o bom combate bíblico, lutando contra os moinhos de vento da ignorância humana, através de várias atividades dentro do mundo literário. Neste depoimento, ele fala das várias frentes com as quais milita no duro embate em prol da arte, da cultura e da vida.

1) Quem é Rogério Brito Correia?
RBC: Um operário, um botafoguense, pai de Ana Clara, esposo de Lúcia Mendes, enfim, um poeta que nunca teve a pretensão de mudar o mundo, apenas compreendê-lo e tentando a meu modo transformar o cotidiano, às vezes sofrido, em versos. Sou da cidade de Itiruçu, interior da Bahia. Moro atualmente em Guarulhos. Filho de José Santos Correia e Antônia Brito Lago, décimo segundo filho da família de 14 irmãos.
Sou curador do Prêmio Guarulhos de Literatura e autor dos livros Telúrico Lunático (Editora do Carmo, 2018) e Cangalha Escangalhada (Gerúndio Edições, 2013). Publiquei em diversas antologias, jornais, revistas e fanzines. 
Coordenei o Sarau do Castelo Hanssen na Casa dos Cordéis, em Guarulhos, participei da peça de teatro Fala Sério Tia, de Osvaldo Alves. Sou membro e fundador do Grupo Olh’arte de Literatura, onde lançamos o Caderno Literário Catástrofe. Ministrei a oficina Exercício Poético com o poeta Vinicius Gonçalves de Andrade.
Ganhei o 1º Concurso Literário A Palavra em Prisma. Participei do segundo e terceiro Congresso Municipal: A Língua Diversificada Junto à Dinâmica das Línguas Naturais, realizado no Anfiteatro de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, organizado pelo professor e linguista Jairo Galindo. Também do III Fórum Mundial de Educação na discussão de Educação pela Autogestão. E do projeto de Bosco Maciel, Vida e Obras dos Poetas Nordestinos e Vida e Obra dos Poetas Guarulhenses, na Casa de Cultura Água e Vida.
Lá no interior da Bahia nunca tive acesso aos livros, não existia biblioteca, muito menos livraria, lia apenas o que aparecia nos livros didáticos, fragmentos de contos, algumas poesias, mas tinha um amigo que carregava alguns folhetos de cordel, foi quando peguei gosto pela literatura. Acho que não escolhi a poesia, ela me escolheu e sou sempre muito grato por isso. A poesia é a minha forma de encantar e desencantar o mundo:

Inevitavelmente poeta
Eu nunca pensei em ser poeta
Pensei em ser tudo na vida, menos poeta.
E hoje o que me resta é ser poeta
E ser poeta para mim, é tudo.
Quando eu cheguei aqui na capital
Vi que todos eram obcecados pelo capital:
Esqueceram de sentir a sensibilidade do poeta,
O devaneio do poeta
A riqueza e pobreza do poeta
Que à surdina de uma noite 
Escreve em um guardanapo de papel em um bar qualquer
Pensando nos poetas que passaram em sua vida:
Drummond, Cabral, Bandeira, Augusto, Baudelaire, Patativa,
Lorca, Pessoa, Zé Limeira, Homero e Neruda.
São tantos que deixaram suas marcas, não só nos livros
Mas nos corações cheios de acidez e doçura, na tortura,
Na loucura.
Aqui estou na “Paulicéia Desvairada” 
Vivendo vida modesta
Entre o caos e a sesta
Vou escrevendo poesia sempre que possível,
Mas é impossível fugir daquilo que me persegue.
Não que eu seja digno de ser poeta
Mas a vida me fez assim:
Poeticamente válido 
Pateticamente sábio
Possivelmente vívido
Meramente morto
Espiritualmente solto
Sobriamente louco
E inevitavelmente poeta.
*poema do livro Cangalha Escangalhada

"A MINHA POESIA TEM UM POUCO DE SAGRADA, UM POUCO DE SANGRADA E UM BOCADO DE PROFANA" 

