sol à tarde
na estrada corcunda
a estrela entretece
da série haicaos
e por falar em... hein?
sol pálido sob o sábado
seguro o corrimão da escada rolante
a porta de aço ganhou uma tatuagem nessa madrugada
o cachorro buzina no colo do dono
bebe vento à janela
teve um roubo aqui ao lado
a polícia prendeu o primeiro que passava na rua
cena sem sabor de sábado
não faz frio nem nada na manhã cinza
agora chove, faíscas de água
que se apagam antes de bater no chão
a vizinha apresenta "meu novo futuro esposo"
à irmã, sorriem, cúmplices
dizem que na terceira ninguém mais erra
a tarde anda, tem feijoada, tem que lavar o carro
a mulher compra um presente para o marido
outro para o filho
e mais um para o filho do filho
e também para o marido
do filho
dou um mimo pra ela
e fico com um pouco do seu orgulho
a noite vem, tem casamento, tem pizza
baile, festa, flertes, cumprimentos
a noite anda mais rápido que a tarde
que é mais célere que a manhã
o futuro vem, o passado vem
só, o presente passa
Haicaixambu - Big bang de borboletas ao sol
O haicai é uma forma poética japonesa que chegou ao Brasil em 1908 a bordo do navio Kassato Maru, junto com os primeiros imigrantes. Logo os tercetos de 5, 7 e 5 sílabas tonais se popularizaram na nova terra e encontraram solo fértil para novas experimentações linguísticas.
Esse amálgama com a brasilidade permitiu texturas, ritmos e métricas inusitadas e legou nomes como Guilherme de Almeida, Millôr Fernandes, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Álvaro Posselt e Claudia González, da qual extraio este exemplar:
volta às aulas –
aluno atento à geometria
da borboleta
Hoje, o haicai está estabelecido entre os textos canônicos da poesia brasileira. E como tal, continua a despertar aficcionados que se dispõem a burilá-lo como uma pedra a ser lapidada até que se torne uma joia rara e por isso mesmo, preciosa. É nessa seara que encontramos o escritor Maciel Machado, da cidade de Caxambu, no sul mineiro.
Septuagenário, Machado acaba de lançar seu primeiro livro, Haicaixambu, depois de um largo tempo a estudar e praticar essa forma poética singela e insinuante (antes tinha publicado um plaquete intitulado HaiMac - Uma forma do velho Maciel ver a vida…). Se o título dessa estreia é um crossover entre as palavras “haicai” e “Caxambu”, uma faísca de estranhamento e de delírio lírico ressalta a vocação semiológica da capa do livro. Sua composição é uma trama reveladora da práxis do autor: a foto com folhas com folhas ocres repousando sobre um fundo acinzentado, em contraste acentuado pelo tom férreo. E se no contexto inicial - a capa nos faz deduzir - o haicai preconiza contemplações diante de um uma natureza onde o autor se esmera em flagrar e ampliar sensações:
Jardim ressecado
bastou um pouco d’água
o cravo sorriu todo molhado (P. 25),
isso realça a contradição irônica do homem e o seu meio social:
Na bancada fétida
peixe já sem vísceras
o peixeiro fuma (p. 12),
fazendo da brevidade desses versos a fugacidade de uma vida lógica. Aqui, o humor transcende a sobriedade poética com uma artesania informal inspirada no cotidiano. Machado não está preocupado com a obediência cega à tradição, mas injetar humor na paisagem e nas engrenagens dos eventos.
Passam pela cabeça todo dia
ideias, tristezas e alegrias
quantas viram poesia? (p. 74)
Se os haicais são constelações poéticas cujo pilar é a concisão e a simplicidade em três versos, em Haicaixambu, Maciel Machado captura instantâneos dispostos no mundo e os faz vibrar com luzes, cores e ritmos próprios, aliados a uma sagacidade natural e a experiência de vida viajada e fruída, da qual somos artífices e espectadores. Como deduz Girlene Verly, na apurada apresentação do livro, o humor alegre e leve, também contracena com um autor arguto, que fala de amor, sonhos, saudades diversas e uma perfeita integração à natureza. Afinal, como nos diz o poeta em sua extasia (pré? pós?) adolescente,
Não tem problema
o que sobrar
vira poema (P.33).
