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26.4.13

Resenha - Livro: "Dom Quixote" (Miguel de Cervantes)



Levei bem 3 meses para dar cabo da leitura das mais de 600 páginas do livro “O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes.
Considerado por muitos como o mais importante romance ocidental de todos os tempos, essa novela de cavalaria conta a história do fidalgo que, seduzido pela leitura dos mais diversos livros de... cavalaria (!) andante, é tomado pela idéia de ser tornar ele também um cavaleiro. Nutrido por sua loucura ascendente, nosso (anti) herói romanesco sai a pelejar pela Espanha afora, determinado  a ser o protetor dos desfortunados. Proclamando-se “O Cavaleiro da Triste Figura”, recruta um escudeiro para fazer-lhe companhia, o desbocado Sancho Pança. Como todos os cavaleiros anteriormente retratados tinham um donzela a quem devotavam graças, Dom Quixote elege com musa uma lavradora de quem estava enamorado, a jovem Aldonça Lourenço, a quem ele toma por Dulcinéia Del Toboso, senhora dos seus pensamentos. Com esse intuito, parte em viagem para desempenhar seu papel em favor de pobres desguarnecidos, prisioneiros agrilhoados, donzelas desprotegidas, reinos em perigo.
A figura austera e risível, rígida sobre seu cavalo Rocinante, combatendo em pequenas vendas como se fossem castelos, moinhos de vento confundidos com gigantes, soltando presos por engano, lutando contra feras enjauladas, e outros feitos maiores e mais atípicos, ganharam logo notoriedade em todo o reino, permitindo-lhe a amizade, companhia e portas abertas de nobres e camponeses, todos curiosos em vê-lo contando e praticando os atos mais esdrúxulos e inconsequentes, divertindo-se com sua rica parolagem, sua cortesia esmerada e as confusões em que se metia. O glutão Sancho Pança participava vivamente das confusões armadas por seu amo, pois tinha o vício de proferir aforismos abundantes (e desconcertantes), às vezes certeiros, outras tantas vezes não; para toda situação que vivenciavam.
Paralelamente a esses desconcertos, D. Quixote discorria com profundo conhecimento dissertações sobre o exercício da Política, as complexas erudições do Amor, a efemeridade salutar das Armas, a eternidade calada das Letras, deixando a todos confusos com sua figura singular, em diversas situações um louco tergiverso, e em outras um artesão perfeito de palavras e pensamentos.
Um recurso usado no livro com muita propriedade e ineditismo é o delocamento do discurso do narrador (em 3ª pessoa), onisciente, mas que cede o lugar para um segundo 'contador' da história, como no trecho que segue:
"Conta o sábio Cide Hamete Benengeli...",à pg. 84, Cap. XV, 1a. parte. 

 Ou então, 
"Bendito seja o poderoso Alá! diz Hamete Benengeli no princípio deste 8o. cap.; bendito seja Alá! repete três vezes, e diz que dá estas bênçãos por ver já em campanha Dom Quixote e Sancho, e os leitores desta agradável história podem contar deste ponto em diante... e assim prossegue dizendo:", à pg. 341, Cap. VIII, 2a. parte; 
o que torna o exercício metalinguístico profundamente sutil em suas sobreposições, com camadas dispostas de forma a sempre facilitar o entendimento linear do enredo.
Lendo D. Quixote, surpreendi-me pensado em esquadrões da morte, capangas, coiteiros, leões-de-chácara, matadores de aluguel, capatazes, legionários, missionários, ditadores, justiceiros, aduladores, trogloditas, alcoviteiros e conselheiros; essa gentalha enfim que, sempre “imbuída das melhores intenções”, resolve praticar em nome de seu pensamento unilateral (palavra em moda, nos dias de hoje), a justiça que julga sã; a equidade, a separação do joio do trigo, a reparação do dano,a fortuna, a paz, a esperança, a bonança. Pois a história do “Cavaleiro da Triste Figura” nos diz que ele estava sempre pronto a lutar pelos fracos, atocaiados e oprimidos. E por causa dessa “vista embaçada”, embriagada pelo excesso de sonho de justiça a qualquer preço, acabou por soltar ladrões, lutar contra amigos, acreditar em magia quando a situação era de realidade impávida, e sonhar com uma donzela irreal. Nessa empreitada móvel apenas pelo seu destempero racional, ele confrontou todos os pilares estabelecidos – família, igreja, polícia e estado – sem nunca saber se o seu combate era a favor de um próximo (individual ou coletivamente), ou agindo contra. E disso precisamos fugir, sempre!


