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27.6.19

Resenha - livro "Dente-de-Leão - A sustentável leveza de ser" (Sacolinha) crônicas




Dente-de-Leão – A sustentável leveza de ser (Sacolinha)

A idade adulta me trouxe a dor de cotovelo
As crianças são o meu alvo
Morro de inveja delas
(Sacolinha, em Inveja)

Se a fonte da crônica é o olhar sagaz, o ouvido atento e sensibilidade às cenas corriqueiras do dia-a-dia, tudo isso temperado pelo filtro de uma descrição subjetiva, “Dente-de-leão – a sustentável leveza de ser” assume (e amplia) essa condição. Sacolinha, o autor da obra, reverbera um entusiasmo incomum ao legar à provável perenidade de fatos cotidianos, uma cadeia de valores os tornam permanentes através de seus textos. Solar, desprendido e empático, o escritor penetra pela primeira vez no território das crônicas, pede licença mas não se intimida; antes, dá sentido à vida e à literatura enquanto expressões complementares uma à outra, combina com acerto os caminhos sempre sinuosos da cidadania e da arte.
O autor dessa leveza sustentável assemelha-se aos heróicos cavaleiros solitários que (re)conhecemos dos contos e histórias imemoriais. Arguto, brinca nessa seara mas nos oferta textos fluidos e que exemplificam o completo domínio do campo onde atua, seja o artístico ou o humano. Pela primeira vez pisando no terreno largo de um gênero tão peculiar na literatura – no caso, a crônica – o autor não nos assusta com este Dente-de-Leão. Comm rigor e metodologia própria, empreende seus passos pelas trilhas por onde já transitaram Machado de Assis, Rubem braga, João do Rio, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Paulo Mendes Campos e Luís Fernando Veríssimo, entre tantos nomes estelares. Como pode-se notar, uma vasta vereda aberta por mestres.
Já no prefácio do livro, Michel Yakini surpreende pela entusiástica definição de que esta obra “é um livro de intuições”. Bingo! Realmente Dente-de-Leão trata disso, de um escritor que se vê imbuído de uma missão maior. Sacolinha, mais que praticar literatura e sustentabilidade, vive isso, diária e intensamente. A sua escrita é a de um agricultor semeando letras, de um escultor de frutos comestíveis pela alma e o corpo. E nós colhemos sempre com fartura.
Já na primeira crônica, “Desembalar Menos, Descascar Mais”, ele mostra a que veio, falando de si sem a pretensão de ser modelo, porém sugerindo caminhos possíveis para quem quer de fato construir um amanhã melhor. “Falo de horta como um cultivo da vida, como um ato político” (p. 22). Fala da comida que sustenta o corpo, mas a metáfora vale como alimento para a alma. Em ambas as situações, sustentáveis, sem nada que seja tóxico.
O segundo texto, “Em terra de cego quem tem um olho é rei”, a interpretação através de juízos coloca o autor em uma linha tênue, que a todo momento pode escorregar para a autoajuda, ou o pior dos males a quem se propõe a escrever: a complacência. “A virtualidade é uma ilusão. A virtualidade é uma caverna (p. 28)”, proclama ele. Mas o talento de quem sabe domar a palavra não permite que o entusiasmo vire uma pregação piegas, antes retira-o do lugar comum e faz com que o texto ganhe a potência das vozes que têm algo a dizer. E questiona: “Onde estão os olhos de ver?” Pela sua experiência, Sacolinha sabe falar o que tem que ser dito.
Assim, o livro caminho, flexível, rico, denso, fluido. Em “O quarto escuro”, o autor recorre a Saramago para contextualizar o mito do caverna platônico no século 21. Complexo, mas plenamente inteligível. Mais à frente, em “A gente não devia ser assim”, lembra um Benjamim Button messiânico. Já em “Chávena de chá ou 30 mastigadas antes de engolir”, o autor faz uma reverência ao filme “A Livraria”, de Isabel Coixet, ao comentar uma cena curta, mas arrebatadora do filme.
Assim Sacolinha nos entrega 15 textos “comestíveis” que ressignificam a crônica enquanto prática literária, ao mesmo tempo que abrem perspectivas de práticas facilmente aplicáveis à vida, para torná-la mais  – por que não?! – prazerosa. Pois a literatura enquanto engenho da arte só faz sentido se soprar em nós como ar que nos dê a leveza da vida, como o título em questão. Afinal, como cantam os Titãs, “A gente não quer só comida / A gente quer comida / Diversão e arte” (Arnaldo Antunes, Marcelo Frommer e Sérgio Brito)

Foto Sacolinha

Serviço
Livro: Dente-de-Leão – A sustentável leveza de ser
Autor: Sacolinha
Gênero: Crônicas
Edição: Vasto Mundo (2019, 1ª edição, SP)
Fotos: Elidiane Alexandrino, Sacolinha e Alanda Alves
Ilustrações digitais: Flávio Martins
Prints de imagens: Sacolinha
Imagens: freeplk.com
texto Escobar Franelas

Foto Elidiane Alexandrino

Foto Elidiane Alexandrino




Um comentário:

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