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31.8.13

Bons tempos, aqueles - III (Bicicletas de Atalaia / Apanhador Só / Jair Naves)

(Durante todo o ano de 2011 fiz, com o pessoal do Coletivo Ounão, a cobertura colaborativa para o Circuito Fora do Eixo no Studio SP. foi uma experiência visceral e de muita troca de energia e aprendizado in loco. Esta noite retratada abaixo, por exemplo, foi adrenalina a mil, catarse total)

Cedo e Sentando 29/03

“A noite que nunca termina”
cobertura por Coletivo Ounão/Escobar Franelas | fotos por Camila Cortielha e Rafael Rolim 
Chego meio atabalhoado ao Studio SP, na Augusta. Tinha corrido meio mundo na Sampalândia, saído de Itaquera à tarde, voado pra Alphaville, e agora, mais de dez da noite, enfim iria botar os ossos pra sacolejar em mais uma noite do projeto Cedo e Sentado, parceria do do Studio com a Casa Fora do Eixo.
Que o "patrão" não me leia, mas cheguei atrasado, pra variar. A Regina me esperando em frente. Caímos pra dentro. No palco, a banda Bicicletas de Atalaia (Sergipe), incendiava o público com sua música alucinante. Bruno Mattos, nos vocais e violão, Ylia Amarante no baixo, Léo Mattos (irmão do vocalista), na bateria, Renan Cacossi, no sax e flauta, e Kaneo Ramos na guitarra, mandaram ver com um hard rock blueseiro com pitadas de black music, e a galera, que encheu a pista, dançou, pulou e cansou à vontade. Com as participações especialíssimas de Luiz Lazzaroto (Vanguarts), nos teclados e Vinícius Junqueira (Mutantes), rolou mais adrenalina, às vezes com pitadas viajandonas que se aproximavam sinuosamente de uma new age psicodélica.
Quem tomou o palco de assalto depois foi o Apanhador Só (Rio Grande do Sul), que confirmou uma tese que percebi na outra terça: o segundo grupo a se apresentar sempre é “a banda” de rock por excelência. Praticantes de um som honesto e direto, Alexandre Kumpinski (voz e guitarra), Felipe Zancanaro (guitarra), Fernão Agra (baixo), e Martin Estevez (bateria), cumpriram com mérito a tarefa de manter o clima já iniciado no set anterior e que foi complementado com louvor pelo público presente, com um sinestésico pedido de bis.
Jair Naves, a terceira atração da noite, invadiu o palco com uma postura no mínimo paradoxal. Iniciou sua performance de forma quase minimalista para, música a música, fermentá-la num crescendo extasiante. Suas letras, pujantes mas dóceis, viraram ácido quando ele abandonou o violão e admitiu uma postura mais rocker, como se incorporasse um xamã que se dispusesse a explorar cada milímetro do palco, uivando, pulando em meio à plateia, socando o ar, deitando no chão, assediando o público. Tudo isso, claro, orquestrado pela sua “cozinha” segura e fabulosa, formada pela baixista Helena Duarte, o baterista Mark Paschoal, e também o guitarrista Daniel Guedes e o tecladista Alexandre Xavier.
Noite completa, saio pra casa com este texto quase pronto na cabeça. Quase, pois não podia esquecer de citar os “riscos no disco” do DJ Mok, figuraça que pilotou as pick-ups no antes, no durante e no depois com segurança personalíssima e fez da pista de dança uma Disneylândia para adultos.

 

 

29.8.13

Bons tempos, aqueles - II (The Salad Maker / O Jardim das Horas / Saulo Duarte e a Unidade)

(Durante todo o ano de 2011 fiz, com o pessoal do Coletivo Ounão, a cobertura colaborativa para o Circuito Fora do Eixo no Studio SP. foi uma experiência visceral e de muita troca de energia e aprendizado in loco. Esta noite retratada abaixo, por exemplo, foi adrenalina a mil, catarse total)

 

texto por Coletivo Ounão/Escobar Franelas
fotos por Adriano Singolani

Projeto Cedo e Sentado celebra 10º encontro

Parceria do Studio SP (rua Augusta, 519, centro, SP) e Circuito Fora do Eixo, o Projeto Cedo e Sentado comemorou nesta última terça, dia 3 de maio, o seu décimo encontro. Os convidados para a celebração foram as bandas The Salad Maker, de São Paulo; O Jardim das Horas, do Ceará, e Saulo Duarte e a Unidade, do Pará. Completaram o time dos festejos os dj Diosanto e Fiodiback, os vj do Clube de Cinema Fora do Eixo com suas projeções personalíssimas nos dois telões da casa, e a sempre abastecida banquinha homônima, com seus artesanatos, cd, dvd, livros, flyers e zines, para a degustação informativa do público em geral. Ah, sim – claro! – e o festivo público prata da casa.
Eles foram chegando e se achando, recepcionados pela cortesia sonora das pick-ups, até que o The Salad Maker subiu ao palco, tornando-o uma ensolarada Califórnia dos anos 60 e 70. Pois o quarteto paulista, formado em Londres em 2008, agora de volta para essas terras, pratica um rock direto, bonito de se ver e gostoso de se ouvir, com uma formação clássica: Renato Vanzella, vocal e guitarra; Thiago Romano, baixo e backing vocals; Denis, guitarra e backing vocals; e Ricardo Pardof, bateria. As roupas, barba e cabelos ajudam a completar esse look retrô, ainda que seja um híbrido de todas essas referências: Califórnia, Londres, São Paulo, e também o rock dos anos 80 e 90.
Certa vez o poeta e jornalista potiguar Dailor Varela disse que “o rock é a cultura mais resistente do mundo contemporâneo”. O The Salad Maker, com sua leitura peculiar dessa miscelânea de influências, está aí para provar que o poeta ícone do Poema-Processo estava certo. O rock é muito mais que um estilo musical, seu legado para o mundo é uma profunda aculturação observada em gestos, palavras, manifestações, independentemente da geografia. E que se traduzem em zilhões de corações pulsantes sobre a sua imantação sinestésica.
Depois do break para as necessárias idas ao bar ou banheiro, era hora de balançar os esqueletos de novo ao som contagiante dos dj da casa. E então O Jardim das Horas toma o palco. Outonal, como o tempo que agora faz nesses trópicos, o grupo exibe mais que um jardim, mas um quintal inteiro de sofisticadas texturas sonoras, amparadas por uma poesia sóbria, de singelas influências modernistas/concretistas. A insinuante vocalista Laya Lopes, de voz aguda e rascante, acompanhada pelos ótimos Carlos Eduardo Gadelha, na guitarra e programação; Raphael Haluli, no baixo e vocais; e Beto Gibbs, na bateria, vale-se de um rico arsenal de gestualizações, numa performance que irradia equilíbrio, carisma e sensualidade no palco. A releitura sintetizadora de “Construção”, de Chico Buarque, e o convite para que Daniel Groove e Saulo Duarte dividissem o palco com ela, numa sessão reggae malemolente e recheada de jamaicanidade, emprestou ao show da banda uma ar de peculiaridade ímpar. Jah deve ter gostado. O público, mais ainda.
A pausa providencial foi só um intermezzo para a chegada do catártico Saulo Duarte e a Unidade (Klaus Sena, no baixo; João Leão, teclados; Bruno Souto, percussão; e – de novo – Beto Gibbs, bateria), além do próprio, na voz e guitarra.
Autor de uma profusão de hits candidatos à dominação de rádio AM, e uma musicalidade que equilibra-se elegante e confortavelmente entre o risível e o popular, Saulo e a Unidade é entretenimento garantido, com uma instrumentação “pegajosa”, letras humoradas, empatia de sobra e todos os elementos necessários para a sedução e catarse da platéia. Prova dos nove foi ver toda a galera dançando alegremente, inclusive quando novamente chamou ao palco Daniel Groove, agora acompanhado de Diogo Soares, para nova intervenção vocalística.
Toda noite Cedo e Sentado tem algum tipo de predominância. A desta terça, além das participações bisadas de Saulo Duarte, do baterista Beto Gibbs e do entertainer Daniel Groove, reservou outro elemento: a empatia dos vocalistas. Não que isso seja fato raro. O palco do Studio SP tem sido um oásis de grandes bandas, notáveis compositores, excelentes músicos e ótimos vocalistas. O que diferenciou-o dessa vez, porém, foi o fato de que três expressões tão diferenciadas, de repertórios, performances e timbres muito distintos, ainda assim eram também primores de simpatia e carisma.
Convenhamos, isso é quase um epifania. Sorte de quem estava lá.

