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28.8.12

Um poemeu: "Valsa número um"

último jarro de águas
gralhas gretas grilos
nessa música ensandecida
de chuvas de choros

é minha única dívida
ver as nuas nas naus
afoguearem-se nas mágoas
aos gritos, gemidos sísmicos

último jarro último cântaro
as águas já não se esbarram
no rumo do mar avaro

haja voz, vagas violetas
história que os sons narram
são os olhos desse esteta

(pela primeríssima vez aventuro-me ao mar do poema formal, no caso, aqui, um soneto. De cara já percebo alguns erros, de ritmo, de imagem qualquermente elaborada, de rima pobre, de ideia mal formulada. Mas, como abrir mão do "primeiro beijo", mesmo que seja mal dado? Pois é assim que me percebo, virgem, diante dessa revoada de prazeres que me acomete agora, findo esse textículo ainda disforme, mas ainda assim filho querido que pari e amo)
Publicado originalmente em http://www.recantodasletras.com.br/sonetos/2363776

24.8.12

Um poemeu: "Tudo breve" (postagem 444)

de vida medida
arremetida na via:
de dia, medita

na vida do ente
há vida doente:
dádiva, demente

os dois, em zoom
juntos são um
só corpo: ad infinitum

nada sei, não sabemos
do ser, de sermos:
ermos irmãos

20.8.12

Projeto "Bem-Te-Vi, Itaim" - Êxtase até o fim

O CERTO
Quando se faz o que se gosta, com as pessoas certas, no momento certo, você não precisa das respostas imediatas sobre como fazer: você só tem que ter o insight e... fazer! O projeto Bentevi foi assim: uma soma de acertos que permitiu que vários artistas de múltiplas estirpes se juntassem com um objetivo: arrecadar grana para o lançamento de um livro com o melhor da poesia de Akira Yamasaki, um poetaço de mancheia, inspirado até a medula e que é, também, um cara do bem: precisava dessa homenagem dos amigos, fãs e outros tais.


Segundo Silvio Kono, foi numa conversa informal num boteco do Alto da Pedroso, em São Miguel, na zona leste da Sampalândia, numa sexta qualquer de fevereiro, que surgiu a ideia de fazer algo pelo produtor-mór da cultura de S. Miguel e região. Akira faria (fez) 60 anos em agosto e seria legal os amigos se reunirem para fazer alguma coisa praquele que sempre fez pelos outros. De cara, diante da necessidade de se igualar em qualidade com os projetos que o próprio Akira toca, perceberam a necessidade de chamar alguém que tivesse um desprendimento e que pudesse dar "liga" nessa empreitada: convocaram Sueli Kimura, esposa do Poeta e também produtora cultural. E ela tirou um ás da manga: chamem o próprio Akira para ajudar nos cuidados disso. 
Chamaram.
Não poderia ter sido mais certo.


Akira rápido chamou a responsabilidade de granjear parceiros, juntar os diferentes, contemplar os anônimos, separar para multiplicar, administrar "fogos-amigos", tourear egos, juntar temperos e fazer o sopão. E que pratos saíram dessa fornada! Encontrou em Will, dr. Xavier, Sandra, Sílvio de Araújo, Beto Rios, Mizinho e Mizão de Carvalho e tantos outros as mãos, pés e cabeças de um projeto que logo mostrou a que vinha.


Saiu-nos este Bentevi, Itaim, que juntou no restaurante da Casa de Farinha em nove sábados diferentes mais de 30 artistas diferentes, de São Miguel e região, e um público de mais de mil pessoas, que consumiu hectolitros de cerveja, comeu trocentas porções de fritas e frango, entornou caldos e caldos (o de mocotó, pra mim, é o melhor), brindou com diversas branquinhas a arte da arte, a arte da amizade, a arte do encontro, a arte da vida.



Bentevi era, antes de tudo, uma ideia para reunir amigos, ouvir e ver trabalhos de qualidade, homenagear o mestre Raberuan - recém-partido pras estrelas - e arrecadar uma graninha para bancar o livro do Akira. Mas rendeu mais: rendeu também um cd com poemas do japa musicados de maneira sublime pelo Sílvio de Araújo e arranjados com esmero pelos pai&filho Mizão e Mizinho de Carvalho, shows memoráveis no palco da Casa de Farinha (cito, "de prima", o de Ronaldo Ferro & Overdrive como "o show", entre tantos outros que me deixaram maravilhado), o aconchego da Casa de Farinha, com seu bucólico jardim e o sorriso aprazível dos anfitriões da casa, Xavier e Sandra, mas também de toda a equipe do espaço.