Depois de Cora Coralina, Lia de Itamaracá, Cartola, Ivone Lara, Clementina de Jesus e Helena Meirelles, não deveríamos nos surpreender a descoberta de atributos em idades avançadas, mas Maciel Machado não é uma descoberta e sim a percepção de que o talento eclode no exato momento em que a energia da estrela encontra o pavio ávido da centelha. Quando isso acontece, é o big bang de borboletas ao sol.
Serviço
Título: Haicaixambu
Autor: Maciel Machado
Páginas: 84
Edição: 2025 (1a.)
Editora: IS (Caxambu, MG)
Fotos: do autor
Foto do autor: Antonio de Souza
Eu não sabia o que fazer. Olhava ao redor e procurava alguma solução para o problema em que tinha me metido, mas não via saída. Juninho dirigia rápido demais, nem dava tempo de pensar direito. Estava desesperada.
Senti o solavanco quando ele virou a curva e diminuiu a marcha e soltou um “merda” quase inaudível. Umas dez viaturas fechavam a rua. Comando dos bravos.
“Que foi?”
“Nada, esses cuzão…”
“Mas os documentos tão com problema?”
“Não, mas se me parar, vão ficar embaçando até umas hora…”
Calei e fiquei acompanhando. Fazia um calorão e aquele bando de homens com seus uniformes cinza debaixo do sol davam até uma agonia. Um deles segurava um fuzil apontado pro chão. Quando o carro se aproximou, vi que tinha os olhos de cor diferente, um meio azulado, e outro mais escuro, meio cinza meio preto. Intimidaram mais que a arma que ele apertava no peito.
O carro foi se aproximando devagarinho e nem vi que gesto o guarda do lado do Juninho fez, mas o carro seguiu devagar, até parar. Cada policial se aproximou de um lado. Vi que o dois-olhos encarou o banco de trás pelo vidro mas não disfarçou a secada em minhas coxas.
“Segue”, o outro gritou.
Juninho saiu devagar, olhando o retrovisor. Também olhei, os hômi secando a gente de longe. Quando ele ameaçou engatar a terceira, um assobio, um apito e outro farda surgiu à nossa frente, apontou a arma e gritou pra parar. Ele bufou de raiva mas já foi encostando o carro, parou junto à guia.
“Vai, os dois… desce desce desce! Vai, porra, os dois com as mãos na cabeça. Vai que a gente não tem a tarde toda. Vai, de costas, encosta no carro, sem se mexer, hein!... tem arma aí?”
“Não senhor”, o rapaz respondeu.
“E você, mocinha?”
“Também não”, respondi sem refletir.
“E droga, o que vocês têm aí?”
“Não temos nada não, senhor!”
O dois-olhos se colocou ao meu lado e outras mãos começaram a me apalpar. Olhei de lado mas ele gritou um “olha pra frente, caralho!” que me assustou. Do outro lado do carro, Juninho também estava sendo revistado. Me olhou com os olhos frios. Quase gritei pra ele que não tinha culpa daquilo tudo, que era culpa daquele carro todo infilmado, da bombeta dourada, dos cordões que ele trazia ao pescoço, da suspensão rebaixada, do Racionais no talo, do bigodinho fino que nem uma carreira, da sua cor, mas nada disso ia adiantar agora; o negócio era sofrer na fila de espera da ansiedade. E torcer, rezar, orar, mentalizar, pedir a Deus e aos orixás pra tudo acabar bem.
O talarico do policial apertou meus seios, passou a mão nas minhas coxas sem disfarçar, eu apenas torcendo pro Juninho não estar vendo aquilo com clareza, para não aumentar a angústia daquela hora. Na dúvida entre reclamar ou não com o viado que me assediava, cerrei os dentes e encarei uma nuvem distante. “Caralho, não posso chorar agora!”
Mandaram a gente se afastar do carro, agora com as mãos nas costas enquanto iam revistar o carro. Encaramos a cena com atenção, puro medo de plantarem alguma coisa. Outro pegou nossos documentos e foi para o rádio levantar nosso passado. Depois de vasculhar, um deles, o mesmo que tinha me revistado, pegou a pequena caveira pendurada no retrovisor interno.
“O que é isso?”
“Uma caveira, senhor!”
“Você é satanista, neguinho?”
“Não senhor.”
“Então porque curte uma caveira, moleque?”