26.8.13

Bons tempos, aqueles (O Melda / Mi Simpatia / Maglore)


(Durante todo o ano de 2011 fiz, com o pessoal do Coletivo Ounão, a cobertura colaborativa para o Circuito Fora do Eixo no Studio SP. foi uma experiência visceral e de muita troca de energia e aprendizado in loco. Esta noite retratada abaixo, por exemplo, foi adrenalina a mil, catarse total)

 

Como foi: C&S Fora do Eixo 26/4 com Maglore e O Melda

texto por Escobar Franelas | Coletivo Ounão
fotos por Adriano Singolani

Noite quente de terça-feira

Chego às 10 da noite no Studio SP, na rua Augusta, centrão da Sampalândia. Noite fria lá fora, aqui dentro o clima esquentando. O espaço do Studio é muito bom, dividido numa área retangular com o palco central, perfeitamente integrado ao meio. No todo, há três bares dispostos providencialmente, um logo à entrada, à direita do palco. Outro à esquerda, bem ao fundo. Sobre a cabeça deste último estende-se uma escada que leva ao pavimento superior, onde mais um bar nos aguarda.
Em frente ao palco fica a cabine do vj da casa, responsável pela distribuição das imagens nos dois telões, um logo à entrada e outro no mezanino acima. No caminho entre o palco e o backstage e os banheiros fica  a mesa de som, e do outro lado, a meio caminho de uma das portas de saída, está a cabine do dj e a banquinha do Fora do Eixo, sempre repleta de discos, livros, camisetas e outros souvenirs da tribo do Circuito Fora do Eixo.

DJ Diosanto

Enquanto a galera flerta à vontade, com seus copos e garrafas à mão, observo a profusão psicodélica nos telões enquanto das pick-ups escapa um som convidativo para a pista. Poucos se aventuram no início, um pouco pela influência do frio lá de fora, e muito pela falta de álcool suficiente nas veias. A pista, porém, está a postos. Entre gorós, biritas, cervas e muita azaração, a galera vai chegando.
Luzes rútilas, caixas de som efervescendo, as veias da noite antes fria agora já pulsam quentes, a simpática banquinha do FdE toda sortida, colorida, cheia de vida, conteúdo e independência, os minutos avançam para uma madrugada que promete ser memorável.


Camila Cortielha, hostess da casa, sobe e anuncia primeira atração, O Melda. “Banda de um homem só”, ou monobanda – como se autoidentifica – O Melda é Claudão Pilha, ex-baterista da anárquica banda Os Meldas, que incendiava Belo Horizonte nos anos 80 e 90. Depois tocou no Estrume´n´tal.


Dotado, porém, de curiosidade, sarcasmo e virulência suficientes, O Melda tornou-se um performer noisy solo. Com todas as bases pré-gravadas, ele, guitarra na mão, macacão de bombeiro (ou borracheiro, tanto faz), e seu indefectível capacete percussivo, tornou repentinamente a noite mais alegre e quente, botando o público para cantar e dançar sob o efeito de sua letras hilárias. Com um som punk gutural gestado no melhor estilo do it yourself, desfilou em seu show um rosário de músicas exarcebadas, engraçadas e escrachadas, no maior vigor juvenil.

Após o set d´O Melda, a bela Camila voltou ao palco, agora travestida de Mi Simpatia, heterônimo com que assina suas incursões pelas pick-ups, despejando nas caixas tecnos viajandões, alguns trazidos da década de 1980 até os dias atuais. A noite ainda mais quente…


Por fim, o Maglore (Teago Oliveira, voz e guitarras; Léo Brandão, teclado e guitarras; Nery Leal, baixo; e Igor Andrade, bateria), fez a ponte aérea entre a nova cena roqueira baiana e a vigorosa poesia brasileira presente na música popular. Baianidade à mostra, o Maglore (corruptela linguística de “My Glory”), exibiu suas sutis viagens sinestésicas que associam diversas informações sonoras, que passam por Mutantes/Caetano Velos (“Baby”), como ficou provado na belíssima interpretação do grupo.


O show começou mais emepebístico mas foi crescendo em pulsão e atitude, até um final apoteótico que juntou no mesmo caldeirão tanto Raul Seixas e Belchior, quando uma nervosa massa sonora metaleira O público, ávido, queria mais, mas aí já era hora da intevenção da simpaticíssima (ok, não vou me furtar a manter esse pleonasmo sincero), Mi Simpatia para acalmar o que já estava fervendo, fechando positivamente mais uma noite de ouro do Projeto Cedo e Sentado, parceria do Studio SP com a Casa Fora do Eixo.


