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30.11.22

Um textículo: "civis"

 

primeiro
disse que eu nada entendia de mulheres
depois
reclamou que eu não manjava nadica de cromaterapia
por último
falou que eu nada sabia da receita de tapioca
perguntei
e você, só compreende isso?
e nos calamos

 

29.11.22

Um textículo: "terceiro ser"

 

o meu querer
quer tanto você
que até se confunde
e só eu sei
que aqui dentro uma coisa remói
e se reconstrói
e funde esse ser a
outro mesmo querer
apocalipse de razões
sentimentos, sensações
asas e outras tontas, tantas e falsas concepções
de um desejo que dói
e remói sem moer
e dói sem doer
preservando esse ser,
que sou eu, que é você

23.11.22

Um textículo: "ruarrumo"

Av. 23 de Maio, SP (foto: EF, outubro/22)

 

a rua permanece lá fora.

acabou: entrada do terminal que

por muitos caminhos, leva a um lugar.

era lá que queria chegar. 

agora não mais rodas

só as da mala, pequenas, sendo puxadas.

agora só passos, passadas em direção de.

quase labirinto: ruelas, alamedas, vielas

paredes frias, escadas requentadas com o tira e põe dos pés.

um sorriso, um aceno, o frio na barriga.

um abraço sem jeito sob as vistas da multidão

que nem olhava. um abraço. perdido?

não, era para ser assim.

o táxi: novamente a rua: suja, mal cuidada, arborizada

lisa, reta, limpa.

postes, placas, casas, prédios, tudo espalhado.

hotel sem vaga, um hospital na largura da avenida

na padaria a vidraça verde do edifício em frente chama a atenção.

ruas íngremes e estreitas comportam os ônibus sanfonados

enguias movida a fósseis,

carros à frente, atrás, estacionados, parados, apressados.

o coração? disparado.

o fim de outra rua onde tantas outras desembocam.

um guichê, um elevador, uma porta a ser aberta.

outra rua se inicia: a que dá para o céu

17.11.22

Um textículo: "abraço"

 

as mãos dando voltas nas costas

peito no seio

nariz no pescoço

cabelos nos olhos

as mãos penduradas no pescoço

joelho contra joelho

coxa contra coxa

sexo contra sexo

pés sobre pés

véspera do beijo


16.11.22

Um textículo: "sorriso"

 

o céu da sua boca tem estrelas

que não consigo contar

o sol da sua boca tem um céu


da série haicaos

15.11.22

Um textículo: "confissão"

 

me perco em você

na floresta de seus cabelos

no alucinógeno do seu sorriso

na droga da sua voz

capoto nas suas curvas

e me embriago nas poções de veneno

que seu corpo destila 


não estou viciado: apenas apaixonado.


7.11.22

Jimi Endrick

Foto: Cesar Greco (Palmeiras)
Foto: Michael Ochs (Getty Images)
 

a vantagem de viver neste século

presente

é que a cada dia nascem zeuses

frutos de tempos improváveis

de guerras, ataques e achaques

mas também filhos da

diversidade de aromas e sabores


nos recônditos dessa peleja

lá nas províncias mais distantes

e mesmo na metrópole

e até mesmo dentro de casa

o cotidiano pode nos ofertar

uma cena de amor, por exemplo:

em bethel, o negríndio jimi endrick

espírito xamã, estende o tempo e transforma 

a vibração de seis cordas

numa eterna idade sem fim.

num estádio, lá pros lados da zona oeste

lugar que já foi parque antárctica

hoje é allianz park

(amanhã, sabe-se lá)

o negríndio jimi endrick, bailarino

barroco, lírico e moderno -

desfila com sua esfera (terrestre? solar? celeste?)

debaixo do braço, debaixo dos pés

cumprindo seu destino de poeta

destino de pássaro

de sangue: xamã


poetas são poetas. e só!

tem aquele das pernas tortas, aquele calado

e o que cai

importa que toda poesia seja eterna

num espasmo de pupilas dilatadas

boca seca, veias abertas

coração esfuziante

na hora estridente do solo de guitarra

na hora do gol



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