“El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de La Mancha” - SP: Abril Cultural, 610 pg.
Tradução Viscondes de Castilho e Azevedo
Notas José María Castro Calvo, traduzidas por Fernando Nuno Rodrigues
Capa Cecilk Rowlands Filho
1a. Edição – 1a. Parte 1605
1a. Edição – 2a. Parte 1615

21.4.13

Sarau da Casa Amarela recebeu o poeta Gilberto Braz

Akira iniciando o primeiro Sarau da Casa Amarela em 2013 (foto Celia Yamasaki)
Mágica. 
Foi essa a palavra que muitos usaram para descrever a sensação de êxtase alcançada na retomada 2013 do Sarau da Casa Amarela. Akira Yamasaki, organizador do mesmo, inovou e dessa vez trouxe para o início do evento a apresentação do convidado especial. E Gilberto Braz chegou chegando, nos brindando com sua poesia de ritmos e texturas bem sinuosas, cheia de imagens e imaginação, embalada no celofane do conhecimento intelectual, sensorial e metafísico.
O poeta contou um pouco de sua trajetória, os primeiros versos praticados ainda na adolescência e os estudos que fez para balizar seu percurso poético. Fez mais, respondendo às diversas questões levantadas pela plateia atenta e curiosa. Brindou-nos com a fina-flor de sua produção, além de apresentar textos antigos e inéditos.
No segundo tempo, Akira convidou então os "plantonistas" para que tomassem de assalto o microfone e soltassem seus versos. E fomos, uma a um - às vezes a dois - no gogó ou no violão, apresentando nossas produções tarde adentro, noite a fora. Registramos, entre tantos momentos distintivos, um em especial: a presença de José Carlos Guerreiro, chegado da Vila Maria, que ofertou-nos duas músicas de sua lavra, o que nos ajuda a explicar o "mágico" do início deste texto.
Na prorrogação, depois de vários poemas pra lá de extasiantes da turba diversa, Gilberto voltou pra fechar com chave de ouro as versão 2013 do Sarau da Casa Amarela. E o vinho que ele serviu ao microfone era da melhor espécie, um poema recém-saído do forno, longo, inspirado e com um título impronunciável. Deliramos!
Gilberto Braz, poesia rimada com simpatia (foto Celia Yamasaki)
PS: O cafezinho e o bolo da Célia foram outras das "faturas poéticas"! de uma tarde e noite de domingo, pra lá de perfeitas.
A "cereja do bolo": obras dos artistas da região à venda na CA (foto Celia Yamasaki)

Público presente, atento e curioso (foto Celia Yamasaki)


Entrevista: Ivan Néris, multiartista brasileiro

Ivan no Sarau da Casa Amarela, São Miguel, SP, 2011 (foto Akira Yamasaki)
Instigante, catártico, visceral, profundo, clássico, polêmico, inteligente, ator, diretor, literato, bissexual. Apresento-lhes Ivan Néris, artista brasileiro nato.

1) Quem é Ivan Néris?
Resposta: Bem Escobar, devo dizer que durante uma boa parte da vida eu busquei uma resposta para essa pergunta. No começo da pré-adolescência acreditava que Ivan Neris era um jovem bissexual descobrindo sua sexualidade. Depois pensei que era um jovem iniciado nos valores metafísicos do espiritualismo, posteriormente vim a ter a certeza de que Ivan Neris era um artista autodidata singrando a rota da arte que sonha transmutar seu entorno, porem somente quando a maturidade chegou eu percebi que a cada nova tese, que a cada novo caminho o que sou hoje ia sendo construído por mim mesmo, a partir das experiências que ia vivenciando. Hoje intuo que Ivan Neris é a soma de muitas pessoas, de muitas crenças, de inúmeros sonhos e frustrações. Quem é Ivan Neris? É você, Escobar Franelas, ele é Claudemir Santos, ele é Sacha Arcanjo, ele é sua mãe dona Zélia, tanto quanto é o pai Gilberto de Ogum ou é seu avô seu Odilon. Ivan é um pedaço do universo, um átomo do planeta terra.
2) A sua substância é notadamente consequência de muitas "escolas" e escolhas. O que você gosta? 
Resposta: Gosto de poesia barroca, de filosofia clássica, principalmente a escola socrática, adoro literatura russa, principalmente Dostoievski e Tolstoi. Sou fascinado pelos românticos do Brasil principalmente Álvares e Castro Alves e estrangeiros Victor Hugo e Rimbaud. Também gosto de filosofia moderna, indo de Sartre a Foucault. Sou apaixonado pelas obras de Pessoa, Neruda, T.S. Eliot, Virginia Wolf, Borges, Camus, Mann, Hesse, Saramago. Estou enlouquecido pelos textos de Bauman. Acredito que minha poesia está recheada por muito do cinema de Woody Allen, Fellini, Lynch, Kurosawa, da música de Dylan, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Cartola, Beethoven, pelo teatro de Artaud, Genet, pela poesia de Maiakovski, entre outros tantos criadores destes e de outros gêneros artísticos.