Bentevi, Itaim rendeu-nos também o inquestionável talento de Heron Alcântara, que fez a segunda capa do livro, o talento nato de Will na arte gráfica, o desprendimento hercúleo de Sueli Kimura, Jorge Gregório (Gueguê),  Sílvio Kono (no som, nas ideias, na soma total), Betinho Rios, Solange Kono e Fátima Bugolin (nas "tarefas sujas" da cobrança do metal), Big Charlie e Joãosinho - o Little John (pelos vídeos e troféus, além do sorriso sempre encorajador e animador) - pela presença luminosa e inspirada de Gilberto Braz.


O SÁBADO
O lançamento do livro/cd Bentevi, Itaim, com poemas de Akira Yamasaki musicados pelo músico Sílvio de Araujo, aconteceu sábado último, dia 18 na Casa de Farinha. Diante de um público de mais de 300 pessoas (que provocaram 5 horas ininterruptas para os autógrafos), os poetas Gilberto Braz, Claudio Gomes e este escriba, mais Ravi Landim, Vinicius Casé e banda (com participação especial de Priscila Perdigão e deste "enxerido profissional" novamente), Marcel Acauam e Grupo Oca Sound, Sílvio Araújo, Edvaldo Santana (com Éder Vicente Lígia Regina como convidados especiais), Osnofa, Sacha Arcanjo, Gildo Passos, Fabio Lima, Pérola Negra, Zulu de Arrebatá, Aimée Landim, Tião Baía e Ceciro Cordeiro.



A festa contou ainda coma presença marcante das famílias de Akira e Sueli, além de velhos amigos metroviários (o Poeta também promove agitos de fomento cultural no Metrô, onde trabalha), exibição de videoclipes e depoimentos gravados de seus familiares. Também teve uma simbólica entrega de troféus aos mais devotados articuladores do proejto Bentevi, uma feliz ideia pensada e bancada pelo Joãosinho, e que teve seu ápice na premiação de Sílvio Kono, Francisco Xavier, Big Charlie e o próprio Akira. Escolhas muitíssimo acertadas.


fotos Escobar Franelas

19.8.12

Um poemeu: "Poema nada sagrado"

Não bastava a ele
ser poeta profundo
do mundo
do nada

Não bastava a ela
ser profeta
de tudo
inundada

O que lhes bastava?
Ser deus?
Mais nada?

17.8.12

Um poemeu: "Itaquera rima com Itabira"

Itaquera rima com Itabira.
Por onisciência dos destinos
a segunda gestou o Poeta Maior.
A primeira, ah, a primeira
ofertou ao mundo um menor.
Talvez o melhor 
entre os piores.

15.8.12

Entrevista: Santiago Dias (poesia)


EF – Fale um pouco de você, de onde vem, como tudo começou, de como sua arte se manifestou:
SD – Sou mineiro de Nova Belém, que é próximo da divisa com o Espírito Santo. Vim para São Paulo em 79, publiquei meu primeiro livro em 82 e saí vendendo de mão em mão. Depois, em 83, publiquei “Sagrada Primavera”, em 85 “Caminho”, em 87 “Estradar”. Em 1994 publiquei “Canto ao Amanhã Sem Dor”. Com eles, vendi 25 mil livros no eixo Rio-São Paulo-Belo Horizonte.
Agora estou me preparando para publicar um livro de crônicas e prosas, não sei se consigo, tô atrás de editora. Não vou mais bancar do meu bolso e pra pagar eu enrolei muita gente. E aí eu não quero mais fazer isso. Então desenvolvi uma técnica de falar poesia. Vou pegar meus livros e sair por editora.

EF – Quais as suas considerações sobre o Projeto Bentevi*, qual a sensação?
SD – Pra mim foi um prazer estar aqui homenageando o Akira e achei um barato este projeto. Eu achei maravilhosa essa iniciativa. Conheço o trabalho do Akira desde o início dos anos 80. Só hoje conheci ele. Tenho um livro dele, mimeografado, em minha casa, prefaciado pelo Baitola, que hoje é o Edvaldo Santana. Achei um privilégio, fiquei feliz pra caramba. E o Raberuan, em 2007, eu tava com um projeto junto com o Mauri de Noronha, no Lua Nova, “Tocando o Barco da MPB”, eu o convidei para fazer uma apresentação, tinha um público maravilhoso num domingo, até pensei assim, “poxa, esse índio velho vai viver uns 90, 100 anos.” Fiquei chateado em saber que ele estava doente.

