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30.5.19

declaração de amor


SSSSSSSSSSSSSSSSSS   EEEEEEEEEEEEEEEEE   U                                   U
S                                           E                                          U                                   U
S                                           E                                          U                                   U
S                                           E                                          U                                   U
S                                           E                                          U                                   U
S                                           EEEEEEEEEEEE               U                                   U
S                                           E                                          U                                   U
S                                           E                                          U                                   U
S                                           E                                          U                                   U
S                                           E                                          U                                   U
SSSSSSSSSSSSSSSSSS   EEEEEEEEEEEEEEEEE   UUUUUUUUUUUUUUU

29.5.19

Um textículo: "chove, sampa"


60 dias sem o gozo do céu
sessenta dias
dois meses sem lágrimas de nuvens
quase dez semanas de fogo afagando ossos
aqui
e o calor do esqueleto mórbido desse inferno
aponta o dedo no calendário
a data - ainda - no inverno

28.5.19

Um textículo: "os beijos"


bêbada língua que recorta seus lábios
língua que lambe seus pequenos lábios
língua que baila em seus grandes lábios
língua que escorre de seus lábios
língua que beijo, seus lábios

26.5.19

25.5.19

Um textículo: "evocações franciscanas"




Salve Chico César
Chico Science
Xico Sá
Salve Chico Odwdwá

Salve Chico Anísio
Xica da Silva
Chico Xavier
Salve Chico, o mecânico
Salve o Papa Francisco
Salve Xaxá, Quinho
Xica, Chiquinha, FranChico
Romano Rey Pinheiro

Salve São Francisco
Salve Chico Buarque de Holanda

Impressões do Chico Buarque em Ateliê Ogura de Gravura Série "O que me emociona"


24.5.19

Um textículo: "ode a drummond 2 - imarginália"


No meio do caminho tinha um Brisant
Tinha uma Luz no meio do caminho
Tinha um Vaz
No meio do caminho tinha um Akira
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha um Gilberto Braz
Tinha Janaína Moitinho no meio do caminho
No meio do caminho tinha marginais.
Tinha um Drummond no meio do caminho.

23.5.19

Um textículo: "corpo a oco"


o vazio carrega barulhos
embrulhados em silêncio

a morte embaralha as vidas
que chegam aos montes
é solidão o seu serviço braçal 
nada fazer, esperar, esperar
esperar acontecer  

o sol abraça o ar
o frio veste o vento
a luz beija a lua
tanto faz
importa essa dança de nada com nada
no nada

o corpo dessa abstração
desenha fantasias ao andar
corpo, alma, as mãos dadas
como, aliás, toda imagem que se deforma
quando se forma

22.5.19

Um textículo: "intermitente"


vez em quando a cabeça sai daqui
viaja
vez em quando tudo pousa aqui
livro, vinho, delírios
viajo

vez em quando 
sou minha melhor companhia
melhor do que muita gente
vez em quando 
há muita gente aqui dentro de mim

vez em quando
muita gente me visita
em domingos de sol
e dão as mãos, ou não

21.5.19

Um textículo: "promessa paraísso"


O tom alaranjado do céu parece um passaporte. Calço as asas, arrisco um salto, erro, levanto, dou dois passos para trás e... vôo.
Mas você me diz, isso não é nada; tem outros céus, é preciso rasgar o véu, entrar dentro da cor.
E vou.

20.5.19

Um textículo: "ode a drummond"


No meio do caminho tinha um Pessoa
Tinha um Bandeira no meio do caminho
Tinha uma Clarice
No meio do caminho tinha um Machado
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha um Rosa
Tinha uma Cecília no meio do caminho
No meio do caminho tinha um Drummond.
Tinha um Drummond no meio do caminho. 