3) Percebo em você um amalgamar da arte com a vida. Afinal, o que é arte para você?
Resposta: Arte para mim, em primeiro lugar enquanto potência, é a luz no fim do túnel, que separa nossa espécie do pior que ela pode vir a ser, do pior que fora e do pior que é. Em segundo lugar e aqui falando dela em minha vida, creio que sei somente vivenciá-la como parte do que me define como existindo, como parte da matéria de que sou feito. Minha arte por vezes é o reflexo inverso do que comigo se passa, às vezes é sua cópia. Nunca houve o Ivan Neris e sua arte. Amalgamente eu sou minha arte e minha arte sou eu, pois tanto quanto eu a crio e recrio, ela me cria e recria, dentro desse contínuo processo de construção da minha psique, no qual me vejo desde que fui capaz de perceber que pensava. Desta forma voltando à primeira parte de minha resposta, enquanto objeto humano, busco construir o melhor ser que posso para “sê-lo” e “estar” vivo como como objeto de minha arte.

4) Fale-me do Alucinógeno Dramático, grupo de teatro do qual fez parte. Foi sua primeira incursão artística profissional?
Resposta: Bem, se nós estabelecermos que profissional significa receber algum dinheiro para executar uma ação artística, posso dizer que foi sim com certeza, apesar de ter iniciado meu caminho como artista na letras muitos anos antes. Foi em 1996 com o Alucinógeno Dramático que iniciei meu caminho como ator de teatro e foi lá que pela primeira vez tomei o fazer artístico como fonte de renda. Foram 10 anos de uma experiência mágica, onde eu e Claudemir Santos desenvolvemos nosso próprio método de construção de personagens e criação de espetáculos, espetáculos estes que levamos às escolas, espaços culturais, associações de bairros e teatros na capital e no interior de São Paulo. Conhecemos muitas pessoas, muitos atores passaram pelo grupo, desenvolvemos muitos projetos e oficinas. Foi também no AD que fiz minha primeira incursão como diretor de teatro, primeiro co-dirigindo e posteriormente na direção solo de peças. Posso afirmar com plena lucidez que durante este período fizemos algumas montagens que estavam à frente do seu tempo, nos quesitos técnicos e também quanto à proposta cênica.
Tenho orgulho de saber que fiz parte da história que não é contada na academia do teatro paulista e brasileiro, mas por fim senti a necessidade de tentar construir um caminho particular em meu fazer teatral, com a intenção criar de acordo com todo universo que imagino para o teatro, sem ter que entrar em conflito com meu grande amigo Claudemir. Infelizmente, esse caminho não foi em frente, pois o teatro é refém de um sistema, o sistema de funcionamento das relações em sociedade e do mercado cultural e dentro desses âmbitos, para realizar o teatro que sonhei com pessoas que me acompanhassem nele, eu precisaria já ter um diploma de doutorado em cênicas, ou ter uma história de fama e sucesso no teatro nacional ou já ter morrido a uns 100 anos.
Como nada disso aconteceu em minha vida, ninguém nunca me levou a sério em minhas propostas para montar núcleos ou grupos de teatro.
Minha última incursão foi tentar o caminho acadêmico. Descobri duas coisas importantes na Faculdade Célia Helena, que ninguém além de mim está realmente interessado neste teatro diferente que sonhava criar como ferramenta de auxílio na construção de uma sociedade também nova e que nada na minha história dentro do teatro interessa ou sequer é considerada digna de respeito dentro do universo acadêmico, daí era aceitar o que ai está e me enquadrar ou pular fora, que foi o que fiz, pulei fora da faculdade e do teatro.
O que ficou de mais marcante nos anos de Alucinógeno Dramático para mim, foi saber que através de nossas montagens nós efetivamente modificamos vidas de outros seres humanos, soube disso por intermédio de alguns desses seres humanos que me encontraram na rede cibernética para contar-me a história dessas transformações em suas vidas e isto são fatos que por mais que a academia os ignore, não podem ser apagados.

