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9.5.24

Diário de bordo 6

 Hoje cedo passei na rua em que morava o Fernando, um colega de escola que morreu nas férias de 80 e 81 em alguma praia do Ceará. Na verdade, nada (ou pouco) me lembro de quem era o Fernando. As imagens se perpetuaram em minha memória porque ele se parecia com o Marquinhos, e que morava por aqueles lados também. Então, quando  no primeiro dia de aula ficamos sabendo que o Fernando morreu, houve uma pequena comoção e eu me cobrava do porquê não lembrava direito quem era ele, que estudava em outra sala e acho até que em outra série. Mas quando vi o Marquinhos circulando entre nós, lembrei da associação física e a partir daí o Fernando eternizou-se em mim replicado na imagem do amigo em comum. 

Me lembrar do Fernando me fez rememorar também outros amigos da infância e juventude que se foram: o Vitorino e o Zé Luís, ambos afogados em algum lugar de Santos e que coincidentemente moravam na mesma rua de Itaguases. Teve também o Fábio, que por um curto período na quarta série, foi meu melhor amigo. Quando ele se associou aos meus "inimigos" e passou a me chamar pelo apelido que eu execrava, Gordinho, me afastei dele e firmei laços com o Sidnei,o único grandão da turma que me respeitava. O Sidnei, cumpre dizer, também faleceu, muitos anos depois, vitimado pela AIDS. 

E, por último, falar do Sidnei me fez lembrar que uma vez ele comprou a minha defesa contra o Jesus, um alemãozinho sardento e violento, que tocava o terror desde os primeiros anos escolares e quando estávamos na 5ª A, quis me pegar na saída da escola por causa de uma dividida no futebol. O Sid segurou a minha bronca pois sabia que eu apanharia feio, então fez a minha defesa na lábia e nas frases lacradoras. Como não foi o suficiente, ele, que comprou a minha briga, não teve muitas opções a não ser se (e me) defender com unhas e dentes. Quando, ao final da rinha, vi a maçã do seu rosto aberta e sangrando, entendi um pouco o que era era essa selvageria da beleza em torno da defesa da honra de uma amizade juvenil. E dói lembrar disso tudo agora e saber que nunca o agradeci pela coragem daquele certo dia da nossa adolescência. 

Faço isso agora.  

2: Parece sintomático que de todos os citados nessa cronicazica, Jesus é o único que pode estar vivo, em algum lugar. Espero que sim, e que tenha se acalmado.

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