“É… é que é o meu apelido…”
“Apelido o quê, seu bandidinho do caralho! Aqui é autoridade… como se chama uma autoridade? Você não sabe? Hein?”
“Sei sim, senhor.”
“Então como é mesmo o seu apelido?”
“Caveira… senhor!”
“Porra, Caveira…” O guarda estava inconformado.
O outro se aproximou com nossos documentos:
“Aí, eles não devem nada. Se não tiver nada no carro, podem ir.” Virou-se. “O carro tá limpo?”
“Parece que sim. Mas é o seguinte. Gostei desse brinquedinho. Vou ficar com ele.”
Engoli seco. Juninho apenas balbuciou:
“Tudo bem… senhor!”
Voltamos pro carro. Entramos. Juninho, rosa e verde como as cores da Mangueira, tremia como se estivesse pelado no frio. Ligou o carro engatado, que deu um salto pra frente.
O dois-olhos gritou, rindo:
“Ô branquinha, acalma teu macho aí, parece até que não tem experiência com a lei.”
“Fica calmo, amor”, balbuciei. Saímos. “Isso, Ju, devagar que acho que eles ainda estão encarando a gente.”
Uma lágrima furtiva escorreu pelo rosto de Juninho, mas não ousei falar mais nada por um bom tempo. A gente estava num nervoso só. Depois de virar a curva ele acelerou e foi se acalmando.
“Rápido, amor, vamos pra casa da minha mãe.”
“Não, vamos pra casa da minha velha. É mais perto.”
“Não, Ju. O carro não tá no seu nome? Então… e lá tem o fato de que ele fica na rua, exposto. Lá casa da minha coroa não, a gente pode guardar na garagem do meu tio, lá do lado. A gente dorme hoje lá. Depois a gente pega um Uber e vai pra sua casa, mas é bom deixar o carro uns dis escondido lá. Qualquer coisa a gente fala que tá quebrado.”
“É, você tem razão”.
Ele já tinha parado de chorar, mas o rosto estava corado. Olhava pra ele quando ele me flagrou nessa encarada e sorriu, meio sem graça.
“Caveira? De onde você tirou essa ideia, amor?”
“Sei lá, na hora foi a única ideia que me veio à cabeça, eu tava gelado.”
“E eu então? Tinha até esquecido que caveira é meio BO pra esses caras.”
“Eu também, mas acho até que, apesar do susto e do prejuízo, foi uma saída legal. Os caras acho que nunca vão se ligar do que tem dentro daquele brinquedinho.”
“Isso é verdade. Mó preju, foi o estoque de mais uma semana, mas pelo menos a gente não foi enquadrado.”
A nuvem pesada que Juninho carregava até há poucos momentos atrás estava dissipada. O som no carro corria solto e a tarde iluminada clareava as nossas ideias e os nossos vínculos. Tínhamos vários dissabores a resolver: ir pra casa da minha mãe, pedir a garagem do tio emprestada, levantar uma grana pra abastecer nosso estoque, gastar dinheiro com Uber pra ir pra casa dele. Mas nada se comparava com a sensação de liberdade que a gente experimentava, parece que a gente vinha de uma longa noite fria e que o sol estava se abrindo naquele momento.
“Caveira, meu Deus!...”, Juninho processava a sua ideia genial e eu, extasiada, já tinha esquecido a violência do assédio e a dor de tantas injustiças. Pensei em desabafar com ele mas não quis estragar aquele momento de paz. Era preciso estar bem para encarar o humor ríspido da minha mãe. Ajeitei a saia e o top, prendi os cabelos e já procurava a chave dentro da bolsa, quando ouvi o lamento:
“Caralho!”
“Que foi, amor?”
“Uma viatura aí atrás dando farol, vou parar.”
“Caramba, na frente de casa. É hoje que a minha mãe tem um troço.”
Então me lembrei de que tinha uma coisa mais importante pra contar pra ele.
Escobar em foto de Xaxá (2013)
Escobar Franelas é graduado em História. Autor de "hardrockcorenroll" (poesia, 1998), "Antes de Evanescer" (romance, 2011), "Itaquera - Uma Breve Introdução" (história, 2014), "haicaos - feridas, fragmentos e fraturas poéticas" (poesia, 2018), "Premiado" (romance, 2019), "Memórias - 10 Histórias Sobre o Viver em Itaquera" (história e memória, 2021), "hipjazzcoolbopfunksambabensoulblue" (poesia, 2022) e "Contos Crônicos" (2024).