5) Com essa mudança de curso, você aproximou-se mais das letras novamente, certo? Fale sobre isso.
Resposta: Eu não diria que me aproximei novamente, pois acho que nunca me afastei, sempre rolou uma poesia inspirada em uma cena de um ensaio, ou um espetáculo visto. Sempre aconteceu de uma circunstância do teatro me inspirar um conto e fora que houve a composição como letrista que nunca parou durante todo esse tempo, nas parcerias com Tarcisio Hayashi, Vinicius Viana, Heraldo Góes, Ronald Melo, acredito que o que há é mais tempo disponível para as letras, não só o tempo físico, mas principalmente o tempo abstrato que existe dentro.

6) O que você está fazendo, neste momento?
Resposta: Neste momento eu estou à deriva, buscando respostas sobre a minha pergunta íntima: Como me encaixo sendo um artista em uma sociedade cujo dimensionamento cultural eu não reconheço? E mais ainda que não me reconhece dentro dela como artista antes que qualquer coisa.
Enquanto aguardo uma resposta, vou escrevendo meu blog sobre minha vida nesta cidade do Recife, vou publicando pensamentos em redes sociais e continuo escrevendo meu blog de poesias. Também estou tentando dar continuidade a um romance de ficção, tenho algumas idéias para textos de teatro e tenciono iniciar um outro romance que narra a história de dois homens, um francês e um brasileiro que se conhecem em uma cidade do nordeste e se apaixonam, mas devo salientar que o tema não é inspirado em fatos reais vividos por esse autor, infelizmente.

7) Sendo um "estrangeiro" em Recife, por conta de sua recente mudança, o que você nota de diferente em relação à Pauliceia que deixou para trás?
Resposta: Escobar, meu caro, é como um estrangeiro mesmo que me sinto ás vezes, trata-se de uma outra cultura, outra forma de ver o mundo, apesar da proximidade que a língua nos traz, muitas vezes a maneira de pensar do pernambucano me é estranha, como é estranha minha forma de pensar para eles.
Recife é uma cidade que anseia ser cosmopolita, com uma visão de mundo provinciana muitas vezes. Por exemplo, todas as pessoas daqui acham a coisa mais absurda eu ter ido morar distante do trabalho, para eles a escolha de um bairro para morar depende somente da distância do seu trabalho e não dos pontos positivos e negativos que o bairro ofereça. Deslocar-se para o outro lado da cidade é uma “bobagem de paulista que quer morar perto da praia” à praia se vai aos domingos!
Por outro lado esse lado provinciano revitaliza os laços culturais com sua história, seu artesanato, sua música, sua dança, as pessoas valorizam muito a formação acadêmica e uma base cultural, principalmente os mais velhos. Os mais jovens já estão imbuídos pela crença capitalista de que com uma boa ideia qualquer um pode acumular capital e isso é o que importa na vida em sua visão.
O povo de maneira geral é alegre e gosta de se relacionar com estranhos, nisso são diferentes de nós paulistas. Mas tem uma ânsia de levar vantagem em tudo e sobre todos, principalmente os jovens. Pessoas de fora sempre representam oportunidades financeiras, pois eles confiam demasiadamente em uma esperteza nordestina, talvez remanescência de um passado de seca, fome e sobrevivência, que já não é a realidade presente dentro da metrópole, mas por conta da péssima divisão de renda que é aparente, criando um enorme abismo entre que tem um pouco e quem tem o mínimo ou nada.

