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28.9.16

Entrevista - LILIAN VARGAS (Literatura) - SP


"Leitora voraz, Lilian Vargas desenvolveu, a partir de seu envolvimento com as letras, uma postura crítica e ativa em relação ao mundo literário. Essa condição, porém, longe de abstrai-la ou levá-la pro "mundo do faz-de-conta", abriu-lhe os olhos para uma interpretação profunda e equilibrada sobre a sociedade à volta. Foi essa apologia à vida e ao mundo que vi à tona, primeiro nas interações que formalizamos no portal Recanto das Letras, onde pudemos praticar um diálogo de profundo respeito e aprendizado. Depois, no depoimento para a qual convidei, e ela aceitou, para meu júbilo. A conversa foi toda construída via e-mail, numa mão dupla de perguntas e respostas. O bate-papo enriquecedor, creio para ambas as partes e - espero - para quem se debruçar na leitura a partir de agora, aqui.
Convido o mundo todo a conhecê-la.
Boa leitura!"

1) Com quem estou dialogando? Nome, idade, local de nascimento, casada, filhos, formação etc?...
Bom, quando a gente responde um formulário as perguntas seguem esta  linha, então aqui segue as respostas: meu nome completo é extenso, então opto pelo prenome e  um sobrenome que "adotei" por ter harmonia nas vogais, assim sendo fica Lílian Vargas um nome com sonoridade vocal. Nasci nos idos anos de 1969, em SP, mais precisamente no bairro do Tatuapé.
Sou casada, tenho um filho e resido na região do Alto Tietê. Tenho uma formação acadêmica, mas não atuo na  área, sou funcionária pública. Sou uma mulher espirituosa, introspectiva e muito sensível, costumo dizer a quem me conhece que sou uma mulher que ama...
P.S: Este último parágrafo acrescentei para fugir à formalidade.
Até mais.
Abraços.

2) O que você gosta de fazer? E o que desgosta?
Bom Dia!
Então... é tão difícil falar dessas coisas, não sei, tem tanta coisa que gosto e tantas que desgosto, e por vezes outras que gosto de vez em quando.
Vou tentar:

Gosto:
Refletir, pensar, tentar entender o real sentido da vida, da existência, da vivência em questão, essas coisas me chamam a atenção e sempre gostei. Talvez devesse ter feito Filosofia, mas acho que só gosto pois não tenho obrigação acadêmica de apresentar deduções sobre o assunto, então gosto de coisas ligada ao tema.
Ouvir músicas, mas não sou refinada, então ouço MPB, dance, um pouco de rock, e agora estou aprendendo a gostar e "curtir" as músicas clássicas, por dica de um amigo do Recanto das Letras, mas sempre gostei de músicas com letras fáceis e simples, algo que memoriza e sai cantando.
Ler, e em leitura abraço vários estilos literários, leio romance (claro,não é), aventura, suspense, terror, e de todos os gêneros literários (contos, crônicas, cartas, ensaios, discursos, e por aí vai); leio revista, gibi, jornal impresso, pasmem, ainda leio o periódico aqui da cidade, Jornal da Cidade e Jornal de Arujá, também, só por ler, porque as noticias acabam se repetindo.
Escrever, pegando o "gancho" do último item, gosto de escrever, cartas, poesias, textos diversos, já tive até um diário, coisa de quem gosta de escrever mesmo.
Contato com a natureza, lugares mais bucólicos, talvez porque sempre tenha morado em regiões afastadas do centro da cidade, lugares mais sossegados, sem aquela agitação da cidade grande. Lugares com poucas pessoas e ambientes calmos, nada daquela agitação, gritaria, bagunça, onde tem aquelas músicas estridentes, tipo" bate-estaca", ou passeatas e manifestações, então, nem me convide para manifestar, pois eu não vou. Filmes, já assisti mais, hoje me dia, não tenho paciência para ficar horas no sofá, assistindo filmes, mas gosto também.