18.8.13

Entrevista: Sidney Leal - Suzano, SP

Leal, entre suas referências (foto: arquivo pessoal SL)

(Sidney Leal é o cara. Conheci-o quando o poeta Mano Cákis me convidou para participar do Sarau Literatura Nossa, em Suzano, SP. A afinidade surgiu espontaneamente e logo de cara. Conversamos, falamos dos “malditos” da literatura, do Brasil e do mundo, falamos de outros malditos, no cinema, na música, na filosofia, na arte em geral.
De posse de seu livro Minhas Histórias de Mistério, Terror e Morte, pude perceber não só a influência de seus ´mestres´ mas, principalmente, o talento natural que o cerca e o eleva.
Foi a partir da leitura desse escritor tão peculiar e de nossa troca intensa de impressões sobre a arte e a vida, que achei legal entrevistá-lo, para conhecê-lo  e divulgá-lo.)

1) Quem é Sidney Leal?
Mais um escritor neste mar de criatividade que é nosso país.

2) Quando você começou as primeiras rascunhações, digamos, "literárias"?
Em 2006 escrevi um poema descompromissado, no retorno da faculdade:

“Cavaleiro Errante”

Eu queria ser um cavaleiro errante
de morada inconstante
com uma citara nas costas
e uma espada na cintura
atraído por cidade com cheiro de aventura
Ou pelo sorriso insinuante de uma bela dama.

Mostrei a um professor e me surpreendi com a reação dele, em relação a eu mesmo ter escrito o poema e o fato dele ter gostado.
Durante o trabalho me veio a ideia de escrever uma história, isso resultou no meu primeiro conto chamado "O Silva Negro" que, se Deus quiser, nunca verão, pois é muito ruim. Rs Daí não parei mais e um ano depois rascunhava como seria meu livro de contos mas me vinham questionamentos. Como eu queria escrever sendo que não conhecia os grandes mestres!?
Minha mãe trabalhou durante muitos anos como empregada doméstica na casa de uma família japonesa. Lá aprendi a ler e desenvolvi o gosto pela leitura com uma filha deles que até hoje chamo de tia. Mas, como eu dizia, “como poderia escrever sendo que não conhecia os mestres e seus livros”?
Parece incrível mas semanas depois essa ´tia´ ligava pra mim querendo saber se tinha interesse em ficar com os livros dela da época da faculdade!
Fiquei feliz e assustado. Agora sim poderia estudar os mestres e suas obras, com boas referências, desenvolver uma técnica de escrita.
Hoje posso afirmar que a escrita do mestre Machado de Assis não se limita apenas à literatura mais divulgada. Existem contos dele que são de arrepiar e mostram um Machado livre de ´cabrestos´ literários que infelizmente o marcam. Entre estes contos cito alguns: "A Igreja do Diabo" (conto mais cômico), "Vida Eterna" e "A Causa Secreta". E outros autores como outro mestre, Álvares de Azevedo com o seu inesquecível conto "Noite na taverna" e suas poesias tristes e reflexivas.
Não podemos deixar de fora mais um mestre, Aluísio Azevedo, com seu conto fantástico "Demônios", que apesar do nome é de uma criatividade e de uma escrita sem igual, lembrando que falamos de um texto escrito em 1891! E outros mestres da literatura aqui não citados.
Hoje em dia quem escreve histórias de terror fica tachado, discriminado. Existem bons textos de terror e poesias, que além de agradar aos adeptos do gênero, surpreendem pelo alto nível da qualidade do texto e da escrita.


3) Você fala das dificuldades das pessoas enxergarem que o terror tem seus escritos maravilhosos e outros nem tanto. Parece-me que, assim como a crônica, tem sempre que estar provando que pode competir em igualdade com outros gêneros. Por que será que isso acontece?
Lembrei de um trecho de uma música do Legião "Tudo que eu queria era provar pra todo mundo, que eu não precisa provar nada pra ninguém..." (sic)
Cara quanto penso nisso só me vem a cabeça palavra 'sobrevivência', tentar mostrar que o gênero terror, ser reconhecido como literatura, ser valorizado pelo que faz ao mexer com os sentimentos das pessoas.
Lembrei que li uma reportagem sobre uma mobilização de funkeiros para que o funk seja reconhecido como cultura e tal... Bom eu digo que sim é um movimento cultural, mas não posso afirmar se é bom ou ruim (eu acho ruim pra diabo! rsrs). Onde quero chegar, é que existe um paralelo com a literatura fantástica.
Sim terror é literatura, mas se é bom ou ruim... Bom eu sou suspeito em dizer.
Mas precisamos de espaço, e se merecido, precisamos de reconhecimento.


4) O que você lê, assiste, ouve?
Escuto rock, mas costumo dizer que "quebrem todos meus CDs, mas nunca mexam nos meu cds de new age, fado português”, mas gosto muito de música clássica uma mania que descobri sozinho para estranheza de minha mãe. Teve um período em que fui vendedor de painéis elétricos, descobri a Cultura FM, naquela época passava um programa matutino com um cara chamado Salomão Schvartzman. E com ele aprendi muito sobre música e o prazer que ela pode proporcionar... Pois é, sou estranho. rsrs
Não tenho TV por assinatura, e acho melhor assim... Gosto da telinha, não assisto novela, e nas noites de quinta rio com "A Praça é Nossa" que assisto desde criança, e na sexta se estiver de boa dou risada do Ratinho e seu teste de DNA. O restante do tempo vejo desenhos em geral e a programação da TV Cultura.
Com a internet assisto minhas séries que variam de suspense, terror, (Supernatural, American Horror History, Paranormal Witness, Game of Trones) chegando a comédia (Big Bang Theory). Sinto falta das produções nacionais que me faziam rir, como por exemplo "Os Normais" e a série que me surpreendeu não só pela boa história de suspense, mas pelo total desrespeito com o público por parte da emissora "A Cura".
A leitura é minha paixão, não vou ser hipócrita e dizer que leio tudo mas gosto muito de coisa antiga como Álvares e Aluísio Azevedo, Machado de Assis, que são escritores nacionais que já navegaram pelas linhas da literatura fantástica. Gosto muito de Laurentino Gomes com seus livros de história do Brasil "1808”, “1822” e o recente “1889". Atualmente estou lendo "O Senhor da chuva", de André Vianco, "Guerra dos tronos, crônicas do gelo e fogo - livro 1", de George R.R. Martin e uma coletânea "Contos fantásticos do século XIX", por Ítalo Calvino. Vou intercalando entre um e outro sem problemas.