8) E este distanciamento do berço natal instiga a escrever mais, a criar mais?
Resposta: Cara... eu percebi que não estou escrevendo nem mais nem menos, o processo de criação em mim segue na mesma velocidade. Eu ainda não consegui alcançar o ponto de equilíbrio existencial que busco, consigo por enquanto somente flashs dele, consegui em algumas ocasiões me sentar na minha varanda e escrever sentindo o vento que chega pelo mar, mas também não tenho pressa, cheguei agora nesta cidade e tenho estado absorto nas resoluções da vida prática. Creio que logo que me sentir minimamente organizado, poderei estar liberto para me voltar aos meus projetos literários, como me programei para fazê-los! Como sempre, nesses momentos irregulares a poesia acaba sendo a vertente mais forte da minha criação, pois para a criação prosaica eu preciso sentir-me em paz com o tempo e isso aqui nesta cidade diferente do berço natal, é algo que creio, será possível! Pois a cidade é menor, menos populosa e meus compromissos são mais simples no meu tempo livre, o que me falta realmente é estar aqui tempo suficiente para introjectar esta nova condição de vida como permanente por enquanto, dai as palavras se sentirão seguras para sair

9) E, para finalizar, o que você está planificando para o futuro imediato (ou nem tanto)?
Resposta: Escobar, eu sou um migrante ao reverso que partiu a procura de um novo cotidiano, por isso me encontro de certa forma ao Deus dará como se diz por ai, sem grandes perspectivas e esperando as coisas acontecerem e o universo se acomodar, logo após um rebuliço. Espero editar o primeiro livro em breve, que serão contos e textos para teatro, também espero terminar os romances iniciados, bem como começar aquele sobre dois amantes de países diferentes, ainda não me situei verdadeiramente nesta cidade e tão logo o faça, quero me comunicar com as pessoas que aqui geram sua arte, é isso!
Ivan por ele mesmo


Elementos

Sim fatal, o imundo grunhido dito a lua,
A taça tosca, mosca e rua,
Percevejo curto e intacto da clara insígnia.
Por verões, policiais e escavadeiras,
Minha murcha dedicatória de um estado,
Limítrofe entre por e sol.
Sede rápido Oh! Gole imemorial,
Entre aqui e somos,
Entre fiz e queria,
Como um começo de orgasmo,
Ou um inseto indigesto na poeira,
Pela cura, Ah Deus dos mortos!
Vinde a mim, com o fálo dos universos,
Dê-me o dom da introjecção.

30/04/2012



15.4.13

Entrevista: Érico Alves de Oliveira, um artista brasileiro


Érico Alves de Oliveira, artista plástico, tem um extenso trabalho em história da arte e filosofia universal. Tudo isso além de ser um artista com viagens internacionais. Atualmente faz pós-graduação na ECA-USP. Nessa entrevista exclusiva, ele fala de metodologias, viagens e mostras, com a calma e o brilho no olhar que lhe são peculiares, quando comenta seu trabalho.

Retrato de um artista enquanto sépia (foto: arquivo pessoal - Facebook)
Érico Alves de Oliveira (foto: arquivo pessoal - Facebook)
EF – Como foi o início de sua carreira?
EAO – Na verdade, eu desenho desde criança. Nesse aspecto, sou muito grato aos meus pais e alguns professores, que forneceram elementos para a minha formação.

EF – Que elementos foram esses?
EAO – Ah, eles me incentivaram muito em minhas aptidões, comprando aqueles kits básicos, os livros necessários... reservando um espaço para mim dentro de casa, para que que pudesse desenhar à vontade. Também viajei muito. Enfim, tive alguns privilégios que me permitiram adquirir muitas informações. Sabe, aquela coisa toda, uma biblioteca razoável, acesso às informações, e vai por aí...

EF – E quando sua carreira foi realmente alavancada?
EAO – Na adolescência fiz um curso na Escola Panamericana. Depois prestei vestibular para Filosofia. Passei mas não terminei. Então, fiz a Faculdade de Belas Artes, graduando-me em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas. Também fiz muitas oficinas, coletivas e workshops. Outro detalhe muito importante é que freqüentei muitos ateliês, como o de Geraldo de Sousa Dias, hoje na Alemanha. Por aí, percebe-se que nunca alavanquei nada, mas sim criei caminhos que foram sendo encurtados.