2) Quando você cita que “Acho que não escolhi a poesia, ela me escolheu”, aparece uma citação cuja origem é bíblica. O que há de sagrado na sua poesia? 
RBC: Estou um pouco perdido para responder tal pergunta, eu não sei o que há de sagrado em minha poesia, talvez a minha poesia se torne sagrada, quando atinjo de  alguma forma a irmandade em nossas catacumbas, nossos saraus, eventos literários, reunião de escritores, é aí que a magia acontece e nossas almas se elevam e nos faz transcender. 
Com o passar do tempo muda-se concepção de santificar ou demonizar o poeta, alguns que já foram “malditos”, subversivo, hoje nem tanto. Eu tenho muitas dúvidas, mas pensando bem, acredito que a minha poesia tem um pouco de sagrada, um pouco de sangrada e um bocado de profana. 
Eu sinto toda essa mística dos poetas quando leio Murilo Mendes, Fernando Pessoa, William Blake, Baudelaire, Rimbaud, os poetas da geração beat e outros tantos que nos faz viajar.
O poder da poesia é muito forte, assim como o poder da oração de São Francisco de Assis: 
 “Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união”.

3) O que você lê?
RBC: Eu descobri os livros um pouco tarde, mas sempre gostei de ler, de escrever, de escutar as boas estórias que os mais velhos contavam nos passeios nas casas no interior da Bahia, acho que aquelas estórias eram o primeiro acesso à literatura. Só depois, quando cheguei em Guarulhos, tive acesso aos livros. Eu vivia nos sebos e comecei a ler de tudo, mas buscava principalmente os poetas: Augusto dos Anjos, Castro Alves, Fernando Pessoa, Drummond, Bandeira, João Cabral de Melo Neto. Roberto Piva e Claudio Willer que fui conhecendo posteriormente, até chegar nos beats e os poetas contemporâneo, que alguns são até meus amigos. Na prosa fui descobrindo uma infinidade de escritores geniais como Machado de Assis, Jorge Amado, João Ubaldo, Balzac, Garcia  Márquez, pirei também nos russos Dostoievski, Tolstói e outros tantos. Na realidade não é fácil falar das minhas leituras, como eu sou um pouco desregrado, vou lendo o que aparece e não tenho uma linha de leitura, às vezes no mesmo caldeirão (que é minha mochila), tem Saramago e Kerouac, José Lins e Flaubert, Graciliano e Verissimo, e por aí vai... Eu também leio muitos os escritores do cenário atual que vou conhecendo nas andanças que faço. Não vou citar nomes porque são muitos, e cada um, a seu modo, tem grande importância em minha simples carreira de poeta.

"OS GOVERNANTES NÃO TOLERAM A POESIA"

4) Estamos vivendo um momento no Brasil (e mundo) em que os direitos civis parece estar perdendo a luta contra a barbárie. Onde a arte pode contribuir para reestabelecer o equilíbrio do mundo?
RBC: O poeta não derruba governo, porém temos a importante missão de buscar uma sociedade mais justa, mais igualitária. A nossa luta nunca será em vão. (Certamente, vou falar muitos clichês aqui, mas não dar para fugir deles). Os grandes escritores sempre tiveram essa preocupação com os problemas sociais, eu só acredito em escritor que tenha uma causa, uma bandeira, uma ideologia: Castro Alves, Patativa do Assaré, Maiakovski, Garcia Lorca, Bertold Brecht entre outros tantos que se incomodaram com a situação do outro. 
Os governantes não toleram poesia, porque muitas vezes a poesia é um dedo na ferida, e eles querem nos aniquilar. O poeta engajado é muito mais que um poeta, na atual conjuntura do país é imprescindível ser um poeta militante. 
Apesar da turbulência e da truculência, a poesia e a arte sempre serão resistências. 
Certamente a arte não salvará o mundo, mas o deixará mais colorido, menos pesado. 
Vou finalizar com esses ver versos de Bertold Brecht:
“Para que tem uma boa posição social,
Falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram”

