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17.3.12

Ocupação Angeli no Itaú Cultural


Uns acham que é Rita Lee; outros, Arnaldo Antunes. Muitos preferem Demônios da Garoa ou Adoniran.  Os mais nostálgicos acham que é Paulo Vanzolini. Mas eu vou noutro trajeto: Angeli, para mim, é quem melhor representa, com seu humor cáustico, a ideia do que é um paulistano típico. Provincianamente cosmopolita.
A urbanidade aguda de seu traço, somada às releituras ácidas que faz da cidade e seus tipos, à ambiguidade  e às reticências existenciais, traduzem com muita clareza o espírito do criador e suas criaturas. 
Por isso mesmo não perdi tempo. Há poucas horas atrás estava no Itaú Cultural (Av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1776), no primeiro dia da Ocupação Angeli. Lá na mostra reencontrei muito de seu universo que, em certo sentido, é também um pouco de meu mundo. Uma maquete reproduz seu espaço de criação, com muitas gavetas em volta, onde pude ler muitas tiras. Revistas a granel (algumas, triunfalmente, ainda tenho em minha coleção pífia), cadernos de esboços, vinis, charges, cartuns, muito material original, reprodução de cartazes que fez para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, teatro e outros, além de uma sala exclusiva com sua produção mais "picante" (claro!, não acessível para menores), tudo, tudo nele é humor. Humor e reflexão. Reflexão e argúcia. Argúcia e ceticismo. Ceticismo e creticismo.
Na divisão um tanto esquemática (mas bem emblemática) de todo o seu arsenal, há monitores de vídeo estratégicos distribuídos no espaço. E - detalhe importante! - o pessoal da monitoria deixa você tirar foto à vontade, sem constrangimentos, uma das boas notícias sobre eventos nesse naipe. Normalmente, fazer uma mísera foto com um celular que seja, é sempre uma tarefa que exige muita criatividade e improviso.
Outro destaque da curadoria é a sutileza com que brinda o esforço autocrítico do artista (a série Angeli em Crise, é um exemplo). Confesso que essa relação do cartunista com "os seus monstros interiores" sempre achei du caraio, pois o autor brinca com suas próprias mazelas, permitindo outras leituras, mais profícuas, na sua produção.
A lamentar, a divisão espacial básica (a meu ver, muito conservadora), concentra o enorme acervo num espaço diminuto. O local, logo à entrada, atua como numa cena urbanóide da Sampalândia, exigindo muitas cotoveladas e esbarrões. A mesma cidade ululante que ele imortalizou em quadrinhos também é oferecida numa grande poluição visual. Para ver algumas tiras da série Jazz, por exemplo, você tem que ficar acocorado ou "de quatro", o que gera desconforto, principalmente com trocentas pessoas passando coladas a você, por trás. Levando-se em conta que o primeiro dia estava bem cheio e considerando-se que provavelmente será assim até o fim da exposição (29 de abril), fica ruim demais da conta curtir a mostra como a gente gostaria. É muito ombro se batendo.
Ah, também há poucos bancos para uma leitura tranquila dos poucos materiais que estão colocados para a leitura. Tudo como se a mostra tivesse sido pensada para uma leitura rápida e casual, sem muitas paradas. Fiquei lá dentro duas horas e devo ter lido no máximo 10% do total de material disposto. Se tivesse sido dividida em dois andares, provavelmente esse problema não existiria. Mas...
Mas nenhum infortúnio tirou o brilho de meus olhos, ao viajar no tempo, reencontrando Bob Cuspe, Rê Bordosa, Wood & Stock, Skrotinhos, Angeli em Crise etc & tal. E ver os seus retratos em família e as tirinhas clássicas que colorem o p&b da  vida diária faz bem uns vinte e poucos anos, isso não tem preço.
E - cabe lembrar! - o lance lá no Itaú Cultural é na faixa. Definitivamente, não tem preço!

OCUPAÇÃO ANGELI - Itaú Cultural: Av. Paulista, 149, (11) 2168-1776), ao lado da estação Brigadeiro do metrô. Terça a sexta, das 9 às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 11 às 20h. Grátis

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