Desgosto:
Não gosto de fofocas, sei que todo mundo faz de vez em quando, até eu me peguei já falando de outros, mas há situações em que a coisa saí dos trilhos, e acaba por prejudicar as pessoas. Já fui alvo de fofocas, envolvendo meu nome e o de outra pessoa, deixou um clima péssimo entre a gente, e a relação nunca mais foi a mesma.
Não gosto de cozinhar, se pudesse, se existisse, um mecanismo igual ao do Jornada nas Estrelas, onde a comida saísse pronta (Sintetizador de Alimentos), seria o paraíso.
Não gosto de ser o centro das atenções, isto devido a minha timidez, então chegar em um local, e as pessoas direcionarem a mim a atenção, não me deixa lisonjeada, pelo contrário, sinto-me desconfortável, então evito o quanto posso.
Detesto gritos e brigas, se a pessoa fala alto, me irrita, me incomoda, gritar então, fico incomodada com gritos, berros, xingamentos e tudo que constranjam a quem está vendo ou ouvindo.
Não gosto só de olhar, e nem quero provar, frutos do mar (aqui entendo como estes tens: molusco, marisco, ostras, polvo). Nos demais eu gosto os peixes (sardinha, salmão, atum etc). Também não gosto desses pratos "tipicamente" brasileiros ou que são " pesados" tais como rabada, baião de dois, acarajé, vatapá, eu não como, não gosto nem do cheiro.
Acho que está bom, sempre tem coisas que a gente gosta e desgosta, e depois de um tempo, com a experiência de vida, o contato com outras pessoas, a mudança de olhar sobre determinada situação, há coisas por vezes, que acabam mudando.
Até mais!
Abraços.

3) Sobre o mundo dos livros, quando se iniciou esse contato com eles? Que autores e autoras você admira?
Olá! Bem esta é fácil... Sempre gostei de manusear livros e revistas e tinha um apego pelos meus cadernos na época em que era uma menininha, rs. Com o tempo fui me afeiçoando a gibis, livrinhos infantis que por vezes chegavam até minhas mãos, haja visto que meus pais nunca puderam comprar livros, devido nossa situação econômica e também pesa o fato que meus pais não tiveram acesso a estudos, então leitura não era um  ponto primordial em casa.
Quando ia na casa de alguém, junto com minha mãe e havia livros e revistas eu folheava, ficando absorta naquele mundo cheio de letras, símbolos e significados, algumas vezes me deixavam trazer o livro ou revista em questão.
Quando eu fazia o antigo primário, pude ler livros da biblioteca da escola e meu primeiro livro, foi Emília no País da Gramática, que eu fiquei encantada, e depois vieram outros  memoráveis tais como: O menino do dedo verde, O escaravelho do diabo, O pequeno príncipe e Meu pé de laranja lima, entre outros.
Sempre gostei das poesias e textos de Cecília Meirelles e Carlos Drummond de Andrade, para mim expoentes poéticos, pois Cecília escrevia tão belamente assim como o mestre Drummond. Depois de um tempo li Mário Quintana, e descobri o verdadeiro amor... pois com seus textos tão singelos e plenamente poéticos, me cativaram por completo.
Depois que já tinha mais idade, fiz um cadastro na Biblioteca Pública da cidade de Arujá, um local pequeno, que ficava aqui num casarão, e lá pude vasculhar livros empoeirados e que ninguém se dispunha a ler. Foi aí que conheci Malba Tahan e seus belíssimos contos e fábulas do Oriente. Li vários livros de Jorge Amado, outro autor, que eu ficava em êxtase com suas estórias, um autor por mim amadíssimo. Nesta biblioteca também descobri outro amor literal (sou uma mulher que ama...), li pela primeira vez Gabriel Garcia Marquez, e foi amor à primeira leitura, depois li outros dele, mas o fascinante Cem Anos de Solidão, foi para mim marcante.
Aqui deixo registrado um agradecimento a esta pequena e quase esquecida Biblioteca, pois ela me proporcionou leituras adoráveis. Autores são esses citados, pois se eu puxar pela memória, vem outros tão bons e que gosto, como Machado de Assis, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e Cora Coralina, entre outros, que não vou lembrar no momento.
Sei que estou em falta com os grande clássicos mundiais, li Dostoiévski, o famoso Os Irmãos Karamazov; Nietzsche tentei ler E Assim Falava Zaratrusta, mas, confesso, devido à linguagem alegórica me perdi e parei na metade do livro. Odisséia, de Homero, é fascinante e traz mensagens edificantes em sua narração. A Divina Comédia, de Dante, talvez o poema mais lindo que um ser humano possa escrever, eu li e como sempre passional, que sou, amei!!!
Acho que é isto, já está bom, acho que já falei demais.
Até Mais.