5) Você mora numa cidade que é a segunda maior renda per capita do estado. Consegue perceber reflexos desse acúmulo de capital revertido em investimentos de cultura e arte?
RBC: Guarulhos, cidade em que resido, tem uma das maiores rendas per capita do país, uma cidade superdesenvolvida com diversas empresas, aeroporto internacional, malha rodoviária de grande relevância, a maior cidade não capital do Brasil, porém na cultura Guarulhos não é esse gigante todo.
Faltam projetos e políticas públicas que perdurem, falta de conservação dos espaços culturais: os teatros, biblioteca, acervos históricos, estão deteriorando, o que nos deixa entristecidos. A agenda cultural na cidade está cada vez mais pobre de espetáculo musicais, danças, teatros, cinema e na literatura é um Deus-nos-acuda. Os secretários de cultura não têm a menor sensibilidade para entender a força dessa produção cultural. 
Certamente, o que nos salva é a cena independente: O Slam do Prego que consegue reunir, às vezes cem, duzentos e até trezentos jovens em uma praça pública para falar poesia, geralmente de resistência. Com uma organização entusiástica de Rosinha Morais, Monique Martins e Joel Dias Filho. O Prêmio Guarulhos de Literatura, também independente de governo e organizado por Auriel Filho, é uma das vertentes literárias com grande ênfase na cidade, onde se premia autores de todo o estado de São Paulo. Os saraus que acontecem em vários espaços mantêm a chama acesa. 
Guarulhos promoveu nos dias 30 de novembro a 9 de dezembro de 2018, o Salão do Livro na cidade, onde teve uma participação insignificante ou quase nula dos escritores locais. Foi convidado apenas a AGL (Academia Guarulhense de Letra), que tem pouca representatividade entres os escritores da Cidade. 
Apesar dos pesares, Guarulhos não é uma lástima, muito pelo contrário, é uma cidade que tem uma bela e diversificada produção cultural: arte visuais, música, teatro, cinema, literatura e muito mais. Guarulhos uma cidade que me acolheu e eu derramo todo meu amor por ela. "I love Guarulhos".

6) O que você está escrevendo? Tem alguma coisa prestes a ser lançada?
RBC: Não pretendo lançar nem uma obra a curto prazo. Literariamente, o ano de o ano de 2018 foi de grande produção, lancei o meu livro de poemas Telúrico Lunático, participei de três antologias poéticas da Editora do Carmo: O Poeta é Um Fingidor, Havia Uma Pedra, Para Vinícius; e também participei da Antologia Gotas de Vinagre, produzida pelo poeta Nego Panda, da Baixada Santista. 
Estou escrevendo à la Dorival Caymmi, alguns contos, crônicas e poesia. Quando serão publicados? Ainda não sei, espero que não demore.

"INDEPENDENTE DE QUALQUER TECNOLOGIA, O LIVRO 
SEMPRE TERÁ O SEU ESPAÇO"

7) Como você vê imagina o futuro da literatura, com as mudanças tecnológicas que estão em curso? 
RBC: Eu vejo com bons olhos, não acredito que essas mudanças tecnológicas irão acabar com o livro físico. Os escritores devem usar a seu favor essas mudanças, serão inevitáveis. Eu mesmo já estou compreendendo os e-books, gosto dos blogs e outras plataformas digitais, apesar de usá-las com moderação. Porém nada vai substituir o encontro, o bate-papo, o contato direto com o autor, o autógrafo, o abraço, lançamento do livro, mesmo porquê nunca vi um escritor fazendo de lançamento de um e-book. 
Muitas pessoas poderão questionar se não é a tecnologia que causa o fechamento das livrarias. Particularmente não acredito nisso, o problema da literatura é muito mais amplo.
Independente da qualquer tecnologia, o livro sempre terá o seu espaço.

8) Quando você fala que "o problema da literatura é muito mais amplo", referindo-se à quase eterna problemática da literatura no Brasil, imagina ideias e/ou soluções que poderiam ao menos atenuar o pesadelo que é essa questão? 
RBC: A literatura fala muito de um povo, de sua cultura, linguagem, costumes. Existem muitas medidas a serem tomadas para que a literatura tenha uma prática prazerosa e não apenas uma obrigação de leitura. Uma medida que poderia surtir efeito a longo prazo, seria o investimento nas bases, para formação de leitores. A escola, os pais e os professores têm um papel fundamental para que isso aconteça, trabalhar a literatura de forma lúdica é o grande segredo para conquistar os alunos e formar em eternos leitores.
O poder público muitas vezes deixa a desejar, deveria ter mais fomento para literatura, ter projeto que contemple essa área do conhecido, que é de grande importância para a sociedade. 
Acredito que o escritor também tem que se aproximar da sociedade, da sua comunidade, pois os escritores ainda são vistos como um intelectual de difícil acesso (sic), longe da realidade de muitas pessoas, como se ele vivesse em outra dimensão, apesar que esse conceito está mudando atualmente. 
Certamente, não existe uma receita pronta para atenuar o pesadelo, e sim tomar um conjunto de medidas para o fortalecimento da literatura com debates entre os escritores, editores, livreiros, sociedade civil, que só assim a literatura terá o seu lugar de destaque.

