Uns acham que é Rita Lee; outros, Arnaldo Antunes. Muitos preferem Demônios da Garoa ou Adoniran. Os mais nostálgicos acham que é Paulo Vanzolini. Mas eu vou noutro trajeto: Angeli, para mim, é quem melhor representa, com seu humor cáustico, a ideia do que é um paulistano típico. Provincianamente cosmopolita.
A urbanidade aguda de seu traço, somada às releituras ácidas que faz da cidade e seus tipos, à ambiguidade e às reticências existenciais, traduzem com muita clareza o espírito do criador e suas criaturas.
Por isso mesmo não perdi tempo. Há poucas horas atrás estava no Itaú Cultural (Av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1776), no primeiro dia da Ocupação Angeli. Lá na mostra reencontrei muito de seu universo que, em certo sentido, é também um pouco de meu mundo. Uma maquete reproduz seu espaço de criação, com muitas gavetas em volta, onde pude ler muitas tiras. Revistas a granel (algumas, triunfalmente, ainda tenho em minha coleção pífia), cadernos de esboços, vinis, charges, cartuns, muito material original, reprodução de cartazes que fez para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, teatro e outros, além de uma sala exclusiva com sua produção mais "picante" (claro!, não acessível para menores), tudo, tudo nele é humor. Humor e reflexão. Reflexão e argúcia. Argúcia e ceticismo. Ceticismo e creticismo.
Na divisão um tanto esquemática (mas bem emblemática) de todo o seu arsenal, há monitores de vídeo estratégicos distribuídos no espaço. E - detalhe importante! - o pessoal da monitoria deixa você tirar foto à vontade, sem constrangimentos, uma das boas notícias sobre eventos nesse naipe. Normalmente, fazer uma mísera foto com um celular que seja, é sempre uma tarefa que exige muita criatividade e improviso.
Outro destaque da curadoria é a sutileza com que brinda o esforço autocrítico do artista (a série Angeli em Crise, é um exemplo). Confesso que essa relação do cartunista com "os seus monstros interiores" sempre achei du caraio, pois o autor brinca com suas próprias mazelas, permitindo outras leituras, mais profícuas, na sua produção.
Na divisão um tanto esquemática (mas bem emblemática) de todo o seu arsenal, há monitores de vídeo estratégicos distribuídos no espaço. E - detalhe importante! - o pessoal da monitoria deixa você tirar foto à vontade, sem constrangimentos, uma das boas notícias sobre eventos nesse naipe. Normalmente, fazer uma mísera foto com um celular que seja, é sempre uma tarefa que exige muita criatividade e improviso.
Outro destaque da curadoria é a sutileza com que brinda o esforço autocrítico do artista (a série Angeli em Crise, é um exemplo). Confesso que essa relação do cartunista com "os seus monstros interiores" sempre achei du caraio, pois o autor brinca com suas próprias mazelas, permitindo outras leituras, mais profícuas, na sua produção.
A lamentar, a divisão espacial básica (a meu ver, muito conservadora), concentra o enorme acervo num espaço diminuto. O local, logo à entrada, atua como numa cena urbanóide da Sampalândia, exigindo muitas cotoveladas e esbarrões. A mesma cidade ululante que ele imortalizou em quadrinhos também é oferecida numa grande poluição visual. Para ver algumas tiras da série Jazz, por exemplo, você tem que ficar acocorado ou "de quatro", o que gera desconforto, principalmente com trocentas pessoas passando coladas a você, por trás. Levando-se em conta que o primeiro dia estava bem cheio e considerando-se que provavelmente será assim até o fim da exposição (29 de abril), fica ruim demais da conta curtir a mostra como a gente gostaria. É muito ombro se batendo.
Ah, também há poucos bancos para uma leitura tranquila dos poucos materiais que estão colocados para a leitura. Tudo como se a mostra tivesse sido pensada para uma leitura rápida e casual, sem muitas paradas. Fiquei lá dentro duas horas e devo ter lido no máximo 10% do total de material disposto. Se tivesse sido dividida em dois andares, provavelmente esse problema não existiria. Mas...
Ah, também há poucos bancos para uma leitura tranquila dos poucos materiais que estão colocados para a leitura. Tudo como se a mostra tivesse sido pensada para uma leitura rápida e casual, sem muitas paradas. Fiquei lá dentro duas horas e devo ter lido no máximo 10% do total de material disposto. Se tivesse sido dividida em dois andares, provavelmente esse problema não existiria. Mas...
Mas nenhum infortúnio tirou o brilho de meus olhos, ao viajar no tempo, reencontrando Bob Cuspe, Rê Bordosa, Wood & Stock, Skrotinhos, Angeli em Crise etc & tal. E ver os seus retratos em família e as tirinhas clássicas que colorem o p&b da vida diária faz bem uns vinte e poucos anos, isso não tem preço.
E - cabe lembrar! - o lance lá no Itaú Cultural é na faixa. Definitivamente, não tem preço!
OCUPAÇÃO ANGELI - Itaú Cultural: Av. Paulista, 149, (11) 2168-1776), ao lado da estação Brigadeiro do metrô. Terça a sexta, das 9 às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 11 às 20h. Grátis
Nenhum comentário:
Postar um comentário