5) Como está a vida artística e cultural em Suzano?
A mudança de gestão na prefeitura gerou um choque, o atual secretário se trancou num 'casulo pseudo-intelectual', não convocando e não recebendo a classe artística da cidade. Um ato de arrogância que motivou a mobilização da classe artística.
Faço parte da 'Associação Cultural Literatura no Brasil' e encabeçamos os atos de repudio às ações, ou melhor, ´à falta de ações´ no âmbito cultural. Ações que abraçavam toda a comunidade e que atualmente não existem mais. Para resumir um exemplo claro da falta de respeito com os cidadãos que utilizavam os serviços culturais da cidade, a biblioteca municipal do centro da cidade hoje fecha às 16:30h! Que trabalhador usufruirá de sua estrutura!?
No sábado passado (03/08/13), foi realizado das 09 às 17h, a "Conferência livre de Cultura" em nossa cidade. Um encontro muito produtivo e que mesmo sem a participação daquele que deveria ser o gestor da cultura, gerou frutos muito positivos, resultado da união de representantes de todas as classes e vertentes artísticas de Suzano.
Períodos conturbados, de luta e de muita esperança no futuro cultural da cidade.


6) Após esse período de intensas manifestações, o que acredita que está acontecendo? As coisas estão indo numa direção positiva?
Mostramos nossa força e agora sabemos o que ela pode fazer pelo nosso país. Mas precisamos direcionar o ´gigante à reivindicações focadas com os problemas atuais de nosso país, sem nos perder nos estratagemas armados pelo caminho. Aqui em Suzano o momento de protesto serviu para sairmos da inércia de aceitação. Afinal já passamos por regime de coronelismo na prefeitura que se iniciou lá na década de 80. Éramos zumbis, politicamente falando. Com as mobilizações, o povo aprendeu a gritar e exigir seus direitos e isso é um bom início para as mudanças que com certeza virão.
Nada acontecerá de um dia para outro, mas iniciamos algo maravilhoso e não podemos retroceder.

7) Como foi o processo todo de Minhas Histórias de Mistério, Terror e Morte, seu primeiro livro?
Comecei os primeiros rascunhos em 2006, 2007 e não sabia ao certo o que queria, mas gostei de escrever. Na época já assistia e lia muita coisa, e embutia em meus textos a minha visão de suspense e terror. Neles, os eventos acontecem no Brasil do passado, por volta do século XVIII. Em minha cabeça existia uma magia verossímil numa época sem tecnologia e facilidades que a vida moderna nos proporciona.
Quando achei que tinha terminado, imprimi todo material num espiral de sulfite, fiquei muito tempo admirando-o e mostrando a amigos, ficava mexendo nos textos ao longo dos anos e vejo hoje que tenho de mexer mais. Ter o material e não publicar me entristecia e foi criando uma mágoa grande da vida por não ter seguido um caminho profissional mais condizente com ´meu talento´, ficava me perguntando aonde estaria hoje se tivesse desenvolvido a escrita antes... Coisa de louco!
Hoje sei que tudo tem seu tempo, conversando com meu primo (um dos cantores do grupo de rap Katarse), que me apresentou para o escritor Sacolinha e deu no que deu. rsrs
Em todos os meios existem bons e maus profissionais, o principal problema com estas pessoas é o ego e a arrogância. Hoje, como membro da Associação Cultural Literatura no Brasil, tenho por mim que meu papel é mostrar, dividir com jovens talentos as minhas experiências. Como ainda estou na luta por reconhecimento, tudo que enfrento divido com as pessoas que me procuram.

8) O que é a Associação Cultural Literatura no Brasil?
É um grupo criado pelo escritor Sacolinha, o poeta Francis Gomes em 2005 (se não me engano), com a ideia de incentivar e fomentar a leitura nos bairros da periferia de Suzano. Deste grupo, que tenho prazer de fazer parte desde 2012, vem projetos culturais fantásticos, como por exemplo, Sarau Literatura Nossa, Sarau Pavio da Cultura,  Projeto Sarau nas Escolas e distribuição e troca de livros. Muitos talentos juntos, com o diferencial da força de vontade que marcam os artistas de nosso país.
Tudo é muito recente pra mim, e aprendo muito a cada passo.

9) Tem alguma pergunta que você gostaria que eu tivesse feito e não fiz? Se quiser, pode formulá-la e depois responda-a. Obrigado!
Hummm... não sei o que falar rsrs Mas seria mais ou menos assim a pergunta:
"- Por que gosta de escrever o gênero terror?", ao que eu responderia:
"- Perguntaram certa vez ao grande escritor Stephen King o porquê dele escrever coisas tão macabras, ao que ele respondeu: “- Eu? Imagina! Eu tenho um coração de menino. Que está em minha mesa, dentro do vidro”.
Uma resposta digna de uns dos grandes mestres modernos do terror.
Quero agradecer a você, Escobar Franelas, pela oportunidade deste bate papo, pelo seu formato descontraído. Pergunto se é normal ficar sempre com a sensação de que poderia ter falado sobre isso ou aquilo... Não me acostumei a dar entrevista mas tem chão para que eu possa aprender.
Agradeço a você também pela sua humildade e dizer que o respeito pelo seu trabalho como escritor, poeta e agitador cultural e seria um prazer para mim poder chamá-lo de Amigo.
Os escritores Sacolinha, Mano Cákis, Débora Garcia e Leal (foto: arquivo pessoal SL)

