Acabei de chegar da Casa de Farinha, São Miguel. Enquanto na Sampalândia, todo mundo está curtindo a Virada Cultural, eu venho de outro lado da cidade, um lado pouco conhecido, pouco comentado, pouco observado pela mão pública. Venho de S. Miguel.
São Miguel, o lugar onde os índios guaianases ajudaram a erguer a capela em 1622, que hoje é patrimônio histórico. São Miguel que é zê-éle e é paulista até no nome, que é Ururaí, e é o berço do Movimento Popular de Arte, que tanto ofereceu para São Paulo na defesa de uma arte que fosse popular, inteligente, autêntica, tradicional e contemporânea, tudo ao mesmo tempo. Bairro da Unidos de S. Miguel, bairro do Parque Chico Mendes, da Fazenda Biacica, da Universidade Cruzeiro do Sul, de Antonio Marcos e Roberta Miranda, da Nitroquímica e Estrada Velha de São Paulo-Rio.
São Miguel deu-nos hoje mais um virada na página cultural da cidade. Realizou a segunda etapa do auspicioso projeto Bem Te Vi, Itaim. Observado no microscópio, não é projeto pra dar certo, mas está dando, vai dar, sim. Os amigos do poeta Akira Yamasaki, resolveram que quando ele completar 60 anos em agosto próximo, terá que presentear-nos com uma compilação de alguns de seus poemas. Mas o japa é tinhoso, veio com papo de que não tinha grana, essas coisas. Os amigos fizeram mais, então, criaram o Bem Te Vi, Itaim. A ideia dessa ação é levantar, através de várias eventos na Casa de Farinha, a grana necessária par o lançamento do livro.
Feito isso, a programação estreou em abril último com show de Sacha Arcanjo, G.R.A.Ve, Jocélio Amaro e esse que vos escreve essas linhas. O primeiro.
Agora agorinha mesmo rolou o segundo, de muitos tempos que virão. Na abertura, após a exibição dos clipes de Fala, Vagabundo (poema de Sacha), na voz de Gilberto Braz, Akira e Claudio Gomes) e da música Voz das Trevas (também de Sacha), na voz soberana de Luís Casé, então um simpático e jovial Akira recebeu a todos com a declamação providencial de um poema seu. Após isso, cedeu espaço para que Casé tomasse seu banquinho e violão e desfilasse um rosário de perfumes sonoros. Aompanhado de Tião Baia (percussão) e Zé Luiz Suano (teclado), o crooner de voz pausada, exata e limpa não perdeu tempo. Emocionou a todos, para dizer o mínimo.
Claudio Gomes, poeta de mancheia, imaginação a mil e mente poderosa, a toda hora atordoava os nossos sentidos com seus poemas de lirismo cortante e imagens pujantes, trazendo para o meio do público rompantes poéticos-teatrais. O público, claro, ovacionou.
Por último, o aniversariante Cléston Teixeira, no calor da hora, e com a presença de mais de 100 pessoas na plateia, lançava seu novo trabalho, o disco O Mundo Partiu-se em Dois. Com uma banda afinadíssima (Mizão de Carvalho na guitarra e na operação de som, Mizinho Carvalho no teclado - ambos também produtores do cd - e mais Wilson Reis na bateria e Priscila Lima na percussão), Cleston desfilou seu repertório com velhas e novas canções.
O cantor, que também é poeta e ator, contagiou a todos com a leitura de versos e seu som contagiante e original.
Tudo terminado, como poucos foram embora, o Casé voltou, ligou o som, pegou seu violão e voltou a dedilhar para a plateia. Puro delírio, bem ao estilo MPA de ser.
Como diria o saudoso Raberuan, "saudade, de ouvir o Akira recitando..." (foto EF)
Movimento Popular de Arte reunido, em nome dos velhos e novos tempos (foto EF)
Um comentário:
Foi tudo massa, maravilhoso, eletrizante e indescritível de tão bom, melhor não podia ser.
Suave na nave, véio, de boa na lagoa. Mil abraços, agradecimentos mil. Akira.
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