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20.1.19

Um textículo: "as ruas de viaver"

foto André Vidotto, 2018

fico um tempo indefinido olhando a rua
seu tráfego de espantos
de acertar remetente ou perder destinatários

vivo absorto no mundo da musa que passa por mim
em declives insinuantes e curvas incertas
retas congruentes ou paralelas
e janelas amplas para contemplação de abismos laterais

via de não andar à ré
a linha do asfalto não permite saber nada do ponto final

por mais que tenha andado
sigo parado em crua solidão

uivo para o silêncio noturno das luas paradisíacas
e sombras fantasmagóricas

quantos defuntos enterrarei?
qual o local do próximo tropeço?
quando derraparei - e talvez até me equilibre - 
sem ofegar?

fixo esse tempo infinito na alma nua
e a visão privilegiada amplia a vertigem 
de ver além do olho
para depois desatar as amarras 
e permitir que a via vá, suavemente
dobrar outras ex-quinas

voar
no próximo passo

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