EF – Mas ele tá vivendo, vai viver muito mais que isso.
SD – É, o trabalho dele está vivo. Acho que o trabalho da gente, vivendo, o pensamento da gente, sobrevivendo, naturalmente, de uma certa forma , somos nós que estamos vivendo, né?

EF – O ambiente no Brasil hoje está mais propício para quem depende da arte como forma de sobrevivência?
SD – Está até pior. Pois na verdade os artistas não têm espaço em lugar nenhum. Os poetas, os músicos, principalmente. Tem gente que tem coragem de convidar um artista para ganhar 30 reais para tocar numa noite. Você acha que tá propício?
As emissoras de rádio não tocam música brasileira, tocam música que não tem nada a ver, música de consumo fácil. Não tá fácil, não tem nada fácil.
Mas não vou desistir da arte, vou pegar meu livro, por debaixo do braço e sair na batalha como sempre fiz. Porque na verdade não tenho medo de enfrentar a dificuldade.


* Nota: o projeto "Bentevi, Itaim", no qual Guiberto Ginestra leu alguns poemas de sua autoria, é um conjunto de eventos poéticos-musicais que tem por finalidade arrecadar fundos para o lançamento do livro-cd de poesias do Akira Yamasaki, poeta da melhor qualidade e produtor cultural. O mesmo leva este nome em homenagem ao cantor e compositor Raberuan, falecido recentemente e que gravara pouco tempo antes uma singela canção chamada Bentevi, de autoria do mesmo e de Akira.

 fotos EF

14.8.12

Cláudia Brino: uma poeta brasileira

"O ambiente"

Entre um quadrado de paredes com 
4,5 cm de luz.
Ela, ele, o gato e o resto.
Uma janela


"Vendo o pensamento no espelho"

A imagem formou a frase que havia
caído dos olhos


"O esqueleto da luz"

Todo o espaço é cinza
Ela o chama para mostrar o sonho que tinha
trazido pela mão.
O gato pula nas vogais dos nomes deles.


Frags. Santos: Costelas Felinas, 2011, 2ª ed.

12.8.12

Poemeus: "Tríptico"

trancado no banho
e a cabeça viaja
ao som do chuveiro

...

deitado na banheira
a cabeça aproveita
e faz um cruzeiro

...

sentar no banheiro
pensamento que voa
vai respirar

11.8.12

Entrevista: Guiberto Genestra (poesia)



Escobar Franelas – Fale um pouco de você.
Guiberto Genestra - Ao contrário do comum, eu leio muito pouco. Eu diria que é uma limitação que venho resolvendo ao longo do meu curso de Ciências Sociais. Quem se propõe a ser sociólogo precisa ler muito, até bula de remédio.
Se eu posso dizer que fui influenciado, o que me influenciou foi minha própria condição solitária, quer dizer, me vi sozinho, disposto a desenvolver um trabalho. É claro que você tem um pouco de Fernando Pessoa e o Manuel Bandeira. São pessoas que tenho como referência. Mas não posso afirmar categoricamente que por eles fui influenciado.
Publicações: eu tive a honra de participar de uma antologia, Confraria dos Poetas. O grupo que iniciou a partir dos meados de 2002 teve um repertório muito grande de poetas que tinham uma característica muito importante, que fazia parte até do nosso manifesto: não eram poetas catedráticos, não eram tecnicistas. Eram poetas livres, poetas soltos, onde tinha o operário, o estudante, o lavrador, o camponês, você tinha uma especialista na área de informática, e que agregava este público e conseguia traduzir através dessa antologia. Tive o prazer de participar e este grupo já está na segunda antologia. Por questões de tempo e produção, resolvi não participar deste primeiro momento. Mas o grupo ta tocando seus projetos.

EF – O que você tem feito? Como está sendo essa parceria com o Zulu?
GG - O Zulu é um desafio porque é também uma indignação. Quando conheci esse caboclo, falei assim pra ele, “rapaz, eu escuto o seu cd, Amor Urbano – que pra mim é um clássico de tudo que já ouvi na minha vida – eu falava pros meus amigos, ´tá vendo esse caboclo aqui?´, ´tá vendo essa música, esse som, essa letra?´, pois é amigo meu”, senta comigo, toma cerveja, vai em casa, come feijoada junto, ou seja, estamos sempre numa parceria.
Dentro desse desafio, encaro o maior deles, primeiro, aí está um pouco de minha característica, de divulgar o trabalho dele. Porque pego carona, e acho que a gente tem feito parceria nesse sentido. Ele consegue a música dele não apenas a um show, um músico que chega lá com voz e violão. Ele consegue trazer Guiberto Genestra, ele consegue trazer Santiago Dias, que ta aqui com a gente. Esse é o foco de nosso projeto, que não é pensado, ele se deu com naturalidade.
Claro, existem aí algumas propostas, inclusive do próprio Zulu de lançar seu cd mais alinhado à bossa nova, o meu livro solo – tenho esse projeto – mas que por enquanto está engavetado. Por conta das atividades de universidade, de trabalho, e isso vem ocupando esse tempo. É uma dedicação que tem que ser feita na hora certa.