16.8.13

Entrevista: Nicanor Jacinto da Silva - SP



(Conheci o Nicanor numa certa noite de domingo, isso mais ou menos em 99, 2000, quando estava filmando alguns amigos que se apresentavam no Sarau do Bar do Frango e ele também registrava o evento para um programa do Sindicato dos Petroleiros no Canal Comunitário. De lá para cá nos perdemos nos caminhos tortos da vida e nunca mais o vi. Até que no dia da Virada Cultural – 19 de maio – estava com o pessoal do Movimento Popular de Arte (MPA), se apresentando na Sala Olido quando ele apareceu por lá para registrar. Sempre com sua câmera, ele, depois da festa, contou um pouco de sua história. A partir de então passamos a conversar mais, via Facebook. Foi daí que surgiu a vontade de conhecer melhor esse D. Quixote que apresento agora, para todos. Desfrutem-no!)
O agitado e agitador Nicanor, com sua câmera onipresente (foto: arquivo pessoal NJS)
 1) Quem é Nicanor Jacinto da Silva?
A vida é uma grande descoberta. Sou do interior, ou mais precisamente, de Natividade da Serra. A minha descoberta cultural aconteceu com maior dimensão em São Paulo. Foi aqui que descobri o teatro e outras vertentes culturais. Esse dilapidar pedra bruta é muito interessante. Assim aprendi a vivenciar o teatro e declamar poesias, que a princípio não eram minhas. Isso por volta de 1975. E assim aprendi a gostar do jeito teatral de ser.
Me sentia feliz em ver o ser humano um pouco mais igual. Como era bom sentar no chão e virar cambalhotas. Fiquei nesse espaço até sentir que ali não havia mais evolução. E assim continuava trabalhando, já que não poderia depender dos meus pais para sobreviver. Nesse período aconteciam em São Paulo as ditas arapucas. As agências prometiam aquilo que não podiam cumprir. Eles procuravam manipular o sonho de nossa juventude. Na verdade o interesse deles eram faturar. Então nessas arapucas haviam uma grande rotatividade de jovens que iludidos encontravam a desilusão. E assim a minha luta continuava ao participar de uma atividade aqui, outra lá.
Em 1985 fiz um teste para o Circo Amarelo. E lá fiz cursos de teatro, aula de criatividade. Cheguei inclusive a ser um dos diretores dessa entidade. Participamos de grande debate no Centro Cultural São Paulo para criar uma associação cultural na cidade. Nessa época debatíamos uma nova constituinte para o Brasil. Mas o governo Jânio Quadros ao ganhar as eleições tirou boa parte do incentivo cultural e desmantelou todos os circos que tinham na periferia de São Paulo. E assim continuei seguindo a minha luta até que em 1996 fui o representante dos petroleiros no Canal Comunitário de São Paulo. Hoje essa entidade é denominada como "TV Aberta São Paulo".
Isso durou até 2002. O Bar do Frango conheci em 1998. Nesse dia Vidal França fazia um show no local com Mazé Pinheiro, Karina França, Kátia Teixeira e outros. Lembro que vivíamos a fase do apagão. E Vidal França muito lamentava daquela situação. Mas o evento foi belíssimo. E dado a isso conheci o Bar Café do Bexiga. Ali virei muitas noites prestigiando o trabalho desses queridos artistas. E consequentemente fui convidado para ser ator dos filmes "Tudo São Referências, Tudo São Memórias" e "Matrículas Abertas".
Em 2010 criei o Programa ArtMult Cultural, o qual irá fazer três anos em 17 de agosto de 2.013. Já o site TV ArtMult Cultural foi criado em 2011 e já estamos com mais de 11.000 visitas. E no Canal do Youtube estamos com mais de 20.000 visitas. Sou parceiro musical de Vidal França, Mazé Pinheiro e Carlos Mahlungo. Muitas de minhas poesias venho declamando em saraus. Isso é um pouco da minha história a qual procuro compartilhar e buscar em meu semelhante a grandeza humana em cada ser. Essas pessoas humildes que precisam vir à tona.

2) Como você mantém o Programa e a TV ArtMult Cultural?
O programa é feito quando sinto a possibilidade de entrevistas. E a TV ArtMult Cultural é mais ampla, ou seja, todo material de vídeo editado é postado na TV ArtMult Cultural. Na verdade a TV ArtMult funciona em formato site. E internamente os espaços são divididos em páginas. Dentre as páginas estão MultAções Culturais, Principal (vídeos recentes), todos vídeos, o qual remete para o canal do Youtube (ArteMult) e outras. Em MultAções Culturais encontram-se os vídeos sem entrevistas. Para os programas não existem patrocínio. Gasto um determinado valor de meu bolso para elaborar as edições e postar no site.

3) Já pensou (ou tentou) editais ou outras formas de patrocínio? Ou isso inviabilizaria a liberdade e qualidade de seu trabalho?
Às vezes penso, mas ao mesmo tempo sinto a importância de se fazer um trabalho focado essencialmente na cultura e na valorização humana. A independência de ultrapassar fronteiras faz se necessária. Ou seja, precisamos descobrir e valorizar o cidadão pleno.

4) Como você vê a agitação cultural em São Paulo hoje?
Sinto que São Paulo pulsa cultura, mas sinto que é possível fazer melhor. Tenho pensado nas Viradas Culturais. E nesse contexto, dividiria a Virada Cultural em diversos eventos ao longo do ano. E ao mesmo tempo estimularia os eventos em alguns pontos da periferia. Embora tenha crescido os movimentos de saraus, acho importante estimular a interconexão entre os diversos grupos! Considero de suma importância focar nos bons planejamentos para uso do espaço público. Não sei se a atual administração está planejando aulas culturais nas escolas! Considero isso de suma importância para a população da para a capital paulista. Pensaria também uma solução as casas de entretenimentos. Ou seja, os bares! E assim pensaria o estimulo artístico cultural. Assim procuraria revitalizar alguns bairros da capital paulista.

5) Sobre essa sua idéia sobre a Virada, muitos também a pedem, justamente porque é muito mais abrangente. Mas você não acha que ela não preenche um requisito básico da política cultural atual que quer os eventos sejam sempre grandiosos, midiáticos, rápidos e que juntem o máximo de pessoas, para potencializar o turismo e o comércio, para depois tudo voltar à “normalidade”? É assim com a Fórmula 1, Fórmula Indy, Marcha Pra Jesus, a Parada Gay, o carnaval, os grandes concertos de rock...
Desde antes a atual gestão já analisava tal situação! Considero difícil ocupar-se, ou seja, participar de todos os eventos num só dia! E todas as verbas gastas em 24 horas faz com que falte verbas para a classe artística ao longo do ano. Para isso considero de suma importância para que tal verbas sejam distribuídas ao em 4 eventos ao longo do ano!
E nesse contexto lamento que muitos artistas que conheço não conseguem participar das Viradas Culturais! Se pudesse criaria também uma assessoria especial para estudos e viabilidade do projetos para os apopulares (artistas populares)! Daria um foco especial para as Secretarias de Cultura, Turismo e Educação. E nesse contexto torna-se necessário tratamento especial para o patrimônio público e recuperação de bairros, a exemplo do Bixiga!
Sou favorável que os diversos órgãos estimulem um grande respirar cultural na cidade de São Paulo. E que assim possamos caminhar em direção à cultura plena. Estimular um grande debate cultural com os mais diversos seguimentos é de grande valia para todos nós! Analisar e discutir o país a partir de nossas ruas nós levará a ter a melhor identidade cultural. Ou seja, é possível descobrir e valorizar o cidadão pleno de seus direitos e deveres.
Em tempo, não sou contra outros eventos, considerando a importância do Brasil ser um país laico. Mas considero que alguns desses eventos conseguem apoio da economia privada em boa parte! Sou favorável à política de geração de emprego
Porém a cultura humana e social precisa ser muito mais ampla. Precisamos ter um olhar especial para os atuais artistas e as novas gerações que virão. E não resta a menor dúvida que precisamos também discutir as mídias e as diversas vertentes que culturais as quais muitas vezes ficam à margem. O lobby do grande capital é muito forte. Na maioria das vezes eles escolhem o que pode ascender para a grande massa. Não resta a menor dúvida que precisamos quebrar esse paradigma. É preciso por e valorizar a cara cultural de nosso povo. Quebrar paradigmas (é preciso expor e valorizar a cara cultural de nosso povo).

