Nesses quase 60 anos de vida, um dado que nunca contabilizei foi contar quantos livros li num determinado período ou ano, exercício que me parece hedonista e contraditório, pois o quantitativo sempre rivaliza com o qualitativo. Ao mesmo tempo, lembro de um ano (2014 ou 15), que li A Montanha Mágica, de Thomas Mann, e a biografia do Freud, de Peter Gay, duas obras bem parrudas, portanto, demoradas de dar cabo, que me tomaram quase todos os 365 dias daquele período.
Da última vez que me impus à releitura completa da Bíblia (acho que em 2011), atravessei um ano inteiro e mais alguns meses nessa empreitada. Isso, naturalmente, diminuiu outras leituras, a menos que consideremos que a "sagrada escritura" seja interpretada com seus 66 livros independentes um do outro e então poderei dizer que, numericamente, foi a época que li mais livros. Minto: a primeira leitura bíblica completa foi por volta dos 16 anos e bem mais rápida (sei disso pois estava fazendo um curso de teologia por correspondência - que hoje corresponderia a EAD - e toda a leitura e bem menos de um ano, talvez uns 8 meses). Aqui cabe um complemento, creio: minha base de leitura sempre foi a Bíblia protestante (acabei de pensar que talvez seja bacana colocar como meta fazer uma leitura da católica como comparativa. Quem sabe?).
Por último, nos anos em que estou preparando um livro novo, naturalmente tenho a minha atenção concentrada nessa tarefa, o que implica menos leituras de outros textos.
Bem, sem mais elucubrações, vamos aos fatos. No fim de 2024, porém, depois de ouvir vários amigos comentando sobre essa prática (quase) olímpica, decidi anotar o que estava lendo ou iniciando a leitura. O que não contava, contudo, era que logo em janeiro viria o diagnóstico de câncer, as três internações em sequência e suas cirurgias e as mudanças drásticas de rotina em decorrência do ineditismo da situação. Mesmo assim segui anotando cada livro finalizado até agora e - surpresa! - descobri que li menos livros do que tinha projetado, apesar dos períodos de internação que supostamente me levaram a ler mais. Talvez o motivo disso seja que nos períodos de recuperação em casa tenha me dedicada a assistir mais filmes e maratonar séries nas plataformas, o que implicou menos tempo de leitura. Verdade seja admitida e dita aqui, passei por longos hiatos, principalmente nos primeiros dias pós-cirúrgicos, sem nenhuma vontade de ler. Lembro que nesses dias o pouco de fruição vinha da música, basicamente jazz, Wagner e música brasileira. O restante do tempo era de muitas elucubrações e poemas "escritos" com o pensamento. Nem preciso dizer que tudo isso se perdeu como fumaça, né?
Bem, vamos à lista. Na virada do ano estava lendo O Vermelho e o Negro (Sthendal) e Tchevengur (Platonov). Finalizei ambos em janeiro ainda. Depois vieram Poemas (Mao Tse-Tung), Morangos Mofados (Caio Fernando Abreu), Fim (Fernanda Torres, numa feliz coincidência com o empréstimo de uma prima minha e o período em que ela já estava concorrendo ao Oscar que, de fato, ganhou), Meu Sonho É Escrever (Carolina Maria de Jesus), O Enterro do Lobo Branco e A Casa das Aranhas (ambos de Márcia Barbieri), Testamento de João Rims (Alba Atróz), As Portas da Percepção (Aldous Huxley), A Paixão Segundo GH (Clarice Lispector), A Sibila (Agustina Bessa-Luís), O Livro da Literatura (James Canton, org.), Os Pássaros Agora Estão Dormindo (Celso de Alencar), Oré - Antologia Poética, Dança das Samambaias e O Corpo Sabe Que É Terça, Mas Se Distrai (ambos de Girlene Verly) e Oração Para Desaparecer (Socorro Acioly). Estou iniciando hoje as leituras de Jardim Quitaúna (Rodrigo Carneiro) e Relato da Vida de Frederick Douglass (do mesmo).
Fica este registro e, por ora, apenas a certeza de que é pouco provável que eu faça outra dessa no futuro. Listinhas têm lá o seu apelo, mas... bem, fiquemos nesse "mas" para não parecer mais pedante do que de fato assumidamente sou, ou ao menos pareça, mesmo que lute encarniçadamente contra.

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