EF – O que você achou do projeto Bentevi, a Casa de Farinha?
GG – Em primeiro lugar, mais uma grata surpresa que o Zulu (de Arrebatá, cantor e compositor) me reservou. Desde que o conheci, de lá pra cá a gente tem feito uma parceria entre música e poesias, sempre que a gente tem oportunidade. Há aproximadamente um ano fizemos um show aqui no Mercadão de São Miguel, na Marechal Tito, dois dias inteiros declamando poesia e cantando música pra população da região. Isso foi muito bacana.
Eu não conhecia esse espaço, que me encantou. Pelas, pelo espaço em si, pela qualidade dos artistas que estão se apresentando, pois você vê, um simples poeta que faz da poesia seu instrumento de expressão, de dor, de amizade, de revolta, de esperança, e toda oportunidade de forma tão simples de estar envolvido com gente tão bacana, homenageando, no caso, o companheiro que se foi e também ajudando o Akira neste projeto.*

EF – Deixa eu salvar esse arquivo... (parando a entrevista e gravando na memória do gravador)
GG – Vocês me pegaram de surpresa... (relaxando um pouco)
EF – Mas isso é que é bom, bicho! (dando de ombros)



•    Nota: o projeto "Bentevi, Itaim", no qual Guiberto Ginestra leu alguns poemas de sua autoria, é um conjunto de eventos poéticos-musicais que tem por finalidade arrecadar fundos para o lançamento do livro-cd de poesias do Akira Yamasaki, poeta da melhor qualidade e produtor cultural. O mesmo leva este nome em homenagem ao cantor e compositor Raberuan, falecido recentemente e que gravara pouco tempo antes uma singela canção chamada Bentevi, de autoria do mesmo e de Akira.

Esta entrevista também está em http://www.recantodasletras.com.br/entrevistas/3823201

fotos de Escobar Franelas

6.8.12

Entrevista: Zulu de Arrebatá


(Zulu de Arrebatá, 56 anos, ícone da musicalidade negra de São Miguel, está bem. Cheio de projetos e ideias, é ele mesmo que nos diz isso.
Em bate-papo logo depois de seu show no Casa de Farinha (mix de restaurante, open bar e casa de espetáculos de São Miguel Paulista), naquela noite gostosa de julho, ele – na companhia dos poetas Santiago Dias e Guiberto Genestra, novos parceiros – deu sua contribuição para o projeto “Bentevi, Itaim”, que visa levantar fundos para o lançamento do livro e cd com poemas de Akira Yamasaki. Aproveitou para fazer reflexões profundas sobre suas experiências artísticas e pessoais)


EF – Como foi participar deste projeto (Bentevi, Itaim)?
Zulu de Arrebatá – É uma imenso prazer ter sido convidado para participar deste projeto, até porque a maioria das pessoas são conhecidas, além dos outros que chegaram.
Fiz uma surpresa para o Akira, que tem o projeto de construção de seu livro e todo esse trabalho, já que o projeto vem contribuir para isso. Fico muito honrado de estar participando de alguma forma. Um projeto dessa natureza tem uma importância aqui pra São Miguel, assim como outros movimentos que existem na zona leste e em outros cantos da cidade. Isso ajuda a manter viva essa força de toda a nossa produção, que foi e continua sendo pólo irradiador para uma série de coisas que acontecem.
Nós, da zona leste, mais precisamente de São Miguel – que é o lugar onde moro e atuo – sinto que aqui é um grande centro cultural, sem querer ser bairrista, talvez já sendo. S. Miguel tem uma coisa especial, uma história que data desde 1622 mas é anterior a isso. E a gente, por conta dessa história e a do Movimento Popular de Arte que, como tantos outros, começaram a pipocar pelo Brasil com o advento da democracia, dessa abertura, essas coisas todas, esses projetos pipocaram - tem o Jaguaribe Carne lá na Paraíba, com o Chico César na Secretaria de Cultura do estado e o Pedro Osmar, como secretário adjunto - e é tudo amigo da gente. São pessoas da área também e isso pra mim é muito importante. Como o Edvaldo Santana e tantos outros.
Sendo muito importante qualquer evento de natureza artística, nós estaremos juntos, contribuindo de alguma forma para a transformação das pessoas. A arte é um veículo que a gente utiliza para que essas coisas aconteçam.