6) E como você acredita que essas políticas culturais poderiam ser implementadas?
Cada administração tem o seu plano. Alguns inovam, outros seguem o que já está pronto. E mesmo no parlamento são poucos os que se dedicam intensamente em prol da cultura. É uma pena que muitos vejam a cultura como despesas. E existem aqueles que focam apenas a cultura do entretenimento. E a cultura não pode ser apenas isso, mas aquelas que estimulam a consciência e a evolução do pensamento. Infelizmente a mídia aberta consegue impor uma pseudocultura de massa. Assim age o sistema capitalista ao impor e estimular o consumo. Acredito que situações poderão mudar a partir de grandes debates, os quais envolvam a maioria dos agentes culturais. Sinto que precisamos ser mais ativos sobre os direitos e deveres.

7) Meu camarada, quem você gosta de ler, de ver, de ouvir?
Li os livros “O assassino do Presidente" e "Asas de Pedra", do escritor e jornalista Edivaldo Rodrigues! O primeiro livro é de ficção e fala das drogas, poder e relações comerciais. Já o segundo livro fala de causos acontecidos em Porto Nacional, no Estado do Tocantins. Ele também é diretor do Jornal "Paralelo Treze", o qual circula na cidade e regiões. Edivaldo tem mais de dez livros editados, os quais mencionam causos e personalidades que lá passaram ao longo da história. Li também o livro "Dias Sem Compaixão", o autor é Gouveia de Hélias. Esse livro fala das mulheres dos cangaceiros de Lampião. Ou seja, a grande força das mulheres nordestinas.
Gosto de ver um bom jogo de futebol, um bom debate, documentários, conhecer outras culturas. Gosto de ouvir o Fagner, Dominguinhos,Gonzaguinha, Luiz Gonzaga, Belchior, Chico Buarque de Holanda, Martinho da Vila, João Bá, Edvaldo Santana, Vidal França e outros.

8) Num momento político em que manifestações dizem que o "povo acordou", você saberia nos dizer que povo é esse, que só acordou agora?
Todas as manifestações podem ser benéficas quando bem coordenadas e focadas nos seguimentos que lhes interessam. Não resta a menor dúvida que fiquei preocupado por sentir uma falta de coordenação e pautas mal elaboradas, muitos indivíduos ou grupos que viam no movimento uma possibilidade de suas ações antigoverno ser expostas naquele momento!
E pensando assim, sou favorável, como também sempre participei de movimentos sociais, mas jamais fui favorável a quebradeiras ou destruição do bem comum! E jamais fui favorável à corrupção e defendo a ética na política. Como acho de suma importância a colocação em prática da Ficha Limpa!
E tirando a violência e pessoas infiltradas que produziram quebradeiras, o movimento foi de grande valia! Minha sugestão é para que façam uma grande análise sobre sociologia e psicologia desse movimento! Entendo também que tal movimento não representa a consciência do povo brasileiro, considerando que mesmo aconteceu em regiões urbanas! Ou seja, mais especificamente nas grandes cidades! Tomara que isso venha estimular as pessoas a terem mais conhecimento dos candidatos na hora de votar!
Que venha logo a reforma política! Espero que a sociedade goste de debater os direitos e deveres! Que todos aprendam a defender o seu bairro, a sua cidade e o seu país! Não deixem que apenas o grande capital façam lobbies, porque infelizmente eles formam a maioria dos governadores e parlamentares do país! Porque nossos representantes são poucos e precisam aumentar, caso contrário teremos que continuar a fazer manifestações eternas e sempre submissa ao grande capital! É preciso que o grande debate aconteça em todos os cantos do país! Só com participação ativa e debates permanentes é que poderemos ver nossos anseios serem atendidos!
Pensando, O CAPITAL QUER DEVORAR O SOCIAL! E O SOCIAL PRECISA DOMAR O CAPITAL!

9) Quais são os planos para o futuro próximo?
Vivo um momento de transição. Penso o que devo acrescentar e o que será possível mudar. Tenho gosto especial também para o teatro, o rádio, televisão e o cinema. Mas não resta a menor dúvida que esse humilde trabalho, o qual tenho feito em boa parte com os artistas, poetas, palestrantes e agentes culturais estão me agradando. Se essas pessoas consideram importante esses trabalhos de divulgação, isso me deixa feliz. Criamos o GIC - Grupo Irmãos da Cultura - mas ainda não desenvolvemos a visibilidade que precisa ter. O que não quer dizer que esteja tendo algumas considerações.
Esse constante debate sobre a DEMOCRACIA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO é de suma importância para toda a sociedade brasileira. A classe artística do país precisa disputar a grande mídia. Não podemos, tendo pouco espaço em nossa própria terra.
Da mesma forma precisamos cobrar dos governantes e parlamento atenção especial para a nossa cultura. E quanto a mim haverei de estar declamando poesias e gerando parcerias nos diversos seguimentos culturais. Sinceramente, o humanismo multicultural com o bom tempero espiritual me deixa hiperfeliz. Quem sabe possamos embalar as crianças com a alegria de renascer a cada dia! Pensar, sonhar e lutar pela melhor fertilidade! Colher o melhor fruto e reciclar os obstáculos com amor e criatividade! Haveremos de aprender, compreender e conviver com todas as estações, mesmo que os dias fiquem turvos ou de sol escaldantes, porque assim seremos premiados com as flores de primavera!

