Formada por
Arthur Chinaglia (guitarra e backing
vocals), Johnny Gomes (baixo e leading
vocals) e Rafael Suzuki (bateria e backing
vocals), o trio de hard rock paulistano Tourrets traz em seu EP homônimo,
recém-lançado, um acerto de contas sonoro com as influências, que faz uma linha
do tempo com as bandas que preconizaram a cena rock no Brasil na década de 1980.
Quero dizer, a banda não inova, mas renova a sensação de viver o espírito do rock como êxtase musical, atitude comportamental e pulsão juvenil.
Bonito, bem
diagramado, todo composto entre o sépia e o preto-e-branco básico, o disco
revela ainda a surpresa de ter sido muito bem produzido. Uma a uma, as músicas
vão desfilando elegantes para os ouvidos
“Palavra”, a
primeira música do EP, é uma colcha adornada de belas costuras musicais. Iniciada
como um mantra sutil de cordas e ritmos, segue num “crescendo” que no fim
reflui novamente, sem perda da coesão, enquanto diversas vocalizações constroem
uma poderosa parede de grossas camadas sonoras.
“Sangue nos
Olhos”, a segunda, diz tudo já no título. A introdução é uma porta aberta para a
pancadaria sonora que se desdobra em um veemente discurso gutural, com muita
vitamina musical e pouco espaço para a inocência adolescente. Relembra as grandes
bandas híbridas do punk rock da década de 1980, como Plebe Rude. “Outro Lugar” é
de uma sonoridade instigante. Com uma textura sutil, traz no seu bojo um
discurso “meio Renato Russo” sob uma base limpa em que cada instrumento
destaca-se por si, sem prejuízo do conjunto, num resultado muito bom,
principalmente se levarmos em conta que estamos ouvindo uma banda iniciante e
independente.
“A Sua Alma” é
candidata a hit imediato. Impressiona, pois reúne em seu caldo sonoro uma base
pulsante ao mesmo tempo que “adocicada”, dessas de ouvir e ficar assobiando o
restante do dia. Música com aura própria e personalidade marcante. “Ego” é um
discurso forte e violento (“Fortuna é o seu poder / Mas com o suor de quem?”),
construído novamente sobre uma usina de sons dispostos em fúria, mas plenamente
audíveis.
“Trincheira”,
última música deste mini-disco gigante, tem um pouco de Racionais ou O Rappa.
Os garotos entendem a necessidade de expulsar os demônios que permeiam a vida
atribulada na cidade grande. Entram de sola naquilo que acreditam, esperneiam,
gritam, mas não desafinam nunca: “Estou cansado da trincheira / Já aposentei o
meu fuzil / Meu capacete é uma peneira / Não tenho perna pra fugir”.
Ficar
colocando Tourrets em confronto com alguns ícones do roquenrol
brazuca aqui é elogio. O terceto paulistano trafega com honestidade, talento, coerência
e qualidade ímpares nessa revolta sincera em diálogo permanente com o modus vivendi que se oferece nas metrópoles do século XXI.
E revelam aí uma constante de todas as banda
citadas: escrevem e tocam com competência, sem
perder a atitude, causa e efeito primordiais do rock, desde sempre.
Mais
informações sobre a banda e o cd: www.tourrets.com.br
Videoclipe de “palavra”
em https://www.youtube.com/watch?v=HaNFhfqMX4s
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