foto André Vidotto, 2018 |
fico um tempo indefinido olhando a rua
seu tráfego de espantos
de acertar remetente ou perder destinatários
vivo absorto no mundo da musa que passa por mim
em declives insinuantes e curvas incertas
retas congruentes ou paralelas
e janelas amplas para contemplação de abismos laterais
via de não andar à ré
a linha do asfalto não permite saber nada do ponto final
por mais que tenha andado
sigo parado em crua solidão
uivo para o silêncio noturno das luas paradisíacas
e sombras fantasmagóricas
quantos defuntos enterrarei?
qual o local do próximo tropeço?
quando derraparei - e talvez até me equilibre -
sem ofegar?
fixo esse tempo infinito na alma nua
e a visão privilegiada amplia a vertigem
de ver além do olho
para depois desatar as amarras
e permitir que a via vá, suavemente
dobrar outras ex-quinas
voar
no próximo passo
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