19.5.19

Resenha - livro "Entrelaçamentos" (Inês Santos) - poesia

Foto de Luka Magalhães

A poesia tem um notável poder de persuasão cuja carga simbólica está além da compreensão do senso comum, ainda que por vezes tenha que passar por ele. Os diversos elementos constitutivos de um poema (poder imagético, musicalidade e ourivesaria, entre outros possíveis), devem, a rigor, “explodir”, sublimar, espantar, em algum ou vários momentos do episódio poético, seja através da leitura, da audição ou da exibição.
Faço esta consideração ao iniciar o relato sobre Entrelaçamentos, segundo livro de poesia de Inês Santos. A obra poética desta paulistana que estreou tarde (Inês só vingou literariamente após a aposentadoria como educadora), contém a síntese desta proposta que ensejo aqui. Se para alguns, a poesia pode ser um dédalo labiríntico, Inês trata de economizar em recursos e facilitar o acesso e entendimento. Não que isso torne seu texto simplório. Pelo contrário. Ao optar pela clareza, concisão e objetividade, seus versos fluem, simpáticos e inteligíveis, para degustação tanto de teóricos quanto de um público leigo, mas sensível.
Um breve passeio pela obra e encontramos na quarta capa uma nota cristalina da também poeta Adriana Aneli em sua simpática apresentação: “A poesia. O olhar generoso sobre coisas pequenas-imensas. O inconformismo com aquilo que ainda se pode mudar. Ao deixar a palavra brincar no papel branco, a poeta nos convida a explorar o mundo com curiosidade infantil.” Pronto! Aí está o endosso do que falei antes. E se há necessidade da prova cabal, vamos a ela, leiamos a fartura de Entrelaçamentos:

Na geografia
Do tempo
O espaço
É movimento, em TOPOLOGIA (p. 111)

No entanto, a poeta não foge à luta e seu labor também é uma leitura atenta do mundo e tempo presentes:

Numa mina
De ouro
Derretem-se
Vidas, em SERRA PELADA (p. 81)

A este olhar dedicado ao humano, soma-se outro, delicado, em diálogo contido com o lirismo:

Amar é para
Qualquer momento
Sigo só e adiante
Se já encontrei ouro
Espero diamante., em TUDO TEM SEU TEMPO (p. 131)

Este é o segundo livro de Inês, obra que amplia as variáveis discursivas e estéticas, já previstas e insinuadas em Mergulhos, o livro anterior. É possível observar, desde a composição gráfica da capa e em toda a diagramação, que a poeta procura sempre o campo aberto, o espaço em branco, o respiro, o equilíbrio sonoro, textual e visual. Entrelaçamentos é para ser lido, sorvido, degustado, como um vinho de boa safra. Em cálice elaborado por ourives.


Nenhuma descrição de foto disponível.

Serviço
Livro: Entrelaçamentos
Autora: Inês Santos
1ª edição da autora, SP, 2018
Contato: https://www.facebook.com/ignes.sollua

16.5.19

Um textículo: "juras eternas"


ficarei de mãos dadas com você
com o corpo doado a você
a alma grudada à sua
essa noite toda
essa vida toda
essa eterna idade 
imatura

15.5.19

Um textículo: "estes versos"


que este verso seja
igual a um solo do jimmy page
e este, um akira kurosawa
e mais este, igualzinho charlie parker
e este outro, como a voz de ella
e agora, um elliot imperfeito
mais um, com a densidade de clarice
e mais, e mais, e mais, como a química
lírica de rosa
com a expressão de cézanne
com a sabedoria de salomão

todos vestidos com o manto do sublime

Um textículo: "exercício"


um parêntese:
- como acontecem as gravidezes?
infalíveis dizeres:
- presênteses de deuseses.