EF – E como é que é seu método de criação, se é que existe um?
EAO – Caminho muito, gosto do contato com as pessoas, conversar, observá-las. É dessa observação que crio o meu espaço e minha temporalidade, o sumo que depois vou trabalhar. Me confesso um artista multidisciplinar na busca do conhecimento. E a tela em branco é uma possibilidade por vir. E tento esgotar plasticamente essa possibilidade.

EF – E como o artista e o  cidadão convivem com a política cultural, por exemplo?
EAO – Seria besteira cair no clichê da reclamação simplória. Mas a política como um todo chega a ser indigente, disso não tenho dúvida. Então, o que faço? Tento formar um público junto aos alunos do meu ateliê, meus amigos, nos fóruns e debates dos quais participo. Agora mesmo tenho um projeto de um museu comunitário aqui para a zona leste, onde os artistas da região e do underground teriam condições de mostrar seus trabalhos. A arte, tanto para o criador quanto para o gestor, não se esgota jamais. É um buscar constante, inerente ao ser humano, na busca de sua humanidade.

(foto: arquivo pessoal - Facebook)
Notas complementares: a) Esta entrevista originalmente foi publicada no Jornal de Itaquera, SP, capital, nº 33, ano 3, agosto de 1999.
b) À época, Érico Alves de Oliveira lançou as bases futuras do Museu Comunitário, em Ermelino Matarazzo, zona leste da capital paulistana. Desde então, o projeto está parado.
c) Esta entrevista foi postada com pequenas correções ortográficas
(conforme original).
 * Texto também disponível em http://www.recantodasletras.com.br/entrevistas/721644
(foto: arquivo pessoal - Facebook)

EAO (Foto: arquivo pessoal - Facebook)


(foto: arquivo pessoal - Facebook)

(foto: arquivo pessoal - Facebook)

(foto: arquivo pessoal - Facebook)

7.4.13

Blablablá na Casa Amarela - 1º encontro

Xavier, um dos fotógrafos da mostra São Miguel: Sujeito Objeto (foto Zé da Lua)
O primeiro encontro do projeto Blablablá na Casa Amarela - Espaço Cultural, em S. Miguel, foi muito produtivo. Antecedido pela abertura da concorrida exposição São Miguel: Sujeito Objeto, com os fotógrafos Alexandre D´Lou, Xavier e Vans Atalaia, os convidados para a primeira roda de debates foram o poeta, ator e designer Manogon, o poeta e produtor cultural Carlos Galdino e o cineasta Luiz Gonzaga dos Santos.
Com o espaço lotado de convivas, o Blablablá foi uma acalorada discussão sobre processos, conceitos e metodologias da produção cultural que se observa hoje no universo periférico. Esta proposta vem bem de encontro às nuances do projeto, que prevê vários encontros discursivos na busca de elementos que norteiem as ações culturais, artísticas, educacionais e ambientais na região.
Tanto o Blablablá quanto o São Miguel: Sujeito Objeto são projetos da série Dialogos Intermitentes. Esta série assume a ousadia de repensar os paradigmas que as novas tecnologias e metodologias oferecem para a construção cultural e seus possíveis desmembramentos no universo artístico, educacional e ambiental no ambiente periférico, em especial na zona leste da Sampalândia.
Abertura da mostra São Miguel: Sujeito Objeto (foto Sueli Kimura)
Registramos aqui algumas provocações trazidas pelos convidados e também pelo inquieto público, com proposições sagazes, vibrantes e ácidas, somando no banco de ideias, ajudando no sucesso dessa primeira empreitada.

Luiz Gonzaga dos Santos - "Estamos construindo nosso espaço nessa cidade".
"Se essa cidade é cruel, lembremo-nos que nós a fizemos assim".
"Naqueles tempos (adolescência), fui convidado a não entrar na escola, pois era um garoto do interior".

Carlos Galdino - "Existe periferia no centro. Existe centro na periferia".
"A presença do Estado é sempre maior no centro".
"O centro (enquanto classe social), foi obrigado a reconhecer a periferia".
"A biblioteca é um cemitério, a estante a catacumba e o livro (se não for aberto), o cadáver".
"Temos muitas burocracias".

Zulu - "Foi a Cooperifa que organizou a Primeira Semana de Arte Moderna na Periferia".

Éder Lima - "A periferia que aparece ainda é muito estetizada".