4) E o processo de escrever sensações e sentimentos, como se deu em você?
Olá! Como eu mencionei na outra questão, eu escrevia um diário quando adolescente, e creio ser por aí o começo dos registros das emoções e sentimentos, haja vista, que nos escritos fluem uma gama muito forte de apreensões, dúvidas, inquietações e desejos relacionados a vários temas (sexualidade, paixões, relacionamento familiares, entre outros).
O que posso afirmar é que após uma frustração amorosa, que me deixou bastante chateada, escrevi um poema (quadra), que versava sobre o fato e percebi então que escrevendo ficava mais fácil traduzir o que eu sentia, pois uma pessoa introspectiva, com dificuldades de verbalizar o que sente, consegue expressar seus sentimentos e sensações através de algum meio, podendo ser música, artes cênicas ou a escrita, de modo mais fácil e menos traumático. No meu caso, a escrita caiu como uma luva.
Vou deixar registrado aqui o dito poema, ao qual me referi.

“A desilusão veio a mim
Numa tarde chuvosa
Então conheci assim
Uma sensação dolorosa”

Enfim, algo simples, sentimental, piegas e muito típico de adolescente, mas serviu para me indicar que era melhor as letras, de alguma forma, eu dominar já que tinha dificuldades dos sentimentos verbalizar. E assim nasceu o gosto ou melhor, despertou em mim a aptidão de transcrever emoções diversas.
Não sei se respondi o que foi pedido, mas foi isto que entendi na sua pergunta.
Boa Semana!
Abraços.

5) E esta sensação de proximidade com as artes não a faz pensar na possibilidade de um dia profissionalizar-se em algum tipo de expressão, talvez a literária?
Isto ocorre pois é o caminho natural das coisas, se você simpatiza com uma atividade, seu desejo é conhecer  e "abraçar" aquilo de alguma maneira. Eu ainda estou maturando essa idéia, pois na minha vida, tudo aconteceu tarde; eu estudei tarde, casei tarde, tive filho tarde e me descobri expondo meus escritos tardiamente. Espero não ser muito tarde, quando eu decidir ou ainda reste tempo para  minhas memórias.
Mas por enquanto, me vejo sem estilo definido e sem um campo para atuar, visto que este meio literário é muito amplo e com muitas ramificações.

6) Como você vê essa apropriação de ferramentas que permitem uma visibilidade maior, mesmo para pessoas que não estejam inseridas na indústria da produção artística? Caso dos blogues, redes sociais, autopublicação etc.
Houve um tempo, na história da humanidade, em que o conhecimento era restrito a um segmento social ou pessoas privilegiadas e isto em nada contribuiu para alavancar o progresso da sociedade como um todo. Nas artes eu creio que podemos usar o mesmo raciocínio, pois em literatura, o acesso a publicações ficava com pessoas que podiam "bancar" o serviço e tinham conhecimentos com editores e todo mercado editorial, os demais que pretendiam expor seus trabalhos tinham que amargar um sonoro NÃO e sem ter onde recorrer, guardavam escritos preciosos em gavetas e cadernos surrados.
O advento da tecnologia que trouxe oportunidade de acesso, tais como: rede sociais, blogues e afins, deixam mais democrático esse acesso.Tem muita gente boa e escreve coisas maravilhosas mas não tem vitrine, então essa abertura favorece a quem quer se aventurar e tentar captar o leitor com seus sonhos e anseios.
Se não existisse esse acesso, eu jamais conseguiria publicar nada, pois não disponho dos recursos para tal. Também não conheceria tanta gente talentosa e versátil que publica sem ter livro ou uma exposição em mídia.
Creio que o leitor é o grande "juiz", nem sei se usei a palavra certa, mas cabe ao leitor escolher, ver o que lhe agrada, e assim filtrar em um site ou no meio da grande  rede, que  é bom ou não, segundo o conceito pessoal de cada um. Tem muitos textos bons mas tem muita coisa que peca pela falta de coerência, de clareza e até sentido, mas daí, caro escritor, vai do gosto de cada um, ler o que mais lhe convém.
Finalizando, toda forma de disseminar o conhecimento seja ele artístico ou não é válido, pois oferece mais oportunidades de ampliar nossos conteúdos intelectuais, culturais e até emocionais.

