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27.5.13

Arnaldo Rosário no Sarau da Casa Amarela: como foi?

Arnaldo, poeta, prosador, contador (foto Selma Santos)
   Domingo de sol, abertura do campeonato brasileiro, Neymar foi vendido para o Barça - será a última vez que vestirá a camisa do Santos. Competir com tudo isso é muito difícil, mas o Akira não teve esse temor quando fez a chamada geral para que todos fôssemos para a Casa Amarela nesse dia. Motivos ele tinha de sobra, mas um não deixava dúvidas: o convidado para a festa em homenagem à deusa Poesia era nada mais nada menos que o Arnaldo Bispo do Rosário.
   Advogado por profissão e humanista por vocação, Arnaldo tem tirado poesias e mais poesias de suas gavetas. Sua página no Facebook ilustra este momento único vivido pelo artista em plena gravidez poética: está carregada de pérolas da última estação, a safra prometendo sempre frutos mais vitaminados, aromas mais singelos, perfumes mais inebriantes, sem sofrer com as intempéries do tempo. O tempo - ousamos pensar - está fazendo bem ao poeta, que a cada nova colhida nos apresenta frutos mais belos, suculentos e raros. Pois sua artesania é feita com instrumental adquirido com o mestre Pessoa, com Drummond, João Cabral e Cecília. Penetrando as camadas profundas de sua poesia, percebemos claramente o quanto a leitura de Camões, Poe, Neruda, Brecht ou Baudelaire criou um denso amálgama no organismo receptivo de Arnaldo.
Silvio de Araújo e Arnaldo Bispo, dupla inusitada no palco da CA (foto EF)
   Simpático, o poeta colocou-se à prova no palco. Enquanto lá de dentro vinha o aroma das quitutarias "poeticamente comestíveis" da Celinha, e a Sueli se esmerava nas articulações e logísticas que a festa exigia, e o Akira, bem, o Akira cuidava para que nenhum convidado ficasse sem sua dose generosa de mineirinha, para limpar a garganta e facilitar a aproximação entre os mais tímidos e desconhecidos, aí, justamente aí, somos surpreendidos por um curto-circuito. Um decenário fusível não aguentou a nossa energia vibrante, resolveu pegar fogo também. Breu total. 
   Quem tem amigos e saúde, porém, não precisa de outra coisa. E eis que os desprendidos Tião Baia, Silvio Kono, Zulu de Arrebatá e outros eméritos consultores para assuntos elétricos se propõem a ajudar na solução do problema do blecaute. Mexe daqui e dali, e nada, o problema andava na contramão e não subia no ônibus da solução. Parte da espaço voltou a funcionar, a dos fundos! Na falta de solução para o impasse, Sueli Kimura e Solange Kono correm à padaria mais próxima para comprar velas, o estafe técnico começa a esticar um fio, que vem serpenteando lá do fundo, enquanto o Akira, conscientemente, toma a frente do palco e dá início à concertoria. Estava aberto o primeiro "sarau da vela" na Casa Amarela.
   Arnaldo não se faz de rogado, pega seus poemas e nos brinda com a fina flor de sua produção, coisa que eu só conhecia das redes sociais e que agora estão ali, ao alcance de meus ouvidos e de minhas sensações. e dos 35, 40 que estão ali. Uma simpática trupe, Ana Martins - do PC do B - à frente, traz bolo escondido, para comemorar com Arnaldo, que nessa semana completará outra primavera. Enquanto isso, lá na frente (melhor, no fundo do palco), alguém já ligou um foco de luz no teto. O multitudo Claudemir Santos está resolvendo outra parte da questão, com um providencial jato de luz, também puxado dos fundos da Casa Amarela via metros de fio, e que joga luz de baixo pra cima. No improviso, num clima jazzy autêntico, com a raça e talento que a necessidade nos impõe, eis que a noite fica mais bela pelo fulgor da poesia que emana entre todos os convivas, nos focos que lança clarões nas costas do artista, criando a visão angélica do Arnaldo agora tornado anjo de luz. Poeta e público estão presentes, então, que cumpra-se o prometido: poesia de mancheia para o povo!
Akira, mestre sem cerimônias (foto EF)
   Fim do primeiro tempo e então o técnico Akira substitui Arnaldo para que outros possam brilhar sob (e sobre) os holofotes inusitados do palco da Casa Amarela. Sílvio de Araújo, Zulu de Arrebatá, Fábio "Semente Africana" Lima, Tião Baia, Éder Lima, Lígia Regina, euzinho da silva, Akira, Gilberto Braz, uma pecha de visionários de todo o mundo invade o pequeno palco e destila seus incensos poéticos.
   E quando, perto do fim do jogo, o titular é chamado para fechar a partida, sacramenta a vitória acachapante relembrando o recém partido para as estrelas Paulo Vanzolini. Descobrimos, embasbacados, outra faceta do poeta, ele também canta - e bem - quando embolera um emblemático Volta por Cima, consolidando um placar elástico a seu favor. Depois ainda tivemos direito ao bolo da Ana, com o Sílvio de Araújo puxando o parabéns Pra você, muita conversa amena, abraços... A tarde e noite, definitivamente, valeram a pena, tudo poderia ter dado errado, mas com o esforço hercúleo de muitos, somado à paciência de vários, à compreensão de alguns e ao talento artístico de todos, foi criado, no caos das contradições, mais um episódio do qual sempre lembraremos com terna saudade.
Poemas, causos e contos (foto EF)

Abaixo, um excerto do poema O Capital, de Arnaldo Rosário


Homero, cadê Ulisses?
Será que dorme nos braços de Penélope
enquanto o povo helênico é aviltado?
Ou o herói Troiano de triunfos colossais,
exterminador de Ciclopes e imune ao feitiço de Circe
jaz no canto da sereia deixando seu povo triste,
transformar-se parte homem, parte porco
pelo bruxo capital?
  
Homero, por onde andam seus heróis?
Será que ralham dos humanos com os deuses do Olimpo
enquanto as riquezas do seu povo são roubadas
por ladrão com várias sombras e semeador do mau?
Ou um embuste com pés de barro saqueará a Grécia
tal qual Páris tomou Helena de Menelau? 

Camões, cadê as armas e os barões?
Onde estão os sábios navegadores de Sagres
e os guerreiros lusitanos que expulsaram os Mouros? Onde estão?
Ora, Camões, quem com o sábio manejar de velas
por mares nunca dantes navegados
domou ventos, tormentas e tempestades a invejar Netuno
agora deixa-se levar a esmo e sem rumo entre recifes de corais?
  
Cervantes, onde está Dom Quixote?

*"Ditosa e bela", frase de Castro Alves no poema “Vozes D’África”. No mais, existem fragmentos de grandes personagens da história. 25/03/13
Fabinho Lima, lirismo com ginga no palco da CA (foto EF)
Zulu de Arrebatá, suingue contido, a capella (foto EF)
Big Charlie, videomaker e poeta, registrando tudo (foto EF)
Iguarias da Célia (foto EF)
Petiscaria para degustações poéticas (foto EF)

Gilberto Braz, botando brasa na fogueira poética da CA (foto EF)
Tião Baia, outro de versos incendiários no palco da CA (foto EF)
 
Arnaldo, lírico, romântico e pós-moderno (foto EF)
Ana Martins: "Parabéns Pra Você" para os aniversariantes, Arnaldo e Sueli Kimura (foto EF)
 
Arnaldo Bispo do Rosário, "entre elas" (foto EF)
Outros pratos, literários e fonográficos, à venda na CA (foto EF)

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