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26.5.16

Um poema: "A chama chama"


chama úmida
que pulsa, vibra, me comove
chama tímida
cujo sino badala
as escalas pentatônicas
e seus mudos lábios
promovem louco espanto
enquanto atônito
chamo a chama
de minha

22.5.16

Entrevista para revista Poetizando (2011)

(Em nov/2011 a revista/zine Poetizando (Santos, SP), editado por Eunice Mendes e Walmor Colmenero, deu voz a este escriba. Original postado em http://revistapoetizando.blogspot.com.br/2011_11_01_archive.html)

entrevista

“A Arte transforma o indivíduo.”

Escobar Franelas


Escobar Franelas, 42 anos, escritor, videomaker e fotógrafo amador. Membro da União Brasileira dos Escritores (UBE) desde 2004.
Tem o livro "hardrockcorenroll" (poesias, SP:Scortecci, 1998) e participação em diversas coletâneas.
Atualmente é um dos articuladores do núcleo Fora do Eixo - Letras, em São Paulo, e colaborador da Revista Ounão (SP), e do jornal O Grito (Monteiro Lobato, SP).
Prepara os originais para o lançamento do romance "Antes de Evanescer" ainda esse ano.

P - Quem é Escobar Franelas?


E. F: - Sou nascido, crescido e ainda hoje morador da zona leste de São Paulo. Desde criança sou meio dominado por amor devoto às letras. Mesmo quando sonhei ser jogador de futebol, na adolescência, esse jogador também seria poeta, com certeza. E depois, quando enveredei profissionalmente pelos caminhos da audiovisual, desde então meu grande anseio tem sido sincronizar essas duas paixões: a literatura e o cinema.

P - Como se deu sua trajetória na poesia?

E. F: - Os primeiros versos eram de um típico enamorado adolescente que, sem saber como cortejar uma garota, escrevia poesias sofríveis na expectativa de impressionar alguma menininha. A devoção às letras, contudo, levou-me até os jornaizinhos da escola, depois aos fanzines. Daí pulei para os jornais de bairro. Enfim, essa foi minha trajetória, até chegar à Antologia Poéticas de Pinheiros (1989), minha primeira incursão, digamos, "mais profissional" pelo mundo da arte literária. Tinha 20 anos, àquela época.

P - Crê que a poesia tem que ser um agente de transformação pessoal?


E. F: - Acredito que a transformação social mais visível vem pelas mãos da política, mas como toda mudança social é, sim, de caráter pessoal, então acredito que a poesia, a filosofia, a Arte (assim mesmo, com maiúscula) em estado bruto, têm esse poder de transformar o indivíduo.

P - Todo talento é nato ou um aprendizado?


E. F: - Diria que toda vocação só pode ser equacionada no mundo das exigências civis e formais, daí que ela exige, sim, muita dedicação, estudo, planejamento e transpiração. Mas se todo esse esforço não estiver acondicionado no princípio do "insight" instigador, então não será arte, no máximo ciência ou artesanato.

P - Qual a importância da leitura para quem escreve?


E. F: - Não consigo conceber um cineasta que não assista filmes, ou, pelo menos, não dê conta de conhecer tecnicamente como funciona o universo da  produção  cinematográfica. Assim como não vejo bulhufas de escritor no cara que não se dispõe a ler e interpretar através da palavra o mundo à sua volta.

P - Tem acompanhado os novos autores?

E. F: - Sim, com certeza. Não abro mão da leitura dos ditos clássicos, assim como tento dividir meu tempo com a leitura do novo, para que a mente seja sempre arejada pela disputa entre essas duas (e outras) escolas.

P - A internet interferiu em seu processo criativo? E na divulgação dos trabalhos?

E. F: - Sinceramente, não consigo perceber se a internet influencia a confecção ou produção de meus trabalhos, mas reconheço que dentro do aspecto marqueteiro, a internet pode ser uma ótima ferramenta.

P - Como é seu processo criativo? Existe inspiração?

E. F: - Não sei dizer como funciona o "start" em minhas criações. Às vezes uma frase solta numa conversa dentro de casa, um papo qualquer que ouço dentro do metrô, ou mesmo algo falado num filme, enfim, qualquer coisa pode atingir um determinado ponto em minha memória que anela-se a outras sensações e daí surge uma tênue linha divisória que eventualmente pode se tornar um poema, um conto ou uma crônica (até mesmo um romance!), dentro das vertentes que se abrem em meu imaginário.
Da mesma forma que às vezes o título nasce antes da peça, às vezes acontece o contrário, vem o texto e o título se recusa a chegar!