7) Tem algum autor ou autora, ou até mesmo um site ou blogue, que você poderia citar como exemplo das afirmações na questão anterior?
Claro, aqui no Recanto das Letras tem a Lucimar Alves e a Sonya Azevedo, que escrevem de forma cativante. Aqui também conheci o pessoal que escreve contos e crônicas sem ter livros editados, como o Aristóteles da Silva e o Gustavo Arauto.
Tem até  você  por essas paragens e expondo seu trabalho artístico.
Também acesso o Varal de Poesias e tem textos bons e de pessoas sem alcance editorial. O Publikador (assim mesmo com K) dispõe espaço para poetas que queiram expor seus escritos ,e lá  tem um versátil  poeta que sempre leio, o Jonathas Lopes.
Tem muita coisa e boa para ler.
Abraços.

8) Como você vê essa "esquina da História" que estamos passando? Você tem medo do futuro?
Essa situação que se instalou no País, claro que oferece medo,pois sou mãe, tenho um filho e penso no futuro dele e dos demais que não tem como optar ou solicitar mudanças, no momento.
Quando eu era criança, via meu pai e minha mãe "catando" na gaveta do armário, moedinhas para comprar pão, leite, óleo e outros itens básicos na alimentação, era uma ditadura militar, faltava dinheiro, sobrava vontades, mas sobrevivemos, com todo medo que pairava na época, sobrevivemos. Agora que na década de 80 entramos na Democracia, parece que o povo não entendeu, democracia é você ter direitos sim, claro, IMPRESCÍNDIVEL, mas e os  deveres? Todos querem os direitos, regalias e viver sem regras, sem normas, sem leis, e a cidadania? E o civismo? Isto se perdeu, parece  coisa sem sentido falar disto na atual conjuntura, onde se convencionou que tem que se  combater, digladiar, brigar e violar todas as normas e conceitos de civilidade para se provar que  tem razão, o que ocorre é que aí, você perde a razão.
Creio que nossa sociedade não está preparada e nem estruturada para lidar com o oposto, com a adversidade de maneira civilizada e isto se mostra nos ultrajes que se vê todos os dias em jornais e revistas. E digo mais, países desenvolvidos, como os europeus sofrem com esta situação, quando pretendem fazer mudanças radicais ou reestruturar sistemas já carcomidos, mas que encontram resistência da população para tal.
Não me pergunte qual é a solução, pois não tenho uma formação em Ciências Políticas, e dou minha opinião de cidadã, eleitora e leitora, pois as relações humanas dependem de muita cessão e nesta complexa teia de vontades e imposição, ninguém quer ceder.
Até mais.

9) A arte pode contribuir para que a vida melhore?
A arte tem seu conceito ou significado ao longo do processo histórico, haja visto as pinturas rupestres da pré-história, transmitiam informação acerca da caça e das situações que apresentavam perigo.
Atualmente,vivemos numa sociedade de instabilidade político/social/econômica e a arte a meu ver, contribui para uma tomada de decisão, à medida que  se trava este diálogo entre o objeto ou obra apreciada e o observador, sendo que este último, põe na análise da referida obra, todo seu conteúdo emocional durante a apreciação.
Então, a arte propicia o debate, a reflexão, a conclusão sobre uma ideia, um conceito,um fator determinante, assim creio que a arte acompanha o homem em seu processo de evolução, e por contrapartida a transformação do meio social.

10) Tem algum assunto que gostaria de ter comentado e eu não ofereci a oportunidade? Se tiver, fique à vontade para pontuá-lo. Obrigado pelo carinho, atenção e presteza.
Creio que falei muito e até  filosofei, coisa que gosto muito de fazer, mesmo sem filósofa ser. Os assuntos fluiram naturalmente e me senti à  vontade no que respondi.
Agradeço a atenção e créditos de sua  parte, aos meus singelos escritos e me coloco sempre à disposição.
Só  para encerrar, para não fugir à regra vou deixar aqui um poeminha.

"Fui pega de supetão
Para expor um pouco de mim
Falar das minhas vivências
Agradeço aqui  de coração
Pois a troca de impressões, assim
Enriquecem nossa existência."

Até  Breve.
Abraços.


Depoimento para Escobar Franelas / Fotos do arquivo pessoal de Lilian Vargas

Um comentário:

lilian disse...

Ficou boa a postagem.Obrigada