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25.4.20

Um textículo: "dispersão"


ontem você me respondeu
disse que ia passar um e-mail com os anexos

ontem, não mais que ontem

essa madrugada fiquei observando por longo tempo as ruas passando por mim, faróis apressados iluminando outros faróis, apressados ou não.
homens cinza velavam quatro colchonetes prateados, e um carro vermelho; todos deitados, dormindo profundamente, no asfalto vermelho

eis o velório: velas lascivas dançando ao vento manso, almas tangidas sobre o viaduto, um túnel mais leve, sobretudo livre

quando vinha para cá, parei no boteco do alípio, tive que aturar dois tejotas falando do paraíso de jeová;
a menina da loja em frente que chegou atrasada, olhos tristes, alvoroçada, de camiseta preta, depois vestiu o boné do uniforme

hoje ninguém me responde mais
pode ser que tenha acontecido alguma coisa,
sei lá, passei em frente, a janela estava aberta, a cortina balançava como querendo gritar algo, o celular que vibra e a indiferença atende

faz calor mas tá frio aqui

não sei mais o que fazer nem se devo fazer
nada sei do que é nem sei se é
ninguém se entende
mas o fato é que, pra mim, você morreu

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