Carlos Galdino - "Se nós observarmos, nos últimos anos tivemos alguams conquistas, mas há muito por conseguir, ainda".

Éder Lima - Os movimentos do hip-hop ainda estão no gueto enquanto o funk já faz parte da indústria cultural".

Manogon - "A periferia aqui debatida é mais pela condição geográfica ou econômica?"
"Junto com a periferia e o protagonismo jovem, a internet é a grande novidade histórica desses tempos."
"A efervescência cultural na periferia sempre existiu. O que temos agora são os mecanismo mais dinâmicos".

Carlos Galdino - (complementando o raciocínio anterior de Manogon) "...o que explica e efetiva esse processo de encontro, por exemplo, entre as zonas sul e leste".
Zé da Luz (Web-TV São Miguel), gravando depoimento de Akira Yamasaki (foto de Sueli Kimura)

Claúdio Gomes - "O centro não vai abrir mão de ser o centro".
"O fato de São Paulo ter muito acesso à tecnologia não significa que tenha melhorado alguma coisa".
"Cultura é um direito, e muita gente (a grande maioria), se esquece disso".
"Está acontecendo um seminário no Maria Antônia (Zona Leste Vórtice), para discutir questões referentes à zona leste - e que terá 13 encontros - e não foi convidado ninguém daqui para participar".

"A Companhia das Letras consegue dinheiro do BNDES para publicar autores estrangeiros".
"Hoje, 2013, a pauta tem que ser ´direito à cultura´".

Luka Magalhães -"A mudança veio quando a periferia resolveu produzir sua própria arte. E aí percebeu que sabia fazer cultura".
"A gente tem o direito de usar os teatros dos CEUs, eles são públicos, eles são nossos".

Manogon, Gonzaga e Galdino debatendo saída para o impasse cultural das periferias (foto de Antonio Primus)
Éder Lima - "Há uma intencionalidade dos órgãos em dividir as fatias para determinados grupos".
"Não é uma questão de periferia e centro, é uma questão de micropoder". 

Luiz Gonzaga dos Santos - "Eu, o Piva (advogado) e mais alguns, entregamos ao Weffort (ex-Ministro da Cultura no governo FHC), as ideias gerais que foram a base para a criação da ANCINE. Eu falo e cito tudo: foi na rua Marconi. Mas depois eles a promulgaram e não fomos nem lembrados".

Manogon - "Eu entendo e concordo que a Lei Rouanet é voltada para o marketing cultural, não para o fomento da cultura, ams a gente não pode ficar preso a isso, porque senão não faremos mais nada".

Claúdio Gomes - "Artista produz, ou artista cria?"
"Hoje não tem filme no Brasil feito com dinheiro privado. Todo o dinheiro envolvido é, de uma forma ou de outra, público!"

Lígia Regina - "O centro é o ´atravessador do plantador de tomate´. Quem produz não ganha nada, mas o atravessador sempre ganha muito".

Gilberto Braz - "A sociedade não entende cultura como ´direito´".
"O trabalhador do fazer cultural é um D. Quixote, a indústria do entretenimento é o moinho contra o qual lutamos".
Galdino interagindo com a plateia (foto de Sueli Kimura)


Parte do público do Blablablá (foto de Sueli Kimura)
Números gerais dos projetos Blablablá (roda de conversa) e São Miguel: Sujeito Objeto(exposição fotográfica)

Artistas expositores: 6 convidados (três em cada projeto)
Equipe de produção: 8 pessoas
Público presente: 63 pessoas
Cobertura jornalística: Web-TV São Miguel
Ex-educandos do Programa Jovens Urbanos participantes: 5 jovens
Venda de: livros, cd, cervejas, refrigerantes, cup-cakes, salgadinhos e peças customizadas
Início: 15h.
Final: 19:45h

A exposição São Miguel: Sujeito Objeto ficará em cartaz até 06 de julho de 2013. Para visitá-la, basta enviar e-mail de interesse para efranelas@yahoo.com.br

Próximos convidados do projeto Blablablá: 04/5/2013 (1º sábado do mês de maio): Samara Costa (Coletivo ALMA, Itaquera), Vandei Oliveira (poeta e educador, Suzano), Zulu de Arrebatá (cantor e compositor, São Miguel), Pedro Osmar (cantor, compositor e produtor cultural, Paraíba)