Faz parte dos coletivos A Casa Amarela, espaço cultural independente de São Miguel Paulista; Lentes Periféricas (de produção audiovisual), Curta Suzano (organizador de festivais de cinema) e do Núcleo AOTA, de Pesquisa e Criação em Audiovisual.
ENTREVISTA PARA O ESCRITOR PAULINHO DHY ANDRADE
1-Pergunta: Olá, Escobar, tudo bem? Podemos começar a entrevista com você nos dizendo o significado de “Franelas” no seu nome?
Escobar: A tradução literal da palavra para a língua brasileira seria "flanela", o tecido, mas o contexto do nome é mais jocoso, refere-se a uma terminologia portenha que seria algo próximo a milongueiro.
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2- Pergunta: Você tem formação acadêmica? Qual?
Escobar: Sou graduado em História.
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3- Pergunta: Há quanto tempo você escreve profissionalmente?
Escobar: Poderia dizer que sou um profissional da literatura há 36 anos, quando participei pela primeira vez de uma coletânea de textos, a Antologia Poética de Pinheiros (Scortecci), em 1989. Todavia, se formos pensar em um sentido mais formal para esta palavra - profissional - devo citar que foi em 1998, ano que ganhei um prêmio em dinheiro pela primeira vez, no "Arte na Cohab", da Secretaria da Cultura de São Paulo. É também o ano em que lancei meu primeiro livro, "hardrockcorenroll", de poesias.
4- Pergunta: O que te inspira a escrever suas obras?
Escobar: Não acredito em inspiração. Às vezes tenho pequenos insights com coisas que vejo ou ouço e a partir disso inicio um trabalho de escrita que geralmente exige um tempo bem dilatado e muita paciência e transpiração. A maior parte do que escrevo, acho que uns 95%, abandono no meio do caminho. Alguns textos retomo depois.
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5- Pergunta: Qual de seus livros é o mais comentado, e o que dizem os leitores sobre ele?
Escobar: Todos ganharam algum tipo de retorno, como elogios nas redes virtuais, resenhas e indicações espontâneas, mas as ficções em prosa têm permitido alcançar outros campos e nichos, como adaptações para o cinema, por exemplo.
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6- Pergunta: Tem algum livro novo a caminho? Pode falar um pouco sobre ele?
Escobar: Acabei de lançar "Contos Crônicos", pela Lavra Editora (SP). Foi a minha primeira incursão pela ficção com narrativas curtas, mesmo que contos e crônicas sejam formas de expressão que pratico há muito tempo, pois sou egresso do jornalismo de bairro, onde publiquei muitos textos por periódicos de Itaquera, Guaianases, Cidade Tiradentes, outros bairros, cidades e até países.
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7- Pergunta: Você também atua em teatro?
Escobar: Teatro foi a porta de entrada no mundo do arte, quando eu era adolescente e fiz parte de um grupo que se formou na escola onde estudava. Mas logo me dei conta que era ruim de palco, assim como sou ruim de instrumentos (durante muitos anos insisti em querer ser músico). O que aconteceu recentemente é que, provocado pelo Claudemir Darkney Santos, um dos grandes dramaturgos que conheço, comecei a escrever monólogos e pequenos esquetes teatrais. Aos poucos, tô me soltando nessa seara.
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8- Pergunta: Fale um pouco sobre sua experiência com Saraus.
Escobar: Os saraus hoje são a experiência poética mais visceral no campo da linguagem, atingindo os indivíduos num amplo processo de interações socioculturais. Todo sarau é um baile/balaio que provoca, recebe e processa diversas expressões da arte, o que melhor exemplifica no século 21 a ideia da catarse dionisíaca.
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9- Pergunta: Tem algum escritor clássico que você admira?
Escobar: Muitos, mas para não ficar no genérico, cito Clarice, Borges, Cortázar, Akira Yamasaki, Camus, Adriane Garcia, Pepetela, Ungulani, Conceição Evaristo, Sérgio Vaz, Virgínia Wolf, Fuentes.
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10- Pergunta: Você acredita que é possível um escritor sobreviver da escrita aqui no Brasil?
Escobar: Sim. Conheço gente que escreve e paga suas contas com publicações, histórias, palestras, debates, cursos, entrevistas, blogues, canais nas redes virtuais etc., enfim, uma infinidade de atividades correlatas à escrita.