P - Acha importante o intercambio entre poetas/escritores/leitores?

E. F: - Sim, sem dúvida. Não existirá o artista se não houver a contemplação de sua obra e a interatividade que se inicia a partir da "leitura" que o público faz de determinado trabalho. E da troca que há entre os iguais.

P - Que tipo de criação pode ser considerada artística?

E. F: - Aquela que o "artista" diz ser "arte", não poderá nunca ser negada. Poderemos sempre discutir nossos conceitos e preferências, mas jamais teremos, enquanto humanos, poder para julgar e negar a condição de "arte" à qualquer feitura que tenha essa definição, pois não há critérios teóricos ou práticos, que imponham ou impeçam alguém de divisonar o que é ou deixa de ser "arte".

P - Para que serve a poesia?


E. F: - Para me levar à loucura ou me tirar dela. Para me levar ao éden sem ter que apelar à existência de algum deus. Para que eu goze sem precisar do esforço do corpo ou da mão. Para que eu possa fruir a vida com vários verbos lindos: sublimar, curtir, sublevar, extasiar, sonhar...

P - Deixe uma mensagem para os novos jovens poetas/escritores.

E. F: - Escrevam! Sempre! Não haverá talento à mostra se não houver o diálogo entre artista e público. E mesmo que a relação entre eles seja de  vaia ou aplauso, provocação ou comedimento, isso não tornará esse artista maior ou menor. A indiferença e a inexistência de diálogo é que tiram o caráter criador do artista.

P - Deixe, se quiser, um contato (e-mail, site, etc.)

E. F: - Algumas experiências que tenho feito na área de fotografia estão postadas no blogue vs. eu: http://escobarfranelas.blogspot.com assim como há vários sítios na internet que têm trabalhos meus.


DOIS

                                                           “olho muito tempo o corpo
                                                           de um poema” (Ana C.)

é tudo rimar

das estrelas que te olham divagar
senti-las em teus olhos é cintilar

CANÇÃO

de fato houve uma fuga da ilha maomau
nada demais um bando doméstico
temos tido tantos por aí

se acaso você vir numa nuvem cinza
dessas que ofuscam o sol
tudo mais já terá sido dito
e olha que nem fomos muito longe

longe demais
tenho tido tantos sonhos

A TRAVE DO OLHO

essa forma belicosa de dizer adeus
reafirma a estrutura da porta
a extensão do olhar
a distensão do abraço

ERIGIR

os jovens concluem

a maturidade
sub
trai

tudo

DUB

céu que pode orgasmar orvalhos
ou vice (-) versos

AMOR ENCANTO ÊXTASE

vibra o verbo no anverso
desta página

ó infinita finitude de sempre


silêncio

O MITO DA CRIAÇÃO

ousar: despertar
as partes da pétala
enquanto o instante vai construindo
eflúvios narcisos

amar: desarmar ânimos daninhos
incrustados na entrada
do sol na porta
: há balbúrdia de águas
no instrumento de veiculação
da notícia

alma: mito a justificar
uma criação

arma: cria de ânimos
danosos

lama: imaginar que não é mundo
o mundo das idéias

ESCOBAR FRANELAS
São Paulo/SP
in: hardrockcoreNroll
e-mail: efranelas@yahoo.com.br
___________________________________

21.5.16

20.5.16

Um poema: "Transparência"

em mim, a poesia
eu vos falo
se declara, farta-se, vibra
entorta, mira, cura, cala

em mim, a poesia
à luz clara
rompe, anoitece, rola
abastece, se abala

em mim, a poesia
dia e noite, quente ou fria
desgoverna, range os dentes
enche, corta rente, esvazia

em mim, a poesia
nunca
nada
silencia

(Escobar Franelas)
Foto Raquel Ramos

16.5.16

Deus e o Diabo na Chess Premier League



Bem, amigos, estamos aqui na Arena Brasilha, nesse país atlântico, essa ilha chamada Brasil. Lugar bucólico, paradisíaco, com um povo carnavalesco e radicalmente alegre. E, como todo grupo extremista, os brasileiros são uma gente sediciosa, bélica, homicida e suicida. Por causa da sua felicidade, são capazes de matar… e morrer!