10) Tem alguma pergunta que não fiz mas que você gostaria que fizesse? Se tiver, faça-a então, e depois a responda. Obrigado!
Grande Escobar Franelas! Não somos perfeitos e aprender faz parte da evolução humana. Essa vontade imensa de arregaçar as mangas e fazer acontecer nos estimulam a alimentar sonhos.
Lembro da frase do teatrólogo Plinio Marcos, "QUANDO PARAMOS DE SONHAR, DEIXAMOS DE EXISTIR". E assim vivemos os vários ciclos que a vida nos permite. E todo ciclo tem a sua razão de ser. E o homo sapiens precisa entender e conviver com todo ser humano, sejam crianças, jovens ou idosos. Principalmente as crianças, que precisam de todo o nosso carinho e atenção. Precisamos evitar que o preconceito nos domine. Assim poderemos estar descobrindo o ser humano pleno.
Lembro também do psiquiatra Vargas que sabia de uma determinada tribo que cuidava bem de seus loucos. Todos tinham a sua importância e sabedorias em certos afazeres. O homem solidário e criativo precisa existir para dignificar o nosso tempo e descobrir atalhos que antes eram impossíveis. E seu amigo Nicanor Jacinto é um sonhador que gosta de escrever, declamar poesias, compor e focar na medida do possível o seu lado ator. Assim criei o site "arte da multiplicação", depois "Artmult Cultural" e o "Programa ArtMult Cultural". Venho conhecendo uma quantidade imensa de pessoas nos mais diversos espaços da grande Sampa e de nosso país. E todos estão sempre prontos para declamar seus poemas e cantar com a singeleza de sua alma.
Fico muito grato a todos por AMAR A VIDA E VIVER ESSE MOMENTO ESPECIAL com o meu semelhante. "VAMOS JUNTOS QUE A VIDA VALE MUITO MAIS"!

6.8.13

Resenha - livro: Um Demonio que Ruge e Um Deus que Chora (José Antônio de Souza)




Partindo de um pressuposto polêmico, mas defendido com pertinência e argumentado com rigor, (...)Em Bilac, toda nudez será exaltada. Em Nelson, toda nudez será castigada. O primeiro tem a virgem e quer a puta; o segundo tem a puta e quer a virgem.(...) (p.20) José Antônio de Souza traça em “Um demônio que ruge e um deus que chora – presença de Bilac em Nelson Rodrigues” sutis recortes analógicos às obras do mestre parnasiano e do Anjo Pornográfico, Olavo Bilac e Nélson Rodrigues, respectivamente. Para Souza, ensaísta, mas também reconhecido como talentoso dramaturgo (Crimes Delicados, entre outros trabalhos), roteirista de tv (Grande Sertão: Veredas, por exemplo) e cinema (Reflexões de Um Liquidificador é sua autoria mais recente), Souza aqui nos apresenta outra faceta pouco conhecida de seu repertório: leitor voraz e crítico intuitivo, ajuda-nos a ver (e compreender) a inusitada aproximação do desbocado Nelson com o lírico Bilac.
Poeta mais exaltado da literatura brasileira no século 19, e que sobrevive naturalmente, sem os ruídos histriônicos dos acadêmicos ou da mídia obtusa, até esse início de século 21, Bilac foi, na feliz interpretação de Souza, um precursor, ou antes, predecessor, da obra teatral mais contundente do século 20. A leitura que o debochado Nélson fez do parnasiano Olavo, de versos elaborados com sutileza

(...) O Amor, botão apenas entreaberto,
Ilumina o degredo e perfuma o deserto. (...) (p. 23)

permitiu que surgisse em seu teatro efeitos poéticos de mesma lavra e procedência, conforme nos convence o autor, citando a peça Senhora do Afogados (1981):
(...)Noivo (...) Ah, se tu visses os ventos ajoelhados diante da ilha! (...) (p. 51)
Chamado pelo ensaísta de Anjo Tutelar, Bilac sorvia vorazmente a taça lírica da morte, do tempo, da solidão e – também – do amor. Disso tudo, mas também bebendo nas fontes de Augusto dos Anjos e Fiodor Dostoievski, Rodrigues – o Anjo Exterminador, segundo Souza – vivia sua “angústia sem nome”, seu patetismo adolescente, a dor aguda de ter presenciado a morte estúpida do próprio irmão (1929), a morte lenta do pai meses depois, os embaraços financeiros nos quais a família envolveu-se na década seguinte. Daí que sua pena alvoroçou-se em fina ironia.
Não por acaso, Souza enumera 

“(...) Ele não falou de Bilac (...) eu quase diria que ele foi Bilac numa 2ª edição teatral, na transposição da poesia do verso para a poesia do palco. Eu exagero? Pode ser que sim, pode ser que não, pode ser que talvez.”(...) (p. 154)

Longe de serem distantes ou opostos, a obra elucida todos os pontos que complementam um ao outro. E pondera que em ambos pontificavam as mesmas paixões: amor desmedido à pátria.
Sintetiza, por fim, fazendo uso adequado dos versos de Bilac: 

Não és bom, nem és mau: és triste e humano. (...) Um demônio que ruge e um deus que chora.” (p. 167)

“Um demônio que ruge e um deus que chora – presença de Bilac em Nelson Rodrigues” é, portanto, uma pepita de valor inestimável na leitura do work in progress da literatura e dramaturgia brasileiras, a partir do último quarto de século XIX até o presente momento. Pois a influência de ambos permanece. E José Antonio de Souza nos dá conta dessa proximidade, com clareza e familiaridade, discernimento possível somente àqueles que sabem do que falam. Ou do que escrevem. Souza sabe.


Um demonio que ruge e um deus que chora – presença de Bilac em Nelson Rodrigues, José Antônio de Souza. SP: Giostri, 2011, 1ª edição. ISBN: 978-85-60157-61-7

(Rodrigues, N. Senhora dos Afogados. Teatro Completo. SP: Nova Alexandria, 1981)

* Mais sobre o autor: http://www.imdb.com/name/nm0211789/?ref_=fn_al_nm_1

 


2.8.13

CEU Aricanduva tem palestra sobre zona leste com profº Paulo Fontes



Ana Matos, José Maria, Sandra Kanashiro, Valter Almeida, Paulo Fontes, Luana Bhering e Taísa Costa (foto Antonio Primus)