13.5.19

Um textículo: "amarelo esmaecido"


gota de luz muda
que suja o brilho da cor
que tira a cor da cor
que pinta o branco de ocre
o azul, de cinza e cinzas

cor que desamarela

luz de rua, luz de noite
luz da luz, cor da morte
luz da lua, cor de cruz
de dia de sol, sem sol
cor do mofo da esperança
de bilhete rasurado

amarelo enegrecido
nem marrom nem outra cor
de rosa rota na janela
apenas o olho que pisca
as lembranças amarfanhadas
esse fardo de tantas dores
que te segue, por onde fores

desamarelando
pra desarmar ela
desmanchando
por desamar ela

Um textículo: "um lance de dados"


abro a porta
convido a sorte
a entrar

mesmo com toda mesura
lá vem ela
"tô bem, aqui, obrigado,
fico no hall.
prefiro a morte
do que me sentar
em sua sala-de-jantar"

"azar o seu", penso eu

Um textículo: "os robôs de alamón"


todo homem de ferro é triste
toda donzela, dessexy.
a boca do robô é zíper
na roboa o fecho é na vagina.
os neurônios, nos dois, uns chips

mas ninguém imagina.

10.5.19

Um textículo: "inferno chamado céu"


não mais se chamará castigo

a punição será outra
quase um elogio.
algozes, com fantásticas luvas de pelica
invisíveis
farão cócegas enquanto esmurram
nocauteando dúvidas com a
certeza renitente dos acéfalos

e a boca, subordinada, esta rirá
dizendo que dor não é
pois o alívio da pena
deixa leve
no tempo exato dessa rima
breve




9.5.19

Um textículo: "do calor da infância"


ele embrulhou as notas
em bolhas de sabão
e os meninos sopravam
as bolhas indiferentes
fingiam que pousavam
nas palmas das mãos

de adultos

6.5.19

Um textículo: "composição"


um dia essas mãos
hão de pintar todas as telas
que a imaginação
insiste em criar

um dia

um dia essa música
que retine aqui
há de ser criada
tocada ouvida
essa música sentida
ressentida tressentida

um dia
basta um dia
para que o imã da manhã
contagie uma tarde e uma noite
inteiras
um dia
por toda a vida


5.5.19

Um textículo: "meditação"


todo dia, à mesma hora
a sombra se debruça
sobre o espelho do lago 
faz uma longa reverência
assovia brisas e sopra silêncios

folhas soltas, furtivas
reforçam a beleza da monotonia
descem sobre a água
roubam a atenção
e tocam a sombra
como se ali corpo e alma se encontrassem
depois da distância do tempo
ou espaço (pouco importa)

a esse fenômeno poetas dão o nome de extasia
e dessas cópulas improváveis
surgem coisas diversas
sobrenome poesia


4.5.19

Um textículo: "concreto"


dever de ver: ver de vista
ver de perto ver de longe
ver de graça ver de asas
ver de cá ver de lá
ver de corpo ver de alma
ver de carro ver de moto
ver de olho ver de velho

vim te ver
ver-te, cor
ver de novo

Um textículo: "autocrítica à brasileira"


drummond era da farmácia
logo, das drogas.
rosa, da medicina.
clarice, de jornal e diplomacia
- como vinícius.
piva, com indícios de loucura 
igual bispo do rosário
que era, como mário, incansável
que rima oswald.
este, outro visionário.

os inspirados, como ubaldo
trabalham, trabalham, trabalham
como hilda, os campos, ziraldo
não falam falam e falam

bandeira, por exemplo, vivia.
e escrevia.
só.
machado escrevia. mais nada.

alguns, outros
e eu, ensaios.

2.5.19

Um texticulozinho: "meio ambiente inteiro"


sorria
você está sendo poesia

Um textículo: "noite de são marcos"


Todo o espetáculo parece preparado
para seguir um roteiro prévio

Alguns artistas, no entanto
jazzistas de mãos cheias – e santas
insistem no improviso:
a arte improvável
a mais humana
arte genial e geniosa
casada com o acaso

Arte a se completar
e ter na mente
de tão perfeita, completa, complexa
posta de lado, acima, dentro
e à parte