Nilson Galvão clicado no último rasante pela Sampalândia, outubro de 2012 (foto EF)
Dois livros de
um mesmo poeta, o baiano Nilson Galvão, editados pela coleção Cartas Bahianas,
do selo P55 Edições, revelam-se leituras complementares, diferentes,
surpreendentes e... profundamente poéticas! Se ambos foram escritos sob os
fluidos da sublimação, os códices adotados pelo autor, todavia, revelam
sutilezas bem peculiares para cada uma das obras.
O livro “Caixa
Preta”, de 2009, é um invólucro de alguém que estréia sem subterfúgios, com a
narrativa e a poética de quem quer falar, e tem o que falar. Principiando com
um inusitado “Poema de uma linha só”: “Leveza, nessa vida, é a linha de
partida.”, o poeta diz logo de cara a que veio: buscar o espanto criativo,
solapar a base estabelecida, duvidar, questionar e liricar. Pois não se é bom
poeta sem a prerrogativa da intenção poética. E nisso Nilson Galvão dá mostras
de vivacidade muito sagaz e original.
Outro exemplo
sucinto é “Todo intervalo, toda pausa, algo em tudo denuncia / o vão. Onde não
somos e no entanto ousamos / caber. E é inútil saber [...]”, em “O vão das
coisas”. Mais adiante, agora em duas linhas, temos outra lírica rica em “A
palavra coisa”: A palavra coisa, que estranha: / feito objeto sem forma.
Mais alguns
passos e o poema “Crendo, crendo”, bem mais longo, revela todo o imã por onde se
orienta a bússola do poema. Extraio um pequeno excerto só para aguçar a vontade
do leitor: “Todos deveriam deixar de saber / um dia. Nossas idéias esquecidas /
numa caixa de guardados / sem uso, nossos corações em dúvida.[...]”
O livro todo
se mantém coeso com a proposta poética do também jornalista Nilson Galvão. Essa
coerência está em todo o seu pomar poético, já que o ritmo, a imaginação, o
ineditismo e a singularidade do artista permeiam toda a caixa preta, até a
última página.
“Ocidente”,
seu segundo livro pela mesma editora, é de safra colhida neste ano. Nele,
percebe-se que, se sobrava maturidade ao poeta estreante, agora somam-se outros
atributos: suntuosidade, estilo, mais conhecimento e – claro! – inspiração
ainda mais solar. Nilson desengaveta aqui seus sortilégios estelares,
verdadeiras pepitas de jóia rara, como em “Sal e pimenta”: “[...] E penduramos
a dor como no / açougue: sangrando, sangrando, até ficar / exangue e pronta
para ser levada por aí, / alimento nas intempéries. [...]”
Em outro momento
feliz do livro, “Guia de viagens”, o curto poema diz com perspicácia: “A fé
conduziu / Dante. / O ácido, Huxley. / Vai-se, de um jeito / ou de outro, ao
inferno / e ao céu.” Os versos redondos fecham-se com argúcia e – agora sem as
dúvidas do iniciante – instauram um “e” na última linha, que bem poderia
suscitar um desgosto crente. Bastava para isso um “ou”, mas o poeta preferiu a
ousadia e destreza de suas certezas.
Ganham todos, aquele
que escreve, quem o lê, aquele que reflete, e quem, como eu, ceticiza.
Um comentário:
Escobar, bróder
Vou roubar e posta no meu blógue também, quer voce autorize ou não.
Um abraço do Akira.
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