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22.4.18

Um textículo: "moto-contínuo"


o mendigo bateu em meu portão,
"um poema, pelamordedeus!"
abro a porta, atendo ele
uma testemunha aproveita e me mostra o paraíso
de relance
depois me pergunta se tenho um minutinho
digo que não

à mesa, pergunto ao garçom se tem rimbaud
o garçom me oferece aimé 
me deleito com um hermeto 1979

faz frio nas ruas 
vestido de oiticica, pergunto a pirandello
"que aconteceu? por que está em silêncio?"
"tô na minha, ceciliando"

a cigana pede para ler a minha mão
dou a ela dez reais e ganho
um amém, um axé e um namastê

viro a página, dobro a esquina
tropico na própria sombra
sempre à frente de mim
caio mas não desmaio
ressuscito sempre antes do fim

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