9) Você circula em diversos locais onde está acontecendo uma ebulição artístico-literária. Desse universo marginalizado da expressão, tem algum nome que você gostaria de citar ou referendar?
RBC: Eu poderia citar apenas um nome, mas eu transito nesse meio literário há quase 20 anos. Nessas minhas andanças conheci diversos artistas, muitos deles tiveram uma grande importância em minha vida de poeta. Quando comecei a escrever conheci o poeta Ibrahim Khouri que dava “Curso de Versificação” na Biblioteca Monteiro Lobato. Nesse curso conheci Vinícius Gonsalves de Andrade que é um poeta sensacional, ele foi o grande mentor do grupo que fundamos, chamado Grupo Olh’arte de Literatura. Nessa mesma época, conheci diversos poetas que reverencio: Francisco Marques, Mauricio Del Manto, Anderson Alexandre Ávila, Jean Narciso Bispo Moura, Wagner Pires (fundador do grupo Antropoesia), Ale Saito (poeta e Studio KAS Tattoo), Fabio Mello, Auriel Filho (atual idealizador do Prêmio Guarulhos de Literatura), Bosco Maciel (fundador da Casa dos Cordéis), Eugenio Asano (que foi escritor e editor da Gerúndio Edições), Castelo Hanssen poeta, jornalista e uma pessoa maravilhosa que sempre nos incentivou. Um pouco mais recente conheci outros escritores com um trabalho bem relevante: Rosinha Morais, Akira Yamasaki, Escobar Franelas, Fabiano Fernandes Garcez.
Agora, falando em universo marginalizado, quero referendar um artista que veio do interior de Pernambuco, com pouco apoio financeiro, pouca formação acadêmica: Osvaldo Alves é o que chamamos de artista nato. O cabra é poeta, ator, cantor, faz teatro produzindo seu próprio cenário e dirigindo seu espetáculo. Ele também é o escultor, fez a escultura do “Índio Guaru” que está exposto no Parque do Bosque Maia em Guarulhos. Muitos admiram a sua obra, poucos sabem quem é esse grande artista, tão marginalizado. Saúdo Osvaldo Alves! Um homem que tira o pouco que tem para investir no que ele mais ama, a arte. Fiz um poema para homenageá-lo.

À arte rica
(Ao poeta e amigo Osvaldo Alves)
Nada é mais claro
Do que a clareza de teus poemas
Nada é mais puro 
Do que a pureza da tua arte.

Nada é mais beatificado
Do que a palavra que tu trazes
Nada é mais vero
Do que a veracidade de tua luz.

À tua arte é leve
Apesar do fardo pesado
Que tens que carregar.
À tua arte deixa mazelas
Mas não deves remediá-las.
À arte cura 
Apesar das sequelas.

À tua arte faz rir, faz refletir; 
Sobre as enfermidades do mundo.
Sobre o cotidiano
E sobre o que estamos fazendo vida.

À tua arte é rica
Mas não te enrica
E muitas vezes consomem
O pouco que tu tens
Mesmo assim você traz a arte 
Como filosofia de vida.

À arte pela arte
À arte pela vida
À arte pelo simples fato de ser
À arte pelo simples fato de ser.

10) Tem alguma questão que você gostaria que eu tivesse abordado? Se sim, faça a pergunta e responda a seguir. Obrigado!
RBC: Não. Você foi muito coeso nas suas perguntas e não me atreveria a fazer-me mais uma pergunta. 
O que eu quero mesmo é agradecer pela oportunidade de mostrar um pouco do que sou ou do que penso que sou. A gente tem poucos canais que nos dão a oportunidade de expor nossas ideias. Eu só tenho a agradecer. Muito obrigado. 

