Há 11 anos entrevistei Claudemir Santos pela primeira vez. Diante das múltiplas tarefas nas quais ele tem se desdobrado, eis-me novamente ouvindo e atualizando as informações sobre uma da figuras lendárias mais icônicas da agitação cultural no extremo leste da Sampalândia. Darkney - como também é conhecido - é um os idealizadores e fundadores da ALDEIA SATÉLITE, espaço cultural localizado no bairro de São Miguel. Seu trabalho trafega entre a música, o teatro e a literatura, mas flerta tambpém como audiovisual, as artes visuais (sua formação) e fortemente com a educação. Autor de várias músicas e do livro “FANTASMAS, DEMÔNIOS E LENDÁRIOS”, tocou muitos projetos, com a extinta banda DEUS EX MACHINA. Suas canções também foram gravadas por G.R.A.Ve e Triz. Segue as indagas.
ENTREVISTA
ESCOBAR FRANELAS – Quem é Claudemir Santos?
CLAUDEMIR DARKNEY SANTOS – Um homem comum de 44 anos que ama Artes, Animais, estudos e uma certa dose de solidão. Um artista que se expressa através de algumas linguagens artísticas sem muita pretensão ou zelo. Também criador de DARKNEY na década de 90, heterônimo que carrega até hoje sempre que pega um violão ou uma guitarra.
ESCOBAR FRANELAS – Como se deu o seu primeiro contato com a arte?
CLAUDEMIR DARKNEY SANTOS – Desde que me entendo por gente, estou com a arte ou na arte, como queiram. A música sempre foi muito presente em minha casa, todos os ritmos, todos os estilos. Comecei a ler e a escrever com seis anos, aos nove já estava enfiado na Biblioteca Municipal Raimundo de Menezes. Aos 14, em 1991, comecei os estudos musicais e teatrais na finada Oficina Cultural Luiz Gonzaga, ainda na Parioto 402, e a partir de lá comecei a conviver com estudantes de Artes e Artistas. Foi um caminho sem volta.
ESCOBAR FRANELAS – Quais os seus trabalhos que você considera mais relevantes? Por quê?
CLAUDEMIR DARKNEY SANTOS – Acredito que o grupo Alucinógeno Dramático, criado em 1994, ainda na ativa e precursor de outros grupos e artistas que dele saíram tem grande relevância para o bairro, por mais que algumas pessoas ou instituições não reconheçam isso. Minhas canções, principalmente as que foram gravadas, são boas canções também. O lançamento de “Fantasmas, Demônios e Lendários”, em 2016 foi outro passo importante também. Uma parte do livro fala dos fantasmas de São Miguel, e tem ganhado valor a cada dia que passa. As pessoas adoram e se reconhecem nele. No entanto, o trabalho que considero mais importante é a criação de Neyson Belloto, que eu espero publicar em breve. Seus contos existencialistas me são muito caros. Ah, não posso esquecer da criação da Aldeia Satélite, um espaço de muita relevância na cultura local, por mais que pessoas e instituições não reconheçam isto kkkkkkk.
ESCOBAR FRANELAS – Na esfera local, nacional e mundial, quem você considera que esteja produzindo trabalhos dignos de nota?
CLAUDEMIR DARKNEY SANTOS – Indo essas notas entre 01 e 10, acredito que sim. Interessante essa pergunta. Ela pareceria boba décadas atrás mas, hoje, com a globalização e a tal internet, estas esferas são possíveis de serem alcançadas, e Warhol já sabia disso, não é? Enfim, evidentemente gosto do meu trabalho, são trabalhos dignos de nota mas eu falho na questão de divulgar e difundir este trabalho. Parte por minhas casmurrice e outra parte devido aos estudos universitários, uma grande paixão, também, mas já estou decidido a circular mais e fazer este trabalho circular também. Estar presente aos lugares, me apresentar, ver pessoas, aprimorar meu trabalho musical que está enferrujado, enfim, alcançar estas esferas e deixa-las julgar a nota dos trabalhos produzidos.
ESCOBAR FRANELAS – O que é a arte? O que é cultura?
CLAUDEMIR DARKNEY SANTOS – Eis a questão. Sendo a cultura qualquer produção humana e a Arte uma incógnita antes definida pelas academias e, posteriormente por intelectuais da era moderna e, recentemente, por uma classe alta contemporânea e suas artes tão pessoais que, por vezes, só eles acessam os significados em suas galerias segregadoras. Sei lá. A arte contemporânea, por vezes, não desce. Na minha velha maneira de pensar, a Arte tem que dialogar com a sociedade da forma mais ampla possível, ao menos ter essa possibilidade. Também não consideraria arte um funk cuja a letra parece um discurso do Bolsonaro (machista, misógino, estimulador de violências) só porque é feito na periferia. Estamos em um momento histórico muito complexo, trecho de fronteira entre períodos, no meio das definições a serem lidas em livros de histórias. Louco isso, mas não quero o martelo deste juízo, não.
ESCOBAR FRANELAS – Quais os projetos com os quais está envolvido no momento?
CLAUDEMIR DARKNEY SANTOS – O mais relevante é transformar a ALDEIA SATÉLITE em um espaço autossuficiente. Mantemos ele com nossos próprios recursos e diante da atual situação do país e a desvalorização da Arte, principalmente a periférica, está difícil manter as coisas. Também pretendo me dedicar a circulação do livro FANTASMAS, DEMÔNIOS E LENDÁRIOS. Fazê-lo rodar por aí e começar a pensar na publicação dos CONTOS DE BELLOTO. No Alucinógeno Dramático, estamos trabalhando dois espetáculos: HIDROFOBIA, de minha autoria, com MARIANA SANTANA, RAFAELA TERRIAGA e o encontro fantástico das atrizes KAREN DANIELLE e CLARA BARBOSA, que passaram pelo grupo na primeira década do ano 2000 e agora retornam para esta montagem. O outro espetáculo é a adaptação do livro O ESTRANGEIRO, de ALBERT CAMUS, com PAULO BACO, RICHARD MAIA e eu no elenco, além da direção e adaptação. O trabalho musical também está caminhando, entre o violão acústicos e a música eletrônica, mas nada de banda. Acho que envelheci e amadureci para algumas coisas.
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