Mas nós, da rede universo, estamos aqui por outro motivo. Estamos aqui pois enfim chegou o grande dia. Hoje acontece o match final entre aqueles que são considerados os maiores enxadristas de toda a história e de todo tempo. De uma lado, o anjo de luz, o galã dos tabuleiros, o rebel way of life. De outro lado, o sisudo carismático, o hermético pragmático, o prático, o burocrático, aquele que tem a torcida mais fanática.

Após os intervalos, teremos os comentários de nossos convidados especiais que estão aqui para presenciar esse duelo de titãs, na batalha do século. Ao perdedor será concedida a efemeridade mas ao vencedor, a eternidade, esse troféu sem devolução!

Voltamos a apresentar esse encontro fenomenal, esse duelo fabuloso, com duas forças rivais, uma partida que simbolicamente traduz o fim de uma era: quem ganhar leva tudo; quem perder, fica sem nada. Bem, vamos com nossos repórteres que tudo veem, tudo escutam e aqui retransmitem a realidade cruel desse encontro apocalíptico em Brasilha, esse lugar quente, abafado, onde os coqueiros acenam de um lado como a dizer adeus e as palmeiras acenam de outro como se respondessem aos coqueiros um gesto involuntário de partida. Com vocês, Papagaio de Pirata!

Boa tarde, senhoras e senhores, damas e cavalheiros, crianças e idosos. É… aqui estamos nesse monumental estádio de Brasilha, especialmente para este confronto entre dois estilos opostos, táticas complementares de batalha. De um lado temos Deus, o cofiador de barbas brancas, sempre calmo, munido de seu silêncio sepulcral e avassalador. De outro, o diabólico, o loquaz, o rubro da capa negra, Lúcifer, sempre com seu sorriso maroto, uma de suas marcas. Desconcentrado e inquieto, ele está ali, na sala de imprensa, distribuindo autógrafos para seus adoradores.

Nessa guerra de táticas e posturas, a pergunta que não quer calar é: quem ganhará essa partida? Eu não arrisco palpite. E você, meu companheiro de trabalho, Pagão dos Santos, prostrado aí do outro lado da mesa? O que você vê que ninguém mais consegue enxergar?

Antes de tudo, o meu boa noite a todos os espectadores. Eu também não arrisco palpite, Papagaio, até porque sou admirador dos dois estilos, tão distintos, tão sedutores e – como você já comentou aqui nessa transmissão – tão complementares. Parece até que um vive para dar luz ao outro. Seria, para usar uma metáfora futebolística – como se Pelé estivesse para Garrincha, ou Messi para Cristiano Ronaldo em sua sombra. Ou Senna para Prost. Agora é aguardar e, quem tiver juízo, que espere até o final. Quem viver, verá um embate transcendental.

Bem, meus amigos, tivemos aí os comentários poéticos de nosso repórter. Agora vamos a mais um break comercial. Logo voltamos, é pá e pum, vapt-vupt, zás-trás.

Terráqueos e terrenos, aluados e lunáticos, depois de um zap com nossos patrocinadores, depois de faturar o dinheirinho do leite das crianças e o trocadinho da feira da patroa, estamos de volta com nosso match final ao vivo. Uma partida para ficar além da história, um encontro transmitindo para todas as galáxias através das ondas celestiais da nossa rede universo.

Depois de três dias, o grande jogo de xadrez entre Deus e o Diabo nessa terra do sol está empatado. Se por um lado, o grande lorde cedeu sua dama, num lance muito ousado e discutido nas redes sociais, ele também abriu mão de atacar com os bispos. Lúcifer, por sua vez, numa estratégia inédita, se desfez de um de seus cavalos, sacrificando também quatro peões. Aliás, Deus acaba de perder um dos bispos – os dois! – num erro que parece meio primário, e que pode lhe custar a própria vida. Mas também pode ser um movimento inesperado. Vamos aguardar o desenlace disso tudo!

Nesse momento, Pagão e Papagaio, parece que o Diabo tem um certo predomínio do jogo, mas sendo os dois os reis das táticas, tudo pode acontecer. Lembrando que a partida não poderá durar mais que seis dias, porque se isso acontecer será empate pois, ao sétimo descansarão, conforme ditam as regras.

Os nossos comerciais, por favor!…

15.5.16

Um poema: "coração diversos eu"

Foto Joel Dias Filho

coração des
temido vermelho valente
com todas as cores 
arco íris preto branco verdamarelo
ciano cinza clarescuro rosa
choque
nada a temer