Verdades e mentiras
Digo que não sou, sendo
E quem me disser que não,
Mente.

Digo que não quero, querendo
E quem me disser, não queira
Mente.

Digo que não vejo, vendo
E quem me disser, talvez,
Mente.

Digo que não peco, pecando
E quem me disser, iníquo. 
Mente.
  
Digo que não minto, mentindo
E quem me disser, mentiroso,
Mente
Foto de Cesar Augusto Carvalho

Capa do livro Telúrico Lunático, clicada por Luka Magalhães

5.1.19

Um textículo: "As miragens do homem"


Pedro e Zé tinham voltado do almoço, escovaram os dentes e desceram para a sala. Trabalhariam mais uma hora e então iriam embora. Foi quando Dênis chegou para a troca de turno. A distância e o itinerário do ônibus obrigavam-no a chegar cedo demais, ou atrasado. Sentou-se na cadeira ao lado de Pedro.
- Cadê o Alves? Almoçando?
- Sim. – Pedro respondeu distraído. Houve um silêncio breve e então ele voltou-se para o amigo – Por quê?
- E a Bella e o Carlos?
- Ela tá almoçando e ele deve estar em alguma reunião.  
Silêncio. Pedro com os EPIs e Dênis distraído tamborilando as mãos nas coxas.
- Tenho um negócio pra te contar.
- Conta!
Dênis olhou de lado, passou a unha rente ao pescoço, apontou Zé pelas costas.
- Lesco.
O outro entendeu. Olhou Zé também, concentrado no ajuste da máquina. Bateu no ombro do outro, levantando-se.
- Vou ali buscar um café na copa. Vamos lá?
Saíram.
- Que foi? – Pedro perguntou ainda no corredor, nem esperou entrar na saleta.
Chegaram, mas nenhum dos dois se serviu. Dênis encostou na pia, cruzou os braços.
- Fiz uma besteira, cara.
Pedro mal tinha se encostado à parede, mexeu-se e colocou as mãos nos bolsos do avental.
- Diz, meu, desembucha!
O outro descruzou os braços, a tatuagem visível no bíceps esquerdo, debaixo da manga curta da camiseta justa. 
- Nem sei por onde começar.
- Se você não falar não tenho como ajudar.
O outro coçou a cabeça calva, ameaçou cruzar os braços mas soltou-os de uma vez, bufando.  
- Mano, ontem dei uma bola fora coma dona Fernanda.
- Fernanda?... Sua mulher? 
- É.
- Como assim, Dênis? Não vai me dizer que você voltou a sair com aquela fulaninha dá do RH.
- Não não não não – o outro cortou sua fala – se fosse esse o problema, estaria bem. O negócio é mais sério. – E passou as mãos suadas no rosto contraído.
- Cara, você ta me deixando preocupado. Que que é, problema de saúde?
- Não! Quer dizer, é. Sei lá, acho que é.
Pedro começou a andar no pequeno cômodo, pegou um copo, serviu-se de água da torneira mesmo. 
- Então fala, porra!
Dênis saiu olhou a porta, prestou atenção ao corredor, então comentou, a  voz baixa.
- Broxei ontem, meu! 
O outro o encarou. Depois riu, primeiro baixinho, depois riu alto, gargalhou. Perdeu o fôlego. Dênis continuou sério, o rosto contrariado.
- Broxar é normal meu! Você não tem mais 15, 16, 20 anos... você já é um quarentão, meu.
Dênis ameaçou sair, foi puxado pelo outro já no corredor.
- O que foi, meu? Vai pirar só porque deu uma falhadinha? – E convenceu o outro a voltar lentamente para a pequena cozinha.
Com a cabeça baixa e os olhos inchados do outro, finalmente Pedro se deu conta de que uma coisa muito séria estava acontecendo na vida do amigo. Trabalhavam juntos há mais de dez anos, as famílias se visitavam. Ele lamentou o humor ferino que machucara o parceiro de tantas aventuras. Pensou em dar um abraço mas ficou só na ameaça. O outro levantou os olhos e o encarou. Quase chorando, baixou a cabeça e encostou-se junto à pia novamente.