11- Pergunta: O que acha dos jovens autores que estão surgindo? Acredita que a visão da juventude está mudando em relação aos livros?
Escobar: O livro é uma mídia, um produto cultural. O que debatemos é se as mudanças qualificam ou não o hábito da leitura. E se a leitura, enquanto expressão da arte, continua alimentando as relações ou se tornou apenas uma engrenagem do entretenimento.
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12- Pergunta: Fale sobre o Sarau Conectando Satélite. Qual a sua participação?
Escobar: O Conectando Satélites é um canal de difusão de informações culturais no WhatsApp. Na Aldeia Satélite acontece o Sarau Arte Canal, que é tradicional e do qual sou um devotado apoiador.
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13- Pergunta: O que você tem a dizer para os escritores que estão começando e/ou para aqueles que pretendem ingressar no mundo literário?
Escobar: Meu conselho é: "não aceitem conselhos". Vão lá, capinem o mato e façam a sua própria trilha.
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14- Pergunta: Se você não fosse escritor, qual caminho seguiria?
Escobar: Na verdade, sigo vários caminhos, na arte (literatura, audiovisual, produção de eventos etc.), na educação e no comércio
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15- Pergunta: Gostaria de deixar algumas palavras? Fique a vontade.
Escobar: Agradeço o convite para este diálogo. Espero ter correspondido.Muito obrigado, Escobar.
Nota: Encontre o livro: "Contos Crônicos" no Site da Editora Lavra Editora:
https://lavraeditora.com.br/produto/contos-cronicos/
Postagem original em 14 de janeiro de 2025: <iframe src="https://www.facebook.com/plugins/post.php?href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2FDhiAndradePaulinho%2Fposts%2Fpfbid02Dsj9WtfSq2KoKhq1AD1Y4Hfi
Iniciei a leitura de uma biografia não autorizada, "Led Zeppelin - Quando os gigantes caminhavam sobre a terra", uma edição da Larousse escrita por Mick Wall. Com duas ressalvas: a primeira é que essas edições "não autorizadas" na maioria das vezes se tornam no meio do caminho numa sessão de fofocas gourmet. Ou o endeusamento deslumbrado. A conferir...
A segunda questão é que 80% das biografias que leio normalmente resultam num gostar menos futuro. Do que a memória me ajuda agora, lembro que em poucos livros passei a gostar mais da pessoa biografada depois da leitura. Furacão Elis, Satchmo (uma biografia parruda do Louis Armstrong) e a biografia do Freud escrita pelo Peter Gay, são algumas que me lembro agora. Mas no mundo hedonista do rock, é quase certeiro. Mas sexta passada fui no lançamento do livro de contos de um amigo, o Daniel Lopes Guaccaluz (excelente prosador, por sinal), e livraria é como um shopping pra pra mim, uma disneylândia. Por sorte não estava de carro e isso me impediu que fazre uma compra mais caprichada. Mesmo assim, além do livro do Daniel, também trouxe pra casa essa biografia do Led, À Leste do Éden (Steinbeck) e mais um ou dois que não lembro agora.
Seja como for, o Zeppelin é uma das bandas formadoras do meu mundo musical. A primeira banda que me seduziu na adolescência na adolescência foram The Smiths, seguida por outras bandas da mesma geração, como U2 e Jesus And the Mary Chain, além das brasileiras, é claro. Mas logo meu gosto foi estendido e alcançou a década de 70, 60 e até os 50, com Chuck Berry. Dessa safra que fui descobrindo ali, por volta dos 16, 17 anos (lembrando em nos anos 80, ter 16 anos era bem diferente dos anos 2020, até mesmo pela dificuldade de acesso às informações de moleque periférico e pobre, cujo conhecimento do mundo se fazia através da TV, jornais e revistas impressos e muitos, muitos discos e fitas K7), fui tomado de um certo torpor quando ouvi pela primeira vez, Led, Jimi, Janis, Stones, Pink, The Who etc. E dessas influências todas, Led, Jimi e Janis foram, com certeza, aquelas que mais me envolveram no mundo sonoro e deixaram uma certa musculatura aqui. Em algum tempo, gostei mais, outras menos, mas no geral, permaneceram. talvez venha daí a vontade de enfrentar uma biografia dos caras.