EF – E o que você acha deste espaço (Casa de Farinha) onde está rolando o projeto “Bentevi, Itaim”?
Zulu de Arrebatá – Posso dizer que sou um privilegiado. Fui convidado para conhecer essa casa no ano passado, através do Arnaldo Bispo, advogado, contador de "causos" e que por algum momento foi subprefeito em Ermelino Matarazzo. Ele me contou, “vamos numa casa de farinha, um espaço cultural que existe ali pros lados da Vila Mara, na Vila Barboza". Cheguei aqui e fiquei impressionado porque vi uma roda de carroça e o nome do lugar é Casa de Farinha, bastante sugestivo.
Fui apresentado ao dono da casa, o dr. Xavier, um cara que gosta de música e aos poucos fui conversando, fiquei sabendo que a família dele é da Congregação Cristã no Brasil, onde eu fui criado, minha família é da Congregação e da Assembléia de Deus. E no fim dessa história toda, eles conheciam meus pais, meu irmão, que toca na orquestra de uma dessas igrejas, e assim foi.
Mais ou menos em setembro do ano passado sugeri ao Xavier que a gente fizesse um show aqui e comecei a contar a história dos artistas de S. Miguel, e pra minha felicidade ele já conhecia e era muito fã de Sacha Arcanjo. Quando adolescente, ele assistia ao MPA-Circo, e falou, “aquilo ficou em minha cabeça”. E me disse, “você conhece Sacha?” Eu disse “sim, é meu parceiro mais constante na música”.
Acabei fazendo esse show aqui. Aí o Ronaldo Ferro pintou, uma sintonia que o Akira faria 60 anos, quiseram fazer uma homenagem a ele, confeccionando um livro com 60 poemas dele.  Surgiu então uma segunda homenagem para nosso querido amigo que já não está mais entre nós, o Raberuan. Aí pintou este projeto Bentevi – que é uma música do Raberuan (nota: em parceria com o Akira Yamasaki) - onde todas as pessoas e artistas, sejam músicos, poetas ou atores, participando diretamente, tendo como objetivo angariar fundos para este projeto.
Essa é uma situação. A outra é o IPEDESH (nota: Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Social e Humano, organização não governamental sediada em São Miguel), que é um instituto que surgiu dentro de uma oficina de lideranças comunitárias, essa coisa toda, e no final deste projeto surgiu o IPEDESH, que tem como objetivo resgatar alguns artistas que até o presente momento não tiveram condições de fazer o seu trabalho musical individual, ou livro, até o momento mais focado na questão do disco.
Essas coisas são importantes por quê? Porque os meios de comunicação de massa, que têm tudo para produzir, tem público pra tudo nesse mundo, né? Tem aquelas coisas que são de bom gosto e outras não priorizam a questão do gosto daquilo que se faz.
Não estou preocupado com essa questão, se vai tocar no rádio ou não. A gente tem essa energia que é estar sempre junto, trocando figurinha, contribuindo, solidário com todas as formas de projeto que venham a transformar alguma coisa.
Só por isso já é fundamental estar num projeto como o “Bentevi, Itaim”.

EF – Fale um pouco sobre sua carreira:
Zulu de Arrebatá – Costumo dizer que sou um cantor e compositor mas não sou daqueles que compõem a toda hora. Componho sim, uma hora ou outra, gosto muito de trabalho em parcerias. O Guiberto Genestra (poeta) é um cara que contribui muito para isso. Para esse ano tenho um projeto que sai um pouco fora do meu jeito de fazer, um disco de bossa nova. Gosto muito de bossa, soul, jazz... estou num momento de escolha de repertório, começo de ensaios para fazer um trabalho de pérolas e não pérolas. É um ritmo que gosto  muito.
Também continuo compondo, pretendo voltar para a faculdade de História e simultaneamente pretendo fazer outro disco com a cara bastante diferente de como foi o Amor Urbano (primeiro cd), pretendo novas parcerias também, mas o conceito do disco vai ser completamente diferente do outro.
Estou muito feliz nesse momento, conhecendo bastante pessoas que estão somando na construção dessas idéias que estão pintando por aí.
fotos Alexandre D´Lou