- Não vou perder tempo contando minhas coisas pra você. Aliás, nem sei porque fui comentar contigo. Daqui a pouco toda a empresa vai estar sabendo e minha moral vai pro bueiro. Deixa pra lá. – E ameaçou sair novamente. 
Pedro travou na entrada da porta. 
- Fala, Dênis! Falaí, meu. Desculpe qualquer coisa, mas você está me deixando preocupado.
Silêncio.
- Fala, meu!
Ambos se encaram. Os quatro olhos umedeceram lentamente. Abraçam-se sem vergonha.
- Faz quase uma mês que só broxo, meu! Tô zuado!
Desabraçam-se.
- Porra, meu, vai no médico.
- Não posso, cara. 
Nisso Dênis solta um peido. Nem levanta a cabeça, irônico como das outras vezes. O amigo entende que é uma quebra no protocolo, um pequeno respiro na tensão mas não aguenta, sai da saleta, ri no corredor. Volta depois de algum tempo, esticando a gola sobre o nariz.
- Caramba, desse jeito não posso te ajudar. – A voz sai anasalada.
Ambos riem, tímidos. Quase escancaram a gargalhada, mas essa sai envergonhada e não dura mais que dez segundos. Cessado o momento distraído, uma nuvem volta a pesar sobre as frontes.  
- Falaí, meu. Que é que tá acontecendo?
- Fiz uma besteira, cara! Tem uma vizinha lá da área que se engraçou comigo e, você sabe, né? Urso velho perde o pelo mas... – dá de ombros – né? – e sorri amarelo.
- Putz, fez besteira?
- Então, rolou um tererê, sabe?, e eu tava de boa, mas pra garantir, tomei um azulzinho, entende? 
-Tá. E aí?
- E aí que saí com ela uma, duas, um monte de vezes, e fui me garantindo com o comprimidinho. – Sorriu torto e emendou. -  Você sabe, nunca tive problemas mas na nossa idade é bom ter um seguro.
- Tá. Ta bom. Mas e daí? A dona da pensão descobriu?
- Então, foi aí que deu merda, meu. Teve um dia lá em casa que a coisa não rolou direito, entende? O bicho não quis subir.
- Mas você não tava na medicação, porra?
- Tava fora de casa, mas não sei se foi nervoso ou o quê. A merda foi que o bagulho falhou e isso me deu uma insegurança danada. Daí apelei pro comprimido em casa também.
- Caraio! Virou dependente. Dênis?
- Então... e eu não sei o que faço. – Pensativo. – O que você acha?
- Vai no médico, porra. Explica pra ele. Ou num psicólogo.
- Você é louco? Vou chegar no médico e.. e... – baixou a voz, olhou o corredor – e vou falar que tô broxando? – quase cochichava – Eu lá sou homem de falar essas besteiras? 
- Então você vai fazer o quê?
- Então, é isso que não sei. O problema é que tá pesado. Motel, mesmo os pulguentinho, faz a grana escorrer pelos dedos. E a porra do comprimido é cara pra caraio. 
- Por que você não compra o genérico? É bem mais barato.
- Já pensei nisso. Mas e se não for tão bom e fazer eu passar vergonha? Já pensou eu sair com a fulana, gastar duas horas de motel e ainda ficar só bamboleando?
- Pô, meu, seu problema é mais psicológico, pelo que você ta falando. Vai num especialista, cara.
- Já falei que não vou chegar em lugar nenhum pra ficar puxando esse tipo de assunto. E a minha moral, onde é que fica? Prefiro morrer.
- Então não sei.
- Porra, meu, pedi uma ajuda e aí você tira o corpo fora?
- Então tira essa aventureira da jogada. Volta pra casa. A Fernanda tá desconfiada ou coisa assim?
- Acho que não.  
- Então?!...
- Falei que você não tá ajudando. Imagina! Ficar só com a titular e ainda gastar dinheiro com remedinho só pra sustentar ela. Endoidou, cara? Eu lá sou homem de ficar gastando fortuna com minha mulher? - E completou - Porra, Pedro, você não me ajuda!