As mudanças de paradigmas quanto às periferias são tangíveis e cada vez mais explícitas. Muita gente está pesquisando, inquirindo, construindo e defendendo o antigo subúrbio, agora modificado em seu contexto, mas ainda assim afastado do núcleo decisório, tanto no âmbito econômico quanto no político. No caso específico da zona leste de São Paulo e, mais pontualmente ainda, em Itaquera, o assunto é mais avassalador. Faltando 10 meses para o início do evento que mais atrai a atenção da mídia mundial na atualidade – a Copa do Mundo de Futebol em 2014 – que terá seu chute inicial no bairro. Todo o seu entorno ganha discussões, plenárias, estudos, especulações e intervenções.
Um pouco deste aprofundamento foi oferecido pelo CEU Aricanduva, nesta sexta feira, 2 de agosto, que promoveu o ciclo de palestras História da Zona Leste. O convidado da manhã, o profº doutor Paulo Fontes (UNICAMP), trouxe um apanhado geral da história da região – principalmente os séc. 20 e 21 – atrelando suas observações a um campo amplo de discussões sobre os novos protagonistas dos micropoderes que emanam dessa evolução constitutiva da sociedade.
Atestando que “essa discussão é fundamental para entendermos as coisas e planejarmos o futuro”, Fontes compôs um painel longo e elucidativo do conceito de periferia dentro da historiografia moderna. Para tanto, recorreu a temas atuais, ou “urgentes”, como “muita gente pensa que o gigante acordou agora, mas ele estava acordado desde há muito tempo”, ponderou.
Partindo de dados de sua pesquisa, asseverou que “São Paulo é a cidade que mais cresceu no mundo, no século 20”, não sem antes lembrar que essa condição faz com que haja uma mudança radical na caracterização geral da cidade, de onde ela estava no fim do século 19 e onde se encontra hoje, em pleno século 21.
Assim, foi possível ao pesquisador aprofundar suas considerações sobre a região leste da capital, ou, como enunciou, os “subúrbios orientais da cidade”, como eram conhecidos anteriormente. Discorrendo sobre esse envolvimento com a história e a memória do lugar, Fontes projetou três características principais dessa periferia, ainda que reconheça a todo momento que a “periferia” não é homogênea, como muitos instauram, tampouco simplesmente heterogênea. Há, segundo o educador, uma multiplicidade imagética na qual todos incorremos quando queremos estabelecer uma medida simbólica para o universo periférico como um todo.
Baseado nisso é que ele a vai traçar as características da periferia leste, a saber, a) que toda ela é “popular” diante da interpretação do senso comum; b) toda ela traz consigo um saber cultural intrínseco pelas próprias peculiaridades de seu surgimento. Aqui, o autor cita como exemplos pontuais o teatro anarquista no Brás do início do século 20 e o Movimento Popular de Arte (MPA), de São Miguel, no último quarto do mesmo século; c) as lutas sociais (sociedades amigos de bairros, sindicatos, ligas dos moradores - década de 1910 - novos movimentos sociais a partir dos anos 1970 etc.).
Fontes ainda enumerou três fases distintas na constituição dos bairros orientais. Segundo ele, a primeira grande onda de industrialização, potencializada pelo café mas transformada no centro urbano pela indústria têxtil, oferece o painel inicial dessa ocupação, que atingiu os bairros do Brás, Mooca, Tatuapé e adjacências. O segundo momento é o período posterior à 2ª Guerra Mundial, com o acentuamento da “segunda fase” da industrialização, agora focada na metalurgia. De acordo com o palestrante, é nesse momento que se estabelece o que ele citou como “padrão periférico de crescimento”, onde as moradias de regiões centralizadas encarecem, inflacionando o custo de vida e o aluguel, “expulsando” para mais longe os antigos moradores. “E a zona leste é absolutamente emblemática nisso”, asseverou Fontes.
É desse ponto que surge a terceira fase, com a autoconstrução em terras longínquas. “É nesse ínterim que o Brasil tem a maior migração interna dentro um país, no século 20”, registrou. Segundo ele, “hoje temos um movimento maior na China e na Índia” mas foi naquele período que houve esse remanejamento mais intenso de pessoas no país. E mais, “no fim do século 20 temos uma mudança na caracterização geral da zona leste, pois surgem enclaves de altíssimo poder aquisitivo que impactam tremendamente o lugar”, ponderou, para finalizar em seguida: “Precisamos de políticas públicas em torno da história e da memória. Não tem jeito, temos que consultar as fontes materiais e imateriais. Por que as escolas da região não têm acervos sobre a zona leste? Por que as bibliotecas não podem se transformar em centros de memória?”, questionou.
Vários profissionais trouxeram à tona questões pertinentes ao tema discorrido por Fontes. Algumas perguntas ajudam a elucidar as problematizações surgidas com a palestra.
 Taísa da Costa Endrigue, Coordenadora de Planejamento e Desenvolvimento Urbano da Subprefeitura de Itaquera, fez um adendo explicativo, “o avanço da zona norte esbarra na Serra da Cantareira, no sul para nos mananciais”, frisou ela. E constatou, “resta, então, à zona leste, que tem uma topografia mais plana”.  Externando uma preocupação lúcida, apesar de sua pouca idade e longa experiência (ela tem apenas 25 anos), Taísa finalizou seu raciocínio, “os empreendedores imobiliários conhecem as leis. Nós, o povão, é que não conhecemos”.
Já o adolescente Caíque, estudante também presente ao encontro, questionou a importância do estádio para o bairro. Fontes responde, “o estádio tem seu aspecto simbólico-cultural norteado politicamente, não podemos nos esquecer disso. E esse determinismo vai nortear as ações de certos grupos que desejam valorizar uma região. Mas do ponto de vista educacional, a construção do estádio é um bom mote para ajudar a discutir o bairro, o entorno, as políticas públicas etc”.
Angelina, professora aposentada, trouxe outro aspecto relevante sobre a palestra. “Ouvindo suas histórias, me vi dentro de minha cassa, que foi construída nesse sistema de compadrio mesmo, mas era grande. Hoje me sinto sufocada no apartamento de meus filhos, de tão pequenos que são as construções”.
A palestra com Paulo Fontes faz parte de um projeto de fôlego maior intitulado “Estudo da Realidade Local”, organizado pela diretoria Regional de Educação de Itaquera. Outros eventos farão parte da agenda, que consolida uma demanda natural quanto ao protagonismo da região, assim como contempla a relação escola-comunidade, constituindo uma via de troca de vivências e saberes.
A mesa com os convidados, com Paulo Fontes ao meio (foto Antonio Primus)

Recepção do CEU Aricanduva, na abertura da palestra (foto Antonio Primus)

Público enorme e diversificado para ouvir Paulo Fontes (foto Antonio Primus)