3.1.19

Um textículo: "pavio"


acender o por do sol
no fim de uma tarde clara
ascender, apagar
essa voragem amarela
e entender a pele que fala

responder ao cio do fogo
lírica prosa da rima
zelo quente dessa aflição
atender aos tantos apelos
rio que escorre rio acima

apreciar os anseios da alma
que só saberá mais tarde 
além do estado de tesão
de celebração à saúde
febre saudável que arde

suor sob o sol seco
nuca seca sob o suor 
a leve contração que nunca é
apenas um certo friozinho
ou todo esse ardente calor


2.1.19

Um texticulozinho: "às vezes o heroi vence"


Abrir o zíper da capa, descer do ônibus com quem sobe ao palco, voltar, sorrir e envolver no melhor abraço. Ir para o próximo capítulo.

1.1.19

Um textículo: "viena vietnã"


num dia quente de primavera em 2018 comecei a rabiscar estes escritos:
"as rubras negras americanas
desfilam no fashion week fora de época
carnaval fora de moda
carnaval sem carnaval
de ruivas achocolatadas e cabelos descrespados
em completo exílio de si.
não são brancas nem coloridas
não são brasileiras nem marcianas
não estão mudas mas silenciadas
não são feias mas embelezadas"

parei

desisti quando percebi que não estava escrevendo o que previ
não escrevia o que tinha me motivado

desisti

desisti por não saber como escrever os versos que gostaria 
que não saem da cabeça para vibrar na escrita
por só fazer versos que me saíram tortos
sem jeito, indesejados, fetos abortados
versos até vivos que agora apenas respiram
estranhos seres viventes que adquiriram vida e 
aguardam cuidados vitais

eu, como mãe, reconheço meu filho 
essa elaborada poesia que fiz
mesmo que inacabado, pois se reescreve, comigo
com as pessoas, com o mundo ou a sós
todo dia em todo lugar

desisti daquilo que resistiu

ponto. não final

dias depois, voltei ao texto, tentei remendá-lo:
"são duas (ou mais) américas
das rubras ruas
negras
de gente americana de madeixas negras
negras rubras
de unhas vermelhas
escarlate
e bocas carmim
a beleza negra de red hair
e outra boniteza, a de moa do katende, marielle, nina simone

são duas américas 
ou mais
sempre contrárias, bélicas 
de ruas escuras
onde o rubro sangue
corre na pele impermeável do asfalto
brota no tecido duro do cimento
verte no mar seco do sensacionalismo.
- são suas américas, bird
- são mais américas que isso, malcolm 
- muito mais, martin

a que mais gosto? da bela da lente do olho da memória 
no close de spike lee
´estrelando, elza soares conceição evaristo marcelo ariel
milton santos pixinguinha daiane dos santos´"

insisti
mesmo sabendo que continuava a não escrever o que gostaria
por saber que estava taquigrafando sensações anacronicamente
e que o filho que pari era outro, mas era filho e era outro
e era meu
e era eu

(desistir é uma prática de pessoas que criam; elas desistem para poder recriar o incognoscível)
(insistir é uma forma de falar da fórmula que ajuda a vender algo, 
mesmo que desimportante) 
por isso não resisti a esses verbos irregulares
e não resistindo, senti as dores dos que não sabem o que fazer
quando o fardo pesa, a dor vem 
e o horizonte aparece feito de bifurcações
e das muitas oportunidades que a vida dá à pessoa
e a sensação pesada do tempo perdido.
besteira: tempo perdido não existe
tempo perdido é uma ficção 
aquele que supostamente pode ter sido apreendido
(a menos que você esteja preso de suas memórias, sem saídas
para a direita ou esquerda, para frente ou atrás, 
sem saídas para dentro)

na verdade, a vida - assim como a poesia - não pode 
com a força persuasiva da falta de palavras
ou de sentidos
e nem a soma de todos os gestos 
e nem os meios sorrisos
e nem a força de todos os afetos
nada, ninguém pode
se eu desistir
se eu insistir
se eu resistir
na verdade, a poesia pode
mas às vezes a vida fode antes

(verão de 2018)

e o outro, e este 
- poemas? -

nada é nunca são